sexta-feira, abril 29

ainda + conversa

No seio de toda esta conversa acabamos sempre por valorizar um ou outro dos pontos de vista, aqueles onde estamos, por onde nos envolvemos.
Mas, atenção à impertinência, não esquecer que isto de educação é uma pescadinha de rebinho na boca. Pegue-se-lhe por onde se pegue ele liga pontas, une fins.
O princípio é importante, o primeiro ciclo, mas a universidade, as instituições de formação de professores serão, neste contexto, determinantes para equacionar não um mas vários, diferentes modelos, possibilidades e dinâmicas de trabalho.
O que se vê é chegarem estagiários com um modelo pré-definido, pré-determinado de dar aulas, independentemente das realidades, dos contextos, das situações com que se depara. A formação inicial, apesar de existirem honrosas excepções, está assente na fábrica educativa. A formação continua vai ao encontro de alguns, escassos, interesses.
E o resto, e as outras possibilidades?

das conversas

Em face das conversas que a discussão em torno das medidas de apoio ao ensino da matemática têm sucistado, permitam-me acrescentar dois ou três aspectos que designo, assumidamente, de banalidades e lugares comuns.
Qualquer medida adoptada necessita de tempo de maturação, de gestação para que, de modo efectivo, prático e real, se façam sentir os seus efeitos, os impactos (tanto os desejados como, inevitavelmente, os nem por isso). Ora a escola e nomeadamente o tempo educativo não se coaduna com o tempo político, com a celeridade mediática que um tempo político e social pensa determinar.
Se, genérica e globalmente, vejo como boas as medidas adoptadas, não deixo de considerar que elas não são vistas em função das capacidades reflexivas e críticas nem dos professores nem das escolas (entendidas como um colectivo profissional e social). Bem pelo contrário. Vêm encontro a consideração dos professores como claros funcionários públicos que apenas fazem quando se lhes diz para fazer, como fazer e o que fazer. Como profissional do ensino tenho pena, como cidadão reconheço muita da verdade, como pai e encarregado de educação considero as medidas, para além de legitimas, escassas, pouco ambiciosas.
Terceira ideia, na minha sala de professores não oiço um comentário fundamentado, consistente ou, sequer, coerente de crítica ou de oposição. apenas e genericamente falando, lugares comuns, defesa de um profissionalismo atávico, minimalista e cerceador de uma qualquer autonomia profissional.
Finalmente, considero que há, em imensas escolas, práticas eficazes, caminhos alternativos, casos de sucesso, reflexão crítica e pensamento assertivo sobre o que se faz, a construção local da escola e da educação. Ideias, práticas, caminhos e alternativas que há que apoiar, valorizar, incentivar e partilhar.
A conclusão que posso fazer destes meus lugares comuns vai no sentido que falta formação à formação, faltam ideias a quem as devia ter (aos professores), falta imaginação, ousadia, capacidade de ultrapassar a banalidade dos dias, desligar de um quotidiano amorfo e enfrentar a construção diária, continuada e persistente da escola. Com o apoio dos colegas, com a conversa na escola, com uma organização diferente dos espaços e dos tempos lectivos, com a construção de objectivos, com a definição de elementos de avaliação, com a aferição de possibilidades, com o envolvimento e a participação daqueles que estão interessados na escola e pela escola. Aprender com os erros, nossos e alheios, saber retirar as necessárias e devidas ilacções dos caminhos trilhados, do feito, do construído.
Três ideias básicas - participação, construção local, avaliação.

quinta-feira, abril 28

obviamente

São, aparentemente, tão óbvias as medidas anunciadas (1 e 2) para a educação que dificilmente conseguem suscitar uma crítica de fundo, se pode descortinar uma fundamentação de resistência, colocar um obstáculo inoportuno.
Apenas numa qualquer sala de professores se conseguem ouvir comentários menos bons, perceber a dualidade de perspectivas. Ontem de manhã ainda prevaleciam os comentários sobre a bestialidade do aluno, hoje realçam-se as condições que não temos, as eternas condições que podem, de modo claro e directo, ser substituídas pelo seu sinónimo, desculpas.
Obviamente.

frases

uma frase que gostava de ter escrito:
... Eu sei que a escola que temos não é uma inevitabilidade. É um produto de mil e um preconceitos e representações que afagam o nosso ego e reificam o passado no nosso olhar...
Ademar Santos.

quarta-feira, abril 27

dicotomias

Há muito que tenho consciência que no seio do Partido Socialista há duas correntes educativas que procuram, cada qual a seu modo e a seu tempo, afirmar a sua preponderância.
Uma, porventura humanista, defende que os professores e as escolas sabem o que querem e sabem trabalhar para alcançar esses objectivos. É uma corrente que defende a regulação, isto é, a definição dos possíveis dentro dos quais, escolas e professores, se manifestam e definem estratégias e implementam metodologias.
Mas há uma outra, mais regulamentadora, isto é, mais legisladora, mais directiva, que defende que se deve dizer às escolas e aos professores o que devem fazer e como devem fazer. É uma corrente mais tradicional, mais jurídico-administrativa que considera e sobreleva a necessidade de formação por parte dos professores e das escolas quanto à capacidade de definir e construir futuros.
Tanto uma como outra são evidentes nas propostas que se apresentam neste momento nos discursos da tutela. Com um claro ascendente daqueles que defendem que as escolas e os professores são gente bruta que, se não se lhes disser como, não fazem nada e procuram a gentileza da tradição, do comodismo, do mínimo denominador comum.
Sou, clara e objectivamente, apologista da primeira posição, mais regulador, valorizador das autonomias profissionais, das capacidades locais, mas, por vezes, aos ouvir os meus distintos colegas, convencço-me que o outro lado, o da regulamentação, o da ordem e do sentido directo e directivo, estarão mais correctos, serão mais adequados àquilo que temos nas escolas.
Convenço-me que se não existirem ordens directas continuamos, persistimos e insistimos no habitual. Não somos capazes, por razões várias, de inovar, de fazer diferente, de ousar.
Dicotomias. E nós no meio.

do princípio

Penso ter perdido uma posta sobre a ideia apresentada, um pequeno texto onde afirmava que, na generalidade, os professores reagem negativamente às ideias apresentadas, ideias diferentes, outras propostas que não se insiram num modelo ou numa fôrma habitual, esteriótipada.
Tenho consciência que a ideia que apresentei pode mexer com algumas ideis feitas, com aquele senso comum que se visibiliza, com os pré-conceitos que se descobrem que são isso mesmo, pré-conceitos.
O que aqui se revela não é má fé ou falta de vontade, apenas ignorância, falta de formação para podermos perspectivar outros modos, outros possíveis, equacionar aquilo que há muito defendo, um professor reflexivo, que pense aquilo que faz e não seja, apenas e somente um funcionário público.
Mas há ainda muito caminho a percorrer.

dificuldade

Hoje tem sido difícil postar ideias, uma vez que o blogger parece entre o virado e o atacado.
Devagar talvez lá se chegue.

de uma ideia

concretizo o que referi como uma ideia de trabalho.
Como disse é uma ideia (reconheço que aparentemente simples) que procura mexer na organização da escola (tempos, espaços e alguns recursos).
A minha prática pedagógica insere-se naquilo que alguns autores designam de pedagogia diferenciada (reconheço que não gosto muito desta designação). Neste sentido a escola é entendida como um local (global) de formação e aprendizagem. O que procuro na ideia que apresentei é que seja efectivamente isso, um espaço, coordenado por um elemento de História (não há nenhuma disciplina que não toque na - sua - História) e que faça a ponte sobre conhecimentos, práticas, metodologias, estratégias, recursos didáctivos.
Isto é, é um gabinete de ideias que coordena acções práticas, lectivas das disciplinas e dos docentes que para isso se disponibilizem, coordenando formas de compensação, estruturando apoios, definindo tarefas, implemento acções, apoiando docentes e práticas docentes.
Vai, ao fim e ao cabo, ao encontro de metodologias cooperativas e colaborantes, procura ultrapassar o monismo disciplinar e integrar a colaboração como factor de desenvolvimento, e a coordenação como elemento de motivação disciplinar e lectiva.
Aparentemente simples. Requer que a distribuição de horários seja feita em função de grupos e de objectivos. Requer que o foco seja o aluno (efectivamente e não apenas do ponto de vista retórico), implica disponibilidade prática, efectiva para a colaboração e não para o isolamento. Implica, ainda, que se trabalhe acompanhado na sala de aula e não apenas um elemento.
Coisas que são simples de pensar e de dizer. Mas muito complicadas de implementar. Mas não desisto.

terça-feira, abril 26

futuro

Apresentei hoje, para discussão amanhã em sede de departamento, uma ideia de trabalho que designei Futuro com História.
Uma ideia de trabalho que parte da disciplina de História, como se notará, e procura ir ao encontro de diferentes princípios.
Desde a organização da escola, de modo a ultrapassar a ideia que a escola é só para dar aulas, que a História é do passado, que as disciplinas são quintas fechadas, que o trabalho do professor é isolado ou que as aulas são uma seca.
Indiquei, ainda que sucintamente, uma justificação, objectivos e recursos (humanos e materiais, não quero acreditar nem ter a veleidade de permitirem que um projecto mexa em dinheiros), como deixei ideias quantos aos possíveis produtos a obter e uma proposta de avaliação, cruzada, isto é, por parte dos responsáveis do projecto e por eventual comissão/grupo com origem em Conselho Pedagógico.
Será porventura precipitado da minha parte, mas estou quase convencido que os primeiros comentários irão ao encontro do impossível, que não é viável. Ou seja, os primeiros comentários procurarão a inquestionabilidade do que temos.
Depois direi.

dúvida

Numa posta anterior referi um conceito que me é caro e que o Paulo há muito não via (ouvia), o de profissionalidade.
Só por uma questão de esclarecimento e se ele assim o entender, a dúvida que suscitou foi boa ou má? A recordação vale a pena ou não?

segunda-feira, abril 25

desafios

Mais a pensar no colega Luís, do geografismos, mas não só, deixo um link que recentemente me chegou e onde já perdi (?) algum tempo, a tentar acertar ou a tentar verificar o que não sei e julgo saber sobre geografia da europa.
Interessante mesmo para os mais crescidos.

escolhas

Enquanto subscritor da newsletter da amazon.com recebi a informação que transcrevo.
Dear Amazon.com Customer. As someone who has purchased parenting titles, or titles about children and school systems, you might like to know that "Basic Tools for Choosing a School: A Picky Parent Guide Quick Kit" is now available as an e-doc. You can order your copy by following the link below.
Interessante e elucidativa de eventuais caminhos que, por mim, não quero trilhar, mas que e ao mesmo tempo, reconheço alguma necessidade e pertinência pelo menos para despertar algumas consciências que consideram que não há outros possíveis.

domingo, abril 24

confronto

A escola e os professores precisam de outras realidades, de conhecer outros modos, de quebrar barreiras e ultrapassar tabus, ideias-feitas, pré-conceitos.
Se queremos uma escola diferente, se queremos uma outra profissionalidade, se queremos defender e afirmar outros modos de sermos considerados nada melhor que conhecer outros pontos de vista, outros olhares, outras perspectivas de sabermos de outras possibilidades.
Estamos tão perto e tão longe, tão juntos e tão separados.
Há, para além daquilo que nos ensinaram, para além dos modelos que concebemos e pelos quais fomos formados, há outras possibilidades.
Há mais mundos para além deste mundo. E de quando em vez teimamos em não os ver. Em não os querermos ver. Por medo, por insegurança, por receio da ignorância, de reconhecermos e assumirmos o que desconhecemos.
É importante que pontos de vista concretos, situações reais, caos práticos como o João apareçam, se façam conhecer. Talvez seja esta ua das formas de conhecermos outras possibilidades de ser professor.

diferente

Estou plenamente convencido que não fazemos diferente, não temos uma escola diferente, não por não querer, não por acreditar que este é o único modelo, o correcto e o adequado. Não por resistência à mudança ou ao diferente, como pretensamente se quer fazer querer.
Não fazemos diferente, não temos uma escola diferente pura e simplesmentne porque não sabemos fazer diferente. Não nos ensinaram outro modelos, outras formas, outras lógicas, não tivemos um modelo diferente de ensinar, de avaliar, de equacionar a relação pedagógica.
É o que decorre do comentário a esta posta do João.
Tenho perfeita consciência que, caso o João mantenha a sua presença, exisitirá pano para mangas, na consideração de um dos mais melindrosos processos na educação, a avaliação.
De tanta objectividade que se procura seremos efectivamente objectivos? será que as emoções não terão papel importante na avaliação do ensino básico, pelo menos?.
Será que não existem outros modos de ser, outros possíveis?

sexta-feira, abril 22

difícil

é verdade, é difícil vermo-nos livres das escola, mesmo sem professores e sem alunos não há quem as queira.
Imaginem se tivessem professores e alunos dentro.

novidades

Há já tempos que este colega tinha aberto o espaço mas, para além da simples apresentação de intenções, ficou-se por aí.
Parece que agora se lançará para outras intenções e de certeza absoluta enriquecerá este espaço. E fa-lo-á por três razões. A primeira porque é alentejano, de Vila Viçosa, pois claro, e é razão mais que suficiente para enriquecer a blogosfera. Depois porque é professor, reflexivo, que pensa e procura descobrir outros possíveis na sua e na nossa prática profissional. Por último porque trás à baila uma temática que muitos procuram, outros tantos já ouviram falar, mas poucos sabem abordar como ele, o portefólio.
Recomendo, vivamente, o acompanhamento deste espaço.

conversamos

Em vésperas de dia da Liberdade fico sempre entre o incomodado e o incomodativo.
Incomododado porque o tempo é curto para se falar de tudo o que queremos e de como queremos. Porque não existe quase espaço nos programas para se falar deste dia, deste acontecimento, apenas no final do programa de 6º ou de 9º ano.
Incomodativo porque procuro despertar curiosidades, trocar ideias. Como professor e como professor de História não posso nem deixo passar em claro este dia.
Troco palavras com os alunos, conversamos sobre isto e sobre aquilo, uso um ou outro exemplo, apresento memórias, peço-lhes para perguntarem em casa onde estavam, o que faziam, o que pensaram, como viveram (se viveram) essedia, esses tempos.
Há uns anos, numa escola por onde passei, convidei um colega (docente) e um pai para falar sobre este dia, as suas memórias, os seus tempos. A situação foi de tal modo intensa que houve lágrimas de parte a parte, de quem conversava e de quem ouvia. Foi, provavelmente, um dos momentos mais intensos de emoção que vivi enquanto professor (e professor de História).
Pois claro que conversamos, é a conversar ca gente se entende.

experiências

É impressionante como somos reflexo do conjunto de relações que estabelecemos com o outro, particularmente dentro de uma sala de aula.
Hoje fiz uma experiência com duas das turmas do dia. Defini um modo de estar, numa cansado, entre o amorfo e o indiferente. Numa outra empenhado, dinâmico, convicente.
Imaginam, claro está, o resultado.
Um único objectivo, procurar situações onde alicerçar a convicção que a dinâmica de grupos é determinante na gestão da relação pedagógica (não gosto nem utilizo a expressão ensino/aprendizagem), na relação que o aluno estabelece com o professor e, por intermédio deste, com a disciplina.
São experiências, é verdade, onde me conheço e percebo melhor e compreendo melhor como devo agir para centrar a relação no aluno e partir deste para um trabalho relacional e para uma construção que é social, a do conhecimento.

quinta-feira, abril 21

interessante

de quando em vez, neste imenso deserto de ideias mas cheinho de opiniões que é a blogosfera(digam lá se não sou um destes paradigmas), dou com uma surpresa destas - comunicar/publicar na internet.
parte-se, presumivelmente, da ideia que comunicar é uma e diferente coisa que publicar. O que poderá eventualmente presupor que podemos publicar e nada comunicar, mas considero mais difícil comunicar sem publicar. Mas...
ainda por cima tem lá sítios deveras interessantes. Outros nem tanto [obviamente que me refiro a este cantinho, impertinente, é verdade, despudorado, mas também nem tanto para andar a dizer mal de quem quer que seja...].
Mas que é interessante, lá isso é.

faz-de-conta

O Miguel volta à baila com um tema pertinente e perante o qual muitos de nós teimamos em não querer ver, em disfarçar, o faz-de-conta.
Ele refere-se explícita e directamente às assembleias de escola. Eu, sem qualquer desculpa pela impertinência, sou mais abrangente e pergunto quantas escolas, conselhos de turma, aulas, órgãos de gestão, reuniões de departamento ou sei lá do quê, não serão do reino do faz-de-conta.
Este faz-de-conta faz-se sentir, evidencia-se na quantidade de gente a pensar que está no tempo da outra senhora, em que existem liceus, em que a escola tem por objectivo a selecção social, que devemos premiar a méritocracia, que os meninos devem entrar mudos e sair calados, de modo a não incomodar o(a) senhor(a) professor(a), os projectos curriculares de escola ou de turma que mais não são que ideias (quando as há) avulsas de banalidades e generalidades sobre coisa nenhuma e para nada, verbo de preencher por que não enche nada nem ninguém, as áreas curriculares que viram disciplina porque não se faz ideia do que se pode fazer naqueles tempos, naqueles espaços, as incapacidades de fazer diferente disfarçadas com comentários de culpabilização do aluno, pela sua indiferença, pelo seu alheamento.
Este reino do faz-de-conta não é exclusivo da escola nem da educação. É marca genética da nossa cultura, do nosso país. Faz-de-conta até que não tenho razão e que tudo isto não passa de um faz-de-conta.
Faz-de-conta.

quarta-feira, abril 20

nem de propósito

... no zapping que faço dou por mim referenciado neste sítio (que agradeço) e dou com esta soberba frase, própria de um génio e que vai direitinha ao encontro do meu anterior post:
Se não receio o erro é porque estou sempre pronto a corrigi-lo (Bento de Jesus Caraça).
É uma cultura que não temos, que não promovemos. Apesar de o povo português usar a expressão "aprender com os nossos erros" ela foi quase que banida da escola e da vida quotidiana.
Quando digo a um aluno que pode errar, mas tem de saber reconhecer o seu erro, tem de o saber corrigir fica, entre o espantado e o estupidificado, a olhar para mim como se tivesse dito a maior das barbaridades.
E se calhar disse.
Com a certeza raramente se aprende. Nunca se avança.

imagens

Há determinadas imagens, há olhares que se nos colocam ao corpo e definem e condicionam aquilo que somos e, muito particularmente, como somos.
A Lucília, na sua elegante forma de colocar as questões, tráz à baila uma dessas imagens, a imagem que o professor tem de ser, é infalível, raramente tem dúvidas e nunca, jamais em tempo algum, erra.
É a tradição de uma cultura que premeia o saber pelo saber, a inquestionabilidade de quem sabe [de pretensamente saber], é o hábito e o modo de não se terem dúvidas, é a recusa de ser a partir do erro que se aprende, de ser a partir da dúvida que existe esclarecimento, clarividência.
Já durante a manhã esta imagem me foi colocada por uma colega quando, na sala de professores, me pergunta se a minha atitude e posição naquele momento, eram modos de se estar na sala de professores.
Que raios, há um modo de ser professor? Há uma imagem de professor? ou será que existem modos, imagens (no plural, na pluralidade) de se ser professor?

terça-feira, abril 19

à descrição

Mais do mesmo.
A senhora professora da filha (2º ano) sem qualquer tipo de explicação nem uma razão que na cabeça de uma criança de quase 8 anos possa parecer plausível ou justificável mudou-a de sítio e de companhia. A filha perguntou do porquê. Por que quero, foi a resposta.
E pronto.
E depois ainda me perguntam porque é que gosto de estar com os miúdos.
Porque não consigo aturar estes professores. Porra é demais.

É para ficar irritado

é sim senhor...
conta-me o filho (5º ano) que a senhor professora de matemática permitiu que uma aluna realizasse hoje o teste que aconteceu na passada semana, uma vez que a menina tinha estado doente. Óptimo.
Conta também que após a menina ter entregue o teste a senhora professora, enquanto a turma realizava um exercício, o corrigiu. Óptimo.
Só que após a correcção aproveitou um momento de sossego e disse, em voz bem alta, tens zero, és um zero e atirou o teste, com desprezo, para a secretária da menina.
A menina passou o intervalo na casa de banho a chorar e a dizer que não queria ir a mais aula nenhuma.
Se isto não irrita, o que será que irrita.

irritação

Há professores que se sentem irritados com a escola, com a sua profissão. Há professores que me irritam por que estão eterna e permanentemente insatisfeitos, desconfortáveis na sua pele. Por tudo o que se faça, por tudo o que se disponibilize, por tudo o que se possa pensar, fazer ou ser por estas pessoas, estão sempre desconfortáveis.
Não sabem fazer mais nada. São professores. E nem professores sabem ser.
Será que tenho de aturar esta gente? Que ganhamos nós com eles? Como se sentirão os alunos numa sala de aula com pessoas irritadas, desconfortáveis, descontentes?
Irritam-me.

surpresa

Tenho que reconhecer que a princípio estranhei o texto e a escrita do Paulo, daí a minha tardia referência ao seu canto.
Mas também tenho que reconhecer que, de quando em vez, me entranho nos seus textos, nas suas ideias. Será, porventura e com toda a minha impertinência, um dos poucos blogues do dito ensino superior que me surpreende. E me surpreende pela positiva.
Pelas considerações que tece, pelas cumplicidades que pressupõe, pelas conivências que destaca, pela insensatez opinativa de muitos profetas que desvela, pela inconsequência que desmonta em muitos textos, pela pertinência e pela assunção do seu próprio carácter opinativo, pelo desvio acdémico que de quando em vez assume.
Este texto vai nesse sentido. Fundamentado. Coerente, sólido, consistente. Mas opinativo. Vale a pena perder todo o tempo e ganhar um pouco mais de sentidos.
Parabéns Paulo.

paisagem e gabinete

Há quem tenha a sorte (será privilégio?) de ter um paisagem bucólica onde se descansa a vista e se distendem ideias. Como há quem tenha o prezer (será privilégio?) de usufruir de um gabinete.
Reconheço, assumo a minha inveja (é por estas e por outras que este país não sai do buraco, por causa destas invejas, quem o diz é José Gil). Não exigiria um gabinete, contentar-me-ia com um pequeno cantinho onde pudesse estar, ler, organizar ideias, escrever devaneios, preparar uma sessão.
Mas não tenho. Mas não deixo de estar, de ler, de organizar ideias, de escrever devaneios, de preparar as sessões de trabalho com os aluno.
Não tenho, então invento, desligo do ambiente. Isolo-me. Finjo que fujo e que tenho uma paisagem alentejana em fundo, agora salpicada entre o castanho seco e o verde pintalgado de papoilas e margaridas.
Não tenho. Então imagino. Imagino e construo o futuro com o que tenho, com o que posso. E, se quisermos, podemos tanto.

conversas

Num dos cantos desta sala de professores (onde passo cada vez menos tempo, mas é o único sítio onde posso, a partir da escola, aceder à net) há quem discuta a formação de docentes.
Entre as necessidades referenciadas e as certezas das certezas a abordagem vai directa, direitinha à necessidade de modelos de actuação, um pronto-a-vestir também pedagógico, também didáctico, pronto a implementar, receita infalível para a situação com que um ou outro se defronta e confronta na sala de aula.
Será que há um modelo de formação? Será que há uma receita, mesmo que falível, que possa ser adoptada, generalizada?
Conversas...

segunda-feira, abril 18

dos sentidos

...da escola, pois claro.
Uma outra realidade com que me confrontei este fim-de-semana.
Uma miuda a quem em tempos aconselhei sobre possibilidades, alternativas e futuros, no final do 9º ano, encontra-me e dirige-se-me. Obrigado professor, hoje reconheço que tinha razão. Pergunto do porque e diz-me que há três anos pensava abandonar a escola, optar por um qualquer trabalho que lhe aparecesse. Por indicação minha e decisão familiar ingressou numa escola profissional cá do sítio, em área que menos predicados lhe ofereceu. Hoje, a terminar o 3º ano, o equivalente ao 12º, disse-me que se preparara para os exames de acesso ao ensino superior com um média bastante razoável, e que tem um sentido de vida.
Fiquei contente e satisfeito, obviamente.
Assume-se, para além dos afectos, um outro aspecto que em demasiadas ocasiões a escola (e os professores) se esquecem de assumir, que entre os 11/12 anos e os 15/16 é necessário criar um sentido ao trabalho escolar e à vida destas pessoas que saiem da fase do armário e caminham para a dolescência mas que não são um nem outro.
Procuram sentidos, objectivos, propósitos. Têm demasiadas perguntas e não menos respostas nas cabecinhas que são ainda muito gelatinosas. Sem ajuda, sem apoio, sem orientação, que muita das vezes não têm em casa, acabam por se perder nas franjas do insucesso, da indiferença, do alheamento.

dos afectos

Cada vez tenho mais fundo no meu pensar e no sentir a escola que as relações que aqui se estabelecem, dentro ou fora da sala de aula, entre colegas docentes ou entre docentes e alunos ou com auxiliares, assentam na gestão dos afectos, dos sentimentos.
Cada vez mais me convenço que a relação pedagógica se sedimenta numa teia de relações afectivas, onde a palavra é determinante e a troca de cumplicidades não menos.
Hoje, numa aula, uma aluna mostra-se assertiva, mais que num qualquer outro dia. Aproximo-me e com algum receio de estragar a situação, dogo-lhe que gosto de a sentir assim, simpática. Que a sua simpatia do dia se reflecte no trabalho, quer em termos de rendimento, quer de qualidade. Olha para mim e sem dizer palavra abre-me um sorriso daqueles em que agradeço ser professor e poder admirar.

das referências

Não resisto a este exercício, ao de agradecer aos passantes, a todos aqueles (e aquelas) que têm a pachorra de por aqui passar, alguns de modo diário, vá-se lá saber com que masoquismo.
Ultrapassei a barreira [psicológica] dos 10 mil passantes. É certo que grande parte deles é da minha exclusiva responsabilidade. Gosto de me ler, de procurar os meus erros, de olhar as minhas contradições, de sentir um ou outro sentimento, de perspectivar o que sou, o que quero ser, o que gostaria de ser.
Mas há uns quantos que sei que não são meus, são de amigos (e amigas) que tive (e tenho) o privilégio de ler, de sentir perto, pertinho de mim. De sentir aqui tão perto quanto a amizade permite e possibilita.
É deles, de alguns destes amigos, a responsabilidade de por aqui continuar a escrever barbaridades, a ser impertinente, a deixar a minha opinião, sem que alguém me a peça, ideias sobre esta coisa que nos move e une, a escola, a educação, a profissão docente.
Obrigado pessoal.

desafios

Não sei se foi a partir daqui mas foi, de certeza, por sugestão deste amigo, que surgem um conjunto de perguntas e de respostas que podem pronunciar (aprofundar?) sobre quem somos nesta never land da blogosfera.
Exercício entre o académico e o pessoal, uma vez que, como é marcante na web, podemos procurar iludir o outro, iludindo-nos a nós, fazermos crer que somos um outro que, talvez, gostássemos mais de ser. Um pensar entre o momento de uma circuntância e o amadurecer do que há-de (pode?, deve?) ser escrito. É um exercício de como queremos ser vistos, como quem sai de casa e veste uma dada indumentária para que sejamos percebidos assim ou assado.
Independente de qualquer circunstancialismo, as minhas respostas, a minha imagem. Não se aceita contraditório.
1. Não podendo sair do Farheneit 451, que livro quererias ser?
Cem anos de solidão, por toda a companhia que um solitário pode gostar e ambicionar, uma história de enlevo, de construção não de personagens, mas de pessoas, das suas raízes, do futuro.
2. Já alguma vez ficaste apanhadinho por um personagem de ficção?
Houve, há, um personagem que sempre me impressionou, do qual fiz a minha primeira colecção de títulos, o capitão américa. Só já grande racionalizei a situação, e é uma racionalização, pode ser enganosa, a de que é uma pessoa normal que, de vez enquando, se arma em herói.
Recentemente o senhor Pera, dos Incríveis, pelas mesmas características, virou herói pessoal, personagem de adoração.
3. Qual foi o último livro que compraste?
Sem ser daqueles de obrigação, dois ao mesmo tempo, na pausa da Páscoa, Anjos e Demónios, Dan Brown, e As Memórias das minhas Tristes Putas, Gabriel Garcia Marquez.
4. Que livros estás a ler?
Perrnoud, Pedagogia Diferenciada da razão à acção. Evidentemente, A. Nóvoa.
5. Que livros (5) levarias para uma ilha deserta?
Cem anos de solidão, Os Maias, Em tempos de Amor e Cólera (nunca me canso de os reler, de voltar a eles como a porto de abrigo, a um recarregar de mim mesmo), Aparição (recordar o que sou (eborense e professor) e o que somos, portugueses. O Labirinto da saudade, para ter a certeza que não me apeteceria regressar.
6. A quem vais passar este testemunho (três pessoas) e porquê?
A alguns a que quereria passar a ideia, já me o fizeram, mas há sempre pessoas que gosto e que aprecio, pela escrita e pela simplicidade.
Proponho a Sofia, a Lucília e a Selma porque tenho aprendido a gostar de pessoas que não conheço, e porque são mulheres que me obrigam a ser o que sou.

quinta-feira, abril 14

das saudades

A propósito dos amigos de alex ou, mais apropriadamente, dos amigos do Ademar, repesco a temática para o meu lado, para assumir algumas saudades da gente com quem resisti e sobrevivi ao meu curso.
Já lá vão quase 20 anos da data de conclusão, faltam 3 anos para esse efeito. Provavelmente fruto de alguma saturação mútua, de um cansaço inevitável após um período de 5 intensos anos, de trabalho, de camaradagens, de cumplicidades e desgastes que, depois da separação, nunca mais tive conhecimento do pessoal. Excepção feita a um ou a outra que por aqui ficou (um António e dois joaquins), a uma colega com quem, em tempos, troquei picardias políticas, do resto nada.
Nem um sinal, nem uma troca de mimos.
Desse grupo de quase trinta pessoas recordo 4 ou cinco com quem acompanhei quase de princípio a fim. Com quem troquei opiniões e ideias e me formei enquanto pessoa e enquanto docente.
Não os encontro na blogosfera. Sei que andam por aí, algures. Que estejam bem.

quarta-feira, abril 13

das dúvidas

Na parte final de um comentário a um amigo, deixo duas perguntas que decorrem de um certo esmorecimento da blogosfera, de uma aparente acalmia, que uns justificam pela falta de tempo outros pela repetição das ideias e dos textos.
Por uma ou outra razão, ou por nenhuma delas, replico aqui as questões, deixando espaço para uma arqueologia do futuro, ou seja, para a tentativa de identificar aquilo que fica depois de tudo se passar, o que ficará destes textos, o que se fará destas ideias, destas vontades.
É em função desta arqueologia do futuro que pergunto (e que procuro condicionar o meu trabalho), como podemos nós partilhar experiências entre escolas, entre práticas, entre tentativas? Como podemos nós utilizar este espaço da blogosfera, este próximo distante, para sermos melhores, para melhorarmos práticas, para percebermos situações, para construir alternativas, para evitar o desgaste de ideias, para se evitar a re-invenção da roda?
Será esta a nova agenda da blogosfera?
Será?

do erro

Ontem, em conversa com um grupo de alunos (de 8º ano), reconhecemos que, ao contrário de José Gil em Portugal Hoje, o medo de existir, nós não temos medo de existir, temos vergonha de existir, de sermos o que somos, de nos reconhecermos ao espelho.
Podemos perguntar quem será melhor que nós. Podemos dar a resposta óbvia que não há quem nos alcance e nos atinja. Esta vertente umbilical de autoanálise é característica de um marasmo, de uma estupidificação reinante, esclerosada e petrificante.
Quem não é como eu é contra mim. Quem pensa o contrário é por que me inveja. Ingorância. Medo. Vergonha, apenas.
Na escola ou na sociedade, há quem tenha medo, procure a subserviência e a indiferença como armas de desculpabilização e desresponsabilização. Mas há os outros, aqueles que apenas e só têm vergonha de ser, de assumir o erro, de voltar atrás e procurar outras hipóteses.
Enleamo-nos em pormenores apenas para atrasar esse reconhecimento, para fugir à nossa incapacidade de assumir diferente, de ser diferente.
Precisamos de uma inscrição social e profissional. Precisamos de assumir erros e ignorância.
Começo por mim. Cada vez mais, cada dia que passa, com o assentuar dos anos e da idade estou mais parvo, idiota, estúpido e ignorante. Desfazado do tempo e de mim mesmo.
Preciso de educação. Preciso de formação.
Quem se segue?

Impressão (?)

Não sei, provavelmente será apenas e somente impressão minha, mas sinto os alunos alheados do que andamos a fazer e os professores indiferentes ao que fazem.
Será impressão minha? Será exclusivo da minha escolinha?

segunda-feira, abril 11

da vontade

... ou da falta dela.
Reconheço que ando com pouca vontade de escrever. As ideias, entre o nublado e o indefinido, custam a sair. Já antes aqui uma vez o escrevi, não me apetece escrever banalidades e menos ainda sobre coisa nenhuma.
Talvez fruto de um fim-de-semana demasiado comprido, com noites demasiadamente pequenas, talvez pelo desgaste inevitável que o tempo provoca na escrita de uma pessoa, estou parado, algo alentejano.
A escola escorre normalmente, entre o descomprometido e o não inscrito, isto é, entre a pessoa que está bem em qualquer lado e fazer qualquer coisa, e os colegas que procuram passar de mansinho, certos que para o ano há mais, nesta ou em outra qualquer escola.
Custa-me, de quando em vez, assumir a banalidade dos meus dias.
Fases.

sábado, abril 9

Mudanças

Perspectivam-se mudanças na escola, na educação e no ensino.
Seriam inevitáveis, face à alteração de sentidos e de paradigmas políticos e partidários.
São imprescindíveis no sentido de criar na escola um espaço de oportunidades (que tendencialmente a escola tem vindo a perder), isto é, permitir que a escola seja uma espaço de futuro e não apenas de um hoje periclitante, indefinido.
Algumas dessas mudanças, de acordo com o que se ouve, irão colidir com interesses mais particulares, com situações de conforto e comodismo, irão contrariar apatias e amorfismos instalados. Estou certo que não irão agradar a todos e que alguns sindicatos e sectores profissionais se insurgirão.
Mudanças que muito provavelmente procurarão mexer na organização (de tempos e espaços, e na gestão dos recursos), na definição de projectos e de objectivos.
Estou certo que muitos irão dizer que não há condições, apenas espero que o ministério considere oportunidades de trabalho e de formação local. Que permita, cada vez mais, a construção local e contextual da escola e da educação.

sexta-feira, abril 8

do fio

Não quero acreditar naquilo que parece que estou a ouvir. Pelas poucas e gotejadoras notícias oriunbdas do Ministério da Educação fico com a sensação, com a impressão que é mais do mesmo, que não há uma ideia sobre a escola, a educação, a formação, o ensino. que ainda estará carente na liderança ministerial qual o papel do professor e dos diferentes actores educativos neste processom, nesta construção social e política que é a educação e o espaço onde ela prioritariamente acontece, a escola.
Fico, em conversas aqui e ali, sobre tudo e para nada, que ainda não há uma ideia de qual o papel das estruturas desconcentradas, de quais as possíveis acções ou a necessária intervenção para apoiar escolas, colaborar na construção local da escola.
Fico com a manifesta sensação que, apesar de existir um programa de governo (perante o qual me reconheço enormemente) não há, ainda, por enquanto um fio de trabalho que consiga, pelo menos, transparecer na comunicação social e, menos ainda, perante o nosso trabalho quotidiano.
Será impressão minha?

da procura

Alguém me procurou, alguém procura este espaço na procura dos sentidos da escola.
Esta blogosfera é, para além de um espaço de participação e debate, um espaço de voeyrismo, onde vemos sem sermos vistos, onde procuramos aquilo que não queremos encontrar, onde lemos sem sermos lidos, onde procuramos ver o outro sem sermos vistos.
Nestas peripécias dou quem quem procura não um mas vários sentidos para a escola, para as identidades que aqui, na escola, são definidas e (de)formadas.
Se consigo esclarecer algo, é que não sei. Se consigo ir ao encontro de algum tipo de expectativa, não sei. Mas quem sabe?

quinta-feira, abril 7

do como

Como equilibrar a necessária unidade do sistema com a pluridade de ideias e opiniões, de práticas e da construção da escola enquanto realidade social e contextual?
Ainda mais prático, como promover a pluralidade e respeitar a unidade?

multirio

Um sítio brasileiro entre o excelente e o excepcional. Simplesmente a não perder para quem, como eu, ainda não o conhecia. Belíssimo. Assim se vê o que a escola pode ser.

da cidadania

Nem de propósito, depois da posta anterior, entre o cuscar quem por aqui procura ideias e opiniões, leituras e comentários, dei com este texto (uma breve sinopse) a partir de uma pesquisa do google brasileiro.
A educação para a cidadania só terá chance de produzir efeitos se for um problema de todos e se perpassar todas as disciplinas e todos os mornentos da vida escolar. Leva-la a sério significa, portanto, ir além das boas intenções e dos discursos, significa transformar profundamente os programas, as atitudes e as práticas ! Philippe Perrenoud, Escola e Cidadania.
Querem mais?!

viragem (?)

Ontem um amigo procura-me para me questionar sobre a situação em que está o ensino, foram estas as suas palavras.
Tinha estado, momentos antes, na reunião da escola de um dos seus filhos, que frequenta o 7º ano, onde ouviu cobras e lagartos da turma, desinteressados, mal educados, mal comportados, alheados do trabalho escolar, conflituantes.
Disse-me que já em conversas com a directora de turma da filha (5º ano) tinha ouvido o mesmo, no mais velho, 11º ano, o destaque foi à indiferença, à falta de objectivos, à falta de esforço para conseguir resultados, que não sabem o que querem.
Entre a dúvida e a surpresa por de uma só vez ter constatado a situação, pergunta-me o que se passa com a escola, o que é os professores andam a fazer, sobre a situação em que está o ensino.
Começo-me seriamente a convencer que estamos a atravessar um momento de viragem, de reconfiguração conceptual e metodológica, de viragem espistemológica, no que ao trabalho escolar e educativo diz respeito. Não consigo ainda perceber contornos, descrever situações ou, sequer, apontar pistas dos novos caminhos. Mas a situação é generalizável pelo menos em contexto alentejano. As respostas que têm sido definidas são as mesmas de há décadas. A carolice e a boa vontade de muitos professores fazem com que se procurem outras propostas de trabalho mas que acabam, de um modo ou de outro, por ser mais do mesmo, da mesma maneira com a desgraça de ser face a raízes diferentes.
Em que ponto estamos nós? qual o balanço que se pode fazer de 30 anos de democracia da escola? quais as razões deste desinteresse, do alheamento, da indiferença, da falta de sentidos e de objectivos face ao trabalho escolar? o que pode ser feito? qual o papel do professor nesta reconfiguração, nesta viragem?
Será que se justifica manter práticas, estratégias, metodologias, conteúdos e conceitos, organização e princípios que cheiram a bafio face aos desafios do hoje, do amanhã?
Fico na mesma expectativa de um amigo, prefiro sonhar que estamos a discutir currículos, a construir localmente a escola e a educação. Mas estaremos mesmo?

quarta-feira, abril 6

dos exames

Em face dos rumores sobre a possibilidade de se acabar com os exames de 9º ano, nem sequer ainda realizados, volto à conversa embalado que fui pelo diálogo entre o Ademar, em dois posts, 1 e 2 e Vital Moreira (em Causa Nossa).
Tendencialmente aproximo-me mais da opinião do Ademar perante o qual subscrevo a questão quanto ao facto de se procurar prolongar a escolaridade (facto com o qual concordo) e se colocarem barreiras, obstáculos no meio desse percurso (afinal, o que se pretende).
Estou do lado daqueles que consideram que os exames não são, necessária nem obrigatoriamente, marcos de exigência, rigor e qualidade do sistema.
Mas sinto, na escola, que a grande preocupação recai, por um lado, no receio de um prolongamento do deixa andar (os professores não sabem, em muitas situações ou contextos, como lidar com o crescente desinteresse, alheamento, indiferença do aluno, a falta de objectivos ou com o aparente facilitismo em que recai o trabalho escolar) e, por outro lado, num inquirir sobre o que fazer perante aqueles que não conseguirão ultrapassar o obstáculo exame.
São contradições, dúvidas a mais para um sistema que quotidianamente enfrenta múltiplas situações e momentos entre o angustiante e o decisivo.
Considero que os exames, pelo menos ao nível de 9º ano, não serão uma resposta cabal a esta dúvidas, nem o remédio que muitos professores e pais julgarão adequada em face da necessidade de exigência, rigor e qualidade que o sistema, aparentemente, carece.

da saudade

Uma colega da escola, ao fim de quase 41 anos de docência, passou à reforma.
Perguntei-lhe deixas ou levas saudades.
Pensou, olhou para mim e com uma calma e uma ponderação que não lhe conhecia disse-me, não sei, manel, como está hoje o ensino não sei se deixo ou se levo saudades.
Foi a minha vez de ficar a pensar. A pensar em como está hoje o ensino, nas saudades do futuro, no caminho que tenho pela frente, naquilo que me falta cumprir.

terça-feira, abril 5

da ilusão

Um professor preparou a sua aula considerando todos os seus pontos de vista, em função dos seus interesses, das suas preocupações. Preparou uma aula toda pimposa com recurso ao multimédia, a uma apresentação powerpoint de cerca de 25 a 30 minutos.
Estava contente, satisfeito com o seu trabalho, com o empenho, o esforço e a dedicação que tinha colocado naquela aula.
A turma é complicada, entre o desinteresse e a indiferença, com situações pessoais desestruturadas e desestruturadoras de uma dinâmica de grupos. Mas aquela preparação estava, reconhecia, excelente. Não havia desinteresse que pudesse resistir.
No dia da aula, da apresentação do produto e do empenho da sua preparação, montou ele próprio toda a parafernália, não fosse algo falhar sem ser por sua responsabilidade, testou e voltou a testar a apresentação.
Alunos presentes. Esperou que os ânimos acalmassem, ficassem prontos para receber o fruto do seu trabalho.
Rotundo fracasso. Falhanço absoluto. Sentiu-se ir pelo cano, desesperar frente aos alunos, aos colegas, aos docentes orientadores.
Na conversa que tivemos, descobriu que a preparação foi a sua, a preocupção e o interesse o seu, o empenho apenas o pessoal. Apenas ele se envolveu, participou. Os alunos foram considerados em face de um outro centro de interesse, de um outro fóco de motivação, de outras experiências. Os alunos não foram nem vistos nem achados no processo. Não foram envolvidos nem ouvidos.
Quantas e quantas vezes isto sucede, a preparação de uma aula considerando o nosso ponto de vista, o nosso interesse e as nossas capacidades, um gosto pessoal. Se esquece o aluno.

da "não-inscrição"

Os comentários que por vezes oiço na sala de professores, leva-me a ser abusivo e pretensioso (mais ainda) e a transferir para esta nossa área o pensamento do Prof. José Gil, no seu último livro, Portugal Hoje, o medo de existir.
Ninguém se quer comprometer com nada, ninguém inscreve uma posição, defende uma ideia, afirma uma convicção.
Descubro que não é por que não existam ideias, opiniões, posições definidas, claras sobre os assuntos.
Apenas alguns, porventura excessivos, procuram ficar bem com Deus e com o o Diabo, com os Gregos e com os Troianos. Nada de compromissões, nada de uma posição firme e convicta sobre...
Há, também nas nossas escolas, uma cultura de não-inscrição, de acordo com a caracterização que dela é feita por José Gil, de não comprometimento, de não assunção de posições e de ideias.
Até que ponto passamos nós, professores, esta atitude para as crianças que procuramos formar?

dos buracos

De repente repescam-se velhas ideias com um novo (?) figurino, o de garantir que os alunos não têm buracos no horário.
Perpassam por esta ideia que tenho ouvido nos noticiários, duas sensações. Uma de absorção, isto é, sou eu, professor, o culpado inveterado de os meninos terem buracos, pois sou eu, professor, que falto muito, que prevarico, que não cumpro, que não sou cumpridor das minhas obrigações. (Há algo de verdadeiro nesta ideia, não procuro desculpar os professores, procuro perceber justificações de um discurso).
Uma outra sensação é a de negócio. As afirmações da senhora ministra confrontadas com posições do sindicato, fazem-me pensar que entramos num medir de forças, num nivelar de argumentos, numa procura de conceitos e de ideias, vamos vver se para discutir, partir, outra vez, tudo de princípio, se apenas para aferir posições.
Para terminar o meu ponto de vista: deixem as escolas fazer o seu papel. Formem as pessoas, disponibilzem a formação aos órgãos de gestão para que, na sua maioria, consigam ir para além da gestãozinha do seu quotidiano, do umbilicalismo das suas preocupações, saber o que se quer fazer das escolas, se centros ocupacionais se centros de formação de pessoas.
Não estou contra a proposta. Estou contra a forma como são apresentadas as coisas e o modo como são expostas na praça pública. Não valorizam as políticas (opções, ideias, programa), nem valorizam os profissionais.

segunda-feira, abril 4

mais do mesmo

Apetece-me repetir a designação do Nelson. Ao fim de um dia de trabalho é mais do mesmo.
Uma colega, à saída da escola, aborda-me sobre uma dada turma, o seu carácter irriquieto, o seu manifesto desinteresse, a indiferença perante tudo o que se lhes coloca pela frente.
Pergunta-me, entre o aflita e o desesperado, o que se pode fazer.
A resposta terá demorado provavelmente mais que uma hora, para chegarmos à brilhante conclusão que isoladamente, sózinhos, pouco ou nada podemos fazer.
Há todo um trabalho a montante da situação herdada a desenvolver, há que consensualizar conceitos, definir rumos, valorizar competências e descobrir sentidos.
Um professor pode fazer muita diferença, pode ser fundamental. Mas não será solitária e indivudalmente o eixo de mudança. são necessárias mais vontades, outros pontos de apoio.
As mudanças terão de ser pequenas, por intermédio de pequenos passos, uns inseguros, outros mais convicentes. Com pequenas convicções, mas com grande determinação.
Alterar a indiferença de uma criança? criar sentidos ao que faz na escola e na aula? Como, repercuto eu a questão.

de regresso

Cá estamos para o que falta, para o resto de um ano lectivo que, pelo menos aparentemente e por estes lados tem decorrido pela normalidade.
Regressaram os dias de levantar cedo, distribuir os filhotes, dinamizar ideias e apoiar a construção de sentidos.
Regressaram os gostos e as vontades de fazer mais, melhor e diferente. Como também regressaram ângustias, desanimos, falta de vontades e desinteresses.
Nas primeiras horas da manhã as vontades arrastaram-se pelas cadeiras, alteraram-se ruídos, levantaram-se vozes. Foi, há que reconhecer, algo arrastado o iniciar desta fase.
Mas estamos de regresso. Vamos a isto.

domingo, abril 3

das vontades

Terminei ontem uma acção de formação - sobre portefólios - onde me inscrevi por obrigação e necessidade de créditos e que termino com claras saudades das conversas, das discussões, da troca de ideias e de opiniões que ali houve oportunidade, espaço e tempo para trocarmos.
Num momento final, entre a obrigatoriedade das avaliações, confirma-se e reforça-se no meu espírito a massa crítica, disponível e voluntariosa que existe na nossas escolas, em todos os graus de ensino.
Confirma-se a vontade, o gosto e a necessidade que há em aprender outras coisas, em conhecer outros modos, em fazer de maneira diferente, em procurar ir ao encontro daqueles com quem quotidianamente trabalhamos.
Confirma-se que as reformas não vingam não é por causa dos professores. Confirma-se que existe pre-disposição, vontade por parte de muitos professores em aprender.
Confirma-se que a formação docente está mal orientada, é mal gerida e responde a um pequeno grupo de interesses e de interessados.
Confirma-se a carência de formação, a necessidade de ser contextualizada, personalizada, não ao professor, mas às necessidades das escolas, da realidade de cada escola.
A escola é, cada vez mais, um mundo e um espaço de oportunidades. Serão perdidas?

da eucaristia

Não é pela morte do papa que destaco esta eucaristia. Faço-o por reconhecer nela tanto de verdade como de fé;
Uma aula não deve ser uma eucaristia. Nesta há o assegurar de um hábito, a tranquilidade do gesto repetido, a força da palavra que é pedra de margem, a serenidade de um deus responsável pelos alicerces da Terra. Numa aula há o incómodo da coisa nova, o difícil desenrolar de uma história, a força da palavra que é ideia de ponte, o aprender que de milagres apenas este de sermos.
in ruminações digitais.

sábado, abril 2

do dia

É o dia internacional do livro infantil.
Em vez de discorrer sobre algo que conheço pouco, deixo um link para uma regressada amiga. Vale a pena e mostra que sabe do que fala.

da História

Não sei se fui descoberto por alguém que possa conhecer se apenas é uma descoberta prazenteira deste espaço, da escrita que por aqui acontece, das ideias que deixo e que com os amigos troco.
Mas a Cândida deixa-me não um, nem dois mas três comentários, fazendo transparecer algo entre o sotaque do norte e o prazer do Alentejo.
Será que estou assim tão errado?

a propósito e está escarrapachado no lado direito deste blogue que sou indecente de História.

de um gosto

de quando em vez descobrimo-nos, um piouco mais um pouco melhor. Geralmente nas conversas, nos olhares que trocamos.
Gostei desta troca de conversa. Fico com vontade que ela se prolongue um pouco mais. São estas as cumplicidades partilhadas da blogosfera.

sexta-feira, abril 1

impertinência

impertinência é como, habitualmente, me designam quando trago à liça daqueles temas que poucos querem discutir e menos ainda quando acontece em final de dia, após uma catrefada de horas e montes de gente.
Mas o Ademar parece que juntou toda a sua impertinência nesta pausa pascal e traz à baila um tema que, infelizmente, pouco ou nada se discute nas nossas escolas.
Acrescento um elemento a esta estória com todo o risco assumido de dizerem que pactuo com o laxismo ou o deixa andar não te amoles, mas quem me conhece, quem comigo trabalha sabe que assim não é.
Sou, genericamente, contra a retenção de um aluno a meio de um qualquer ciclo de ensino. Estou convencido (apesar de reconhecer que há muita gente que reprovou e que reconhece méritos e benefícios nessa sua reprovação) que não é por reprovar, por ficar retido um ano que a alminha se regenerará, que a cabecinha se tornará mas apta e capaz para as provas ou que os desempenhos e comportamentos se normalizarão.
Isto por que o hábito é deixar andar e o aluno repetir a mesma dose, da mesma maneira e, o mais das vezes, pelos mesmos que antes o reprovaram. Existe, neste aspecto uma completa, total e ineficaz desresponsabilização do professor e da escola face a medidas de apoio, compensação, recuperação, incentivo e integração do aluno e do seu contexto e dos problemas ou situações que estiveram na base dessa retenção. Geralmente é situação remetida à exclusiva responsabilidade do aluno (problema dele, desinteresse, alheamento, indiferença, falta de estudo, incapacidade são os mimos com que a pessoa é prendada e catalogada).
Neste aspecto e considerando genericamente a situação descrita, a escola é inimiga do aluno. Eu diria mais. A generalidade dos professores continuam a apostar e a fomentar uma escola de elites, de indiferença perante os que, por uma qualquer razão, apresentam dificuldades e carência de resultados naquele ranking que a generalidade dos professores concebe e pelo qual se orienta - seja de conheicmentos, seja de comportamentos, seja de empenhos.
E não basta referir que as escolas não têm condições (é sabido que estão montadas apenas e quase que exclusivamente para se darem aulas), que os professores têm mais que fazer (e têm), que o problema está no sistema (do qual todos fazemos parte e integramos) ou que não há recursos ou oportunidade.
Muitas vezes não se faz por que pura e simplesmente os professores não sabem (evito o não querem) fazer de maneira diferente. Fazem-se esquecidos que do outro lado estão pessoas, com sentimentos, com opinião. Muitas das vezes os professores tratam e analisam uma situação como se de um procedimento administrativo se tratasse.
Por isso, optei pela distanciação no final do período, pela pausa reconfortante. Procurei evitar comentários que fossem para além da minha mera e simples opinião e caíssem na fulanização, que sempre evitei.
Mas não tenho a mínima das dúvidas em subscrever a opinião do Ademar, a escola é (não em todos nem por todos os docentes) inimiga do aluno.

voltei

Espero, obviamente, que poucos ou mesmo e preferencialmente ninguém me tenha levado muito a sério, no que se refere à minha anterior confidência. Hoje, como diz o Ademar, um dia para não levar a sério.
dentro do que podia ser uma mentirinha optei por aquela. Ainda bem que poucos repararam.

confidência

Ainda agora regressei de uma pausa pedagógica, ainda agora regressei depois de um afastamento profilático e já estou de saída.
Peço desculpa, mas regresso quando for possível.
Um abraço.