quinta-feira, novembro 30

a marcação

pronto, inseri um contador (falta ainda perceber se funcemina);
tenho consciência que mantive (e recuperei uns quantos amigos do temo da escola - já sinto saudades dessa escrita, mais solta, mais despretenciosa, mais apaixonada, mais emotiva, ainda mais de cabeça que esta) e que fiz novos conhecidos e algumas novas amizades, daqueles que tenho noção que têm pachorra para passar por aqui e, mais ainda e com maior impertinência, de ler o que escrevo;
alguns comentam, outros guardam para si os comentários e/ou as observações, outros há que franzem o sobrolho, outros sorriem, outros existirão que ficam indiferentes às cabeçadas que por aqui vou dando, outros, quando se proporciona, dizem-me que passaram por aqui, que aqui poisaram;
é para todos esses e para ter uma noção mínima de quem por aqui passa, que coloco o contador; se me assustar terei duas hipóteses, apagar o dito cujo ou deixar de escrever (tenho dúvidas, pois isto da escrita é viciante);

do dia

está um dia esplendoroso;
o sol raia pelo céu azul, destapando o ar sombrio e cinzento e carrancudo das pessoas;
temos quase tudo para sermos um povo satisfeito com o que nos foi legado, o sol, o clima, o tempo, a paisagem - e o que tudo isto nos pode proporcionar, simpatia, cordialidade, sorrisos;
tudo temos feito para a desbaratar;
hoje gosto de estar neste meu cantinho, olhar pela janela e sentir o ar quente do sol que perpassa pela janela;
um dia belíssimo; oxalá se mantenha;

quarta-feira, novembro 29

da cidade

por razões várias (e bem diferentes) diferentes conversas confluiram hoje sobre a cidade de Évora;
património mundial, cidade de esplendores e amores, é uma cidade diferente que tem marcado a diferença, quer na planície quer no país;
feita mais de fama do que de proveitos, é a minha cidade, da qual nunca sou indiferente, nem inocente quando falo dela;
tem um perfil maravilhoso, uma luz emanescente, tonalidade que escritores idolatraram (Virgílio Ferreira, Florebela, Saramago...), um ambiente próprio de uma qualquer cidade medieva, esquinas de vida, ruas de gentes, calçadas de estórias, cantos de encantos, recantos de amores;
uma cidade diferente, apenas;
mas que tem estado, fruto de múltiplos interesses, circunstâncias e vicissitudes várias, parada;
a própria vida que a encheu e preencheu de futuros, esvaziou-se e hoje mais não faz que defender uma cidade do passado, estática;
ao apreciar, fruto das funções que desempenho, ideias inovadores, apraz-me sentir que há quem defenda ideias sobre a cidade, sobre o património, sobre a vida, sobre as gentes desta minha terra; uma surpresa (ou constatação) que me surpreendeu;

do miudinho

ando nervoso com a minha apresentação/defesa do projecto de investigação;
não me assusta, nem incomoda o futuro, seja ele político ou partidário, funcional ou organizacional; estou descansado na minha santa ignorância;
agora tenho que reconhecer que desde que li o mail da comissão de sábios da minha faculdade, onde se estrutura a apresentação dos projectos, onde é definido o calendário e dadas as orientações subsequentes ao trabalho de redacção que não tenho dormido descansado, que tenho sentido um nervoso miudinho que me incomoda;
este fim-de-semana, felizmente, vai ser de prazenteira festa e convivialidade entre o pessoal que designamos como da escola de lisboa;
amena tertúlia onde, para além do prazer da companhia de uns e de outros, do convívio e da festa, iremos (quase de certeza) dissecar um cadáver que ainda não morreu, autopsiar um morto que ainda não sabe que irá morrer; isto é, a conversa, estou certo, rodará seguramente, em torno das apresentações da semana seguinte;
mas que estou nervoso, lá isso estou;

da formação

digo há já vários anos que Portugal enforma de dois problemas básicos, que mais não são que a reunião de múltiplos e diversificados pequenos problemas, a saber, falta de formação e falta de organização;
o processo iniciado no final do ano passado e que se prolonga por todo este ano da formação de quadros da administração pública (A.P.) sob orientação do Instituto Nacional de Administração, no âmbito de processos de adequação de entre competências e funcões de coordenação é um dos primeiros passos para que as estruturas intermédias da A.P. possam não ser tão incompentes, tão mázinhas o quanto o têm sido nesta democracia (independemente de partidos e de políticas);
em termos de análise SWOT (tão cara nesse processo) é uma oportunidade de trabalho para pensar e reflectir sobre estratégias que não têm existido, sobre objectivos que não são nem conhecidos nem partilhados, sobre práticas e metodologias que muito deixam a desejar;
mas são também um constrangimento, a análise SWOT é funcionalista e racionalista, procura simplificar o complexo, dividir o uno, individualizar o colectivo, hierarquizar as redes, verticalizar o plano em processos, o mais das vezes de âmbito social, onde mexer numa variável implica incidências noutras, onde o somatório das suas partes é muito superior à sua soma aritmética;
mas é um passo essencial para que as estruturas intermédias da A.P. sejam capazes de reflectir e pensar a sua acção, definir as suas estratégias;
agir em vez de reagir;

terça-feira, novembro 28

do emprego

as notícias de hoje dão conta de um novo chavão - buzzword - designada flexigurança; ou seja, criar uma maior flexibilidade ao nível do posto de trabalho, dando como contrapartida uma maior segurança, nomeadamente ao nível monetário (reforço do subsídio de emprego), da formação (ou reconversão profissional) e do acompanhamento de processos e projectos pessoais (definição de soluções por medida);
estou certo que irá ser um dos temas quentes em discussão sempre que o ruído de outros assuntos acalmar; seja por que todos o tememos (flexibilidade em Portugal tem significado arbitrariedade), ou porque o ansiamos (polivalência pode significar precariedade);
ora duas constatações;
por um lado, é assumida a divergência entre emprego e trabalho (há quem dê como exemplo em que até recentemente tinhamos um ministério do emprego e um tribunal do trabalho) e ainda andamos à procura de qual nos interessa, nos convém, nos permite aquilo que gostariamos;
por outro, é evidente que a inflexibilidade do mercado laboral nacional (ultrapasso as questões entre emprego e trabalho) são um dos factos de constrangimento à renovação de quadros, à re-definição de outras soluções profissionais, ao pensar o que é a volatilidade do mercado;
surpreende-me quando vejo jovens a concluir a licenciatura com a expectiva de que alguém lhe arranje um emprego, trabalho; quando oiço as suas palavras convictas de que irão dar o melhor e ficar para sempre naquele emprego;
não existirá ainda consciência que temos de ser nós a procurar e justificar o nosso posto de trabalho? que faltará para termos a noção real e concreta que a formação inicial é apenas um pretexto, um primeiro passo para muitos outros? que podemos ser licenciados em qualquer coisa e estarmos a fazer uma outra, entre o totalmente diferente e o complementarmente diferente;
este é um dos meus desafios como pai, procurar preparar os meus filhos para os desafios dos futuros que existirão, a consciência que devemos fazer a formação de que pretensamente gostamos, mas estarmos preparados para fazer quase tudo, com empenho, com profissionalismo e procurar o gosto e o prazer daquilo que fazemos;
este faz parte daqueles contextos de mudança que ontem falava; desafios não apenas ao emprego e ao trabalhador, também e particularmente ao sindicalismo e aos partidos e, como consequência, à democracia que defendemos;

da impressão

na próxima semana irei defender o meu projecto de investigação;
fruto dos afazeres e do cansaço que tanto o quotidiano como o próprio projecto me causaram, tenho estado distante dele;
permaneço nas leituras, orientadas, no apoio bibliográfico, no pensar o corpo do trabalho, mas algo distante daquela escrita, da redacção das linhas que levaram a um projecto;
ontem voltei a imprimir o projecto e a le-lo;
sempre suspeito na análise que possa fazer, o certo é que gostei do que li, ainda que o considere algo desequilibrado, entre uma componente de enquadramento teórico-conceptual (no contexto das políticas públicas e da acção pública do Estado) e a dimensão prática de investigação (nomeadamente na concepção de uma metodologia de investigação e na definição de um campo de trabalho);
mas considero, há semelhança do período em que o coloquei à consideração da comissão de sábios, um projecto, isto é, algo que é passível de vir a desenvolver, a construir;

da rádiofonia

ontem fui surpreendido por um telefone que despertou em mim lembranças de uma breve passagem pela rádio;
alguém que pretensamente me conhece desafiava-me para um encontro de elementos que estiveram ligados a uma rádio local, nos idos 80;
fiquei entre o surpreendido e o espantado; surpreendido pela evocação, pela pretensão de juntar dezenas, senão mesmo um centena de gente que em tempos animou as ondas hertezianas da cidade e, com ousadia e aventurança, se descobria nas entrevistas, nos discos pedidos, nas conversas com o vizinho, nos encontros furtuitos do som; espantado por alguém se ter lembrado que participei, juntamente com muitos outros, nesses primeiros passos, primeiro numa das rádios, feita a partir de um quarto, depois numa outra já com algumas pretensões radialistas;
desses tempos ficou-me o gosto pela comunicação, o reforço do prazer de uma boa conversa, um conjunto de amizades que nunca mais se desligou, um corpo de cumplicidades que nos conduz a diferentes sítios e por diferentes ambientes;
mas que foi uma surpresa, lá isso foi;

segunda-feira, novembro 27

do cansaço (ou do descanço)

em conversa corrente com um amigo, trocavamos ideias que hoje já não aguentamos metade do que hás uns tempos atrás;
normal, diriamos ambos, a idade já não é a mesma, os afazeres são outros, as solicitações inúmeras e bem diferentes;
mas o ritmo social, os intervalos entre trabalho e descanço permanecem rigorosamente os mesmos;
das duas três, ou somos nós que não nos adaptamos, ou é o ritmo social que está desconfigurado do ritmo laboral, ou, simplesmente, ambas;
tenho vontade de uma pausa pedagógica, de um destemperar de forças e ânimos, de um arrojar pela vida qual dia de cão, entre o deitar aqui e o descansar ali;
na semana que passou reparei que fiz mais de mil e quinhentos quilómetros de carro, que participei em mais de 20 reuniões (algumas marcadamente apenas de corpo presente), não imagino quanto e-mails escrevi, ofícios, relatórios, apontamentos ou, post (estes bem poucos, pois obviamente que alguma coisa fica de lado), na generalidade o dia começa impreterivelmente pelas 8h e pouco, quando deixo os filhotes na escola e, desde meados de Outubro, que não sei quando acaba;
se não aponto as coisas esqueço-me, pura e simplesmente, como me aconteceu na semana passada; se não faço imediatamente o que devo sei que dificilmente me lembrarei de o repetir;
não é da idade; eu sei; é do cansaço e as férias ainda estão muito, muito longe;

das mudanças

os tempos são de mudança, de alteração profunda de lógicas e modos de agir em política;
não é apenas a sociedade que muda, o que me encanta nestes tempos é a cadência política a definir agendas de mudança, instrumentos e acções dessas mudança;
o que nos une nestes tempos é a diversidade de perceber o que muda quando o desejo é o da continuidade, o da estabilidade;
é mais fácil de lidar com o previsível, com o homogéneo, com o regular do que propriamente procurar adaptações à diversidade, à heterogeneidade, às multiculturalidades, à pluralidade;
Há quem disso se aperceba, como há quem procure assobiar para o lado, entre o fingir que nada acontece, como procurar descrever que são fases transitórias, passageiras, ondas que depois de se espraiarem permitirão o regresso ao tradicional, às acalmias mornas e amorfas do quotidiano;
estão tão enganados quanto aqueles que pensam estarmos a descobrir a lua, o sol ou a inventar a roda;
a questão não se coloca nesse ponto, coloca-se apenas e tão somente em percebermos que é a mudança é tão natural quanto o fluir dos tempos e dos dias; apenas acontece, seja na simples vida de um quotidiano, como na escola ou na saúde, na política ou na sociedade; ela acontece, muita das vezes sem qualquer intervenção, seja ela divina ou natural;
estamos nós preparados para ela?

das referências

enquanto docente desde quase sempre que tive duas referências para mim incontornáveis da profissão de professor, Rómulo de Carvalho e Sebastião da Gama;
um e outro pelos escritos, pela memória, pelo legado, pela postura e pela ideia de educação que deixaram nos escritos e na forma de ser;
comprei hoje uma colectânea de textos de Rómulo de Carvalho, organizada por N. Crato e designada "ser professor" (Gradiva, 2006);
duas notas soltas;
por um lado, ao publicar-se o texto referencia-se um aniversário (teria feito 100 anos este mês) e simultaneamente uma ideia de professor;
por outro, será esta ideia que o organizador pretenderá realçar, a de uma dada ideia de professor, uma forma de estar e ser profissional da educação;
a questão que se me coloca é que a memória de Rómulo de Carvalho, de acordo com aqueles que foram seus alunos e como é expressa na nota introdutória, destaca um professor distante, funcional e normativo, cumpridor e exigente do cumprimento, será hoje possível? será hoje viável? será adequada à nossa escola pública? terá lugar na nossa escola?
mantenho-me indefectível nos escritos pedagógicos (e poéticos) de Rómulo de Carvalho, como continuo a procurar aproximar-me do Diário de Sebastião da Gama, mas reconheço as distâncias, os contextos e as conjunturas que nos separam;
recuperar a memória deverá servir, como muitos autores identificaram, para apontar futuros e não para venerar passados;

domingo, novembro 26

da bonança

não senão sem a bela;
depois de um semana bem regada de chuva, regressa o sol, o prazer de descansar sob o sol de princípios de Inverno; nuns tons mornos de prazenteio aconchegante;
acendi a lareira, estendo-me no sofá e descanso a vista num pingue-pongue entre o lume e a paisagem alentejana;

terça-feira, novembro 21

da paróquia

em conversa da treta de quando em vez apercebemo-nos de pequenas mudanças nos registos e nos discursos;
pensando no que dizemos e nas conversas que temos podemos, em determinadas circunstâncias, perceber o sentido que damos à vida e às coisas que a enformam;
é o caso, por exemplo da discussão em torno das questões políticas e partidárias que, de quando em quando e perante determinados argumentos, ganha contornos de fé, de crença;
a partir deste ponto a discussão é perfeitamente retundande, desnecessária, vazia;
a fé não se discute, aceita-se ou não;
as ideologias discutem-se, burilam-se, argumentam-se;
nem de propósito, pela noite encontro camaradas que dizem que andam a tratar de questões da paróquia;
elucidativo;

das etiquetas

esta versão beta do blogger permite, certamente entre muitas outras coisas, etiquetar os posts e criar um arquivo mais organizado, mais sistemático da escrita e dos acontecimentos;
até ao momento já criei 5 tipos de etiqueta e que, sem qualquer graça, coincidem com os meus interesses, a saber, Alentejo/Região, blogosfera, organização, política e pessoal;

dos dias

ele há dias assim;
no passado sábado (é sempre tempo de recordar coisas boas), Miguel Sousa Tavares, no Expresso, tinha um apontamento digno de registo;
uma estória simples, corrida ao redor de um manso dia alentejano;
ele há dias assim, que sentimos o fluir do tempo, o passar dos acontecimentos e as coisas simples ganham destaque de crónica jornalistica;
é pena não haver mais dias assim;

sábado, novembro 18

de diversidade

O Luís Carmelo tem duas iniciativas que considero excelentes para e na compreensão do que é a blogosfera;
começou por um ensaio onde dissertava sobre esta plataforma e, mais recentemente, brinda-nos com um conjunto de entrevista sobre ela;
nestas entrevistas (que cruzam olhares e utilizadores, conhecedores e animadores, académicos e populares, criadores e difamadores) fica patente mais do que é a blogosfera, o que ela não é e o que ela encerra em si e, como tal, passível de ainda se tornar visível, de se abrir;
para os curiosos e para os outros, que me seja permitida esta chamada de atenção;

correcção

a passagem do suporte tradicional do blogger para a sua versão beta provocou algumas alterações na lista de links que, espero, estejam agora corrigidas;

sexta-feira, novembro 17

de conferência

tive oportunidade de ter participado, pelo menos em parte, numa conferência sobre desigualdades, pobreza e solidariedade;
duas notas, ou três;
por um lado, senti que se tivesse um PC e acesso à net teria comentado (blogado) on line;
por outro, foram evidentes um conjunto de comentários claramente condicionados por uma perspectiva (a da esquerda comunista) onde não foram (pelo menos na parte em que assisti) assumidas culpas próprias, apontados erros individuais; a culpa é dos outros, para além dos outros políticos, dos políticos e das políticas que estão afastado deste território; cá estão os santos, lá os pecadores;
por último, alguns dos apontamentos referenciados para contrariar situações, criar alternativas, perspectivam que no seio do PC existem divergências, pontos de vista algo antagónicos, desconcertação de posições;
é salutar, mas não é hábito, estranha-se; eu estranhei;

de consideração

talvez, e mais adequadamente, da desconsideração;
é notório nesta nossa santa terrinha a consideração que temos entre práticos e teóricos (uns não sabem o que fazem, outros não fazem o que sabem), entre quem está na prática, no terreno, no contexto, no ambiente e aqueles que estão em gabinete e que de quando em quando visitam o terreno, contactam com realidades práticas e vivas;
pela experiência que tenho é sempre um jogo de equilíbrios, uma negociação de situação instável, um degladiar de argumentos entre conhecimentos de uns e de outros, entre dinâmicas sentidas e perspectivadas;
isto para destacar a pouca (ou nenhuma) consideração que os organismos centrais nutrem pelas estruturas intermédias deste país;
assumidamente conotados com aparelhos político partidários, muita das vezes mais interessados em dinâmicas próprias e individuais que em serviço público, outras vezes com formações e experiências muito distintas entre quem está em serviços centrais e quem está em serviços regionais, o certo é que existe uma clara desconsideração pelos níveis que (não sendo abaixo) lhe estão/são contiguos;
umas vezes com razão outras sem ela, o certo é que sinto, cada vez mais e cada vez com maior nitidez, a persistência de uma teimosia de ruidosa surdez; isto é, falta um diálogo consertante, faltam instrumentos e mecanismos de avaliação e participação, que permitam a assunção de autonomias, mas também de responsabilidades; não me incomoda a avaliação, a prestação de contas, a clareza de objectivos, a transparência das acções;
incomoda-me a desconsideração que levam a pensar que para além de ser alentejano sou parvo; a primeira sou e dos sete costados, a segunda pensam e teimam em que sou, e eu, pela aleivosia alentejana, persisto e teimo em dizer que não, não sou parvo e tenho opinião;
gostem ou não; considerem ou não;

quinta-feira, novembro 16

leituras

sou obrigado a ler, por deveres de gosto e por imposição de um projecto;
dou comigo a descobrir um outro prazer das leituras;
quando gosto devoro um livro, volto atrás e percorro-o como se fosse a primeira vez;
outros, mais por questões de obrigação, parecem pastilha elástica, moer e remoer como se nunca mais acabassem;
isto a proposósito de ter oferecido à esposa o último livro de Daniel Sampaio, Lavrar o Mar; comecei por o folhear, mais por curiosidade e com algum receio que me pudesse desviar daquelas que são as leituras obrigatórias;
desviou e felizmente, lio de fio a pavio, quase em pestanejar;
vai ao encontro de um d0s meus interesses a construção de um sentido social pessoal por intermédio dos outros e com os outros (no caso a família e a escola);
gostei e, permita-se-me a pretensão, recomendo;

quarta-feira, novembro 15

escrita

não é a primeira vez que coloco a questão, mas, pelos comentários e pelas impressões que troco sobre esta minha escrita e particularmente sobre este meu cantinho, atrevo-me a perguntar se seremos nós e a nossa escrita, ou se seremos a escrita e nós ou, ainda um terceiro elemento, nós a nossa escrita e nós mesmos;
M. Bloch disse há muito tempo atrás que somos nós e as nossas circunstâncias; hoje uma verdade simples;
provavelmente esta geração blogue poderá ser designada como nós e os nossos blogues, pedaços de nós mesmos que com pretensões de intimidade, partilhamos publicamente;
não sei se será um público íntimo, se um íntimo que é público;
mas não consigo abdicar deste meu cantinho, de um pensar alto [a ver se me ouvem], numa persistente teimosia que, como está escrito acima, atirada de cabeça, por tudo e para nada comigo em fundo;

esposa

a esposa faz anos - não será correcto dizer quantos;
parabéns; AMO-TE, hoje, de modo diferente de ontem, da primeira vez que te vi;

terça-feira, novembro 14

frases

naquelas frases que circulem pela rede, com fama de ditos chineses (ou milenares), de tradição ou de emoção encontrei uma que - vá-se lá saber porque - guardei na memória;
uma pessoa esquece o que você disse;
uma pessoa esquece como você é;
uma pessoa não esquece como você a tratou;
tenho de reconhecer que um dos factores pelos quais me ficou na memória decorrer do facto de assentar num dos meus pressupostos, um princípio meu enquanto pessoa (com responsabilidade de chefia, ou não, na escola ou fora dela), a consideração e a valorização que nutro por qualquer pessoa, independemente das circunstâncias, dos contextos, do enquadramento, do que seja;
olho à pessoa, só depois ao resto e isto marca-me profundamente;

cruzamentos

ainda a propósito de invenções, há uma em que teimamos e persistimos em não inventar, o trabalho colectivo, a parceria, a rede, o trabalho transversal, o cruzamento de situações, posições e atitudes, a criação de nós (o colectivo e o de atar), a soma global ser maior que a soma aritmética;
falar isso falamos muito, particularmente desde que a União Europeia nos obriga a tal;
no concreto, desenvolvmentos o nosso trabalho da mesma maneira, sectorial, horizontal, segmentado, individual e individualizado, isolado e recondido;
trabalhamos ou falamos em equipa quando disso ou temos interesse ou nos é imposta a obrigação - pela lei, pelas circunstâncias, pelos objectivos;
trabalhar num sector vertical será das situações mais fáceis;
trabalhar em sectores trasversais (juventude, ambiente, escola, entre outros) coloca problemas para os quais ainda não conseguimos inventar uma solução;
temos manifesta dificuldade nos cruzamentos de ideias e opiniões, do trabalho entre sectores;

invenções

de quando em vez, em face de uma ou outra reunião de obrigação, fico com a ligeira sensação que alguém inventa um problema por um de três motivos, a) para depois apresentar uma solução e pretensamente ficar bem visto como solucionador de problemas [que criou]; b) por incúria, deixar arrastar determinadas situações sabendo que com isso se conduz a um problema [e que exige mais recursos e mais energia na sua resolução] ou c) simplesmente por incompetência;
qualquer um destes motivos é sobejante de horas de conversas, de desperdício de energia, de dispêndio de recursos, de ocupação de pessoas, de gastos do Estado, para, ao fim de todo esse tempo e de todos esses gastos, confirmarmos que afinal a solução até era fácil, que, afinal, não existia um problema, ou que o problema não era assim tão sério;
adoramos invenções;

domingo, novembro 12

do largo

os blogues em Évora alargam-se, quer pela recuperação de nados quase mortos, quer pela persistência de outros;
fui notificado da recuperação das conversas do largo; fica a indicação;
aqui para o lado só quando se souber que o munícipe tem nome;
como é meu hábito, é bem vindo quem vem por bem;

prá frente

depois de um fim-de-semana de congresso socialista, que passou entre o morno e o esquecido nos diferentes canais televisivos [afinal, a máquina publicitária não é assim tão eficaz quanto a pintam], com os comentários pertinentes de Manuel Alegre e Helena Roseta [tal como esperado] a consequência e o resultado é prá frente que há caminho;
gostei de ouvir José Sócrates no discurso de encerramento, na clarificação de ideias e posições (perante o referendo ao aborto), no assumir de decisões (quanto às reformas), no que se relaciona à relação governo/partido (são coisas diferentes, por muito que muitos assim não o entendam);
os próximos dois anos irão ser prá frente, ainda que esta frente seja ampla, larga;
infelizmente não percebi se houve algo ou alguém a pugnar pelo regional, pela assunção de protagonistas intermédios, pelo papel que actores regionais possam/devam assumir quer na governança, quer partidariamente;
fica-se, provavelmente, com o receio de questionar a situação, o que é pena, pois questionar é enfrentar dúvidas, contornar obstáculos, ir em frente;
e é fundamental ir em frente;

memória

sic comédia ou rtp memória, a concorrência complementa-se;
particularmente para aqueles que tiveram oportunidade de usufruir os anos 80 na televisão então pública e única;

sexta-feira, novembro 10

4. guiness

É uma cerveja que, simplesmente, adoro;
não a consigo degostar tal como os irlandeses o fazem, devagar, golo a golo, saboreando cada pedaço que desce pela garganta;
pelas suas características, pelo meu modo de estar, gosto de a por nos lábios e saborear como se fosse única e a primeira vez; de fio, quase de uma só vez;
mas guiness foi também um dos assuntos mais falados no dia de hoje, simplesmente porque o SLB lá entrou como o maior clube do mundo, ou, pelo menos, com mais associados - não interessam se pagam, não interessa se rendem;
este facto conseguiu escurecer uma greve geral, um congresso político-partidário, uma conjuntura internacional e, imagine-se só, as eleições americanas e a remodelação da administração do senhor Bush;
como é possível? perguntarão muitos, porque é o glorioso, e isso chega a muitos; a tantos que já é o maior clube do mundo;

3. velocidades

há dias atrás Pacheco Pereira insurgia-se pelo facto de tanta chuva ser uma seca e, nas próximidades de Lisboa, grande capital do império, se ficar privado de um acesso à net condigno com a dimensão do império, com a vastidão do território;
pois é, eu, pela simplicidade do meu Alentejo, assumo a irritação de andar a velocidades diferentes, consoantes gostos, critérios e disposições nem sei de quem;
irrita-me ter 30 ou 40 mensagens de correio e levar mais de uma hora para as descarregar;
irrita-me estar a consultar páginas da net e a ligação cair constantemente;
aborrece-me ser tratado como tuga de terceira ou quarta categoria simplesmente porque moro numa aldeia a 10 minutos da cidade de Évora, a 90 de Lisboa;
é a confirmação que não há choque tecnológico que resista às múltiplas velocidades deste meu país [ou as reformas ainda são poucas para a afirmação da modernidade tecnológica de Portugal];

2. Congresso

Depois de tanto esforço de participação e debate, face ao congresso do PS, partido no qual me [continuo] a rever, acabei por ser convidado, mas a não poder ir;
expectativas?
de participação, de debate, de crítica surda, de vozes mudas, de cantigas sem músicas;
de apelos ao futuro, com consciências passadas;
de rasgos iluminados em discussões eventualmente cegas;
afinal o que se pode esperar de uma imensa maioria de poder, que, com o chefe, se quer no poder?
reservo alguma expectativa para Manuel Alegre, Helena Roseta e um ou outro que é capaz, por convicção ou simplesmente mania, tocar fora de acorde;

1. Greve

ontem, segundo os sindicatos, a greve da administração pública atingiu os 80%;
certamente que hoje, face a expectativas e optimismos crescentes e afirmativos, terá atingido os 110%;
é dar mais que o litro;
mas pronto, nada a que o português que vê telejornais não esteja - minimamente - habituado;

da semana

esta foi, como muitas outras, uma semana que, entre atribulações e afazeres se passou que nem um fósforo em tempo de Verão, isto é, num rápido;
diferentes notas, soltas, como eu gosto, desligadas como se tudo fosse uno e individual e não se relacionasse com o parceiro;

quarta-feira, novembro 8

ontem no parlamento, a propósito da discussão do orçamento de Estado, foi clara a discussão e a demarcação ideológica entre diferentes pontos de vista, perspectivas e correntes sociais (o que torna deveras complicado a determinação de pontos de pacificação política e social);
hoje por intermédio da Antena 1 no programa antena Aberta, um conjunto de pessoas apelavam, em diferentes sectores profissionais, à exigência, ao rigor, às reformas;
uma ideia, sem pretender qualquer pretensão de síntese, sente-se (sinto) na sociedade portuguesa uma certa turbulência entre o velho e o futuro Portugal (com todas as marcas sociais e políticas, ideológicas e económicas, culturais como comunitárias), algumas divergências entre as retóricas político-partidárias e os discursos sociais, pessoais, individuais; como sinto uma grande diferença (ao nível dos conceitos, dos instrumentos, da acção pública, dos discursos) entre o governo e o parlamento;
uma eventual ideia, que a tendência se irá acentuar, que as diferenças se irão pronunciar cada vez mais;
ganhadores disto? espero que os portugueses;

sol

ao fim de tantos dias com tanta chuva e dias tão cinzentos é bom, é agradável sentir um dia com sol, quente, azul;
ameniza os dias e reconforta-nos;

segunda-feira, novembro 6

disputa

cá em casa as disputas de acesso ao PC e, nomeadamente, à net começam a ser afincadas;
há uns tempos eram esporádicas e assentuavam-se ao fim-de-semana;
ultimamente prolongam-se pelos diferentes dias da semana, ou é para uma consulta rápida, para enviar/receber um e-mail, pesquisar para um trabalho, ou...
há que alargar a oferta ou o acesso passa a estar congestionado;

leitura

uma colega da escola de Lx veio, juntamente com outros colegas, para a blogosfera, por intermédio do sítio em que, afirma ela, ninguém lê;
mas é mentira, pelo menos eu já li;

sábado, novembro 4

representações

o Miguel deixou-me um comentário tão pertinente, quanto acutilante que procura cruzar concepções com lógicas operacionais e políticas - porque decorre de um comentário meu aos conselhos municipais de educação;
há uma colega de um outro Miguel, que tem um livrito denominado "Famílias e Escolaridade - representações parentais da escolaridade, classe social e dinâmica familiar" (Colibri, 1998) que poderá servir para elucidar esta ideia entre o carácter estático e dinâmico de concepções e das suas implicações nas dinâmicas tanto do ponto de vista social como organizacional;
ou seja, as dinâmicas tanto podem ser massa crítica na e para a construção social, como cedimento aglutinador das ideias;
o que queremos que elas sejam depende, em grande medida, da crítica, mas também da posição, das ideias, mas também, dos argumentos, em resumo, do contrariar, mas apontar alternativas;
discordar, criticar, negar, destruir é das coisas mais simples, práticas e demagógicas; apresentar alternativas, construir ao lado ideias paralelas, contrapontos argumentativos ou ideológicos é que não é tarefa fácil nem está reservada a todos;
apenas a quem quer; e não há muitos que queiram;

do anonimato

é uma discussão deveras interessante e que certamente daria pano para mangas, trocarmos ideias e opiniões sobre o que é o anonimato nesta rede, nesta blogosfera, neste espaço;
será suficiente para ultrapassar o anonimato dizer que me chamo manel?
será suficiente para ultrapassar a indiferença e o desconhecido assinar um qualquer comentário como Ana?
a qualquer uma delas penso que a resposta é negativa; faz parte daqueles avisos que dou aos meus filhos, de não considerar por legítimo nem por adequado aquilo que na net se afirma, se diz ou se escreve;
há necessidade de um pensamento crítico, reflexivo, distanciado em face das posições, das afirmações, dos argumentos;
como? apenas por intermédio dos argumentos que cruzam, das ideias que se esgrimem, tentar perceber se vão no sentido de criar uma conversa ou apenas de criar um acontecimento; se pretendem trocar argumentos e opiniões, ou apenas vilipendiar pessoas, se pretendem subir a discussão ou apenas achincalhar situações;
até estou disponível para trocar ideias e argumentos no meio do anonimato, desde que seja, pelo menos para mim, esclarecedor de situações, claro quanto aos argumentos, crítico nas posições, mas se evite o achincalhar, a maldecência, a simplicidade escondida;
o anonimato ou o nominado é aquilo que queremos e que dele fazemos; saibamos discurtir e trocar argumentos; para isso estou cá; para o resto também, mas mais comedidamente;

sexta-feira, novembro 3

comentários

finalmente (para este dia) um comentário aos meus comentários;
este é um espaço de participação, debate, troca e de ideias e de acerto de opiniões;
quando for de argumentos sérios deixarei de escrever e de aceitar comentários;
enquanto for de discussão, de troca de opiniões, os comentários, venham de onde vierem e como vierem, serão (sempre) aceites, integrados e considerados;
não responderei a anónimos, a quem, por uma qualquer razão (boa ou má, certa ou errada, pertinente ou impertinente, adequada ou desadequada) se refugia no anonimato; mas aqui marcarão a sua presença;
aceito estas regras, os critérios da participação, da transparência e do debate - mesmo que não concorde, mesmo que discorde do comentário;

os tempos são de profunda mudança, mesmo para aqueles que dela não se apercebem;
os tempos são de reconfiguração, mesmo para aqueles que persistem em ignorar as dinâmicas;
os tempos são de evolução, mesmo para aqueles que insistem na continuidade;
os tempos são outros, mesmo para aqueles que persistem em repetir mentiras a esperar que se tornem verdades;
os tempos são outros, mesmo para aqueles que olham para o lado a pensar que disfarçam que não se notam;
os tempos são outros, mesmo para aqueles que teimam em viver de recordações;
os tempos são outros, particularmente para aqueles que teimam em viver no passado;

o meu tempo, esse, ainda está para vir - se vier (e disso não estou preocupado);
há tempo, até para isso;

órgãos

os órgãos são o que deles as pessoas fazem;
tenho, por força das circunstâncias, participado em diferentes conselhos municipais de educação;
e há aqueles em que aceitam as orientações gerais e genéricas (e que nada serão), como há aqueles que são de uma uniformidade confrangedora; e os outros, que insistem (felizmente) na criação de lógicas locais, na construção municipal de políticas educativas;
são a minoria, mas serão aqueles que se afirmarão;
disso estou certo;

virose

hoje o meu serviço foi atacado por uma forte virolência;
entre questões pertinentes e acções ingénuas, confirma-se que 90% das questões de segurança assentam nas pessoas, no relacionamento que temos com as máquinas;
estes senhores foram tão simpáticos que até pediram autorização para entrar; e houve quem lha desse;
e eles entraram, pois claro;

título

ando há quase um ano a trabalhar sem um título, coisa que não é meu hábito;
hoje encontrei um - a disciplina escolar e a construção do sentido social;
desconstruindo a ideia, tem um conceito (o de disciplina escolar), uma acção em processo (mediante a ideia de construção) e um sentido ou dimensão (social);

quinta-feira, novembro 2

hábitos

temos o hábito - retórico e discursivo, cognitivo e prático - de reduzir as situações a posição dicotómicas, opostas, entre um sim e um não, entre o preto e o branco, como se não existisse meio termo, zonas de penumbra ou de transição;
temos dificuldades em lidar com estes intermeios, com zonas pouco definidas (por vezes indefinidas);
mas são estas as zonas que mais oportunidades nos oferecem, porque indefinidas podemos acrescentar nelas a nossa mais valia; porque cinzentas, estão receptivas à cromia; porque num limbo poderão, quando pressionadas, cair para o lado que nos convém;
é nestas zonas que não se espera o futuro, constróe-se, antecipa-se;
mas para que isto possa acontecer há duas condições fundamentais, haver pessoas formadas e, por outro lado, organização estratégica;
o meu serviço, o IPJ, está numa destas encruzilhadas, à espera de uma lei orgânica e onde seria desejável aproveitar oportunidades e construir futuros;
existissem aquelas duas condições e o futuro acontecia - não havendo, limitamo-nos a esperar por ele, num limbo expectante e cinzento;

será

será que o engenheiro consegue construir pontes com o glorioso?
pontes que promovam o ataque, mas salvaguardem a defesa;
visem o futuro, respeitando o passado;
se desmarquem ganhando posição;
ontem do mal o menos, os escoceses até ajudaram; mas repararam-se, tal como sábado passado, num ou noutro retoque, numa ou noutra ligação, em determinados momentos de fluidez;
benefício da dúvida - que mais se poderia esperar;

finados

hoje sim é dia de finados;
mas os cemitérios, fruto de hoje ser um dia "normal", já se encontram enfeitados, coloridos, pontilhados de cores, formas, feitios e odores que se misturam;
sempre simpatizei com a morte;
porventura por ter sido criado por velhos e a morte ser uma presença constante;
quando comecei a estudar História percebi que era (é) uma dimensão que nos ajuda a perceber o que somos, a enfrentar receios e fantasmas, a perceber futuros, a interpretar presentes;
a morte, mais que a vida, une as pessoas, junta sentimentos, aconchega espíritos;
nesta altura gosto de percorrer os cemitérios e de perceber como encaramos a vida; como nos encaramos a nós mesmos perante aqueles que apenas nos acompanham em sentimentos;

quarta-feira, novembro 1

curiosidades

as tecnologias são uma maravilha desde que comedidamente;
chego ao meu cantinho, abro o correio electrónico, coisa que não fazia desde o fim-de-semana e dou com, qualquer coisa, como 75 mensagens;
irra;

comentários

como seria de esperar as reacções à saída da casca não se fizeram esperar;
uma mais comedidas que outras, umas mais espontâneas que outras, e outras ainda mais surpreendentes que outras;
afinal, até parece que ganhei estatuto de maioridade; será?