quinta-feira, setembro 28

aconchego

em dias de Outono, afinal a minha estação, em dias em que o cinzento se mistura com o azul, em que os laivos amarelos do sol custam a trespassar as nuvens, gosto de me enroscar nas palavras, sentir o aconchego das ideias e o enlevo dos sentimentos que transmitem;
gsto de bebericar um tinto envelhecido, trocar palavras banais sobre as nossas vidas e dos nossos quotidianos; gosto de olhar o campo e a linha do horizonte e sentir-me fluir por ela, qual sopro de simplicidades perdidas;
hoje estou assim; são dias;

liberdade de gestão

A TSF apresenta a notícia com a indicação "PSD pretende a liberdade de gestão nas escolas públicas";
portanto eu pergunto se, apesar dos modos e da forma como é implementada a política educativa deste governo, ainda há grandes dúvidas quanto ao interesse da escola pública, à defesa dos seus princípios e orientações?
defender a liberdade de gestão não significa, muito longe disso, uma melhor qualidade de escola, de educação ou de ensino;
o que aqui está em causa diz apenas respeito a dois pontos de vista sobre a coisa pública, no caso concreto a educação/escola; de interesse público a gestão privada, ou de participação pública e de gestão pública;

quarta-feira, setembro 27

desajustamentos

a propósito de duas situações, a reforma da segurança social, em que os parceiros gerais genericamente concordam e os partidos da oposição discordam, e a proposta de lei das finanças locais que, aparentemente todos discordam, duas notas;
não considero que as medidas de política deste governo seja intrinsecamente boas, apesar de ser um governo em quem votei e que apoio; como não considero intrinsecamente más as propostas oriundas de outros sectores ou partidos;
sou um assumido defensor da pluralidade, do debate, do confronto de ideias;
neste sentido, faço a referência que apesar de difíceis algumas medidas, elas têm que ser tomas e assumidas, de modo a se corrigirem incoerências e contradições de que o país é farto, para se rectificarem desajustamentos, arranjarem outros equilíbrios, outros padrões de organização.
E, perante as propostas oriunda do PC ou do Compromisso Portugal, manifestamente prefiro que as medidas difíceis sejam executadas pelo PS;
e é nesta dimensão que se cruzam as propostas da segurança social e das finanças locais, como se podem colocar as da educação e saúde, da juventude ou da administração interna;
é fundamental que Portugal largue lógicas que foram fundamentais para a aafirmação e consolidação da democracia, mas que hoje são manifestamente um peso que nos arrasta para a cauda da Europa; entre propostas desajustadas ou neo-liberais de privatização, prefiro, sem margem para dúvida, a acção do PS;

contradições e incoerências

declaradamente cada vez mais considero que estou num país de:
contradições:
o carteiro bate à porta, independentemente de quem abre, deixa a encomenda, a carta, o que for; caso ninguém abra a porta deixa o aviso para que possa ser "levantado" na estação de correios respectiva; ora então não é que para levantar presencialmente tem de ser o próprio com BI? não posso, por exemplo, levantar a encomenda que vem dirigida à esposa, tem de ser a própria com BI; se isto não é uma contradição o que será;
incoerências:
passou há dias um apontamento de reportagem numa das televisões que dava conta de licenciados, mestres e doutores no desemprego; e eu que estou num serviço regional que não tem um licenciado, um técnico superior; se isto não é incoerência, o que será?

segunda-feira, setembro 25

contextos

permitam-me o pretensiosismo de aconselhar esta leitura;
um documento que não é recente, oriundo da UNESCO e que permite situar-nos, aos professores e à escola, a investigação e aos contextos, num quadro mais amplo do que aquele que habitualmente nos caracteriza;
apesar de curioso pelos factos que rodeiam a educação, nomeadamente ao nível político e organizacional, tenho de reconhecer que me surpreendeu;

constrangimentos

está confirmado o meu receio, relativamente aos sinais da interioridade (lá mais para baixo);
ou por desorganização ou por contrangimentos orçamentais as bibliotecas da cidade de Évora (a pública e a da universidade) são para esquecer;
ainda me pergunto como há gente que optou (certamente em prioridade de fim de lista) por esta terra e por esta universidade;
constrangimentos; um dos nossos problemas;

sugestivo

O jornal Pública iniciou hoje uma nova colecção, sugestivamente designada por "Portugal como problema";
é raro olhar-se para este nosso país como uma oportunidade; é raro considerarmos que o país é uma solução (faltaria saber do quê, para o quê);
é comum partirmos da consideração das dificuldades, dos constrangimentos, dos empecilhos, da falta disto e daquilo; raramente olhamos um constrangimento como uma oportunidade de desenvolver, por exemplo, o trabalho colaborativo, a análise estratégica, a organização em rede;
"Portugal como Problema" sugestivo;

quinta-feira, setembro 21

sinais da interioridade (2)

há tempos atrás redigi aqui um primeiro apontamento sobre estes sinais da interioridade;
volto a eles, pelos mesmos motivos em diferente contexto;
queixava-me da biblioteca pública de Évora, restringida a um pequeno espólio de empréstimo, claramente condicionado por opções de algo ou alguém; moribunda, senão mesmo em estado comatoso profundo quanto a depósito nacional;
hoje foi pelas esquinas de uma outra biblioteca, a da Universidade de Évora, que desesperei e socumbi à organização; ou não têm títulos mais recentes (sejam revistas, que deixaram de assinar, ou livros), ou não estão disponíveis;
os terminais de acesso à net, para pesquisa bibliográfica (local ou na b-on) são pré-histórico (palavras do funcionário) - provavelmente te-los-ei utilizado aquando da minha passagem por ali, na segunda metade dos anos 80;
não chega a simpatia dos funcionários que entre a amabilidade e a disponibilidade procuram disfarçar o assumido incómodo de me verem circular entre 3 salas sem qualquer tipo de resultado (perguntava eu se existiam outros depósitos, que não, que estava tudo ali ou fisicamente ou, pelo menos, registado; perguntava eu como é que os docentes, professores e investigadores desta Universidade, porque os há, procedem, acedem à informação, e o encolher de ombros foi a resposta, mas será a bilioteca apenas uma sala de estudo?);
se juntarmos a isto o encerramento sucessivo de livrarias na cidade, de não termos um loja de discos que possa legitimamente usar esta designação, percebemos a pequena dimensão que a cidade tem adquirido;
não se culpem nem autarcas nem governos, somos nós eborenses que a temos (des)promovido;

compromisso portugal

depois de 2 ou 3 anos passados sobre a primeira versão deste compromisso Portugal, empresários que afirmam nada querer da política, mas que forneceram quadros políticos ao PSD para a governação e fornecem pistas para a governação política (não apenas económica, mas também na área social) que pode este remake acrescentar?
duas coisas;
primeiro, mostrar que a alternativa à direita do PS opta pela privatização (não é um papão, mas condiciona a acção pública de qualquer intervenção política); depois mostrar que não há ideias novas ou, pelo menos e no mínimo, diferentes que possam ser consideradas alternativas, quer do ponto de vista político, quer do ponto de vista governativo, quer, ainda, do ponto de vista conceptual;
opta-se por discursos gastos, esgotados, sem clara capacidade de novos lampejos, de novos ou de diferentes desafios;
fica claro, com este compromisso, os dois modelos de sociedade que temos em opção; a de uma sustentação pública da acção política ou a vertente privada da exploração do interesse público;

quarta-feira, setembro 20

dos contrastes

Évora, enquanto cidade de (pequena) média dimensão, encurralada entre Lisboa e Espanha, marcada pela Universidade é uma cidade de contrastes;
há pouco percorria a praça de Giraldo, olhava em redor e oiço dois homens, ambos na casa dos 50 e tantos, a gritarem com um outro, a provocarem o outro;
este outro é uma daquelas figuras típicas destas (pequenas)médias cidades, todo aperaltado nos pequenos trajes que ostenta, chapéu enfeitado com flores, engodos de pesca ou pequenas tiras; camisa aberta a revelar aquele peito sarapintado de fios brancos, ar compenetrado como se fosse tratar de coisa séria; entre o sábio (da experiência) e o louco (pelo menos para alguns);
há uns atrás seriam os rapazes, os jovens a brincar com esta figura típica, a provocarem o seu andar e os seus ânimos de pessoa;
hoje são os mais velhos, aqueles que sempre habitaram esta cidade e que a constituem que brincam num claro sinal de contrastes entre uma Évora rural e de tradições e uma Évora pretensamente cosmopolita e culta - atenção que não é uma coisa nem outra.

do som

não sei, sinceramente não sei se é impressão se é certeza, mas fico com a sensação que fechou mais uma livraria em Évora;
passei ontem e hoje (e hoje por diversas vezes) pela Som das Letras e sempre fechada;
é certo que não há qualquer referência - a férias, folgas, feiras ou para outros assuntos;
se for verdade este ano é a segunda;
resta-nos a Nazareth (lá se vai aguentando enquanto a D. Maria José fizer alguma coisa por ela), a Salesinana, sempre com livros de outros tempos, uma nova, que nem sei o nome, na R. de Stª. Catarina e...
para uma cidade universitária ...

do procurador

fico preocupado em face das situações, tão recorrentes no últimos tempos, em torno de uma qualquer e aparente unanimidade;
sinceramente fico preocupado; será que corremos o risco de unanimismo?

terça-feira, setembro 19

sem título

pela primeira vez, desde há muitos anos que escrevo sobre coisas da escola (estou a falar do meu projecto de investigação), não tenho duas coisas que sempre orientaram a minha escrita e o seu sentido;
não tenho um título, uma designação, uma referência nominativa para aquilo que escrevo;
não gosto daquilo que já escrevi;
quanto ao título dou de barato, ele há-de aparecer, cedo ou tarde, melhor ou pior, para mudar, rasurar ou simplesmente esquecer, mas sei que há-de aparecer;
agora quanto à escrita e ao meu gosto por ela (ou a falta dele) é que me está a deixar os nervos em franja;
na próxima segunda-feira terei de apresentar um esquiço sobre a metodologia de investigação; o meu dilema vai contra dois postes; por um lado, isolar a metodologia do objecto e do objectivos de investigação é o mesmo que me encharcar em cerveja sem alcoól (encharca mas fica-se na mesma); por outro, preciso de arregimentar conceitos e ideias quer a jusante quer a montante e terei que ser parcimonioso - imagima a guerra conceptual;
resta-me gerir o stress, conseguir comer com a angustia e deixar livre pena à escrita, pois sempre gostei de trabalhar debaixo de pressão - isto é o meu sentido de ser alentejano, porque sem pressão simplesmente não trabalho;

segunda-feira, setembro 18

o espartilho da autonomia

o miguel deixa um comentário com o qual não posso estar mais de acordo; que a autonomia pode ser um espartilho, que as políticas (e particularmente os políticos) não têm confiado nos profissionais;
não podia estar mais de acordo; e tu, meu caro amigo e estimado colega, sabes isso;
a questão essencial não passa por aí, passa pelo facto de os profissionais, os professores terem entregue de mão beijada o ouro ao bandido;
tem sido a actuação dos profissionais, de desresponsabilização, de atirar para fora da escola as questões da escola que têm feito com que os políticos procurem tudo regulamentar, tudo prescrever, tudo orientar;
Reparem lá se se ouvem as escolas profissionais a reclamar? Atente-se na asuência de ruídos das escolas técnicas. Será que se ouvem noutras regiões rumores e adizeres oriundos de escolas privadas? Não se alvitre que essas tudo têm, não é verdade. Não se atreva a dizer que estão melhores que o público, pois não é geral.
Mas têm, na sua generalidade, projectos pedagógicos concertados, coerentes e consistentes. Têm culturas de escola e lideranças que permitem a definição de percursos e trilhos.
Que apresentam as escolas públicas?
Na generalidade das situações, incoerência, inconsistência, ausência de projecto, falta de ideias, dilacerão de pequenos interessos, debates fraticidas de objectivos, polverização de ideias.
Não significa que um ou outro docente não tenha, não saiba para onde vai e como vai.
O problema da escola pública é a proliferação de ideias e projectos, vontades e ânimos. Todos e tudo tem uma ideia, uma opinião, uma vontade, é voluntário e voluntarista;
desculpem lá, mas nem já nos bombeiros imperam os voluntários, como é que a nossa escola, pública, inclusiva, participativa podem predominar os voluntários?

as belas e os senão

pois, como se usa dizer, não há bela sem um pequeno, ou grande senão;
ao introduzir-me no mundo da net a partir de casa, optei, logo de seguida e por questões de mera e simples segurança por actualizar os sistemas de anti-virus, anti-spam, anti-spywere, etc;
resultado a máquina, um pentium III, velhinho, de 98, imaginem vocês, apesar de ter um disco relativamente novo, de há dois anos, diz que é areia a mais para o possível e desejável carrego;
lá me vou ficando nas curvas, lá me arrasto em plenas subidas;
lá fico à espera que depois de tecladas as letras a palavra surja no ecrã como que por magia;
resultado, lá terei de equacionar a mudança de máquina.

de fora e de dentro

procuro não cair na leve tentatação de discutir e contra-argumentar em torno das lógicas (dúbias e duvidosas) dos que são contra e dos que são a favor das Ciências da Educação e de qual o seu papel no contexto do estudo da escola e da coisa educativa;
procuro ir um pouco mais além, desculpem-me o pretensiosismo, e descortinar aquilo que fica daquilo que passa;
quando à dias escrevi que arranjar culpas e desculpas fora da escola é desculpabilizar e desresponsabilizar a escola e os seus actores, quero dizer exactamente isso; um exemplo, aquele que agora tenho trabalhado, o das questões em torno da disciplina escolar, vulgarmente trocada com a sua antítese, a indisciplina; habitualmente a responsabilidade não mora na escola, está na sociedade, na massificação educativa, nos meios de comunicação social, na indiferença dos pais/encarregados de educação; quanto muito um ligeiro assomo quando se apontam algumas referências aos modelos educativos, às estruturadas pedagógicas e, neste caso, a responsabilidade é acumetida ao professor, em particular à formação que (não) teve para determinar outros modos;
ora e a organização da escola onde fica? Por onde colocar os fluxos de alunos e de gentes cada vez de aspecto mais fabril que tecnológico? as lideranças educativas? as estruturas de participação e inclusão social e profissional;
neste como noutros aspectos não podemos ficar à espera de respostas nem de soluções préformatadas; para além do mais aqueles que porventura se adequem em Vizela, não serão as mais adequadas para Évora e mesmo nesta poderão variar de acordo com os públicos;
é aqui que quero dizer que não vale a pena olhar para fora da escola, apesar de ser mais visível e mais fácil;

sábado, setembro 16

zapp

finalmente, ao fim de quase ano e meio, esta é a minha primeira posta a partir do meio do nada, deste meu alentejo de meias águas (se dissesse profundo seria uma ofensa, como também não o considero superficial, fica-se pelas meias tintas), da Igrejinha, aldeia pela qual optei e na qual procuro sobreviver;
uma opção que ainda estou para perceber da contabilidade, fui atrás da publicidade e adquiri um zapp; não se tem portado mal, para primeira vez e primeiras navegações. A ver vamos o que futuro nos poderá reservar.
Agora é procurar a tralha quase toda, imagens, sítios, programas, ftp's e procurar em dois tempos estragar o computador, isto é, voltar a navegar, a surfar nas ondas da net.

quinta-feira, setembro 14

espanto

fico espantado, comigo mesmo, pela fluência com que escrevo sobre a escola;
afinal partilho da comum situação, é fácil sermos treinadores de bancada; alvitrarmos opiniões, opinarmos sobre tudo e para nada;

equívocos

este meu amigo, que defende a escola pública e para todos, de quando em vez alimenta equívocos onde outros aproveitam a oportunidade para alimentar a coisa e possa arder em lume brando;
considero desadequado dizer que sou professor do ensino básico vai para 20 anos; que escrevi durante praticamente dois anos e de modo ininterrupto coisas da escola, umas deixaram saudades, outras nem tanto; que sou um acérrimo defensor das pedagogias diferenciadas e da escola de P. Freire, pela promoção das autonomias, pela coordenação dos trabalhos pedagógicos e que abomino o master dixit, a prepotência e a arrogância dos ignorantes que se consideram inteligentes;
tive o privilégio de conhecer o Miguel por este intermédio, numa acessa troca de ideias sobre a escola e sobre os professores;
podemos, não apenas com ele mas com muitos que por aqui passam, divergir quanto a ideias e políticas, opiniões e sentimentos; quanto à escola estou certo que existirá um traço comum, a sua defesa, a defesa de um serviço que constitucionalmente é para todos na procura da equidade social; quanto aos modos e aos instrumentos dou de barato poderem existir divergências, caminhos diferenciados, opções outras; afinal as opiniões valem o que valem;
agora considero de uma profunda demagogia e de alguma falta de carácter permitir que se alimentem de si mesmos, os argumentos do eduquês, da defesa da escola de alguns e para alguns, sejam eles alunos ou professores, pais ou comunidades;
nunca como agora foi tão evidente que o que está em causa é a escola pública, de alguns ou para todos; durante os últimos 20/25 anos procurou-se, com os engenheiros (V. Simão, R. Carneiro e M. Grilo) formar e consolidar a escola democrática, de livre acesso e livre frequência;
o que tem estado em discussão nos últimos tempos, particularmente desde D. Justino, é que escola queremos, uma escola de elites com laivos do antigamente (onde, pretensamente, é tudo calmo, reina a disciplina e a ordem, há interesses pedagógicos e gosto pelas aprendizagens, ainda que seja apenas para alguns e os métodos deixem muito, mas mesmo muito a desejar) ou uma escola para todos, mediante o desenvolvimento de competências, o aprofundamento de saberes, a capacidade de tolerância e respeito, inevitavelmente marcada pela heterogeneidade de gentes (professores e alunos), de condições (sociais e políticas), de objectivos (para uns aprender, para outros conhecer, para outros apenas e simplesmente entreter, incluindo docentes), de sentidos (da construção individual ou simplesmente sem sentido);
o que se discute com estas medidas que tanta água têm feito correr é esta escola que pretendemos, e, estou certo que existirá algum consenço em seu redor, nomeadamente, que sirva a população, os jovens, as comunidades e os territórios, as gentes, que eduque e instrua, que sensibilize e apoie, que favoreça e promova, que estimule e espicace curiosidades e sentimentos, que envolva em vez de rejeitar e excluir;
como conseguir isso? provavelmente existirão inúmeras maneiras, diferentes modos e muitas opções. Mas há para mim e na leitura que faço do caminho político desta ministra uma que é clara, a da equidade social. E isto tem custos, particularmente para os professores e para a escola enquanto organização, que se mantém na lógica fabril (afinal as fábricas ou fecham ou são deslocalizadas), em hierarquias verticais e funcionais, quando os saberes circulam por tudo quanto é lado, de todos os modos e em todos os sentidos, que persiste em levantar barreiras, erguer muros e fechar portões como se com isso, se isolasse, se imunizá-se ao exterior. Tão falso como idiota. Tão desajustado como desadequado.
Afinal e como ali deixei, não se confunda nesta discussão, a beira da estrada com a estrada da beira, e há muita gente, muitos interesses e muitos interessados que estão manifestamente interessados nesta confusão ou nesta promiscuidade de ideias;

quarta-feira, setembro 13

chove

afinal o Outono aproxima-se a passos largos - é já para a semana;
nesta minha cidade de Évora chove; não apenas aquela chuva miudinha, mas uma chuva forte e grossa;
lava o chão, apressa o passo às pessoas apanhadas desprevenidas, aromatiza de outros odores as ruas e travessas;
afinal, aproxima-se aquela que é a minha estação do ano;

campeões e aflições

se não fosse um colega desafiar-me para vermos o jogo do glorioso, logo à noite para a liga dos campeões, nem me aperceberia de tal facto; tal é o afastamento que tenho imposto a este glorioso;
o jogo do passado sábado apenas vi metade (felizmente e segundo rezam as crónicas o menos mau);
o de hoje nem sei se verei, entretido que estarei em amenas cavaqueiras, análises de bancada, na definição de estratégias sociais e não de meras engenharias;
enfim, campeões antigos rei das aflições;

terça-feira, setembro 12

discursos

cá em casa começou hoje o ano lectivo;
foi engraçado ouvir os discursos de recepção dos senhores professores;
afinal, a senhora ministra - apesar dos modos - até tem algum leque de razão;
lá se fazem sentir as medidas ao nível da organização e da estruturação das escolas; das opções e das orientações;
a bem não vai, por muito que se defenda o grupo, se acertem as ideias, se definam apontamentos de reflexividade;
grande parte do sistema está montado a pensar apenas numa parte da sua composição (e não têm sido os alunos nem as famílias); grande parte dos professores gosta de ser simples funcionário - sempre disse que há espaço e oportunidades suficientes para todos;
pela primeira vez desde que o filhote está naquela escola gostei de ouvir o discurso de recepção e de perceber que há lógicas (de serviço público, de equidade social) que se introduzem nas paredes da escola;
faço votos para que não se fique pela recepção;

cenas do meu país

imaginem, a tensão e o stress de se redigir um texto à volta de metodologias que poucos dominam e muitos desconhecem (análise cognitiva de políticas públicas);
imaginem agora vocemecesses o meu stress opto por ir mais cedo para casa, arrumo as coisitas e me preparo para escrever; ligo o computador, puxo os livros e os apontamentos, acerto ideias e ânimos e... puf fico sem luz; dou voltas assumidamente ignorantes ao quadro eléctrico e não descortino ponta de eventual problema; espero, não tenho outro remédio; estou sozinho no meio de nenhures e não ganho rigorosamente nada em olhar a casa do vizinho;
mas quem espera desespera e começo a ficar irritado; afinal tinha saído mais cedo para ir trabalhar e estava sem fazer nada; telefono à EDP, serviços técnicos; dou conta do caso, que iam enviar de imediato um técnico; o imediato sempre demorou um bocado, mas pronto, o problema foi o senhor chegar e dizer que tinha ordem de corte; motivo, o ramal é de obras e ultrapassou o período de instalação; sem qualquer aviso, sem nada; bonito, e agora o que faço com duas crianças no meio do campo? a resposta foi um encolher de ombros;
o resultado foi um serão maravilhoso, passado à luz do candeeiro a petróleo, na companhia da família e em amena cavaqueira; deitar cedo e cedo erguer foi o destino;

sexta-feira, setembro 8

sinais da interioriadade

Há uns tempos atrás tive oportunidade de enviar um comentário para o blogue de Pacheco Pereira referente à biblioteca de Évora que mereceu, para além de honras de publicação, comentários simpáticos nesta minha cidade;
um espaço que, nas minhas memórias de estudante nesta cidade, era repleto de respostas, pelo acervo que continha, pela organização que primava, pela acessibilidade dos documentos, pela procura apoiada e muita das vezes substituída pelos elementos sempre prestáveis (uns mais que outros, obviamente) que ali se encontravam;
por razões académicas regresso à Biblioteca de Évora à procura de títulos, documentos, jornais e livros;
uma agradável surpresa, decorrente da modalidade de empréstimo, um espaço diferente das tradicionais bibliotecas, labiríntico na orientação do leitor, na arrumação e disponibilidade dos títulos, pela quantidade disponível;
em contrapartida um manifesto desapontamento, fora da modalidade de empréstimo é, segundo dizem alguns elementos, o caos, a desordem, a desarrumação, o encaixotar de ideias e de sonhos, pensamentos e opiniões;
peço um jornal de meados da década de 90, não está disponível; peço uma revista do final dos anos 80, não temos; peço um livro de 2001, provavelmente temos mas estará certamente empacotado;
num dos dias que vou à biblioteca o meu filho mais velho aproveita a companhia e diz que vai pesquisar nos jornais do dia em que nasceu; como foi um domingo não estão disponíveis ou simplesmente não existem;
procuro eu uma revista da área da educação, das mais conhecidas, só têm números intercalados e por mera coincidência - dizem-me - a que solicito não há;
resultado, de um total de cerca de 20 títulos que alí procurei apenas tive acesso a três ou quatro, tudo o mais sou remetido (sugiro, recambiado) para a biblioteca nacional numa assumida desconsideração institucional de um local de culto e que deveria ser de cultura;
é nestas pequenas mas significativas questões que se fazem sentir os sinais da interioridade;
uma biblioteca pública que foi (ou é, não sei) depósito nacional, recambia os interessados para a biblioteca mais próxima, no caso a de Lisboa;
estou certo que há biblioteca municipais mais arrojadas, organizadas e com amiores disponibilidades que esta que progressivamente e quando comemora os seus 250 anos, se perde na memória, na desorganização, no pó;
é pena;

uniformidade

um colega do serviço onde me encontro transitou, por razões pessoais, para uma outra delegação, para uma outra região;
na troca de comentários sobre a mudança, nomeadamente entre semelhanças e diferenças, a resposta vai no sentido de serem mais as semelhanças do que as diferenças;
falamos de duas regiões (Évora e Faro) aparentemente distintas do ponto de vista de dinâmicas de juventude;
não me cansarei de defender que é preciso diferenciar para que se possa trabalhar para a equidade; que a igualdade mais não faz que realçar e reforçar diferenças, numa assumida posição de darwinismo social;
é este Estado, herdado de meados do século passado, que tudo procura homogeneizar, para o qual é tudo uniforme e singular que está em esgotamento perante ideias, concepções e práticas que consideram o Estado plural, heterogenio, diferenciador;
a nossa escola, a escola pública portuguesa muito tem contribuido para esta homogeneização; as dores que se sentem, pelo algumas delas, relacionam-se com esta mutação;

quarta-feira, setembro 6

parabéns

parabéns senhor primeiro ministro [uma outra variação ao sim, senhor ministro];

leituras

Até muito recentemente sentia alguma resistência em realizar leituras directamente do ecrã do computador.
Apesar de os documentos serem digitais (PDF’s, HTML ou outro) quando sentia interesse por um dado documento imprimia-o e, assim, sentia-o nas mãos, podia sublinhá-lo, rasurá-lo de acordo com as diferentes leituras que lhe fazia.
Há dias um comentário fez-me perceber uma outra razão deste meu pretenso gosto.
É que ler, ter um livro ou um texto nas mãos implica um reclinar atrás, um recostar para fruir a leitura e as ideias. Enquanto ler um qualquer documento no ecrã de um computador implica um inclinar à frente, para nos sentirmos mais próximos da fonte, termos uma outra noção do equilíbrio entre nós e o texto.
Pois, …mas fruto de obrigações, agora tanto leio no ecrã como manuseio um livro. Mas que gosto mais de sentir o livro, lá isso gosto.

Território

Regressaram aos serviços noticiosos da noite os contornos de uma polémica sobre o encerramento de mais uma maternidade, desta feita de Mirandela.
É deste confronto que ontem opinava; é deste confronto da exaustão do espaço territorial, entendido como local das práticas e das políticas, que se confronta com a sua própria desmaterialização.
No final dos anos 90 foi a informação que se desmaterializou em face da que circulação nesta rede, da proliferação de fontes e pela diversidade de mundos que faz transparecer.
Foi o local que se tornou global, foi o global que se localizou numa assumida ausência de espaços e, acima de tudo, de um qualquer território.
Neste início de século, nós por cá, confrontamo-nos com o fim de um espaço físico material e palpável que nos define, nos molda.
Cada vez mais somos de todos os lados, as raízes tanto estão aqui como ali, numa desmaterialização do território enquanto centro operacional de políticas e de práticas sociais.
A construção das pertenças já não é definida pelo território, por um dado e concreto território, definido pelas suas fronteiras físicas, caracterizado por uma dada morfologia. A pertença hoje é social, como é afectiva, moldável e dinâmica em função dos interesses de cada um, das capacidades que um dado território, num dado momento nos oferece.
Para uns é importante nascer aqui, neste lugar. Para outros tanto faz ser aqui como ali, apenas interessa saber que aconteceu e porque é que aconteceu.

terça-feira, setembro 5

olhares

já agora e só para uns quantos mais cúmplices destas escritas e destes cantos de vida;
tenho estado ausente, mas atento ao que se escreve;
são troca de olhares, entre o descomprometido (do cruzar simples) e o insinuante (do gosto pelo que se lê e vê);

confronto

durante este Verão várias situações se me colocaram para destacar o confronto cultural que neste momento ocorre neste país à beira mar incrustrado;
entre tradição e modernidade, entre ruralidade e urbanidade, entre provincianismo e cosmopolitismo, entre o velho e o novo, entre o passado e o futuro, foram vários os apontamentos, diferentes as situações;
do ambiente à cultura, passando pelo desporto, pela política sentem-e, mais nuns lados que noutros, mais numas circunstâncias que noutras, o claro confronto desta portugalidade que pouco a pouco se afirma no século XXI;
descobrimo-nos, ou descobrimos o que queremos ser;

provocação

reconheço que não resisti à provocação de um amigo;
de um amigo que infelizmente não vi este Verão e que teve a ousadia de atravessar uma boa parte deste meu Alentejo sem qualquer tipo de autorização;
não resisti à simplicidade do contacto, da advertência;
ausente mais por opção do que vocação, respondo à provocação e digo presente;
ainda não desisto;