terça-feira, maio 31

aniversariante

das escolhas

Oiço conversas de professores a escolherem livros de trabalho (?), manuais para o aluno.
Há, no meio das conversas, quem aponte critérios como a cor, o sentido da autonomia do aluno, os textos, a profusão de exemplos ou exercícios. Outros defendem a concepção, o preço, coisas que constam de uma lista de mercearia onde o professor deve registar as suas opiniões.
Outros queixam-se que receberam poucos livros, que algumas editoras foram parcas na distribuição ou no convite.
Não comento, nem intervenho. Não uso manual, não tenho livro de texto, não tenho documento de trabalho organizado ou disponibilizado por uma qualquer editora. Utilizo, como elemento de orientação aquele que adoptaram na escola. Mas sempre com a preocupação de referir aos alunos que é um olhar, revela um conjunto de preocupações, evidencia uma dada leitura do que é a educação, qual o papel da escola e, entre um e outro, qual o destaque da disciplina.
Prefiro construir os meus materiais, trocá-los com alunos, construir o meu olhar, o nosso olhar, definir as minhas e as nossas valorizações e/ou destaque.
Não sou nem melhor nem pior que os autores dos manuais e claramente muito menos profissional que eles.
Mas estamos ao alcance de uns e de outros na justificação das nossas escolhas, das nossas opções.

competência

Quase em final de ano há aqueles que estão preocupados com os conhecimentos, com a realização de testes, com a quantificação dos conhecimentos, com o rigor que uma folha de cálculo pode evidenciar.
Apologista que sou que o conhecimento é uma construção social, que a sala de aula é um permanente degladiar de equilíbrios e uma gestão delicada de sensibilidades revelo a minha preocupação pela gestão das competências, pelo crescimento da pessoa do aluno, pela consolidação de ideias e princípios que, sem grandes teorias nem enquadramento conceptual, possam perspectivar ganhos, evolução, sedimentação, construção do ser e da pessoa.
Como defensor que o ensino e a aprendizagem decorre de um processo interaccionista, onde se definem, constroem e negoceiam objectivos, interesses e sentidos a minha preocupação vai para as emoções, para os afectos, para a assunção que avaliar envolve sentimentos, mútuos, reciprocos.
Procuro, no processo de avaliação, perceber o que se aprendeu, não na História, mas na capacidade de a utilizar para compreender, perceber e questionar o mundo.
Procuro competências, os conhecimentos virão depois.
Assumidamente.

segunda-feira, maio 30

comportamento

Num dos cantos da sala decorre, aparentemente, um encontro de professores onde se discute comportamento, regras, atitudes.
Uns defendem que o órgão de gestão deve fazer uma circular onde ponha travão a um conjunto de comportamentos que designam de irresponsáveis.
Outros que se devem responsabilizar os pais, a família.
A questão, afinal, estará no desfazamento de atitudes, valores, comportamentos e ideias entre uns (alunos) e outros (docentes).
Criar e gerir este equilíbiro é fundamental para que um processo (o pedagógico) possa ocorrer.
Responsabilizar a família não pode significar a desresponsabilização dos docentes.

oportunidade

Ainda não tive oportunidade de ver e sentir o novo desafio colocado pelo Miguel.
O fim-de-semana foi prolongado e imposta uma necessária e saudável distanciação desta máquina e deste mundo. Nem correio electrónico consultei, situação que faz com que ainda não tenha respondido.
A seu tempo e o necessário pedido de desculpas ao Miguel.

sentido

Na sequência da última conversa uma ideia se destaca, a criação de sentidos ao que se faz na escola e, em particular, na sala de aula.
Para uns esta construção de sentidos é da exclusiva responsabilidade do aluno, para outros o professor é o elemento central.
Para mim, e para muitos outros, é uma construção social, uma relação dinâmica (há quem a designe por interactiva), entre aluno, professor, família.
Uma santíssima trindade na construção de sentidos ao trabalho escolar.

quarta-feira, maio 25

Mais conversa

Estou na escola à espera de mais conversa. No âmbito de uma iniciativa organizada pelo departamento a que pertenço, mais umas conversas hoje sobre tecnologias educativas e o trabalho dos professores. Mas uma oportunidade para perceber se as conversas são como as cerejas ou se são organizadas para o umbigo.
A ver vamos de conversa.

quase

Nesta altura, uma qualquer sala de professores, peço desculpa da generalização, é percorrida por um claro e objectivo sentimento do quase, que está quase, que falta pouco para que termine. Alguns é uma saturação, uma ângustia, uma trabalheira (como diria um amigo) para o qual falta pouco para terminar.
Para outros é apenas cansaço, saturação (de aulas, de alunos, de viagens, de dias desconfortáveis).
Para para outros ainda é apenas a aproximação do final de mais um ano lectivo, de mais um período, de mais uma marca neste evoluir.
A minha sala de professores, e é desta que eu falo, é marcada por este sentimento de quase, que está quase, que falta pouco.
Uns sopram, outros revelam muita da sua saturação, há níveis de impaciência, intolerância claramente (digo eu) marcados por esta sensação do quase.
Como há a clara e assumida revelação daqueles outros que estão aqui como podiam estar noutro qualquer lado, que gostam tanto da escola, das aulas e dos alunos como, certamente, gostariam de estar a encher chouriço, ou à sombra do ar condicionado de uma qualquer repartição pública.
é a sensação do quase, que está quase. Mas ainda não está.

terça-feira, maio 24

este rigor

Não quero cair nem em generalizações nem em abrangências ou que não conheço ou que não domino, mas que existe um excessivo rigor, quase ao nível do preciosismo, no número do buraco público, estes 6.38%, disso não tenho dúvidas, nem pinga de incerteza.
Como escreveu um amigo (a circular por mail) não são os seis por cento que me incomodam, não são as décimas que chateiam, o que me aborrece mesmo é este rigor, quase tão fingido como as contas públicas, do valor centésimal de 0.08%.
Fosse tudo assim, tão rigoroso e pormenorizado como este valor centésimal e não teríamos, quase que garantidamente, o buraco que temos. Nem os governantes que temos tido.

do que tem de ser

As conversas na sala de professores, são como as cerejas, vêem umas atrás das outras. Fala-se disto e daquilo, do que gostamos e do que pensamos.
Hoje, provavelmente de forma invariável a muitos e muitos recantos deste país, fala-se do déficite, do deve e do haver das contas públicas e, muito mais importantes, dos mesmos, sempre os mesmos que têm de pagar, que não podem, não conseguem fugir, nós mesmos, professores, funcionários públicos.
Engraçado como neste momento existe uma clara e directa associação - professor/funcionário público.

segunda-feira, maio 23

do nada

É impressionante o momento em que ficamos sem nada para dizer.
Não é possível.
Tanta coisa que acontece, mesmo aquilo que não acontece na escola pode ser notícia, oportunidade para cuscar, momento para blogar.
Mas é verdade. Sinto que pouco ou nada tenho para dizer, menos para escrever.
Por isso calo-me, não escrevo, ausento-me daqui e aqui fico a olhar, a ver quem passa.
Não estou em estágio, mas podia (será que devia) estar. Não estou por aí além atarefado, geralmente só não tenho tempo para o que não quero ou não me interessa. Mas apetece-me não ter tempo, talvez apenas não ter interesse.
Vazio. Pleno, total, sentido, o vazio. O nada.
Tão bom que é.

quinta-feira, maio 19

mais um

Hoje é mais um colega que faz um aninho.

transitando Posted by Hello
Um colega que, nas suas palavras, anda em trânsito pela vida, por este mundo, por este país...
Afirmou-se devagar, como convém a todos aqueles que fazem um percurso de fundo e que procuram ir fundo nas pequenas (e nas grandes) coisas da vida.
Que por cá continues, é o que conta. Parabéns e obrigado.

quarta-feira, maio 18

conversas

As conversas com História lá decorreram na serena normalidade da indiferença da escola. Há muito que reconheço que santos da casa não fazem (nunca fizeram) milagres. As expectativas, por isso mesmo, não eram elevadas no respeitante à participação.
No ano transacto, com a participação de alguns ilustres convidados, poucos mais eramos que este ano, quase tantos de um lado, como do outro.
Mas tenho que reconhecer que, depois de um início tímido, algo receoso ou envergonhado, foi difícil dar por terminada a conversa [afinal, são como as cerejas].
Há sempre tanto para falar, há sempre tanto para conversarmos e tão pouco o tempo disponível, as vontades e as oportunidades que, quando apanhadas, são esprimidas até...
Destaco uma ideia que, de algum modo me surpreendeu, o reconhecimento que o que falta mudar são as práticas docentes, o método pedagógico que permanece algo enclausurado numa tradição que teima em persistir depois de tudo o mais ter desaparecido.
é óbvio não é?! pois, para mim não é assim tão óbvio este reconhecimento explícito.
Para a semana há mais, sobre as tecnologias educativas no trabalho dos professores.

aniversário


Este senhor fez ontem dois anos de escritas de palavras à solta.
É um dos sítios mais antigos e mais veneráveis que reconheço. Nunca agradeci nem o link nem as visitas.
Bem hajas por muito e mais tempo.
Posted by Hello

terça-feira, maio 17

Vazio

As coisas, aparentemente, estão assim, vazias, ausentes, disponíveis.

Posted by Hello
Há bloguistas desaparecidos nos confins dos dias, da escrita.
Há ausências, entre o forçado e o desmotivado. Há, nota-se, o cansaço, que faz com que a estrada fique assim, vazia.
Espero que seja apenas um entretém de queimas, temporário, passageiro e que o tráfego aumente, se recuperem ânimos e vontades, escritas e emoções.

segunda-feira, maio 16

Equilíbrio

Para estar num lado, não consigo estar no outro.
Uma questão de simples equilíbrio e de gestão de espaços, tempo e interesses.
equilibrio Posted by Hello
A imagem retirei-a daqui, e serve apenas para ilustrar uma ideia.
Neste momento analiso portefólios, discuto e debato ideias com alunos, troco opiniões com pais, encarregados de educação e colegas de conselho de turma. Estruturo o princípio do fim. Prescruta-se aquilo que é possível fazer e as apostas que ainda faltam.
Para além disso, preparo umas Conversas com História, segunda edição, a iniciar já na próxima 4ª feira, este ano sobre a construção local da educação - políticas educativas, tecnologias e práticas pedagógicas.
Equilíbrio instável.

sábado, maio 14

links

A não perder para que se possa conhecer um pouco mais e um pouco melhor.

quinta-feira, maio 12

Blogs

A partir do Aviz, um texto imperdível sobre blogues, veio mesmo a calhar.

textos para coisa nenhuma

A partir desta imagem, de Nico Vassilakis, um pensamento, um texto para coisa nenhuma.

textos para coisa nenhuma Posted by Hello
Às páginas tantas, depois de tantas e tantas palavras, dos textos que produzimos e que nos produzem, que nos reproduzem quase que me sinto preso das minhas ideias, das palavras que troco, do pensamento que o suporta.
Não percebo, quando escrevo, se é a palavra que se solta se sou eu que quero ficar preso a ela.

Olhares

Aquilo que vemos quando para trás somos capazes de olhar.

moment1 Posted by Hello óleo sobre tela
Um conjunto de quadros que considero deveras interessantes

terça-feira, maio 10

estórias de professor

Não resisti, a partir deste texto, a partilhar um texto e um professor, um texto há muito guardado.

Não recordo se José Sena apareceu no primeiro se no segundo semestre do primeiro ano do meu curso. Sei que apareceu e nunca mais desapareceu, nunca mais se ausentou da minha memória de gente.
Leccionava um cadeirão (economia) difícil para elementos que pouco tinham apreciado da matemática, este homem tinha como principal características, que interiorizei, procurar simplificar o que é aparentemente difícil, brincar com coisas aparentemente sérias. Descobri, progressivamente, que se levam melhor, fazem-se melhor, custam menos.
O cadeirão foi feito, não apenas por mim mas pela generalidade dos alunos, à primeira, proeza assinalável num curso onde a média acontecia apenas à terceira. Mas ficou a relação, ficou uma amizade, tive oportunidade de lhe dizer que foi uma das pessoas que mais me marcou enquanto professor, enquanto profissional do ensino e enquanto pessoa.
Aprendi, com este homem, a organizar a vida, a fazer dela um prazer, a descobrir que as amizades valem sempre a pena, a reconhecer no reconhecimento do olhar, no brilhozinho que se pode notar nos olhos de alguém que o mundo é pequeno quando gostamos do que fazemos. Aprendi que só não temos tempo para aquilo que não queremos ou perante o qual não temos interesse.
José Sena era docente na Universidade de Évora, vereador na câmara municipal da sua terra, director do jornal local, colaborava em revistas e projectos de investigação da sua área, desenvolvia estudos pós graduados em Lisboa, mostrava interesse pela informática que então despontava, casado e pai ainda lhe sobrava tempo para degostar a vida nas tascas do Ti Zé D’Alter, no Xa Negra ou no Isaías.
Um dia perguntei-lhe como conseguia fazer tudo isso, respondeu-me que quanto menos tem para fazer, menos faz. Gosta de estar ocupado, gostava da vida como ela era e não como devia ser.
Aprendi com ele a gostar de me meter nas coisas, de fazer pela vida, de organizar o meu mundo, de me envolver com as pessoas, de fazer coisas que transmitam, de uma ou de outra maneira, de um ou de outro modo, gosto por aquilo que se faz, por aquilo que fazemos.
Morreu já eu era docente e ele presidente da câmara. Não fui ao funeral, preferi recordá-lo em vida, professor, de ponteiro na mão, virado para o tecto a perguntar, entre o sarcástico e o irónico, o ofendido e o exigente se a bancada da oposição, aquela que se sentava no fundo da sala a ver se passava despercebida, se importava de colaborar no desenvolvimento da economia, que não tivéssemos dúvidas que, por incrível que nos pudesse parecer, estávamos numa aula e numa aula de economia em particular.
Frases, atitudes, comportamentos e valores que me ficaram e das quais me apropriei como se fossem minhas. Memórias de um homem, a única referência profissional que afirmo reconhecer e que conheci em vida.
Foi com ele que aprendi, ao consciencializar esta relação, que o acto pedagógico é sempre um acto relacional, que apelam à interiorização, à consciencialização pessoal de situações, à superação das dúvidas que impelem ao avanço, à aquisição de saberes ou competências. Sendo um acto relacional, não pode ser destituído de afectos, sentimentos, emoções que orientam, conduzem e enformam essa relação.
Ainda hoje é este um dos meus princípios de orientação e apoio enquanto profissional. E tantas vezes sinto saudades do Prof. Sena.

acutilância

De quando em vez andamos tão entretidos nesta moda tão portuguesa de carpir mágoas, julgar os outros, encontrar culpados e desenhar agruras, dissecar cadáveres sem saber porquê ou para quê, e, de repente, felizmente, há quem nos obrigue a por os pés no chão, como que nos dá um sopapo para derpertarmos para a realidade.
O Miguel destaca um texto fundamental para que nós, nesta ilha chamada escola básica e secundária, tenhamos a noção que não somos assim tão bestas, nem tão feios, nem tão maus quantos nos querem fazer crer e nos pintam.
Há muito para fazer, é verdade, muito para formar e mostrar que existem outras alternativas, outros modos, outros meios, outras possibilidades. Mas também há coisas boas, ideias que se desenvolvem, projectos que se implementam, acções que se concretizam.
Há coisas boas nesta ilha.
Saibamos não as matar, pelo menos.

opinião

Hoje de manhã, enquanto vinha para a escola, ouvia a rádio, a Antena 1.
A propósito da proposta do presidente da República sobre a avaliação externa das universidades, o locutor pergunta ao presidente do conselho de reitores, Adriano Pimpão, a sua ideia sobre o ensino básico e secundário. Este senhor começa por dizer que não é a sua especialidade, mas que, fruto das relações que a sua universidade tem com esses níveis de ensino, há uma coisa a fazer desde já, aumentar os níveis de exigência dos alunos e das escolas, e não é ele especialista.
E diz que não é necessária a avaliação externa às universidades portuguesas. Porquê uns e não outros, porquê aumentar os níveis de exigência de um lado e manter o triste quotidiano do outro? Será que as Universidades - e não só - não terão qualquer tipo de responsabilidade nesta situação?
Será que estou numa ilha?

segunda-feira, maio 9

culpas

Ainda sobre as conversas na sala de professores, relativas ao comportamento dos alunos, é quase que unânime a culpabilização do aluno. A sua educação, a sua formação, a família, o ciclo de formação anterior áquele em que se encontra.
Há quem defenda que os conflitos apenas dependem de uma efectiva gestão da situação. E quem defenda que depende do bom senso do professor, da sua capacidade de lidar com a situação. Há quem defenda que passa pela dinâmica criada na sala de aula.
Culpar o aluno é a situação mais fácil, o modo de desresponsabilização mais directo.
Será que há necessidade de procurar culpados? Será que há um culpado?

orientações

Parece que existem orientações quanto aos actores políticos regionais, no âmbito da educação. Parece, segundo ouvi dizer, que há já prazos, datas para a tomada de posse - obviamente que nomes.
Entre o comentário e o discurso (aquela típica retórica educativa) duas ideias.
Não é necessário inventar a roda nem voltar a dominar o fogo, que a política regional sirva para apoiar as escolas, incentivar, discriminar aquilo que é feito, promover o que é bem feito, apoiar quem precisa, esclarecer e orientar quem solicita. Ouvir, escutar e sentir as escolas, o seu trabalho, as suas dinâmicas, os seus sentimentos.
Segundo ideia, promover um efectivo combate ao abandono, ao absentismo, à indiferença que graça nas escolas, quer dos docentes, quer dos alunos.
De resto nós cá continuamos, como se nada fosse. Minguém mais existisse.

quotidiano

Num dos cantos desta sala de professores, discutem-se temas recorrentes, a disciplina, o comportamento dos alunos. Entre um e outro argumento esgrimido, quer de um lado, do professor, quer de outro lado, em favor do aluno, nota-se, sobressai a autoridade (exercício, poder, sentidos e destinos) do professor.
Há quem, entre o assumido e o consternado, diga que não lhe ensinaram como agir nestas situações, não tem preparação para lidar com casos como este.
E existirá alguém preparado para isto?

sábado, maio 7

numa fila

Estava eu na fila do supermercado, como muitos outros. Olho em volto, puxo de uma revista que folheio aleatoriamente, à procura de imagens, de instantes. Escuto uma ou outra das conversas que ao lado ou atrás de mim ocorrem, como pretexto para segurar o tempo de espera.
Há uma, de repente, que desperta em mim algo entre curiosidade e estupfacção. Uma senhora pergunta a outra o porquê de não fazer a festa de anos do filho em casa, quando vive numa quinta e tem espaço de sobra.
A resposta, tu sabes lá, as crianças são umas autênticas feras, não respeitam nada nem ninguém, o ano passado viraram-me a casa do avesso, estragaram brinquedos ao rapaz. Não estou para isso.
Quem está? a Escola?
Quem remedeia? a escola?

quinta-feira, maio 5

citação

... de uma maneira geral, direi que as escolas ainda não compreenderam que, também elas, têm de se repensar. Permanecem na atitude negativa de se sentirem desfasadas, mal compreendidas e mal-amadas, ultrapassadas, talvez inúteis. Quedam-se à espera que alguém as venha transformar. E não perceberam ainda que só elas se podem transformar a si próprias. Por dentro. Com as pessoas que as constituem: professores, alunos, funcionários. Em interacção com a comunidade circundante...
I. Aalarcão, 2003. P.36.
sublinhado da autora.

da indiferença

Os comentários, pertinentes e estimulantes, ao meu texto sobre a diferença, ressaltam dois ou três aspectos que considero impertinente discutir. (impertinente porque não vou à procura de uma fundamentação teórico-metodológica, arregimentadora de ideias e conceitos; mas é a partir deste enquadramento assente, fundamentalmente em textos e ideias veiculadas por Perrenoud, Lima, Alarcão, Fullen, Hargraeves, Costa, Sarmento, Formosinho, entre outros, que construo uma opinião.)
Primeiro, que a escola não se esgota (nem deve ser apenas) um conjunto de aulas, independentemente das metodologias adoptadas. A escola é e deve ir muito para além disso e vai, de modo efectivo muito para além das aulas, daí todos os espaços que se criam nas escolas (desde os clubes, a acções organizadas ou pontuais). A escola deverá, em meu entendimento, ter a organização necessária e suficiente para que todas as actividades desenvolvidas dentro ou pela escola possam ser integradas em percursos de formação, experiência e reflexão crítica por parte dos seus actores. Um dos problemas é delimitarmos a escola ao espaço sala-de-aula, ao dar aulas e procurarmos todas as soluções, propostas ou ideias para resolver os problemas que surgem dentro da sala de aula. O que acontece, por vezes e em certas situações, é a resolução ou o apoio à resolução de um problema estar fora da sala-de-aula.
Segundo aspecto, a escola não está fora, nem ao lado, nem, muito menos, acima da sociedade. Como não estarão as pessoas que a constituem, lhe dão sentido e a organizam. Vai daí e a escola, na sua generalidade, mais não faz que reproduzir a ideia que a sociedade tem da escola e a escola tem de sociedade. A escola não será essa caixa negra por onde entram pessoas, do qual pouco ou nada se sabe e saem cidadãos. Não. A escola é o que a sociedade permite e aponta que seja, tanto ideologicamente, como politicamente, na ditadura, como na democracia. O que a nossa escola não tem dito é capacidade, as condições e o apoio necessário para se pensar e para se pensar face à sociedade. Todo o pensamento sobre a escola decorre fora da escola, por observadores (estudiosos, investigadores, projectos ou que tais) que estão fora da escola e que a procuram para a pensar.
Tantos uma como outra das situações descritas - abertas ao contraditório - arregimentam, muita vezes, sentimentos de impotência e de incapacidade, de frustração ou de cansaço. Porque não conseguimos que as acções (extracurriculares ou extralectivas) concorram para a formação dos alunos, porque a escola não é diferente do contexto que a enforma e condiciona e, muita das vezes, determina. Daí a resposta da escola. Ou a sua ausência.
PS - concordo com o Paulo no sentimento de alguma regeição do termo pedagogia diferenciada. Mas também não vou, pelos menos para já e directamente, atrás do conceito intercultural ou de multiculturalidade. Considero que a adopção de metodologias respeitadoras e integradoras da diferença vão para além, primeiro, da pedagogia, depois da própria cultura, no que se refere à sua relação com a escola, entenda-se. Reformulam uma, alargam outra.
Onde ficamos? ainda não sei. Mas quero um dia dar uma resposta.

quarta-feira, maio 4

cenas do quotidiano educativo

Dirijo-me à secretaria da escola para entregar o necessário pedido de autorização para uma falta no final do mês.
A funcionária diz-me ò professor, ainda falta tanto, quando faltarem 5 ou 6 dias venha cá.
Ainda penso, inicialmente, que estaria a brincar comigo. Mas não, está a falar a sério. Quando repara na minha cara de espantado, ainda reafirme, já viu!?, se eu levasse as coisas com tanto tempo de antecedência para o presidente assinar, nem ele se lembraria das coisas.
Peço apenas para que não me desorganizem os dias, nem a vida, mas estes serviços administrativos são, efectivamente, um poço de surpresas.

da diferença

Na sequência de um texto do Miguel, o Paulo levanta uma questão que alguns colocam, outros subentendem e muitos olham para o lado de modo a fingir que não é com eles (entendam-se, os professores)
Pergunta o Paulo uma escola que deve dar as mesmas oportunidades a todos deve ser igual para todos (?).
Resposta directa - Não, pelo contrário tem, deve ser diferente. Isto é, deve disciminar (não confundir com descriminação) e diferenciar para que se possam aceder às mesmas oportuidades.
O que os estudos no campo da História da Educação revelam quase que inequivocamente (o evidente é um deles) é o facto de a escola, em vez de homogeneizar as oportunidades, acentua as diferenças de origem social (e, em algums países, cultural, de género ou raça).
No meu entender (que é feito meu) a escola terá de diferenciar para apoiar a construção da igualdade. Aí sim, não será tão grave o choque quanto aos princípios de organização e de defesa da democracia. E tem sido isto que a escola pública portuguesa não tem sabido fazer - diferenciar.
O resultado é tratar todos como iguais, que não somos, de igual modo, que não queremos, com os mesmos interesses, que é falso, e com idêntidos objectivos ou expectativas, que é ainda mais falso.
A consequência é o insucesso, o desinteresse, o alheamento, o absentismo, o abandono, a indiferença do aluno face à escola, a incapacidade do professor face aos seus próprios límites e desafios.
Para termos uma educação cada vez mais igual para todos, temos de ter uma escola cada vez mais diferente e diferenciadora, que respeite a diferença, que assuma a diferença entre os seus elementos.

do antigamente (2)

O Paulo respondeu a uma pequena (ou grande, o adjectivo é mais do outro que nosso) provocação, sobre eu ser do antigamente.
Disse na posta anterior que não o sou, nem em ideologia, nem em princípios, nem em orientações ou práticas, nem em saudosismos. Descobri que se referia a este último, à saudade que muitos nutrem por aquela que habitualmente designam como sua escola, ao modelo de que foram alvo e objecto, e não às anteriores referências - se bem que uma dificilmente se despegue das outras.
E tenho de destacar duas ideias que retiro do seu comentário. Por um lado, a profunda delicadeza e sensatez com que o faz. Procura no texto não ferir susceptibilidades como procura ultrapassar ou colmatar aquelas que deduz que tenha despertado com a minha resposta. É bonito de se ver e melhor de se ler. Obrigado.
Como segunda ideia aquela que a idade é incontornável e sou, ou tenho sido, movido por ela. Tenho que reconhecer que não estarei propriamente numa crise etária, num qualquer estadio existencial ou coisa que se pareça, mas tenho sentido (e gostado de sentir) o peso do passar dos anos. Estou a caminho dos 42 (em Outubro) com 16 de docência, dois filhos, vários cães, preste a mudar de casa (aquela que, em princípio, me levará até ao fim), sinto os meus pais a apagarem-se, a envelhecerem, sinto aqueles que sempre vi velhos, e olho para trás e vejo o caminho que percorri, com quem tive o privilégio, a sorte e a fortuna de o ter feito. Olho em frente e apetece-me fazer mais e mais, aprender outras coisas, conhecer outras pessoas e outras ideias. O confronto entre um e outro, numa pessoa de meia idade, não mata, mas faz mossa.
Lá isso faz.

terça-feira, maio 3

do antigamente

Foi com alguma surpresa que verifiquei as referências feitas pelo Paulo, ainda assim gratificantes pelo facto de fazer parte de uma lista daqueles que considera os melhores blogues, os seus favoritos.
Mas nunca me imaginei ser da escola de outros tempos, nem em ideologia, nem em princípios, nem em orientações ou práticas, nem em saudosismos.
É uma surpresa quando descobrimos aquilo que transmitimos aos outros, uma vez que não tenho o privilégio de conhecer o Paulo. Não sei se será efectivamente esta a ideia que transmito, que faço passar. Mas, pelo menos nas acontecencias do Paulo, é essa a ideia que deixo.
Que sou opinativo? Sem a mais pequena sombra de dúvida. Os blogues, em meu entender são um espaço de opinião, de construção cívica, de exercício daquilo que designo como democracia participativa. Além do mais a minha área de trabalho reservo-a para um outro lado, onde discorro, e procuro fundamentar ideias, princípios e teorias, como na posição que estou (usualmente designada de professor do batente) pouco mais posso acrescentar do que a minha opinião ou a minha ideia sobre a escola.
Os blogues não são, como alguns quiseram fazer querer e/ou outros procuram promover, uma extensão de revistas científicas, académicas ou de referência política ou social.
Mas gostei, quer de me ver incluído naquela sua lista (quem não gosta) como da frescura não usual que, diz, me caracteriza.
Ora toma lá frescura.

correcção

outra vez.
Antes de tempo, porque perspectivo algumas alterações a este meu canto, descobri que tinha acontecencias mal escrito, por indicação do seu dono. Já está corrigido, apesar de o ter feito pensando na minha alentejaneidade, acontecências fica próximo deste meu linguarejar, o que tornava, também sob esta perspectiva, agradável a entoação. Mas está feita a correcção de acordo com as orientações do proprietário. Afinal estes espaços (como os outros todos) são aquilo que dele fazemos.

perdidos e achados

Ontem escrevi, e perdi, uma posta onde agradecia a rectificação que me fizeram, quando troquei as Marias (de Fátima Bonifácio e Filomena Mónica) numa das postas anteriores. Agradeço a rectificação.
E, ao mesmo tempo procurava trocar ideias com o colega relativamente à questão que, oportunamente, levantou cquando afirma que temos Uma escola onde impera o facilitismo, a falta de exigência e de disciplina.
No programa em questão um elemento ressaltou quando se abordaram as questões do rigor, da autoridade, da disciplina, uma certa confusão, aliás e infelizmente comum, entre autoridade e poder, disciplina e exigência e rigor. Como foi algo evidente a associação que se teima em fazer que maiores níveis de disciplina, exigência e rigor determinam maiores níveis de sucesso e de aproveitamento. Assim muitos certamente optariam pela ditadura, garantia quase certa de níveis de sucesso de invejar a qualquer finlandes ou sul-coreano.
A grande questão que foi aflorada entre os elementos decorre de qual ideia de escola que prevalece, que se defende, que se implementa. Poderá ser uma escola de conhecimento ou orientada para valores, como poderá ser uma escola de competências. Mas seja ela qual for há resultados e há práticas profissionais que valorizam o rigor e a exigência, a disciplina e a determinação sem se abdicar de uma educação participativa e de uma escola inclusiva.
O que claramente e em meu entender falta na escola é uma ideia de escola. Para que serve, quem serve, o que serve, como se serve - se é que serve para alguma coisa.
Em todo o caso agradeço a chamada de atenção. Não respondi mais cedo apenas e somente por questões de perdidos e achados. Obrigado.

crescimento

De quando em vez ponho-me a arrumar os meus papeis, este ano com a particularidade de serem em portefólio (os meus e os dos alunos). Situação que me permite perspectivar a evolução, o empenho, a dedicação que coloco no seu desenvolvimento, naquilo que obtenho.
Entre o ontem e o hoje dois factores, no contexto desta arrumação, me ocorreram.
Um de pena de não ter há mais tempo optado por esta forma de trabalho. Ter-me-ia permitido hoje perspectivar a evolução daquilo que fiz, do que procurei fazer e ser, do desenvolvimento das acções que promovi. Perdi um pouco das minhas memórias, pelo menos físicas, uma vez que não tenho registos do que fiz (projectos, feiras, fóruns, conversas, entre muitas outras).
Por outro, permitiu-me perspectivar um sentimento agradável de uma quase que permanente e consntante evolução. Ao longo de todos estes anos em que sou docente procurei adaptar-me aos contextos, recolher e obter a informação que, numa dada situação, considerei necessária, procurei mais conhecimentos técnicos e teóricos que permitissem uma melhor (digo eu) prática profissional. Sinto que não parei.
É óptimo este sentimento de crescer.

segunda-feira, maio 2

desterrados

Provavelmente já terão ouvido (e, eventualmente, visto) alguns apontamentos sobre uma realidade recentemente afirmada, a dos professores desterrados.
Conjunto de docentes que, fruto da alteração das regras de concurso, regressaram às escolas de origem, onde são efectivos, mas que, por efeitos de não existência de destacamento, ficaram desterrados, longe de casa e das famílias.
No fim-de-semana que terminou realizou-se um encontro deste conjunto de elementos. De acordo com contas várias serão pouco mais de 3.500 docentes. Participaram neste encontro, menos de 40.
Elucidativo de um espírito, de uma vontade, de uma ideia colectiva que marca os professores. Não apenas estes. A sua generalidade.
Acho que estamos todos desterrados na nossa profissão. Entre o enclausurado e o desterrado, de qualquer modo ou de qualquer maneira, fora de um jogo profissional que é o nosso mas que deixamos que nos passe ao lado. Optamos, preferimos que nos digam como, subservientes, dependentes de um Estado centralizador e castrador de ideias.
Até quando?

Da opinião

Ontem à noite, nas outras conversas, de Maria João Avilez, na Sic Notícias, duas sumidades (Maria Filomena Mónica e Manuel Braga da Cruz) trocaram ideias e disseram cobras e lagartos da escola (básica e secundária), dos professores, da organização do sistema, etc.
Entre uma e outra das ideias trocadas, da conversa em tom de amena cavaqueira, sobressaiu-me uma frase de Maria Filomena Mónica, que não tolera opiniões.
Diz a senhora que muito se fala, muito se opina sem uma fundamentação, sem o conhecimento da realidade, dos argumentos utilizados.
Por um lado tenho de concordar. Todos temos opinião sobre a escola e sobre a educação. Muitas e muitas barbaridades se dizem e se escrevem sobre o que é a escola e a educação, sobre o trabalho dos professores e o rendimento dos alunos.
Mas também tenho de concordar que a senhora é uma dessas figuras que, por diferentes motivos e factores, lhe atribuiram um protagonismo que dificilmente poderá ser consolidado fora do ambiente marcadamente opiniativo.
Mas é uma opinião.

domingo, maio 1

do ambiente

Há tempos atrás tive oportunidade de trocar um conjunto de ideias com o Gustavo (rápido regresso, que sinto saudades) sobre a arquitectura interior das escolas, nomeadamente a relação, de proximidade ou de distanciamento, entre sala de professores e órgão e gestão, sala de professores versus sala de funcionários ou de alunos.
Hoje, a partir de um texto onde se procura destacar um ambiente escolar, tão simples quanto bonito, despertou-me a memória das escolas por onde tenho andado.
Quase todas assentes numa lógica que intermedeia entre o fabril (um ou vários blocos com salas de aula, por onde se dispersam professores e alunos, onde se organizam, de modo sequencial e formal as relações e as dinâmicas pedagógicas, que se distribuem, pretensamente sobre uma qualquer noção de equilíbrio, entre funções pedagógicas, administrativas e de apoio) e o militar (amplos espaços exteriores, entre o campo de jogos ou aproveitado para esse efeito e a parada militar, onde se alinham conjuntos, onde se distribuem grupos e grupinhos, onde se constroem sentimentos e relações de pertença ou de exclusão, de tolerância ou de nem por isso.
Esta lógica de organização procurou, a seu tempo, definir um conjunto de relações marcadas, essencialmente, pela separação, pela hierarquia, pela consideração que há grupos mais importantes que outros, não apenas do ponto de vista social, mas também disciplinar, daí umas salas serem amplas outras nem tanto, uma estarem viradas ou orientadas de acordo com critérios definidos outras nem tanto, ou pela própria arrumação (organização interna) da sala.
Isto para destacar um dado óbvio, mas nem sempre evidente, que a arquitectura condiciona as relações humanas, define um dado fluir dessas mesmas relações, estrutura a sua dinâmica e permite criar uma dinâmica política (escolar) e institucional (educativa) que enforma a cultura (e o clima) de uma qualquer organização.
Nada é mais óbvio e evidente que as escolas de 1º ciclo (as primárias do antigamente) desde o plano do centenário, aos P (p1, p2, p3 e, mais recentemente, o p5) para realçar esta lógica que também está presente nos restantes ciclos.
É por estas e por outras que surgem planos e projectos que visam alterar ou re-condicionar de modo diferente, espero que assente em pressupostos diferentes, estas lógicas. Este é também um outro desafio que condiciona as relações internas de uma escola, que determina uma dada dinâmica de trabalho, que promove um dado ambiente educativo que, por sua vez e de modo articulado com outros factores, permite criar uma outra apetência na e pela escola, pelo sucesso e pela participação de uns e de outros.
Por vezes querem-se alterar todas as estruturas, todas as ramificações que mais não são que consequência de lógicas de utilização e apropriação dos espaços, dos fluxos de circulação e de respiração que acontecem numa escola sem se tocar no cerne da questão.
Na generalidade das situações são acções, invariavelmente, condenadas ao fracasso. E não é por resistência, nem obstinação de quem quer que seja. Apenas condicionantes de um espaço.