segunda-feira, dezembro 31

da arrumação

entre as últimas há sempre uma ideia ou outra que desperta alguma curiosidade;
no contexto da cartografia do conceito de disciplina na escola pública e em face de tantos e tão dispersas referências, resolvi arrumá-los em 4 cantos, 4 gavetas que me permitem perceber que conceitos se cruzam, que ideias e valores se veiculam, que modelos pedagógico-sociais se perspectivam;
foi um final de ano até algo produtivo, apesar das intermitências de escrita;

das útlimas

damos as últimas neste último dia de 2007;
por mim mudo de caderno, fecho o deste ano, resumo ideias e alguns apontamentos e avanço para um novo, de 2008;
já assumi posições radicais, não deixei nada para a última badalada e desde ontem que volto a tentar deixar de fumar;
já lá vão pouco mais de 12h sem cigarros, alguma ansiedade e algum desconforto; a ver vamos como me porto;
nada melhor que acabar 2007; está esgotado, venha um novo dia, um novo ano e com ele outros desafios;
BOM ANO DE 2008, mais que estarmos feito num 8, que seja um ano assim mesmo, redondinho;

domingo, dezembro 30

do balanço

esta altura é propícia a balanços;
o que ficou por fazer, o que foi feito, o que se perspectiva fazer etc., etc,
nesta altura e neste local, apenas duas referências;
o que passou passou e saudades apenas do futuro, como diria o poeta e um valente amigo;
para a frente apenas os desejos de saúde, paciência e aquilo que dá força ao entendimento do quotidiano, do nosso dia-a-dia;
pessoalmente e até daqui a um ano, vou tentar terminar três dos capítulos que me consomem (um sobre a genealogia do conceito, outro sobre os instrumentos e outro sobre a regulação social), isto é todos aqueles que não se relacionam de perto (nem de longe) com o trabalho de campo da minha tese; como irei procurar concluir todo o trabalho de campo;
tudo o mais, logo se verá;

dos anos

um amigo - nesta mesma consideração - que por aqui fiz faz agora anos de por aqui andar;
somos diferentes, é verdade, pelas experiências, pelos contextos, até mesmo pelas ideologias escolares, educativas e políticas que nos separam;
mas não são suficientes para separar uma amizade que se construiu e firmou com base nessa mesma diferença;
votos de muitos e bons, a começar já por este que se aproxima, o de 2008, com tudo de bom para ti, meu amigo, e para as senhoras que te acompanham;

sexta-feira, dezembro 28

dos livros

é sabido que o mercado editoral nacional anda a mexer como, muito provavelmente, nunca o tinha sentido antes;
aquele grupo que já possuiu a TVI dedica-se agora à compra de editoras - já lá vão 5, gaialivro, caminho, d. quixote, texto e asa, se não estiver a cometer enganos;
e, segundo rezam as crónicas do circuito, após a consolidação do novo grupo já se fala em nova venda a grupo desta feita internacional;
e o problema é que esta concentração e a acção se faz sentir no mercado;
as pequenas editoras, que tinham a vantagem da independência editorial e que criavam nichos de mercado ou fecham ou se esgotam; mesmo as maiores, caso da livraria leitura onde fiquei deveras surpreendido pelo downsizing sofrido, sentem os reflexos das mexidas editoriais e empresariais;
a ver vamos onde esta actividade nos leva e quais as consequências para o consumidor - onde cada vez mais se acentua a vantagem de utilizar a Net para a compra de livros - onde ficará o mercado de proximidade, a possibilidade de manusear o livro antes o comprar?

do andante

e hoje estreei o andante, de um lado para o outro, o prazer e o privilégio de ver o Porto com a despreocupação de outros me conduzirem e não ter que me irritar pelo estacionamento;
um andamento a repetir mais vezes,

quinta-feira, dezembro 27

do meio

Évora estava a meio gás, ou nem tanto, perdida entre a consoada de Natal e os preparativos da passagem de ano;
as ruas quasi desertas de gentes, cheia dos enfeites que marcam a quadra; queixas disto e daquilo, comentários assim e de outro modo;
agora é um tempo em que descanço da escola e do meu trabalho, quando não mesmo de mim;

do rumo

rumei a norte para estar e ver amigos e amizades;
como as coisas são diferentes; a paisagem, a arquitectura, a organização dos espaços;
como as coisas são semelhantes, as gentes, os modos, as decorações de Natal;
no meio de uns e de outros valorizamos aquilo que queremos ou que pudemos;
gosto de valorizar as pessoas, de sentir os seus modos e os seus hábitos, mais do que procurar as diferenças;
é nestas diferenças que conseguimos perceber as semelhanças e perceber como somos, de que massa somos feitos;

domingo, dezembro 23

das festas


cá em casa há quem esteja a contar os dias, as horas, os minutos para que possa rasgar o papel e matar a curiosidade daquilo que ali estará embrulhado;
nestes tempos de festas e desejos, aqui ficam os meus para todo(a)s aquele(a) que por aqui passam e têm o privilégio de me fazer sentir mais vivo;
votos sinceros de Festas Felizes, tudo de bom...

sexta-feira, dezembro 21

do café

apesar da blgosfera eborense se querer manifestar há quem denuncie o travo azedo de um café frio que custa a engolir;
persisto no que já aqui escrevi, faço votos para que não se rendam às pequenas evidências de uma mundanice local que apenas alvitra bitates, mais por um qualquer saudosismo decrépito e mofo, do que por querer construir seja o que for;

da (des)organização

uma das características do nosso sistema educativo é, reconheça-se, a sua imensa desorganização;
estruturado anarquicamente à medida que crescia, nunca chegou a consolidar uma dada lógica de funcionamento e, menos ainda, de relacionamento entre as suas diferentes partes;
unidade de coerência, o sistema apenas manteve duas das suas mais duras características e ambas oriundas do antes de 74, a centralização e a burocratização das acções;
não é necessário falar da estrutura do polvo, que se ramificou e diversificou por milhentas unidades, pequenas divisões, gabinetes e tudo o que se possa imaginar a ver se conseguia manter o controlo (ainda que remoto) do sistema e os seus súbditos sob o seu domínio;
mesmo ao nível da escola, e já aqui o escrevi por inúmeras vezes, o sistema alargou a sua base de recrutamento de alunos, integrou novos e diferentes públicos, procura um outro conhecimento e novas conformidades (para além da pedagógica e social, desde a integração europeia que é manifesta a conformidade política); mas o seu funcionamento tem permanecido imutável, se salvaguardarmos pequenas intervenções de lifting, mais para disfarçar as rugas do que outra qualquer coisa;
o(s) famoso(s) decretos da autonomia, primeiro o 43/89, depois o 115-A/98, acabaram por ter reflexos mínimos na organização e na estrutura do sistema;
tenho sérias dúvidas quanto àquele que por aí vem e que foi ontem aprovado em conselho de ministros;
percebo a tentativa de (re)organização do sistema com base na escola, é perceptível a integração de outras lógicas na gestão, como é entendível o forçar a integração de outras realidades na administração da escola;
desde logo por duas razões, a primeira porque persiste e insiste na designação de administração e gestão, criando-se, a partir daqui, contradições e inoperacionalidades conceptuais que certamente condicionarão o seu andamento, a sua implementação; depois por aquele Conselho Geral, muito decalcado da realidade norte americana carecer de elementos de operacionalização e monitorização;
a ver vamos como será o texto do documento, como procura articular as suas diferentes partes e concepções e como integra contributos de parceiros e de fazedores de opinião;

quinta-feira, dezembro 20

da química

por mera cusquíce, de quando em vez consulto os perfis dos utilizadores ou criadores dos espaços da blogosfera;
gostei deste perfil;
é um perfil que, apesar das muitas contrariedades, se alastra qual química da mancha de azeite que insinuosamente se propaga, se alastra e teima em deixar a sua presença, a sua marca;
ao ver as características deste meu ZeP sinto que a indústria química tem futuro na região; já são tantos os operários que, daqui a pouco, se poderá formar senão um sindicato, pelo menos uma tertúlia reivindicativa;
pode não ser tóxico, mas que perturba, lá isso perturba;

da orientação

ontem foi dia de conversa com o orientador;
troca de ideias e esclarecimento de algumas dúvidas foram o pretexto para uma amena cavaqueira onde a grande, mesmo grande preocupação é não me sentir desorientado no meio de um projecto de trabalho que me consome energias;
do outro lado, da conversa do orientador, a clara percepção quanto ao entendimento dos meus ritmos de trabalho, e dos receios que com ele se podem colocar;
disperso-me com alguma facilidade, divirjo com relativa frequência, como consigo, como ultimamente, apresentar períodos onde a focalização me permite rendimentos inquestionáveis;
há que procurar garantir a continuidade de um trabalho e a focalização necessária e suficiente para que me sinta preso aos trilhos e não descarrile;
gostei da conversa, para além de ter ficado algo esclarecido quanto às dúvidas que levava, também gostei do afloramento de outras que o tempo - e as leituras - procurarão esbater;

do café

e, por muito que possa não parecer, a blogosfera eborense até se move, faz-se sentir;
recebi a notícia natalícia que existe mais um blog sobre a cidade, Café Portugal, feito por um conjunto de elementos "históricos" da terra;
a designação, de café Portugal, remete para diferentes ideias (um imaginário colectivo) do que foi a cidade;
por um lado, um local de convívio, onde, entre tacadas de bilhar e comentários do momento, uma geração aprendeu a falar da PIDE, da censura, da vida alentejana; nesta fase o café Portugal era um contrapeso, o outro lado da verdade, ao outro café, o café Arcada, onde se reuniam outros, com outras ideias; estou a falar dos anos 50 e 60 de onde os jovens de então, a partir das janelas do 1º andar, galanteavam as raparigas passantes e espreitavam quem esperava pelo autocarro - é verdade, aquele local já foi ponto de paragem de autocarros;
por outro lado, e penso que será para esta fase que remete a designação, foi um espaço de confrontos, entre os que tinham chegado de África e estavam habituados aos cafés e aos espaços de convívio, com outros regressados dos muitos lados da Europa que agora nos consome e que traziam uma outra aragem, outras ideias, outros olhares, outras leituras, e aqueles que, por pouco ou muito que nunca daqui tenham saído, ali encontravam um espaço de diferenças;
foi, assumidamente, um espaço de fórum, de ideias, de ideais, de sonhos, de futuros possíveis e imaginados;
mas faliu, fechou, sucumbiu ao peso dos tempos, eventualmente da sua própria história, como sucumbiu pelo facto de quem por ali passava se ter apropriado de outros espaços, deslocalizado, também eles, para outros pontos, talvez com outros sonhos, com outras vontades;
como bloguista e como eborense dou as boas vindas a um novo espaço de debate e faço votos para que seja isso mesmo, um espaço crítico, reflexivo, de discussão e de ideias e não se renda aos apontamentos mais fáceis de corte e da costura, à insinuação brejeira; o Café Portugal também foi vítima disso mesmo;

terça-feira, dezembro 18

das nuvens

há já algum tempo que não via nuvens;
hoje, ao sair de casa e olhar o céu, revi-me naquela frase, estou nas nuvens;

segunda-feira, dezembro 17

da remodelação

há muita gente, gente demais a falar em remodelação governamental, em mexidas na estrutura do governo e da acção política;
sinceramente, sinceramente, considero que a haver mexidas políticas elas serão assumidamente circunstanciais, mais decorrentes de outros interesses (pessoais, profissionais, sociais) que políticos;
mais, dizer que a senhora ministra da educação, ou a sua equipa é remodelável é não perceber como funciona o governo e como actua a pessoa do primeiro-ministro;
não creio, sinceramente, como sinceramente espero estar enganado, que vá existir uma remodelação nos próximos meses na área educativa;
primeiro porque José Sócrates (como já afirmou Pacheco Pereira) não funciona em função das sondagens de opinião; segundo por que mesmo que funcionasse, muito gostaria ele de contrariar as sondagens, dar o dito por não dito, e mostrar quem manda na coisa; terceiro, porque não se faz uma remodelação para agradar a sondagens ou à oposição; faz-se uma remodelação ou simples mexida no governo por inépcia, incapacidade ou falta de tacto; e apesar de alguns senhore(a)s ministros serem pródigos em gaffes ou diatribes políticas, não é o suficiente para mexer na estrutura político-governativa;
a haver mexida ela será pontual, casuística e de sombras chinesas, daquelas que mais iludem do que revelam;
mesmo que haja secretários de estado que muito gostam de olhar para o seu úmbico e mais não sejam que autênticas sanguessugas políticas, mesmo aí, o primeiro-ministro mostrará as garantias de quem governa;
e nós que cá vamos, com diatribes, incompetências e inoquidades várias, nos arranjemos pois quem cá está por baixo, estas estruturas regionais, ou não querem ou simplesmente não podem interferir; é o pacto da conformidade, mais do que o silência, que vigora;
até quando...

não, não sou o único

certamente que se lembrarão desta canção dos Xutos;
perfeitamente adaptável a outras circunstâncias e situações, que fazem com que não me sinta o único saneado (politicamente, entenda-se) da Administração Pública;
sem apelo nem agravo, outros foram também inapelavelmente saneados, postos de lados, excluídos, deitados fora;
afinidades com a minha pessoa apenas a circunstância de estar associado à educação, mas pronto, tem outra experiência, um outro modo e forma de estar; não terá sido, certamente, por questões de feitio, apenas pela incapacidade, impotência e inoperância das estruturas locais e regionais do meu PS saberem ou poderem gerir os seus próprios interesses;
ou seria que estariam, também aqui, a gerir os seus interesses?

sábado, dezembro 15

das leituras

não apenas mas particularmente em época de Natal, chegam a Évora inúmeros títulos que, noutras épocas, levam tempo e tempo, como se estivéssemos longe dos centros, como se por cá não se justificasse o investimento na distribuição, não fôssemos consumidores como os outros;
sinto-me tentado a comprar este e aquele, e mais este e o outro, mas não posso; estou condicionado por leituras em redor da disciplina na escola, a regulação social, os instrumentos e acção pública e a governação;
compro-os antes a pensar na esposa; talvez depois os possa ler;
para já tenho de me ficar pelas leituras "obrigatórias";

da conversa

dois professores, de duas escolas diferentes, mas conhecidos de há muito conversam;
diz um, sabes lá tu como anda a minha escola; até parece que o presidente, sempre que vai à casa de banho, traz uma ideia nova;
diz o outro, e então a minha, não te passa pela cabeça como aquilo anda;
diz o primeiro, se fossem ideias de jeito ainda vá que não vá, agora parece que são ideias só para chatear o pessoal;
replica o outro, bem que tento conversar com o pessoal, mas cada vez as coisas estão piores, e não é para simplificar nem facilitar a vida aos colegas, até parece que fazem de propósito;
então e na minha, agora alteraram a ordem de trabalhos das reuniões de avaliação e criaram um enredo que ninguém se entende;
na minha não está nada melhor, até parece que a Maria enviou uma cassete para eles ouvirem sempre que vão para a escola, complicam a vida a tudo e a todos;
mas nós sempre fizemos aquilo que agora nos andam a exigir, mas se o exigissem com termos;
na minha vai de mal a pior, ninguém se entende, sentem-se os nervos à flor da pele;

podia continuar por aqui fora, mas o discurso, as conversas de docentes caíram na explanação das amarguras, no carpir das mágoas, na comparação de quem está pior;
assim, dificilmente se encontra um caminho alternativo; mas há quem goste de nos ver assim...

do agradecido

pois...
e pronto, segui a indicação preciosa do Miguel e cá estou a tentar escrever neste espaço;
as máquinas e o software de quando em vez têm destas coisas;
vá lá saber-se do porquê.
agradecido, uma vez mais; passei-me para o FireFox e já cá estou;
vamos a isso...

sexta-feira, dezembro 14

da ajuda

a ausência - forçada - dos últimos dias não decorre de tarefas nem falta de tempo;
decorre de um problema para o qual peço ajuda, caso alguém já o tenha enfrentado;
quando acedo às mensagens do blogger ou quando procuro efectuar um reencaminhamento de correio pura e simplesmente aparece-me uma mensagem de erro e a janela do explorer é desligada isto só acontece no meu computador - o que, presumo, seja derivado de filtros, restrições ou...;
como consequência, não consigo colocar mensagens em casa o que limita significativamente a produção de ideias;
se isto já aconteceu a alguém e que saiba resolver, agradeço, desde já a ajuda;

quarta-feira, dezembro 12

da educação

O primeiro-ministro referiu ontem, com alguma pompa, mas sem circunstância, algumas ideias (que não são propriamente novas) referentes à organização do sistema educativo;
Sem fazer qualquer comentário ou juízo avaliativo, uma vez que ainda estamos pelos discursos e não há forma de aceder aos documentos que serão apresentados para discussão pública, apenas algumas notas;
Quanto ao alargamento da participação nos destinos da escola, sim senhor, como? Mediante a reconfiguração da assembleia de escola? Mediante o alargamento de “sítios” de participação e presença de pais/encarregados de educação e de elementos municipais? A minha preocupação não vai no sentido de sentir qualquer tipo de receio de quem vem de fora (e que muitos dizem não serem conhecedores das lógicas e dos funcionamentos das escolas, entre muitas outras barbaridades), vai no sentido de perceber como e como esse alargamento permitirá melhores desempenhos (organizacionais) à escola;
Segundo, a figura do director, sim senhor, é uma profunda e significativa diferença face ao que, ao tempo, o outro governo apresentou; não é irrelevante, por muito que o queiram fazer parecer, mas a questão coloca-se quanto à formação (muitas vezes inexistente, outras feita à medida, outras ainda por encomenda); a(s liderança(s) é(são) elemento charneira na escola, mas não são individuais, qual cargo dirigente da AP onde o poder é exercido em face de exclusivas responsabilidades individuais; depois, como avaliar, como comprometer, como responsabilizar? Se é uninominal o director que se dane, pois claro, é ele o responsável;
Terceiro, alargar a autonomia, duvido que alguém negue esta necessidade mais que evidente; mas como, em face de projecto, de contrato, de protocolo, de objectivos (qual SIADAP transposto para a escola), qual o comprometimento do ME, quais os limites e os âmbitos de exercício dessa autonomia – a visar o quê, com que resultados e em face de que circunstâncias;
Dúvidas que se procurarão esclarecer aquando da discussão pública, assim espero;

do Dez

Há quem se diga Dezorientado, Dezmotivado, e outras coisas mais;
Pois bem, devagar, devagarinho ao fim de pouco mais de um ano de ter criado um novo espaço (pela designação e pelo endereço), chego aos dez mil passantes;
Nada comparável a muitos outros espaços/blogues que rapidamente atingem cifras significativas, de meter inveja a estes meus números agora alcançados; mas não quero fazer esse tipo de comparação; quero-me regozijar pelos pacientes, pelos persistentes, pelas amizades que aqui fiz, construí e consolidei; amizades algumas vezes feitas na diferença de ideias, opiniões e sentidos de encararmos a coisa pública; mas pela persistência que denotam em resistir à minha escrita (com erros, ortográficos ou gramaticais, às ideias e opiniões) só tenho a agradecer;
Obrigado; voltem sempre, cá estarei, até quando não sei, mas por cá estarei.

terça-feira, dezembro 11

do índice

na construção de um projecto de investigação é básica a necessidade de se criar um índice que permita canalizar os esforços (leituras, escritas, pensamentos e ideias);
há já algum tempo que tinha o meu, pela qual, melhor ou pior, me orientava;
reformulei-o agora de alto abaixo;
descobri que o anterior estava inconsequente e com manifesta falta de coerência;
o que recreei apresenta-se-me mais claro, com melhores condições de canalizar os esforços;
tem sido um processo feito por aproximações, muitos recuos, algumas hesitações, como algumas convicções;
teria de ser assim, muito provavelmente;

da diferença

uma das ideias que sobressai da reestruturação de um projecto educativo é a diversidade de ideias, posições, valores e modelos com que uma qualquer escola se debate;
a minha escola não é diferente das demais - apesar da diferença das pessoas; numa grelha de análise de conteúdos chega-se à conclusão do óbvio, que existem concepções e opiniões que cruzam os docentes e vão para além do espaço delimitado da escola que integram;
há quem considere um contratempo esta diversidade; por mim considero-a uma vantagem;
a pluralidade de ideias e concepções só pode enriquecer as práticas e as concepções; desde que alguém queira aprender;

da insinuação

a política local (senão mesmo a regional) é feita mais pela insinuação, pelo não dito, pelo omisso do que pela discussão de ideias e projectos;
nos últimos tempos (anos) a política não se discute, insinua-se; a política não se argumenta, lançam-se boatos;
mesmo no seio das próprias estruturas político-partidárias há quem sinta manifestas dificuldades em argumentar ideias, defender opções optando mais pela insinuação, pelo jogo debaixo da mesa;
talvez seja fruto dos actores que temos, talvez aprendizagens desajustadas; talvez por ausência de espaços de debate de ideias, mesmo partidários;
como não há espaços (nem grandes argumentos, diga-se) os comentários fazem-se valer por si, como se tivessem vida própria, e não têm;

sábado, dezembro 8

da árvore


foi dia de, com a família, se montar a árvore de Natal, trazer cá para dentro este espírito natalício que se encontra embrulhado em prendas, laçarotes e luzes que piscam, bolas coloridas e tudo o que se lhe possa associar;
apesar da crescente descristianização social e de alguma assumida paganização dos rituais, à momentos que perduram, eventualmente com outras leituras ou outros significados; mas queremos, lá no fundo, assumir todo um tempo imaginado, circunstâncias de sonhos ou, simplesmente, um manter presente todas as memórias de uma infância;

do tempo


do tempo que passa, agora é o Natal que se insuna, com toda a sua proliferação de embrulhos coloridos, lojas assumidamente mais chamativas, um frio que se intromete por entre as gentes que passeiam, olhando as montras, procurando uma prenda aqui ou ali, para este ou para aquele;
a brincar a brincar, estamos no último mês do ano, em tempos, antes da adopção deste nosso calendário Gregoriano, o dez hoje o doze em que marca o virar de página;
mais uma...

quinta-feira, dezembro 6

da posição

as recentes posições dos diferentes partidos políticos, na votação do orçamento municipal e do PDM cá da terra, são reveladoras de diferentes situações e circunstâncias;
destaco duas - uma da cada lado do PS;
o PCP encontra-se à procura de rumo, de uma estratégia que lhe permita uma reafirmação (local) que dificilmente voltará a ter; debate-se nos interesses internos e nas incapacidades de, sem referir o passado, voltar a ele, qual memória de saudosismos (que em dias de nevoeiro até calha bem como metáfora) e de apresentar outras (e preferencialmente novas) ideias; a renovação a que procura proceder mais não é que um lifting, um botox político, onde se procuram reconfigurar algumas partes mantendo toda a sua estrutura e lógica interna; os tempos são outros, como os desafios e as propostas e o PCP está enclausurado nas suas próprias limitações;
do outro lado, o PSD procura afirmar um discurso de promoção da cidade, por um lado, e de alternativa à discussão dicotómica da sua esquerda, sem ser capaz de se afirmar, primeiro, longe das estruturas (e lógicas) nacionais que são mais auto-fágicas que outra coisa (veja-se o exemplo da CM de Lisboa), segundo, mediante um projecto local que seja aglutinador e não diferenciador e dispersor do comum interesse da cidadania local - muito enleado que tem estado em espaços delimitados de acção;
a capacidade de gerir estes equilíbrios e sensibilidades, claramente entalado que está o PS, tem sido uma das virtudes e capacidades do presidente da autarquia - não isento de referências ou de apontamentos, nomeadamente ao nível da estratégia adoptada;
resta perguntar, até onde..., até quando... como se poderá afirmar o PS local onde persistem lógicas mais circunstanciais que estruturais, mais fulanizadas que politizadas;

da falta

ontem estive sem net em casa;
é, simultaneamente, um sensação de vazio, de abandono, de isolamento que me constrange, como é um descanso em que aproveito a oportunidade (dada pelo isolamento) para produzir sem me dispersar, sem vaguear;
os equilíbrios esses, é que são mais difíceis de estabelecer, pois é um instrumento fundamental para o que quer que seja;

dos "factus"

o Paulo deixou-me um comentário sobre os factus que gira(ra)m em redor da escola do bº da comenda; esclareço, em face da dúvida e da impressão que terei deixado;
não responsabilizo os pais pela criação deste factu político local; fazem o seu trabalho, defendem os seus interesses, pugnam pelo que consideram mais adequado para os seus filhos; como pai não posso deixar de o afirmar;
agora o que houve e o que há circunstancialmente nesta cidade é o aproveitamento de situações (umas mais concretas que outras, uma menos razoáveis que outras, umas mais pertinentes que outras) por parte de diferentes correntes de pretensos fazedores de opinião que mais não visam que moer e desmoer situações e querer apresentar aquilo que consideram mais útil para os seus pretensos objectivos;
entre o interesse de uns (os pais) e de outros (os fazedores locais de opinião) há todo um espaço de debate e de afirmação de ideias que não é possível fazer com a mediação da comunicação social ou com a radicalização de posições;
e isto não é exclusivo das situações em redor da escola da comenda;

terça-feira, dezembro 4

da regulação

numa análise de conteúdos aos comentários inerentes à revisão do projecto educativo da minha escola, constata-se o óbvio; os docentes não encaram o seu trabalho, a sua função como elementos de regulação - seja pedagógica, social ou, mais dificilmente, política;
a principal dimensão que surge associada aos comentários ainda se encontra muito ligada às dimensões funcionais e instrumentais da escola; o que pode decorrer de várias situações, destaco duas, os discursos educativos predominantes (os políticos ou os académicos) que visam a estruturação da escola em face dos desafios da modernidade, da preparação e adequação para a vida, da preparação de profissionais qualificados e, por outro lado, de modos passados de entender a escola e a relação pedagógica, tempos em que a escola preparava para a vida, que a escolarização era garante de trabalho, de uma profissão;
aparentemente não á contrdição entre um e outro, mas os modelos subjacentes às práticas são diferentes uns dos outros, como diferentes são os papéis concebidos aos professores e aos alunos num e noutro contexto;
não julgo a situação, limito-me a constatá-la;

da escrita

quando me reencontro com a minha escrita, aquela que decorre mais por dever e obrigação, que por prazer e impulso, fico com menos tempo, menor disponibilidade para este meu cantinho;
entretenho-me no coligir os instrumentos (elementos que estruturam as relações de poder entre governo e governados e que são imbuídos de valores, ideias e modelos subjacentes a essa relação) e na sua organização em face das dimensões que perspectivam e daquilo que, pretensamente, pretendem regular;
fica-me pouca vontade para escrever por aqui;

segunda-feira, dezembro 3

dos projectos

entretenho-me, juntamente com outros colegas, com a estruturação de um projecto educativo de escola, ao qual acrescerá o projecto curricular e o regulamento interno;
no processo adoptado, onde se partiu da unidade básica de agrupamento da escola, o grupo pedagógico, é interessante perceber como os professores utilizam diferentes conceitos e ideias, para se referirem à mesma coisa;
a clara assunção que apesar do mesmo contexto, de uma formação mais ou menos comum falamos de coisas diferentes quando falamos da escola, da avaliação, dos resultados, das práticas pedagógicas e sociais;
neste contexto é enriquecedor perceber como lá no fundo existem diferentes modelos de escola e de educação, onde se perspectivam diferentes ideias de professor e, acima de tudo, como se equacionam os modos, as práticas e os instrumentos de uma regulação social;
equacionar e considerar as diferenças para que se possa construir um documento único, senão aceite, pelo menos tolerado pela maioria, é o desafio;

da falta

o Miguel colocou-me um comentário deveras pertinente na minha entrada sobre a greve;
comentário a apelar à conversa, à troca de ideias, a fazer lembrar os primeiros tempos de uma boa discussão - ainda por cima pública;
não receio os penduras, receio a incapacidade de, por intermédio da greve, não se perspectivar saída, de se radicalizarem posições e situações a que pouco ou nada conduzem - a não ser à afirmação de um ou outro interesse;
como alguém escreveu os tempos são pós-modernos (?) enquanto as formas de luta, a estruturação do confronto social se mantém numa lógica moderna;
sinceramente, sinceramente, não consigo perspectivar outros modos onde o trabalhador possa fazer valer as suas posições e, acima de tudo, as suas reivindicações;
mas a greve não é uma delas, pelo impasse que cria;
não considero justas nem a posição do governo nem as dos sindicatos, que entram para as negociações com valores perfeitamente descabidos, desencontrados e impossíveis de uma qualquer negociação;
é isto que critico, mais do que a acção em si;
mas sou defensor da politização dos processos, nãos os receios, enquanto afirmadores de posições, ideias, ideais e valores; os partidos políticos no nosso contexto é que são mais coorporativistas que políticos; não sei se será uma consequência dos tempos, mas será certamente pela intervenção das pessoas;

domingo, dezembro 2

do triste


ontem, em dia de amenas cavaqueiras cá por casa, de confraternização e amizades, ao princípio da noite fiquei assim;
tristonho e macambúzio com aquele resultado;
enfim, contrariedades...

quinta-feira, novembro 29

do estatuto

texto a não perder sobre o estatuto a carreira docente;

da greve

muito provavelmente de hoje a segunda-feira o tema predominante será a greve geral, agendada pelas três centrais sindicais para amanhã;
sigo (como é muito meu hábito) em contraciclo, não faço greve; farei, como todos os dias, os meus 100 km para ir e vir à minha escolinha;
reconheço que, ao nível das políticas educativas as coisas têm sido tratadas (?) com os pés e sem pés nem cabeça; reconheço que, ao nível da educação, as mesmas coisas podiam e deviam ser feitas de modo diferente; mas reconheço pertinência na defesa da escola pública (por muito que alguns queiram omitir ou esquecer esta dimensão), em particular na sua vertente de escola inclusiva, a tempo inteiro, organizacional e funcional; devia era ser conduzida de uma outra forma, não referenciado os maus da fita, mas, preferencialmente, as oportunidades e os desafios sociais que são colocados hoje em dia à escola e aos professores;
reconheço na greve (alguma) pertinência na administração pública mais genérica, essencialmente pela ausência de uma discussão política que envolva actores e dimensões organizacionais na redefinição dos seus próprios papéis, estatudo e espacialidade;
contesto a greve pela excessiva dimensão partidária, que ultrapassa em muito a sua dimensão sindical, como a contesto pelos próprios argumentos defendidos pelo secretário geral da CGTP (na sua tese de doutoramento), em que os instrumentos de luta e de afirmação dos interesses das "classes trabalhadoras" estão hoje desadequados de uma realidade profissional e social;
ir-se-ão medir forças, esgrimir números, trocar argumentos por vezes contraditórios e, estou certo, que sairão reforçadas as duas posições que se confrontam; de um lado, a inevitabilidade das reformas, o seu reconhecimento europeu e institucional; por outro, a força dos trabalhadores, o assumido cartão amarelo ao governo, a imprescindibilidade da luta;

no meio de tudo isto, onde fico eu, simples trabalhador, assalariado da função pública, emparedado entre a catrapiler governativo e a especulação sindical?

da participação

um outro assunto a que alguns sectores eborenses gostam de recorrer refere-se à falta de participação e intervenção de órgãos, organismos ou cidadãos na vida da cidade;
também me queixo do mesmo, de os espaços de participação serem limitados, confinados a uma vida institucional da qual o comum cidadão ou não se reconhece, ou se sente emedrontado pelo peso institucional ou, simplesmente, se desliga de coisas que até considera terem pouco relevo;
mas esta discussão parte de um pressuposto errado, no meu entendimento; é que a participação (que implica a vontade de intervenção e de condicionar a decisão), não deve ser confundida com a alteração dos sentidos e dos objectivos que presidem a uma opção de política; isto é, querer participar não pode significar querer alterar radicalmente (como alguns fazem transparecer) os planos do outro no meu plano, querer substituir uma maioria legitimada por uma minoria que é mais irreverente que fundamentada;
e esta participação é tanto válida aquando da discussão do PDM cá da terra como do orçamento municipal, como se quem governa o fosse fazer com os instrumentos e os objectivos dos outros e não os seus próprios;
mas é a "moenga" que se procura, mais do que a participação, ainda que por vezes envolta nos interesses dos cidadãos e de Évora; só falta perceber de que cidadão falam, de que Évora se quer;

do local - os "factus"

como pessoa e como cidadão, não me restrinjo a um olhar a escola; gosto, sempre gostei, de opinar sobre a minha terra e a minha região numa troca de ideias (com quem por aqui passa) sobre política (por vezes partidária, assumo a minha militância) mas que parte dos circunstancialismo locais;
vai daí e não consigo resistir a comentar dois factos que circulam pela cidade;
um refere-se à qualidade da água, que uns pretendem que seja o papão político da câmara e se transforme no imenso lago de imersão das políticas; a criação deste factu político - para além dos dados existentes - mostra o incómodo que se faz sentir pelas hostes que, por um lado, durante tanto tempo desbarataram esta preocupação (sou do tempo em que, pela falta de água, se restabeleciam antigos fontanários, que a conduta da rua do Muro rebentava pelas costuras, que as torneiras pingavam...) e, por outro, do assumido desconhecimento do que é a história desta cidade que condiciona o arranque e a definição de alternativas; a criação e a difusão destas notícias revelam, ainda, que a imprensa local ainda não sabe lidar com o contraditória, que assenta mais no voluntarismo que nas competências, que procura criar distâncias políticas mediante a criação de eventos do que na discussão plural e real das situações;
o outro factu relaciona-se com a localização do novo hospital, que é contestado por alguns, refutado por outros e silenciado por outros ainda;
esta discussão traz-me à ideia uma anedota do tempo em que Abílio Fernandes e o PCP comandavam os destinos do burgo; dizia-se que alguém abordou o presidente da câmara (Abílio Fernandes) com um projecto de construir uma pirâmide de vidro na praça de Giraldo (o centro cá da terra); grande ideia, sublinha o então autarca, por que é que nunca me terei lembrado de uma coisa destas; converse com o vereador das obras para se definir o projecto; da receptividade e simplicidade do atendimento, partia-se para todo um conjunto de obstáculos perfeitamente incontornáveis; e, obviamente, nada se fazia, nem ali, nem noutro lugar; e assim ficou Évora durante 25 anos;
isto é, será que um hospital de dimensão regional deveria ficar na praça de Giraldo? afinal é um espaço central, com rápidas ligações a norte, sul, leste e oeste; será que se a localização fosse na Estrada de Beja não se iria defender que seria melhor que ficasse mais perto da zona norte de modo a permitir a ligação à A6? afinal, quem afirma que o trânsito se encontra congestionado e que as infraestruturas existentes não comportam a expansão da cidade a sul, se esquece (ou omite) que o afluxo a um Hospital é tanto ou maior que a certas zonas comerciais?

há discussões por esta cidade que percebo em face da tentativa de se criarem factus políticos, onde nem sequer acontecimentos existem (relembro, mais atrás, a discussão sobre os contentores do lixo no centro histórico, do pavilhão multiusos e das suas casas de banho, a discussão em redor da escola da comenda, entre outras) onde todas se esgotaram na inevitabilidade da falta de consolidação e coerência dos argumentos; mas são recorrentes na clara tentativa de não matar à primeira, mas moer a discussão que o PS não tem feito e se tem manifestado pela ausência;

um toque final, lamento a extensão, gosto de entradas mais escorreitas para poderem ser lidas e digeridas rapidamente, aproveitando a fugacidade destes espaços; como lamento a impossibilidade de comentários anónimos, limitando e condicionando a troca de ideias, em particular de anónimos que por aqui passam e gostam de discutir os pontos de vista, lembro-me do meu amigo DD, mas fico disponível para a conversa, em circuito aberto ou fechado;

quarta-feira, novembro 28

do silêncio

há muito que há uma sociologia dos silêncios, das ausências, do não dito;
por vezes, estes silêncios, as ausências ou as omissões dizem tanto (ou mais) do que aquilo que é dito;
esta características adquire uma dimensão importante no contexto político; procuram-se as entrelinhas, os subterfúgios do discurso, as insinuações, as quebras ou variações da voz, o que ficou por dizer daquilo que foi dito, a interpretação de um sobre a interpretação do outro;
neste momento, a política eborense faz-se neste campo; não é nem bom nem é mau, é um estadio em que a cidade (a pólis política) e a sua vivência se encontra fruto de interesses e objectivos que se jogam mais nos bastidores do que na boca de cena;
de repente somos confrontados com os factos, com as circunstâncias; como há aqueles que se dizem desconhecedores e conhecem mais do que afirmam, apenas pela insinuação, apenas pelo jogo das omissões, apenas para procurar perceber o que o outro sabe e afirma conhecer;
os fóruns de discussão, muito escassos nos tempos que correm e mais legitimatórios que participativos, são disso exemplo;
valem pelos silêncios, de opção ou vocação, de presença ou de ausência;
é o silêncio que faz o ruído;

do sítio

não é a primeira vez que o escrevo, mas sou, sinto-me muito marcado pelos contextos em que me insiro;
apesar de profundamente esquisito, características que ficaram de filho único, também sou extraordinariamente maleável e adapto-me, com relativa facilidade, aos sítios, aos contextos, às características de cada espaço por onde circulo;
crio as minhas próprias gavetas de arrumação, processos de defesa pessoal e psicológica de modo a que me possa enquadrar, dentro das minhas limitações;
já passei por tanto sítio (quer escolas quer outros serviços) que já não estranho e retiro dessas passagens duas coisas (que destaco entre muitas); a minha capacidade de adaptabilidade à diferença; as saudades que sinto de certas pessoas por onde passei, onde estive - das conversas, dos sorrisos, das agruras, dos modos, da convivência;
uma e outra fazem com que cada vez mais goste de apreciar as conversas, de ouvir os outros, de perceber como com eles me relaciono, como podemos ser tão diferentes e assumir pontos de semelhança que permitem que nos relacionemos;
os sítios fazem-me e, neste momento, a escola faz-me, até através da escrita;

do estar

a sala de professores não é para mim um lugar onde goste de estar;
provavelmente poucos gostarão de ali estar; é um espaço colectivo partilhado com formas e modos muito individuais;
reúnem-se os grupos com alguma afinidade, mais pessoal e social que profissional, ainda que aqui e ali aflore esta ligação;
não é desta sala que falo, falo de todas aquelas que conheci, e já foram algumas e que, grosso modo, possuem o mesmo arranjo, a mesma distribuição de gentes, a mesma arrumação de interesses (grupos pedagógicos, etários, sociais...);
provavelmente a partir desta arrumação será possível perceber como é que a escola está organizada (modelos e práticas pedagógicas, lógicas de acção e de interacção, interesses e objectivos ali colocados), qual a cultura predominante (os valores, as ideias, os conceitos), o clima que se faz sentir (tensões pedagógicas, sindicais, até de políticas educativas, do jogo dos diferentes interesses, das situações que se levantam entre os diferentes grupos);
é um espaço onde raramente se está, passasse por lá, em trânsito, qual gare de partidas e chegadas, cada qual com as suas histórias e as suas saudades;

do choro

um miúdo, pequeno, franzino, resultado eventualmente de um andar livre e independente, estava recostado no fundo da biblioteca;
como não tem boa fama aproximei-me para perceber o que fazia; chorava;
sentado, pernas dobradas, cabeça encostadas aos joelhos, abraçado às pernas, chorava;
em tom de brincadeira perguntei o que se passava; que não se passava nada; rapidamente fomos rodeados por outros pequenos actores da escola que, há boa maneira tuga, procuravam cuscar o qe se passava, alvitravam hipóteses, atiravam comentários;
peguei no miúdo e sai para o corredor, quase deserto aquela hora;
voltei a perguntar o que se passava; se era de casa, se tinha sido na escola;
respondeu-me que, depois de uma brincadeira entre rapazes que não correu como o esperado, os amigos não lhe falavam, que ninguém lhe ligava;
fiquei entre o surpreendido e o mudo; afinal, um reguila traquina também precisa de amizades, também precisa da atenção daqueles com quem brinca em tons de empurra prá'qui e prá'li, um puxa e desembaraça;
afinal, nem tudo o que parece agressividade é agressividade; até pode ser apenas e simplesmente um modo de alguém expressar os seus sentimentos e o gosto que tem pelo outro;
ao fim de um bocado, acalmou e lá seguiu pelo corredor a fora, limpando as lágrimas à manga da blusa; fiquei a olhar, a vê-lo ir, pois conheci uma faceta naquele miúdo que não era comum e de mim desconhecida;

terça-feira, novembro 27

da alternativa

é na sequência de pensar alternativas que, se me mantiver pela minha escola, irei propor a criação de uma turma, não a pensar nos alunos, pelo menos de modo directo e mais imediato, mas de professores;
uma turma onde existam professores com diferentes sensibilidades e pontos de vista, mas reconheçam o papel preponderante do trabalho colaborativo, na definição de estratégias comuns na e para a resolução das situações pedagógicas com que nos deparamos nas escolas; onde sejamos capazes de ir além do pedido e da conformidade profissional e seja possível pensar o trabalho dos professores de modo comum, articulado e equilibrado entre todos; é apelar ao currículo para desenvolver capacidades, competências, mas também saberes e desejos;
será um desafio e uma oportunidade;

dos modelos

uma das ideias que sobressai neste título é que quando emitimos uma opinião sobre a escola (seja sobre o seu funcionamento, organização ou simplesmente sobre as suas rotinas) não emitimos apenas uma opinião mas associamos-lhe um conjunto de ideias e de valores que podem pressupor um dado modelo quer pedagógico, quer social;
na defesa de pontos de vista sobre a escola (as avaliações, as práticas, os processos, os comportamentos, os modos...) temos, quase sempre, subjacente uma dada ideia de como as coisas deviam ser; e, na generalidade dos casos, em vez de ser uma ideia de interpelação, de questionamento orientado, de perspectiva crítica, são modelos que remetem para passados (públicos ou pessoais), para modos (de conformidade) com que nos formamos e com que nos fomos formando;
nos tempos que correm em que as políticas apelam à conformidade social e profissional, onde ambicionamos uma estabilidade inexistente e que garantidamente não regressará atrás, é determinante agir-se em face de um perspectiva crítica, isto é, questionar o que temos e avançar para modos, práticas e modelos alternativos - de escola, de organização, de práticas lectivas e pedagógicas, de relação com alunos e pais/encarregados de educação, com a comunidade em que a escola se situa;
neste contexto os professores têm mais possibilidades do que aquelas que imaginam e perante as quais se cerceiam na sua capacidade interventiva (e social);
pensar e implementar práticas colaborativas, abrir espaços de diálogo, conversa e entendimento com os outros, procurar diversificar processos e práticas, envolver o aluno mediante os seus interesses e opções, dar a conhecer outras realidades, outras perspectivas a partir da sua disciplina são coisas que, na generalidade, os professores já fazem; mas não o fazem habitualmente nem de modo sistemático e coerente, nem reflectido, em face de resultados ou de produtos;
e isto é determinante que aconteça;

das opiniões


há muito que procurava este título e que teimava em não encontrar;
uma vez solicitei-o a uma livraria do Porto, que me encontra quase tudo o que pretendo e preciso, mas levaram tanto tempo a enviar que, quando o fizeram, não estava por casa e acabou devolvido à precedência;
encontrei-o agora, no meio de um conjunto de livros vindos a pensar no Natal;
o título não é o mais apelativo comercialmente, implica, por outro lado, ter em conta outras referências bibliográficas, nomeadamente a discussão dos anos 70 entre Bourdieu e Passeron sobre a violência simbólica da escola e dos sistemas educativos;
apesar de já ter passado algum tempo sobre a sua edição, talvez seja de todo em todo pertinente o regresso às ideias e aos pensamentos que ali se espraiam;
é o livro que mais prazer me deu ler no contexto da problemática da violência e da indisciplina nas escolas;

segunda-feira, novembro 26

da ausência


não tenho escrito, não me tem apetecido;
olho a página, percorro sítios e não me apetece escrever;
não faltam temas (os comentários de Alegre e Soares à governação, as políticas de emigração, a política local e a sua arrumação..), ideias (do Natal, das amizades, dos afazeres...), mas não me apetece;
fico-me enroscado no meu pensamento, na oportunidade de regressar a vontade da escrita;

quarta-feira, novembro 21

do contrário

numa reunião na escola há quem defenda a redução da burocracia dos processos, em particular daqueles que se relacionam com a sala de aula, com o processo de ensino aprendizagem; todos concordam e reafirmam a ideia;
logo de seguida, a mesma pessoa defende a criação de grupos de trabalho para a análise de casos s situações que possam ir da indisciplina ao insucesso e colaborar com os professores;
resta perguntar, afinal, o que se entende por burocracia, o que se entende por mais grupos de trabalho; por um lado, procuram-se simplificar procedimentos, por outro, complexificar processos;
é uma assumida mistura entre o que é o trabalho individual (sempre solitário e algo angustiante) e o que são ou podem ser (e deveriam ser) estratégias colaborativas; conhecessem os professores outras realidades administrativas e chegariam a conclusão que a burocracia na escola até não é por aí e além;

do óbvio


... um velho atavismo, gostamos de ser mandados no corpo e na cabeça, nunca queremos responsabilidade, mas aceitamos a obediência. Somos desorganizados e incumpridores e desleixados, mas gostamos de saber que, algures, permanece uma ordem qualquer, para os outros claro, para os desviantes, para os mal-pensantes que têm a arrogância de não se entusiasmar com as regras do rebanho, Abrupto;

escrito assim até parece óbvio, pelo menos para mim, que o defendo há muito, por outras palavras, com outras ideias, com uma outra lógica política e partidária, mas escrito assim realça aquilo que hoje, cada vez mais, somos e nos querem impor;

terça-feira, novembro 20

do sem fim


realizar um projecto de investigação é como descascar uma imensa cebola, há sempre mais qualquer coisa, algo de interesse, uma outra camada;
assim sendo, torna-se uma questão de opções, de valorizações, de escolhas, de apostas de modo a evitar que o projecto se eternize;
a este facto acresce a acutilante pertinência de considerar a disciplina na escola pública (ou a indisciplina) como centro da abordagem de onde brotam, jorram referências, títulos, apontamentos, notícias, toda uma diversidade de textos que levam a considerar o trabalho plenamente inacabado;
por opção, terei de dar por terminado o mapeamento deste conceito até final do ano, prescindindo de tudo o que possa vir a ser encontrado posteriormente; como me terei de concentrar (focalizar) em três ou quatro referências (Jorge do Ó, Nikolas Rose, M. Foucault, Teresa Estrela) que se revelam, por construção teórica, determinantes no meu processo de abordagem; têm em comum o facto de partirem das ideias, dos valores e dos modelos que, quer a disciplina, quer as situações de indisciplina revelam, fazem realçar na organização e no modo de agir da escola pública e na construção de si, da pessoa, do aluno, do cidadão;

do trabalho


a escola é um mundo de diversidades, pluralidades e contradições - alunos, formação, idades, ideias, modelos e valores, entendimentos e conceitos, práticas e teorias;
temos olhado para esta situação como se de um constrangimento se tratasse, como condicionadora do desenvolvimento do trabalho e dos resultados - em particular dos alunos, mas agora também das escolas;
olhar para esta diversidade como uma oportunidade de trabalho considero que é o desafio dos próximos tempos; desafio assente em modelos diversos de trabalho, numa organização diferenciada dos processos, um atendimento mais individualizado, quer ao professor, quer, em particular, ao aluno;
é isto que leio e entendo nesta entrada do JMA em que, apesar da sua extensão, estão lá todos aqueles pormenores, grandes e pequenos, que desafiam a organização educativa a reformular estratégias, a repensar objectivos, a re-utilizar, de um outro modo e com outras consequências, o trabalho dos seus profissionais;
a escola que queremos não deverá estar dependente de um ministro (ou iluminado) mas da capacidade local e situada da sua construção, com todas as dificuldades e constrangimentos que se lhe podem associar, mas também com a oportunidade e as possibilidades que só localmente são e podem ser perspectivados;

do local


a política por estas bandas corre, desliza, flui quase como espaço entretecido entre o público e a socapa;
isto é, entre um grupo de interesses e um conjunto de interessados; algo distante do comum cidadão, da vida quotidiana, do nosso dia-a-dia;
talvez tenha de ser assim; damos importância e valorizamos aquilo que queremos, quando queremos e porque queremos, fruto de contextos, circunstâncias, momentos;
afastado que estou deste processo, entretenho-me a apreciar a passagem das figuras, qual metáfora da chegada do circo à cidade em desfile simultaneamente alegórico e plubicitário das suas maravilhas, das acrobacias, do exotismo, dos receios colectivo, mas também dos desafios, das oportunidades, do desfrute;
mas a malha aperta-se e os adizeres dos poucos espaços bloguistas que se dedicam à política local/regional são disso sintoma;
é um outro espaço, aquele em que procuro desfrutar esta vista e os movimentos (ou movimentações) dos artistas; aqueles que se transfiguram de um momento para o outro de vendedor de pipocas a contorcionista, ou de domador das feras a apresentador da cena seguinte;

segunda-feira, novembro 19

do que fica


da visita, da entrada e saída de museus e de espaços culturais, há uma questão que se me destaca, o que fica depois do que se passa; que deixaremos nós como marca da nossa passagem, do nosso olhar, da nossa forma e do nosso modo de estar neste século;
considerando o mundo como um palco, um espaço de artes e de encenações, de representação e de descoberta, há uma coisa que não tenho grandes dúvidas que deixaremos, para além da fugacidade dos dias e das circunstâncias, a arte;
a arte nas suas mais diferentes formas e representações, da arquitectura à música. passando pela fotografia, pela pintura e escultura, pelos adizeres;
uma das coisas que gostei de ver foram os quadros de Pollok e o que eles representam de corte com correntes anteriores; como a encenação presente que considera o mundo como um palco, por vezes em peep show, mas elucidativo de um olhar sobre a contemporaneidade;

das práticas

uma coisa que gosto de ver e apreciar quando vou lá fora são as escolas e procurar perceber, ainda que por traços leves e muito passageiros, a forma de organização quer do sistema quer da escola;
uma coisa visível é a diferença da escolha das práticas;
no norte da Europa uma das grandes defesas retóricas dos sistemas educativos é a liberdade de escolha; os pais podem escolher quer o estabelecimento de ensino, quer o projecto educativo predominante numa dada escola; sem comentários;
mas os professores ficam condicionados a essa escolha e a esses projectos; se por cá o professor escolhe o seu método de ensino de acordo com a sua formação, a sua experiência, o grupo/turma que tem pela frente (em face das suas características), por lá não há liberdades de práticas; o professor insere-se no quadro de um determinado projecto educativo, que tem associado a si uma determinada prática; queira ou não, concorde ou não assume uma orientação definida pelo órgão de gestão;
um modelo ou outro, o nosso, onde há liberdade de prática pedagógica, mas algum condicionamento na escolha da escola, e o dos outros (onde se escolhe a escola mas não a prática pedagógica) há diferenças incomensuráveis - quer de resultados, quer de processos;
o que fica é apenas a diferença;

do regresso

e pronto, de regresso ao meu cantinho, para trocar ideias e argumentos, opiniões e pensamentos;
de regresso aos falantes da língua de Camões e Pessoa, do cantinho onde sentimos as saudades e se faz o eterno regresso;

sábado, novembro 17

da seguranca

por estas bandas da terra de sua magestade, a seguranca nao e' completamente perceptivel nem visivel, mas insinua-se em praticamente todos os poros da cidade, da comum convivialidade social;
nao assusta, nem amedronta turista ou o pacato cidadao, mas a percepcao da presenca do big brother, constrange movimentos e leva-me a perguntar se, apesar de todas as medidas, elas serao garantias do que?

daqui

de um qualquer lado, desde que queiramos, conseguimos perceber, ver e sentir as diferencas (nao tenho caracteres nacionais, dai alguma falta de acentos e cedilhas):
mas, para quem gosta de perceber como e' que as coisas acontecem, a diferenca, a pluralidade, a mistura da' para perceber que ha' razoes mais de um lado do que do outro;
afinal e apesar de todo o spam, o mundo pula e avanca como bola colorida nas maos de uma crianca;
vai dai e por que os comentarios tocam a animosidade, alteram-se as regras e quebra-se o spam, pelo menos algum...

segunda-feira, novembro 12

dali

agora, depois de uma simples pausa, vou ali e já venho;
não sei se terei oportunidade de escrever; se tiver, fá-lo-ei sem acentos; senão tiver essa oportunidade fica para depois, para a próxima semana;
não desisto, é apenas uma saída deste local, um desvio para um outro, em que me ausento, sem deixar este espaço, apenas uma pausa, um interregno;
vou ali e já venho;

da recepção

tive hoje numa recepção ao professor;
entre convites de uns e obrigatoriedade de outros lá fomos ouvir o ponto político sindical do momento;
na mesa uma santíssima trindade comum, um representante sindical (logo o de topo da FENPROF, Mário Nogueira), um académico, irrepreensivelmente dejavu na pessoa do Prof. da ESE de Santarém, Santana Castilho e o excelentíssimo director regional de educação, manifestamente em desequilíbrio na cena;
obviamente que agradou a uns e outros nem tanto, que desagradou a alguns, que foi excessivamente sindical e partidarizado sem ser político;
o que sobressai desta santíssima trindade diz respeito à facilidade com que hoje, na cena política educativa nacional pode sobressair o herói-anti-herói, isto é, aquele que mais com a opinião do que com argumentos, crítica a equipa governativa, sabe o q.b. das posições sócio-profissionais para agradar às plateias e, sem contraponto nem alternativa, faz figura de herói descosendo tudo e todos sem nada ter apresentado de sério;
isto não é política... é demagogia, pura e simples, ainda por cima alimentada e sustentada pelo governo da nação;

quinta-feira, novembro 8

do juiz


no âmbito do processo que inquiro, referenciei que o aluno, com 13 anos de idade, já tem uma pena pelo tribunal de menores, fruto de atitudes fora da escola;
a pena? esta é que me surpreendeu, qual pena suspensa, durante dois anos o aluno é obrigado a frequentar a escola; assim mesmo, definido e determinado por uma meretíssima juíza do tribunal de menores;
onde reside a minha surpresa?
por um lado, no facto de a senhora fazer cumprir o que está estipulado na lei de bases, a obrigatoriedade de frequência da escola para todos os alunos até que perfaçam a idade de 15 anos;
por outro, no facto de a senhora, certamente ciente de todo o seu juízo, encarar a escola como um castigo ou um local de pena; e não como um dever de qualquer cidadão;
ele há coisas que continuo a não perceber, mas certamente o problema é meu, a incapacidade é minha;

do terrorista

um dos alunos que tenho está catalogado como um pequeno terrorista; provavelmente não chegará ao metro de gente, mas geniquento, quezilento, provocador, perturbador de tudo e de todos;
ontem pus-me de volta dele, fizemos um cartão para o Natal, todo colorido, imagens alusivas e o nome por baixo, logo a seguir à dedicatória à mãe;
pedi-lhe para ir imprimir o cartão; quando voltou, papel na mão, sorriso rasgado de orelha a orelha, orgulho cheio pelo produto do seu trabalho, vira-se para mim e de olhos bem abertos lança-me, obrigado;
fiquei sem palavras; sem qualquer capacidade de argumentação; apenas perguntei, como se fosse desconhecedor, obrigado porquê J? ao que respondeu, como se não se tivesse feito ouvir, obrigado, stor;
e é ele um terrosita, fará se não fosse...

da crítica

é bom perceber que este meu cantinho virou espaço de opinião literária, de dissecação de ortografia e da gramática; é bom perceber e sentir que há pessoas atentas a estas coisas e que, ainda que pontualmente, deixem de lado a opinião e os argumentos e se fiquem pelo erro;
pena é a incapacidade, pelo menos de alguns comentaristas e críticos de opinião, não chegarem ao conteúdo;
mas pronto, eu é que sou o "dotor" (foi mesmo assim o escrito, propositado, deliberado);

quarta-feira, novembro 7

dos resultados

não são rankings mas os jornais de hoje trazem (breves ou mais prolongados) apontamentos de análise sobre as provas de aferição realizadas no 4º e 6º anos da escolaridade;
grande descoberta a da perda de competências em apenas dois anos, seja ao nível da lógica, do cálculo ou da língua;
provavelmente será situação que se repete na passagem do 6º para o 9º e deste para o 12º (onde se destaca apenas a tecnicidade de conhecimentos amestrados);
provavelmente alguns dos discursos que dizem que os alunos vêem mal preparados ter-se-ão que refazer e adequar mais ao sentimentos que preparamos mal os nossos alunos;
isto de assumir responsabilidades é que é mais difícil;

da parcimónia

à que vontade de escrever e saber que não sou lido por ninguém;
à que saudades de uma escrita livre e espontânea, fluente como as ideias, que escorra por onde tenha e descubra e construa brechas de fugas;
à que saudades de escrever aqui e sentir apenas o texto a ir para onde as emoções o empurram;
à que saudade...

do ontem

no dia de ontem uma tarde, no parlamento, para recordar que saudades só do futuro;
uma noite, escocesa, para esquecer, em particular aquela segunda parte...

segunda-feira, novembro 5

das curvas

nesta cidade e nesta região, o contrário é o que mais se parece com as curvas de uma vida social;
aparentemente rectilínea, a vida política manifesta-se nas inúmeras curvas, umas não assinaladas no mapa partidário, outras claras e mais óbvias, com que o percurso social se faz, com que se cruzam ideias e sombras, montes e vales, ideias e modelos, vontades e desejos, mas também insuspeições e situações inesperadas;
a vida político-partidária nesta região, cada vez mais se faz pela sombra, pela insinuação, pelo não dito, pela ausência do que pela presença, do que pelo dito, pelo afirmado, pelo directo ou pelo manifesto;
tenho consciência que muito da política é subreptício, feito por detrás dos panos, na amena cavaqueira de um petisco, de uma confraternização, de um aglomerado de ideias e opiniões que, apesar de divergentes ou, mesmo, rivais, identificam pontos de consenso e ameno concentimento;
talvez seja eu que ainda não tenha arrumado a gaveta da política, que ande ressabiado ou ressentido; talvez seja eu que tenha um outro modo de ver e sentir esta coisa da política regional, mas não me conformo, não me submeto a que apenas dois ou três actores definam e determinem o devir de tantos e tantos outros;
atenção, esta situação não se confina ao meu PS, é mais vasta e abrangente, vai além de um partido e aninha-se na gestão dos interesses partidários e no mando que todos gostam tanto de usufruir, sejam da esquerda ou da direita;

da disciplina

à medida que a escola se diversifica, que as situações conjunturais mais influência e presença têm sobre a escola, mais e mais graves situações relacionadas com a disciplina se manifestam;
se é certo que, genericamente, o interior não denota ainda as situações de indisciplina "típicas" de algumas zonas suburbanas ou de guetos sociais dos arrabaldes das grandes cidades (onde, mais que indisciplina, é a violência a graçar), é também certo que existem cada vez em maior número situações de incómodo, transtorno, irregularidade dos quotidianos educativos;
agora, na minha escola, fui nomeado instrutor de um processo disciplinar; mais uma oportunidade para ouvir de sua justiça e perceber o que está por detrás de tantas destas situações e procurar compreender eventuais modos de os contornar;
certo que não existem soluções tipo aspirina ou pronto-a-vestir, mas situações que precisam de contextos, situações e circunstâncias próprias, sempre individualizadas, sempre fulanizadas;

do senso

esta notícia remete para outros tempos em que as situações, estas e outras como estas, eram rápida e eficazmente resolvidas desde que mediatizadas;
pergunto, não haverá gente com bom senso nestes serviços, de âmbito regional e subregional, que consiga avaliar a situação sem intermediação da comunicação social ou sem interferência de um ministro?
será que para a resolução destes casos, e outros como estes, será necessária a sua mediatização (ou mediação social)?

domingo, novembro 4

da família

a morte tem uma coisa boa (certamente entre várias); a de proporcionar a reunião da família; juntar aqueles que, por afinidades consaguíneas mas afazeres distintos, há muito não se juntavam, não se encontravam, não se reuniam, não falavam;
a morte tem a particularidade de reunir conversas, pôr em dia assuntos passados, "matar" aquelas saudades que decorrem da família e de uma amizade familiar;
numa família claramente abrangente sempre fiquei a saber que as águas andam revoltas até pelo PC, que a acalmia do PPD/PSD é mais ilusão de óptica que outra coisa;
tantas as coisas que se sabem quando a família s reúne, se junta; pena é ter quase sempre como pretexto a morte;
mas é a morte que marca uma qualquer família, que faz com que se sinta família, pretensamente unida, pretensamente junta e una;

da morte

este fim de semana estive ocupado em visita ao cemitério da terra, que ganhou mais um residente com o mesmo apelido;
o cemitério estava bonito, enfeitado que estava com inúmeras flores, multicolorido, um jardim assumidamente desenhado por efeitos do dia de finados - com variações entre o natural e o plastificado, aquelas que murcham e aquelas que nunca murchando também não se decompõem (que imagens associar a uma e a outra, que razões alencar para uma e para outra?);
a morte daqueles que nos são próximos atira-nos para a frente, para o futuro; sentimos, eu sinto pelo menos, que subimos mais um degrau, passamos mais um nível e que um dia atingiremos a plenitude do jogo e será chegada a nossa hora;
os rituais dizem-me pouco; a fé não abunda na minha consciência presente; já foi chão que deu uvas, fruto de uma infância assumidamente cristã e que, por vicissitudes várias, deixo para trás, para a memória, hoje envolta num agnosticismo crente;
é a morte senhores, aquela que nos impele e faz com que possamos viver a vida...

quinta-feira, novembro 1

da metáfora

na azeitona, sem mais para fazer, faz-se e pensa-se, criam-se metáforas que possam associar uma acção/actividade com as minhas preocupações, para já (por muito incrível que possa parecer) só tenho uma, a minha tese;
no meio dos ramos ocorria-me a ideia, por vezes, para ver o próximo temos de nos afastar; outras, apesar de vermos temos de nos desviar para conseguir alcançar o objectivo;
como dei por mim a perceber que o fácil nem sempre é o mais imediato; os ramos mais próximos ficavam para o fim, para a segunda ou terceira volta; aqueles que estavam mais distantes por vezes eram os mais rápidos;
são metáforas, senhores, essas as ideias que nos servem para alguma coisa;

da rama

hoje foi dia de andar à azeitona;
antigamente, em tempos que já lá vão, era uma acção colectiva, onde se entretinham amores e companhias, gostos e alguns desgostos;
è engraçado ouvir as histórias do antigamente, repetidas até à infinitésima parte, sempre com o mesmo tom;
hoje não houve companhia, foi uma atitude solitária, andar de árvore em árvore, a esgalhar os ramos e a pensar na vida;
ramas que o tempo tece;

do silêncio

quase que me apetecia comentar os comentários deixados na duas postas anteriores;
por mero pudor, não o faço; deixo o comboio andar, entre carris e percursos mais ou menos sinuosos;
agora há coisas com as quais não compactuo, nem silencio;
muitos partidos dos partidos alentejanos são constituídos por pouca gente, militantes empenhados mas sempre dependentes de outros interesses; militantes empenhados, mas seriamente condicionados pela vontade de poucos;
pergunto a mim mesmo e a uns quantos que me rodeiam, o que queremos nós?
sem esperar pela resposta digo, de forma aberta e convincente, como sempre foi meu apanágio, que não me importa nem o suor, nem as lágrimas, nem a dor, desde que sirva para que as coisas não fiquem como sempre estiveram, na mãos de uns quantos, no interesse de outros;
um partido político não é uma associação benemérita, visa o poder e a sua consolidação; disso não há troco, espinhas ou caroços; quem se julgar ao contrário será por que está enganado, equivocado;
agora não pode nem deve ser o poder de uns quantos, nem o interesse de outros tantos;
se queremos um projecto socialista há que assumir, de forma aberta, clara e frontal, os princípios, valores e ideias; e não apenas os interesses;
para isso, entre o silêncio ruidoso e o ruído silencioso, estarei cá, para o que der e para o que vier;

quarta-feira, outubro 31

da sombra

podia ter chamado a esta entrada "de Évora", opto por um mais escuro, as sombras;
há uma profunda movimentação política e partidária nesta santa terrinha;
movimentação pelas sombras, pelas esquinas, qual desconfiado do outro e de tudo;
mexe-se o xadrez partidário num perplexo jogo de sombras, onde vale mais a insinuação que a manifestação; hesita-se no movimento, sabendo que pode ter um efeito de borboleta;
à esquerda e à direita do PS local contam-se espingardas, definem-se alvos a abater (mesmo que não se mexam, mesmo que impávidos e serenos na sua bonomia), sondam-se opiniões e perspectivam-se eleições, arrumos;
no PS local fico com a sensação que o silêncio é pronúncio de confusão, de trovoada; diz-se que sim para logo a seguir se afirmar o talvez e convictamente se dizer que nunca se disse; procura-se a influência, a mestria de um passe, de uma desmarcação que mais pode ser uma colagem ao outro, talvez adversário, talvez cúmplice;
a política não ganha com estes jogos, a cidadania sente-se alheada do seu próprio destino, os mimetismos parlamentares não têm, pela cidade e por esta região, passos perdidos, apenas oportunidades perdidas;
é nas sombras que os gatos são parvos - não pardos...

das políticas

critico as políticas? áh pois claro que crítico;
deste governo, que apoio de forma militante? sem dúvida; apesar de boy e, de quando em quando utilizador de cargos, considero que nem tudo é correcto e, menos ainda, adequado;
agora o que sinto de diferente perante a crítica política é a de construir para além do normativo, para além do procedimento institucional;
por vezes, e já me custou algumas dores de cabeça, mesmo contra o instituído, contra o determinado, na defesa de uma ideia e de uma prática docente que não fica presa à regra ou ao partido e procura uma prática social fortemente politizada (mas não partidarizada);
não crítico apenas pela crítica, nem para desmontar o preceituado, muita das vezes enformado do seu próprio contrário, procuro uma afirmação situada da escola e da acção do professor; defendo que o normativo se deve construir a partir das práticas, mais do que das vontades de um qualquer governante;
a crítica essencial que faço a esta ministra, já aqui o escrevi, é a de estar a produzir legislação à revelia dos principais interessados e envolvidos, correndo-se o sério risco, mais que previsível, de tudo se alterar quando for embora;
e isto não é política e menos ainda educativa (que leva tempo a sedimentar); é asneira da grossa;

da diferença

uma das diferenças que sinto entre a minha pessoa e a restante sala de professores (não toda), é a minha defesa da escola por aqueles que estão na escola;
tento explicar, à semelhança de outros defendo uma escola situada, feita por aqueles que lhe dão corpo, vida e alma; não espero (nem deste nem de outros governos ou ministros) soluções que me facilitem a vida, descompliquem procedimentos, organizem as actividades, definam os objectivos;
as minhas mais essenciais discussões passam pela defesa da capacidade dos professores agirem em face do seu contexto, das suas situações e não de esperar que me digam como tenho de fazer e o que fazer;
mas reconheço alguma pertinência ao sentido normativo da acção pública; sem algumas orientações, sem algumas opções de política educativa emanadas de uma qualquer secretaria, certamente não teríamos a escola que temos, teríamos uma outra;
dentro deste aspecto, para mim determinante, configura-se um outro, melhor explicado por quem percebe da poda, que se traduz na alteração dos procedimentos em sala de aula; estamos habituados, fomos formados para ensinar a muitos como de um só se tratasse (frase feliz de Perrenoud e Barroso), numa escola mais ou menos homogénea, mais ou menos equilibrada, mais ou menos pacífica, mais ou menos interessada, mais ou menos empenhada, mais ou menos acompanhada;
mas não é isso que temos, pois não;

terça-feira, outubro 30

do regime

ainda a propósito de uma das grandes discussões pedagógicas (?), sobre o regime disciplinar do aluno, uma nota de acrescento;
não é à toa, não foi sem querer, não foi despropositado e menos ainda inocente que o primeiro regime disciplinar do aluno, definido na portaria 679/77 de 8 de Novembro se manteve inalterado desde a sua fundação, em 1977, até 1998, 21 anos, apesar de todo o seu articulado não referente ao regime disciplinar ter sido revogado; que o definido pelo decreto-lei 270/98 se conseguisse aguentar 5 anos, substituído que foi pela Lei 30/2002 e que passados outros 5 anos surja um novo;
primeira referência, a alteração do acto em si, que vai de portaria a lei, conferindo-lhe um enquadramento e um regime processual substancialmente diferente;
segunda referência, o próprio enquadramento do regime, que passa por um quadro "pedagógico" de organização da escola, definido pela referida portaria 679/77, até a uma assumida judicialização da situação, claramente evidente na lei 30/2002;
o acrescento, se não é evidente nesta mutação de enquadramento e configuração uma ideia de sociedade e de relação de actores (professores, alunos, pais/encarregados de educação) então esclareçam-me, p.f.;
que este regime corre o risco de vigorar ainda menos tempo? é certo; que não irá resolver os problemas de indisciplina e violência que consomem muitas das nossas escolas, é também clarinho; primeiro, porque grande parte das medidas estão a ser tomadas à revelia dos seus mais directos interessados, segundo por que não há soluções administrativas ou normativas que ponham fim à angústia de quem trabalha na escola e assume a educação como profissão;
fundamental neste processo é equacionarem-se outros modos de organização da escola e da educação - neste momento estou mais preocupado com a escola;

dos cuidados

até pensava em não escrever, não sentia grande entusiasmo nem predisposição;
mas o hálito tem destas coisas;
uma metáfora;
a esposa tem gostos estranhos (basta estar comigo) por uma área designada de cuidados paliativos, isto é, cuidados em fim de vida;
utilizando esta área como metáfora face ao aluno absentista, ao aluno que não se reconhece na escola nem reconhece à escola qualquer validade, falo do aluno que terá entre os 12/13 anos e os 15/16 (fase crítica da relação escolar) pergunto, deixa-mo-lo morrer, deixa-mo-lo ir? porque não quer, por que não gosta, porque não vale a pena contrariar?
afinal quem são os filhos de Rousseau? aqueles que simplesmente desistem do aluno, porque não o querem contrariar, nem contradizer mas pugnam por uma escola para alguns, os interessados, os limpinhos, os assertivos e cordatos, ou aqueles que procuram mostrar que há alternativas, que essas alternativas passam pela escola?
o que está em causa no regime disciplinar do aluno, neste ou nos que o antecederam, referem-se a modelos de escola e de educação, do aluno perante a escola e do professor perante a sociedade que integra;
estou certo que aqueles docentes que trabalham na Cova da Moura ou noutros guetos terão outro tipo de argumento, outros factores a considerar, agora dizer que o director de turma tem de escrever diariamente ou simplesmente organizar mais uns papeis ou que o conselho pedagógico se deva debruçar sobre as suas responsabilidades peço desculpa, mas não são argumentos, são desculpas...

segunda-feira, outubro 29

das faltas

só para contrariar aquilo que parece ser uma opinião generalizada, deixem-me dissertar sobre o novo regime disciplinar do aluno, aquele mesmo que considera que as faltas podem não ser consideradas para a retenção do aluno;
aparentemente, da esquerda à direita, tecem-se comentários de leviandade, de laxismo, de desresponsabilização que pode decorrer deste novo diploma;
uma questão, por mero acaso já terão lido o diploma? é que não é essa a leitura que faço; remete para a escola e para os seus órgãos de gestão a responsabilidade de definição de mecanismos para se procurar perceber o porquê da falta e de, a partir daí, se definirem os instrumentos e os modos de contrariar essa prevaricação, envolvendo as diferentes partes e não apenas um sector;
a discussão em redor deste diploma, parece trazer para a boca de cena uma ideia de escola que, direi eu, assenta no antigamente, uma escola de alguns, para alguns e que apenas alguns eram merecedores da atenção, do acompanhamento e da orientação educativa;
a escola que temos, pelo menos por enquanto, assenta numa lógica, nem sempre clara, nem sempre definida, de equidade, de a escola procurar colmatar carências do agregado familiar; é pôr os professores a fazerem mais? é sim senhor, de modo a que a escola possa ser para todos e todos possam ter as mesmas oportunidades;
a questão que se coloca, e que decorre dos poderes que a escola e os professores têm, é a de se organizarem de um outro modo, para poderem fazer face ao desafio da integração, daqueles que não se reconhecem na escola, na sua cultura, nos seus modos e preceitos mas que têm direito a ela; o que se institui mais não é que uma escola para todos, pois a escola cresceu e massificou-se mas não se democratizou;
o que esta legislação traz é uma assumida divisão entre a escola que temos e a escola que pretendemos, e há quem pretenda voltar atrás defendendo que se está a avançar, e é mentira;

da administração

um relatório dá conta, clara, daquilo que muitos já suspeitávamos;
a administração pública trabalha mal é pouco produtiva;
contudo, na comparação efectuada com o sector privado, há diferentes ideias que me ocorrem;
primeiro, trabalha mal e é pouco produtiva porquê? por causa do simples funcionário que cumpre regras e obrigações? por causa dos objectivos que são definidos exteriormente e aleatoriamente ao funcionário e ao sector? ou porque os chefes, as chefias da administração pública são fracas, pouco formadas, pouco conhecedoras de lógicas organizacionais e de articulação dos seus recursos humanos?
segundo, ao se rotular a administração pública de pouco produtiva e desorganizada, comparativamente ao sector privado, está-se a querer dizer que se privatizássemos os serviços eles seriam melhores? mais produtivos? mais rentáveis? considero esta ideia enganadora e preocupante, pois revela o retorno de um velha ideia que quanto menos Estado melhor Estado;
terceiro, no contexto da produtividade e qualidade do trabalho da administração pública, foram equacionados os sectores que, apesar de trabalharem mal, estarem indevidamente organizados, são fundamentais a um Estado de direito, ao Estado previdência, ao serviço público que, neste sentido, o privado nem dado quereria?
sou defensor do papel do Estado e conheço alguns dos seus meandros; considero a acção pública como fundamental na correcção de desequilíbrios e da equidade social; é por isto que defendo, há muito, que a administração pública funciona mal por causa das chefias intermédias, geralmente perpétuaveis nos cargos, independentemente das políticas, sempre defensoras de um função técnica, formadas em lógicas do antigamente, funcionais, hierárquicas, com linha de comando definida, cerceadoras das iniciativas individuais, das autonomias institucionais, sempre receosas da fuga do mando;
mais do que se reconhecer que a administração pública funciona mal seria procurar perceber porque é que funciona mal, onde, por que factores e em que circunstâncias;
este trabalho, pouco adianta ao senso comum, a não ser a progressiva desqualificação e desconsideração de um sector que é, apenas, o mais importante no contexto da economia nacional;

domingo, outubro 28

do acordo

para destacar que não podia estar em maior acordo com
JMA
destaco um ideia de Boltanski e Chiapello (em livro de 1999) ainda que sobre a realidade francesa, fácil de transcrever e adoptar no nosso país:
(...) o pôr em questão das formas até aqui dominantes do controlo hierárquico, bem como a concessão duma maior margem de liberdade são apresentadas (...) como uma resposta às exigências de autonomia oriundas de assalariados mais qualificados, que frequentaram mais tempo a escola e, particularmente, de jovens quadros que, formados num ambiente familiar e escolar mais permissivo, suportam com dificuldade a disciplina da empresa e o controlo apertado dos chefes e não só se revoltam contra o autoritarismo quando são submetidos a ele, como também lhes repugna exercê-lo sobre os seus subordinados
mais do que nunca, com possibilidade substancialmente diferentes daquelas a que até agora a escola e os professores se depararam, o futuro será aquilo que quisermos e dele fizermos (por construir e por merecer);
que há tentativas de contrariar essa oportunidade? sem dúvida, mas por claro receio de o poder central perder o protagonismo que sempre assumiu na liderança do sistema e que sente escorrer por entre os dedos da mão, qual areia de praia que queremos agarrar e que nos escapa; quanto maior a força, menor o número de grãos de areia que prendemos;
a autonomia passa por isso mesmo, pela assunção das responsabilidades e, muito especialmente, do querer de quantos constroem a escola no seu quotidiano - na diferença, na divergência, nos contrários;

da tradição


cá pela terra a tradição ainda ganha, em certas circunstâncias, laivos de se manter, de procurar a sua permanente afirmação;
as castanhas ainda se vendem em motas reelaboradas com assador, se embrulham em folhas da lista telefónica ou de revistas ultrapassadas;
os preços, esses, é que pouco têm a ver com a tradição ou, pelo contrário, se actualizam em face das solicitações;
ao ver esta imagem (captada por mim ontem de manhã na cidade) lembro-me de um livro de um autor eborense sobre figuras típicas da cidade de Évora, onde fazia parte determinante uma família com diferentes vertentes; ela vendia castanhas, sempre ali em frente do que foi o café Portugal, ele engraxador, as filhas viviam de coisas mais modernas e os filhos viraram videntes e outras coisas;
Évora, lentamente, perde as suas figuras mais típicas, mais marcantes de uma história rural e urbana, para ganhar outras figuras, menos marcantes, mas figuras que reconhecemos na praça;

sábado, outubro 27

da brincadeira


coisas do antigamente, que nos avivam e despertam memórias;
coisas de crianças de antigamente, hoje para turista ver, apreciar e, se entender, comprar;

do conhecer

e valeu bem a pena o momento de conversa;
afinal sempre conversamos;
as conversas fluiam, tropeçavam umas nas outras, descobriam-se ligações e cumplicidades,
valeu bem a pena ouvir falar de coisas óbivias e que, afinal, não são assim tão óbvias;

quinta-feira, outubro 25

do conhecer

hoje, assim espero, irei conhecer pessoalmente uma pessoa que conheço destes espaços da blogosfera, que demonstra um bom senso de saber e experiência feito;
estou curioso;

do contrário


não é pouco frequente as pessoas, em que situação ou contexto for, colocarem-se no lado dos problemas;
há situações e circunstâncias que se prestam mais a isso que outras, mas considero engraçado sentir a divisão entre quem assume o problema e quem assume a solução;
é uma situação muito nacional, muito tuga, reminiscência de passados recentes, que têm reflexo no presente;
e são poucas as circunstâncias em que há consciência desses contrários, das posições; habitualmente estamos sempre do lado certo, correctos, com a razão, com os argumentos;
mesmo que seja do contrário;

do parado


de quando em vez sabe bem parar, estacionar por um lado que não seja este;
evitam-se comentários mais emotivos, desabafos inoportunos ou inconvenientes;
é bom estacionar e parar;

terça-feira, outubro 23

da estruturação

das conversas, do pensar, dos diálogos;
nas coisas que envolvem os comportamentos, as situações de indisciplina (sejam elas o que forem) há sempre, entre diferentes dimensões, duas que se destacam na e para a sua análise e avaliação;
uma diz respeito aos modelos de comportamento que se encontram, ou podem encontrar, associadas à indisciplina; ou seja, uma determinada situação, um comportamento, um acontecimento que terá de ser considerado imprevisto, não perspectivado, traz um modelo contrário, de relação entre alunos e professores, um padrão de comportamento (como é que o aluno se deve comportar em sala de aula, como é que o professor se deve comportar nesse contexto); estes modelos e estes padrões estão de tal modo "naturalizados" na acção educativa que, muita das vezes, é impensável perspectivar outros modos, outros modelos, outros padrões; e, habitual e genericamente, eles remetem para um tempo em que o sistema educativo era para uns quantos, a selectividade "quase" que natural, as diversidades eram homogéneas e as autoridades impostas e assumidas; por muito que gostássemos, por muito que o queiramos, por muito aprazível que pudesse ser para a prática pedagógica hoje não é bem assim;
um segundo relaciona-se com aquilo que se poderá designar de "fontes de estruturação do quotidiano" (frase feliz e certeira de Machado Pais na "Sociologia do Quotidiano"); fontes que, muita das vezes, são as mediáticas, que impõem determinados conceitos e determinadas problemáticas; ontem, aquilo que sobressaiu em alguns dos comentários foi a implicação dos relacionamentos entre professores e alunos no contexto da avaliação de desempenho dos docentes;
entre os modelos "naturalizados" e as "fontes de estruturação do quotidiano" há que pensar e discutir, falar e analisar, criticamente, reflexivamente, esses quotidianos para que se possa ultrapassar essa naturalização e pensar outros modos de organizar a escola e a relação pedagógica;
estes são os desafios de uma outra estruturação dos nossos quotidianos;

dos comportamentos

tive oportunidade de assistir a uma reunião onde se abordavam os comportamentos; num grupo/turma rotulado de complicado, com casos complicados deu-se conta da análise e do diagnóstico da situação como se procuraram definir caminhos de, direi, remediação;
duas notas neste contexto;
a ausência quer dos alunos, quer dos encarregados de educação; apesar de o director de turma ter dado conta dos contactos efectuados e dos procedimentos adoptados que visaram, particularmente, os encarregados de educação, nenhum foi convidado a estar presente, nenhum foi ouvido na sua quota parte de responsabilidade na acção e nos comportamentos dos filhos; como os alunos, apesar de visados em todo o processo, apesar de reconhecedores, como foi dito, dos comportamentos e das atitudes, conscientes das suas implicações, a discussão ficou cingida aos professores; tal situação leva ao dilema das incapacidades, quando são os professores os únicos a definir os procedimentos, a criar os processos, os únicos actores de uma acção que envolve e implica diferentes partes, pode conduzir à situação de impasse, bloqueio, incapacidade; e não é incapacidade, é má estratégia;
segunda referência, o dito, os comentários, a análise foram sempre no sentido de envolver os alunos na resolução das estratégias, na implementação das medidas; poucos foram os comentários a ficar fora deste contexto, ainda que numa ou noutra situação se procurasse uma "clinização" dos comportamentos, isto é, remetê-los para a sua dimensão clínica, para os apoios educativos, para a despistagem de problemas psicossociais, o certo é que as medidas visavam, nos ditos, o envolvimento e o comprometimento; mas o que acabou decidido vai no sentido de estratégias intimidatórias, longe do envolvimento e comprometimento dos alunos; vai no sentido de se comunicarem situações em vez de se procurar um diálogo com as partes envolvidas;
ou muito me engano ou, no curto prazo a estratégia até poderá surtir alguns resultados, a intimidação é sempre curta, mas, no médio prazo a situação tenderá a repetir-se senão mesmo a agravar-se e os sentimentos de incapacidade, impotência, angústia e stresse a manifestarem-se;

segunda-feira, outubro 22

de manhã

de manhã relativamente cedo, 08h25, estava sentado na praça de Giraldo;
via quem passava, quem chegava, quem seguia; via o sol a descobrir de detrás dos prédios, ouvia os comentários ao fim-de-semana, sentia a pressa e o vagar de quem por ali se cruzava;
folheava o jornal, passava os olhos pelas notícias, descobria outros modos de se descobrir a cidade;

domingo, outubro 21

da continuidade

tenho que reconhecer alguma amargura, algum incómodo, se não o fizesse sentir-me-ia preso a uma consciência que não tenho;
dos elementos que não foram reconduzidos após a renovação do IPJ, apenas os alentejanos não têm qualquer elemento de continuidade; podia pensar que era apenas pela minha incompetência e incapacidade, mas o facto de sentir que acompanho os restantes alentejanos neste rol, faz-me pensar e querer, que o problema não será apenas meu, mas regional;
e não será assim, pois não?
é que considerar que o desconhecimento da coisa nacional é assumido pelos outros é uma coisa, considerar que somos todos tolos e ignorantes é outra, como outra é assumir que, seja pelo que for, as coisas funcionam assim mesmo, isto é a mais grave de todas;
onde é que nós estamos? onde nos querem meter?
em dia de alteração de contador, não tenho pachorra para aguentar, comer e calar; gosto do que faço, como gosto demasiadamente da minha terra e da minha região para simplesmente assistir ao comboio a passar;
não me calo agora, como não me calarei no futuro; por muito que isso me possa doer e prejudicar; mas não me calo...