quarta-feira, novembro 28

do choro

um miúdo, pequeno, franzino, resultado eventualmente de um andar livre e independente, estava recostado no fundo da biblioteca;
como não tem boa fama aproximei-me para perceber o que fazia; chorava;
sentado, pernas dobradas, cabeça encostadas aos joelhos, abraçado às pernas, chorava;
em tom de brincadeira perguntei o que se passava; que não se passava nada; rapidamente fomos rodeados por outros pequenos actores da escola que, há boa maneira tuga, procuravam cuscar o qe se passava, alvitravam hipóteses, atiravam comentários;
peguei no miúdo e sai para o corredor, quase deserto aquela hora;
voltei a perguntar o que se passava; se era de casa, se tinha sido na escola;
respondeu-me que, depois de uma brincadeira entre rapazes que não correu como o esperado, os amigos não lhe falavam, que ninguém lhe ligava;
fiquei entre o surpreendido e o mudo; afinal, um reguila traquina também precisa de amizades, também precisa da atenção daqueles com quem brinca em tons de empurra prá'qui e prá'li, um puxa e desembaraça;
afinal, nem tudo o que parece agressividade é agressividade; até pode ser apenas e simplesmente um modo de alguém expressar os seus sentimentos e o gosto que tem pelo outro;
ao fim de um bocado, acalmou e lá seguiu pelo corredor a fora, limpando as lágrimas à manga da blusa; fiquei a olhar, a vê-lo ir, pois conheci uma faceta naquele miúdo que não era comum e de mim desconhecida;

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