sexta-feira, julho 8

aniversário final

há precisamente dois anos iniciava a minha aventura na blogosfera com dois claros propósitos.
Por um lado, dar escoamento a toda uma verborreia opinativa que (quase) sempre caracterizou a minha pessoa e que sempre fez com que não ficasse indiferente às coisas ou situações.
Por outro lado, num claro manifesto de participação despudorada, de pensar que tinha algo para dizer, fossem ideias, opiniões, sentimentos ou meras impressões.
Em dois anos quase tudo mudou, inclusivamente a minha pessoa e a minha participação neste espaço. Nem sequer faço um balanço, deixo-o à consideração de todos/todas quantos se deram à pachorra de me ler e de vascuçhar o meu pensamento.
É um aniversário algo triste, pois coincide com o final deste projecto. Não é um final por falta de ideias ou de opiniões. Nem de falta de oportunidade temática. Há muito para dizer, para escrever, inúmeras razões para trocarmos olhares.
O final deste espaço - desconheço por agora se temporário se definitivo - deve-se exclusivamente à minha inacessibilidade à net em condições que me permitam acompanhar o desenrolar dos tempos, dos dias e das ideias e de deixar as minhas impressões, o meu pensamento, o meu olhar, como diria um sério amigo que por aqui fiz e construí.
Mas é assim mesmo. Ponto final. Talvez regresse. Talvez não. Quem sabe.

terça-feira, julho 5

do aniversário

o Ademar faz, por estas bandas, um ano, com um texto que subscrevo integralmente.
Um ano em que, de modo claro e indelével, marcou a blogosfera, a escrita que se produz em torno de duas temáticas que, no meu entender, são as suas imagens centrais, a escola (e o que elas transporta em si - professores, alunos, políticas, idiotices) e o amor à escrita, à palavra, às ideias e aos sentimentos.
Que por cá continues, com o mesmo espírito e com as mesmas palavras.

da diferença

hoje foi dia de matrículas, um dia aparentemente diferente onde destaco dois aspectos.
A incomodidade de quem não transitou e que vê os colegas ir em frente e que sente alguma (?) ângustia, e, por outro lado, uma aparente saudade da escola.
Passadas pouco mais de duas semanas, ou nem tanto, os olhares e, particularmente, as conversas, os adizeres destacam a saudade da escola, do espaço de amizade e confraternização que é a escola.
Obviamente que não sentem saudades das aulas, não é.
Quando cá estiverem, prontos (ou nem tanto) para mais um ano, aí as saudades serão do dulce fare niente.

das novidades

todos os dias há, nesta blogosfera, coisas novas, novidades, umas pequenas outras nem tanto. Esta é uma das razões que me leva à necessidade de reconfigurar este espaço.
Uma das novidades, ou nem tanto, é esta.
Deveras interessante, pertinente e onde estou referenciado e daqui agradeço a amabilidade, prometendo para breve a retribuição.
E depois há muitos outros que merecem atenção, destaque, referência e que apenas por manifesta falta de oportunidade (não é de tempo) não tenho ainda disponibilizado ou retribuído.
Em breve.

segunda-feira, julho 4

balanço

em quase final de ano lectivo um balanço que nesta mudança de casa, dei conta.
- gastei 7 cargas de esferográfica e 4 recargas de tinta permanente;
- três pastas de arquivo;
- 3 resmas de folhas A4;
- perto de 1000 folhas de notas A5;
- um caderno de capa dura de 100 folhas;
- percorri mais de 8000 km (prescindo de pensar nos custos, para não me assustar);
- fiz mais de mil fotocópias - de fichas, trabalhos, etc;
- escrevi perto de mil postas este ano;
... é demais.

em transição

há tempos, não sei precisar em rigor, duas crónicas quase simultâneas, uma de Eduardo Lourenço outra de José Gil, ambas na visão, dissertavam sobre o que um e outro autor considera ser este momento de transição.
situação perante a qual reconheço pertinência e em que é perceptível a identificação de um ou outro contorno, claramente em traços muitos largos e imprecisos.
Por um lado com a clara noção colectiva que vivemos um período de mudança e que com mais ou menos consciência, maior ou menor impacto, todos percepcionamos.
Por outro lado, com a não menos clara sensação que, na generalidade dos casos e das situações, também se nota uma certa dificuldade de identificar essa mudança, particularmente quando não percebemos os contornos, quando as situações são difusas e as cores esbatidas e o fim é impreciso.
Entre um e outro ponto, o aparente impasse que vivemos, com directos reflexos em dois aspectos aparentemente distintos mas com ligações e(a)fectivas, os caminhos desta União Europeia e os caminhos deste país.
tudo isto para destacar o debate que as medidas deste governo realçou no conjunto da administração pública, de um modo geral, e nos professores, de modo particular. Bem visível no frente-a-frente entre a ministra, sindicatos e confederação de pais.
um frente-a-frente esquisito, para ser simpático, quando não se sabe quem defende o quê, com que argumentos, assente em quê, com que consistência.
Para onde caminha este nosso sistema educativo? que escola é proposta nos discursos políticos, nas práticas docentes, nas reivindicações sindicais? Qual o papel de cada interveniente, de cada actor educativo na configuração de um qualquer final de todos (?) ainda desconhecido?
Mesmo aqui, na blogosfera, mesmo em militantes ou simpatizantes do PS ou deste governo há alguma confusão, algum desnorteamento quanto ao rumo, quanto aos sentidos?
E, já agora, qual o papel que cada um reinvindica para si, procura implementar ou seguir? Ou está à espera que lhe digam como é?

sexta-feira, julho 1

reconfiguração

terminado o ano lectivo perspectivo sérias alterações a este espaço. Uma reconfiguração que tenderá a passar por criar relações não apenas com os amigo(a)s que por aqui passam mas também com alunos e respectivas famílias e colegas da escola, numa perspectica de multidireccionalidade e participação.
A reconfiguração está a ser amadurecida, mas quero re-definir os contornos desta utilização, dos objectivos que tenho até hoje desenhado para este espaço.
Vai daí e juntando-se a impossibilidade de acesso à net, a grande características dos proximos tempos vai ser a ausência (mais forçada que apetecida, ainda que tenha grande vontade de descansar).
Mas não deixem de dar notícias.

ora pois

Ora pois, quase ausente, em parte incerta, num claro retrocesso tecnológico.
O final de ano foi marcado por diferentes circunstância, qual delas a mais marcante.
Por um lado a confirmação de algumas amizades (umas reais outras que teimam no virtual) que não deixaram passar em branco a minha ausência.
Outras que passaram pela constatação que vale sempre a pena ser professor do básico e secundário. Que vale a pena discutir, trocar ideias, debater opiniões. Quando menos esperamos damos connosco a partilhar ideias comuns, a discutir sentidos colectivos, a acertar pontos de vista de uns e de outros.
E ainda a mudança de casa que fez com que me afastasse da Internet, num claro retorno à idade de um acesso a 58kbps, este mesmo, da junta de freguesia, pelo qual acedo e dou conta a quem de direito das razões do meu afastamento.
Tenho saudades dos amigos, das ideias, de espereitar o mundo, o meu e o dos outros. Tenho pena de não ter oportunidade de crescer e de me encontrar quando vejo os outros e nos outros percebo mais razões de se ser e de se estar.
Contigências.

quarta-feira, junho 22

coisa torta

Uma colega comentou, off-line, a minha posta sobre as últimas e disse-me:
Óh, manel, querias que uma coisa que nasceu tão torta [a recordar o início deste ano lectivo] terminasse direita?!
Seria pedir demais?

conversas do quotidiano

Dois professores, de uma escola da zona sul, estavam à conversa. Conversa sobre isto e sobre aquilo, sobre tudo e sobre nada. Às tantas um lembrou-se e perguntou quase que de repente:
- olha lá, amanhã fazes greve?
- Não. E tu?
- Eu faço.
Um e outro esgrimiram argumentos, um a favor outro contra a greve, um destancando a necessidade de rigor e de sacrifício de todos para um futuro melhor. Outro dizendo que são sempre os mesmos os sacrificados.
Era uma conversa sem fim à vista, até que aquele que faz greve rematou em cheio:
- olha faço greve porque não gosto destes gajos do governo, destes socialistas de merda.
E acabou, por ali a consersa.

terça-feira, junho 21

as últimas

A esta última semana para além da sua habitual anormalidade, isto é, ser um período em que se descarregam sentimentos e emoções, que existe o início do desapego às aulas, que acontece o relaxar do trabalho, que se reforça pela preparação das avaliações, é marcada pela instabilidade de haver ou não haver actividades lectivas, greve, reuniões, coisas dessas.
Mas será que não há quem tenha o bom senso de procurar, apenas e simplesmente, a estabilidade deste sistema? Este devia ser um dos principais objectivos políticos (abarcando, dentro do mesmo saco, ministros e sindicatos, profissionais e interesses).
Este final de ano, as últimas deste ano lectivo, estão assumidamente incaracterísticas.

mais do mesmo

Parece que o aperto ainda não é suficiente.
Para além disso, será a prova provada que um qualquer governo nacional pouco manda e pouco voto tem nesta matéria.
O que nos resta depois de nada (ou pouco mais que nada) termos?

segunda-feira, junho 20

exames

estive em serviço de exames durante a manhã, a acompanhar a realização da prova de Língua Portuguesa.
Conheço pouco e mal o currículo e o programa da disciplina mas, pelo que pude ver e apreciar da prova, gostei. Isto é, vai um bom bocado para além da disciplina e procura avaliar (?) situações (serão competências?) transversais a um domínio que se poderá designar de ciências sociais e humanas. Procura, é a minha leitura, desenvolver uma análise ao nível da interpretação, compreensão e relacionamento de ideias.
Posso estar enganado - se assim for peço antecipadamente desculpa - mas este exame vai muito para além de um teste de escola.
Fico na expectativa relativamente ao exame de Matemática. Será que os princípios serão os mesmos, será que a preocupação será a mesma?

de regresso

O Gustavo está de regresso, só hoje me apercebi, peço desculpa mas decorre de uma mudança de casa que me impede de estar mais próximo de quem gosto.
Bom regresso. Espero que por muito tempo.

erros

tenho a clara consciência que um professor, independentemente do nível de ensino que leccione, não pode/deve errar. Qualquer erro é apontado e referenciado como um dado, um elemento em que também somos humanos, também erramos.
Eu erro, por vezes excessivamente para o que é meu gosto e deveria ser sentido, mas erro, é verdade.
Erro por várias razões, isto é, tenho alguma consciência do meu erro. Por cansaço, por dislexia, por rapidez de teclado, por desatenção, por não verificação do texto, por incompetência e azelhice (procuro evitar a burrice, uma vez que sou defefensor que não há burros).
Pelo facto me penitencio, uma vez mais, publicamente, uma vez que há quem esteja atento à minha escrita - e aos meus erros.
Prometo tentar evitá-los, torná-los inexistentes isso já é mais difícil.

sexta-feira, junho 17

três ideias

felizmente não tenho tido possibilidades (tempo e acesso) à escrita neste espaço. Circunstância que me permite acalmar emoções e racionalizar situações.
Neste contexto três ideias;
1 - está instalada uma confusão que apenas favorece a demagogia fácil, o populismo serôdio e passadista a crítica fácil e pouco fundamentada; confusão que decorre de alguma falta de bom senso, de ideias feitas e atitudes fáceis que não favorecem nem políticos nem professores;
2 - todos, todos mesmo, temos críticas e comentários a fazer ao sistema, tenho sérias dúvidas que não haja uma área, um sector onde não possamos apontar o dedo, argumentar, opinar, mostrar que pode ser feito de maneira diferente; Se assim é, porque exigimos a indiferença, a permanência, para não lhe chamar imobilismo, estagnação;
3 - aprenda-se com os factos, com a história, com as situações e saibamos resistir à gelatina ideológica, ao olhar umbilical, à autocentração profissional ou sectorial; saibamos descortinar futuros, exigir situações efectivas e reais;
O resto são estórias, tão perenes quanto o tempo.

terça-feira, junho 14

e...

A partir desta ideia do Miguel (retirás-te os comentários?) uma questão se levanta (ou vários, dependendo dos olhares como ele próprio diria);
será que a escola acompanha este processo?
será que a nossa escola pública e situada consegue ser um ponto de encontro destas realidades e situações?
qual o ritmo de mudança da nossa escola?
Afinal, o que mudou na nossa escola?

conversas

Esta semana tenho gostado particularmente de algumas conversas onde tenho participado, que tenho mantido com colegas da minha escola.
Ontem o almoço prolongou-se e houve possibilidades, entre uma dentada aqui e ali (nada de exageros) e um café longo, de trocar ideias sobre como estamos, onde estamos e porque estamos no estado em que estamos - de desinteresse, de acomodação, de indiferença, de frustração, de esgotamento.
Hoje, um intervalo que foi muito para além do normal e permitiu trocar ideias, debater opiniões, formar juízos, debater esteriótipos, antever agruras.
A escola seria tão agradável se pudessemos, num qualquer momento, numa qualquer circunstância falar/ouvir o colega.
ficaríamos, provavelmente, a perceber que o mundo é maior do que aquilo que pensamos, que há mais mundos para além da nossa sala de aula, que outros, como nós, com a mesma profissão, se sentem piores que nós ou, no mínimo, como nós.
Que afinal não estamos sózinhos.
A partir de conversas.

coisas simples

Na incapacidade de dizer coisas novas e/ou diferentes, mais uma que retiro de um comentário, de um colega que aprecio:
A obra de Rubem Alves devia ser de leitura obrigatória para todos os professores e professoras. A sua simplicidade desarmante e a capacidade de dizer o óbvio são de uma riqueza impressionante! Como seria melhor a escola se os professores lessem Rubem Alves...
Não posso estar mais de acordo.
Como seria óptimo se os professores antes de complicarem procurassem as coisas simples, ser simples, fazer de modo simples. Complicamos tanto aquilo que deveria ser simples e fácil.

segunda-feira, junho 13

citação

Não resisti em puxar para a frente uma citação que um colega me deixou num comentário a um texto (posta) meu:
Ensinar é um exercício de imortalidade. De alguma forma continuamos a viver naqueles cujos olhos aprenderam a ver o mundo pela magia da nossa palavra. O professor, assim, não morre jamais...
Ruben alves.

século XX

Faleceram Álvaro Cunhal e Eugénio de Andrade, dois versos de um mesmo poema, Portugal no século XX.
Estamos mais pobres.

sábado, junho 11

coisas do tempo

O Miguel, em função do debate que percorre a administração pública, no corte de regalias ou situações profissionais, no caso o tempo de preparação dos professores, apresenta um texto, que comentei e que puxo e alargo neste meu cantinho.
quem defende, como ele o faz, uma dada imagem profissional, só o faz porque entende a profissão docente de modo crítico e reflexivo.
Crítico no sentido de poder apresentar temas, debates e argumentos que permitam não apenas o crescimento de um profissional, mas, fundamentalmente, a sua afirmação pessoal e social com base na profissionalidade.
Reflexivo, porque se (re)pensa a profissão e os modos de ser professor. Porque se procuram outras formas de se ser professor.
Na minha escola descobrem, progressivamente, que dispendo mais tempo fora da escola do que propriamente na escola. Na preparação das aulas, na definição de estratégias (de apoio, de compensação, de reforço, de avaliação, de colaboração, entre outras).
O grande problema, é que são ainda poucos os que fazem essa utilização e não é menos usual encontrar quem, dentro desse tempo, faça tudo menos algo relativo à sua profissão, ou perfeitamente desligadas da profissão.
A questão que hoje se coloca - e não apenas aos professores - é a capacidade de um dado profissional ser capaz de assumir a regulação da sua profissão (mediante a crítica e a reflexividade profissional) e não, simplesmente, a aceitar a regulamentação das sua acções, das suas funcões ou a definirem-lhe os objectivos exteriormente.
Se essa é a questão, o risco é deixar nas mãos dos outros a possibilidade de ser o que sou.

quarta-feira, junho 8

atraso

No meio das "atarefações" e do stresse que é uma mudança de casa descobri que volto ao passado. Eu explico.
Entre o desligar netcabo e tvcabo descobri que, aparentemente, o único acesso que tenho à net na aldeia para onde vou ter é via "dial up" a 56kbps ou, sendo rdis, a 64 kbps (apesar de estar apenas a 15km de Évora).
Nunca imaginei que, optando por uma dada imagem de qualidade de vida, afinal é uma aldeia com pouco mais de 300 habitantes, no meio do ar puro do campo, faria um vota atrás tecnológico. Já procurei alternativas quer entre concorrentes da PT, quer adsl e nada...
e esta hein...

segunda-feira, junho 6

intermitente

Uma vez que atravesso um processo de mudança de casa, situação que implica no curto prazo o esligar desta minha máquina e o finalizar com a netcabo, a minha presença neste espaço tornar-se-á intermitente, fruto das dificuldades de acesso e das disponibilidades para actualização de ideias e de opiniões.
Não é um ir embora, nem o abandonar este projecto. Apenas uma intermitência claramente dependente de uma máquina disponível para o acesso (e a partir da escola, do meu local de trabalho a qualidade deixa muitíssimo a desejar) e de tempo para esse efeito (há muito para encaixotar, há muito para desarrumar e voltar a arrumar).
Quando me for possível vou dando notícias.

sábado, junho 4

atraso

Ontem atrasei-me, por razões várias. Faltei à turma da manhã, sem aviso prévio. Cheguei à escola apenas a tempo para, em pé e rapidamente, deglutir algo, de modo a ultrapassar o quase jejum em que me encontrava e assim reunir forças para as sessões da tarde.
Enquanto me dirigia para a sala, já depois do último toque, pensei se o pessoal esperaria ou não. Quando lá cheguei uma surpresa, ninguém no corredor. Passado poucos passos uma estupfacção, abro a porta, todos sentados, lugares organizados e tudo a trabalhar.
Gostei. O professor não faz falta para iniciar os trabalhos.
Andava-me a interrogar sobre as conquistas deste ano lectivo, uma vez que em diferentes turmas têm sido levantadas questões que pensava ultrapassadas, tomadas atitudes típicas do início do ano, do primeiro período e que tinham sido, ao longo do segundo período, perfeitamente ultrapassadas.
Ontem, pela atitude de duas turmas constatei que o ano foi ganho, que valeu a pena.
Como vale sempre a pena.

quinta-feira, junho 2

chefe

Parece que, finalmente, há chefe.
Bom trabalho, por que sorte é coisa que... enfim...

da autonomia

Este texto do Miguel suscitou um conjunto de comentários que considero, por um lado, deveras pertinentes, e, por outro, preocupantes.
Pertinentes tendo em conta que partem, quase todos os comentários, da consideração que a autonomia é uma atitude pessoal, intrínseca à pessoa, ao sujeito. É um dos modos de encarar a pessoa enquanto actor de um sistema que ele próprio vai (re)construíndo, (re)definindo quer em função das possibilidades que determina, quer de oportunidades que são, em cada momento, identificáveis.
É este o sentido que encontro na construção da autonomia. Mais que reclamada, muitíssimo mais que outorgada (legislada) ela é, em si, por si e pela pessoa, um processo de conquista, de afirmação, de construção pessoal e política.
As questões referentes às preocupação vão ao encontro de ideias que consideram que a democracia deixa muito a desejar (se assim fosse o outro Miguel, o Sousa, não teria oprtunidade de escrever estas palavras), ou a consideração que a autonomia pode ser uma armadilha, subterfúgios para o apresionar de ideias ou vontades.
Peço desculpa da consideração, mas a autonomia é o que dela fazemos, decorre de um processo de apropriação, de operacionalização dependente, como disse antes, de possibilidades e de oportunidades. O que é de uns pode não de outros e, os momentos são variáveis, variados. Hpje é um contexto, amanhã um outro. Há que saber aproveitar as possibilidades e ler as oportunidades.
Isso é política, isso é a autonomia.

teoria e prática

Como ontem referi terminaram as conversas com história, com uma conversa em torno do que faço em sala de aula, no âmbito do que se poderá designar por pedagogia diferenciada.
Estruturei a conversa em torno de três ideias e um princípio.
as ideias assentam na dinâmica de grupos, na estruturação de uma tarefa e na avaliação como elemento de regulação de um e de outro.
O princípio parte das lógicas interaccionistas que sustentam, organizam e definem uma dinâmica e um suporte à construção social do conhecimento.
Terminei com uma interrogação, se bater à porta de uma sala de aula o que acontece? a resposta foi, perante todos os presentes, unânime, pára tudo. Pois, na minha sala não pára nada. Primeiro porque a porta está sempre aberta, depois por que é difícil perceber onde está o docente, por último por que quem define o ritmo de trabalho é o aluno, o docente apenas esclarece, apoia, orienta.
no final, quem conhece a minha prática afirmou que fiquei um pouco longe do que faço, que não consegui, real e efectivamente, fazer transparecer o que faço. Quem não conhece a minha prática disse que percebeu a ideia e que ficou a pensar nela.
A pensar nela, já foi uma conquista.
Mas confirma-se as diferenças entre uma prática e uma teoria.

quarta-feira, junho 1

dúvidas

o processo de avaliação é um dos sectores quase que intocáveis, quasi sacrossanto território onde o docente exerce o seu poder, define a sua arbitrariedade.
Nada melhor que sermos alvos deste processo, termos gente nele envolvida para percebermos o quanto pode ser arbitrário, descricionário e aleatório mas que muitos consideram intocável.
O meu filho teve uma resposta incompleta numa ficha de avaliação e a professora diz-lhe que é um satisfaz bastante mas baixinho.
Olho para a ficha, questiono as perguntas, interrogo qual o processo de avaliação, o que se pretende avaliar com aquilo, com aquelas questões, como terá a professora organizado e distribuído cotações, em função de quê, esperando o quê?
Fico sem perceber. De certeza que por razões minhas, dificuldades minhas, incapacidades e desconhecimentos meus.
Dúvidas que uma criança também não consegue perceber, nem sequer entender qual o sentido, a utilidade ou a pertinência de um processo de avaliação onde apenas foi objecto e nunca, mas mesmo nunca, sujeito.

da (in)diferença

Termino hoje as Conversas com História, iniciativa organizada pelo departamento a que pertenço em volta do trabalho dos professores.
De um conjunto de três conversas (sobre a construção local da educação e sobre as tecnologias educativas) a de hoje, onde intervenho, é sobre a pedagogia diferenciada (termo que não aprecio, como já tive oportunidade de trocar ideias com o Paulo, onde andará ele?).
Não será de esperar muita gente, mas como houve elementos que me solicitaram esta converda acedi e lá espero terminar com chave de lata mais estas conversas.
Terminar eventualmente como começaram, na serena indiferença da escola.

terça-feira, maio 31

aniversariante

das escolhas

Oiço conversas de professores a escolherem livros de trabalho (?), manuais para o aluno.
Há, no meio das conversas, quem aponte critérios como a cor, o sentido da autonomia do aluno, os textos, a profusão de exemplos ou exercícios. Outros defendem a concepção, o preço, coisas que constam de uma lista de mercearia onde o professor deve registar as suas opiniões.
Outros queixam-se que receberam poucos livros, que algumas editoras foram parcas na distribuição ou no convite.
Não comento, nem intervenho. Não uso manual, não tenho livro de texto, não tenho documento de trabalho organizado ou disponibilizado por uma qualquer editora. Utilizo, como elemento de orientação aquele que adoptaram na escola. Mas sempre com a preocupação de referir aos alunos que é um olhar, revela um conjunto de preocupações, evidencia uma dada leitura do que é a educação, qual o papel da escola e, entre um e outro, qual o destaque da disciplina.
Prefiro construir os meus materiais, trocá-los com alunos, construir o meu olhar, o nosso olhar, definir as minhas e as nossas valorizações e/ou destaque.
Não sou nem melhor nem pior que os autores dos manuais e claramente muito menos profissional que eles.
Mas estamos ao alcance de uns e de outros na justificação das nossas escolhas, das nossas opções.

competência

Quase em final de ano há aqueles que estão preocupados com os conhecimentos, com a realização de testes, com a quantificação dos conhecimentos, com o rigor que uma folha de cálculo pode evidenciar.
Apologista que sou que o conhecimento é uma construção social, que a sala de aula é um permanente degladiar de equilíbrios e uma gestão delicada de sensibilidades revelo a minha preocupação pela gestão das competências, pelo crescimento da pessoa do aluno, pela consolidação de ideias e princípios que, sem grandes teorias nem enquadramento conceptual, possam perspectivar ganhos, evolução, sedimentação, construção do ser e da pessoa.
Como defensor que o ensino e a aprendizagem decorre de um processo interaccionista, onde se definem, constroem e negoceiam objectivos, interesses e sentidos a minha preocupação vai para as emoções, para os afectos, para a assunção que avaliar envolve sentimentos, mútuos, reciprocos.
Procuro, no processo de avaliação, perceber o que se aprendeu, não na História, mas na capacidade de a utilizar para compreender, perceber e questionar o mundo.
Procuro competências, os conhecimentos virão depois.
Assumidamente.

segunda-feira, maio 30

comportamento

Num dos cantos da sala decorre, aparentemente, um encontro de professores onde se discute comportamento, regras, atitudes.
Uns defendem que o órgão de gestão deve fazer uma circular onde ponha travão a um conjunto de comportamentos que designam de irresponsáveis.
Outros que se devem responsabilizar os pais, a família.
A questão, afinal, estará no desfazamento de atitudes, valores, comportamentos e ideias entre uns (alunos) e outros (docentes).
Criar e gerir este equilíbiro é fundamental para que um processo (o pedagógico) possa ocorrer.
Responsabilizar a família não pode significar a desresponsabilização dos docentes.

oportunidade

Ainda não tive oportunidade de ver e sentir o novo desafio colocado pelo Miguel.
O fim-de-semana foi prolongado e imposta uma necessária e saudável distanciação desta máquina e deste mundo. Nem correio electrónico consultei, situação que faz com que ainda não tenha respondido.
A seu tempo e o necessário pedido de desculpas ao Miguel.

sentido

Na sequência da última conversa uma ideia se destaca, a criação de sentidos ao que se faz na escola e, em particular, na sala de aula.
Para uns esta construção de sentidos é da exclusiva responsabilidade do aluno, para outros o professor é o elemento central.
Para mim, e para muitos outros, é uma construção social, uma relação dinâmica (há quem a designe por interactiva), entre aluno, professor, família.
Uma santíssima trindade na construção de sentidos ao trabalho escolar.

quarta-feira, maio 25

Mais conversa

Estou na escola à espera de mais conversa. No âmbito de uma iniciativa organizada pelo departamento a que pertenço, mais umas conversas hoje sobre tecnologias educativas e o trabalho dos professores. Mas uma oportunidade para perceber se as conversas são como as cerejas ou se são organizadas para o umbigo.
A ver vamos de conversa.

quase

Nesta altura, uma qualquer sala de professores, peço desculpa da generalização, é percorrida por um claro e objectivo sentimento do quase, que está quase, que falta pouco para que termine. Alguns é uma saturação, uma ângustia, uma trabalheira (como diria um amigo) para o qual falta pouco para terminar.
Para outros é apenas cansaço, saturação (de aulas, de alunos, de viagens, de dias desconfortáveis).
Para para outros ainda é apenas a aproximação do final de mais um ano lectivo, de mais um período, de mais uma marca neste evoluir.
A minha sala de professores, e é desta que eu falo, é marcada por este sentimento de quase, que está quase, que falta pouco.
Uns sopram, outros revelam muita da sua saturação, há níveis de impaciência, intolerância claramente (digo eu) marcados por esta sensação do quase.
Como há a clara e assumida revelação daqueles outros que estão aqui como podiam estar noutro qualquer lado, que gostam tanto da escola, das aulas e dos alunos como, certamente, gostariam de estar a encher chouriço, ou à sombra do ar condicionado de uma qualquer repartição pública.
é a sensação do quase, que está quase. Mas ainda não está.

terça-feira, maio 24

este rigor

Não quero cair nem em generalizações nem em abrangências ou que não conheço ou que não domino, mas que existe um excessivo rigor, quase ao nível do preciosismo, no número do buraco público, estes 6.38%, disso não tenho dúvidas, nem pinga de incerteza.
Como escreveu um amigo (a circular por mail) não são os seis por cento que me incomodam, não são as décimas que chateiam, o que me aborrece mesmo é este rigor, quase tão fingido como as contas públicas, do valor centésimal de 0.08%.
Fosse tudo assim, tão rigoroso e pormenorizado como este valor centésimal e não teríamos, quase que garantidamente, o buraco que temos. Nem os governantes que temos tido.

do que tem de ser

As conversas na sala de professores, são como as cerejas, vêem umas atrás das outras. Fala-se disto e daquilo, do que gostamos e do que pensamos.
Hoje, provavelmente de forma invariável a muitos e muitos recantos deste país, fala-se do déficite, do deve e do haver das contas públicas e, muito mais importantes, dos mesmos, sempre os mesmos que têm de pagar, que não podem, não conseguem fugir, nós mesmos, professores, funcionários públicos.
Engraçado como neste momento existe uma clara e directa associação - professor/funcionário público.

segunda-feira, maio 23

do nada

É impressionante o momento em que ficamos sem nada para dizer.
Não é possível.
Tanta coisa que acontece, mesmo aquilo que não acontece na escola pode ser notícia, oportunidade para cuscar, momento para blogar.
Mas é verdade. Sinto que pouco ou nada tenho para dizer, menos para escrever.
Por isso calo-me, não escrevo, ausento-me daqui e aqui fico a olhar, a ver quem passa.
Não estou em estágio, mas podia (será que devia) estar. Não estou por aí além atarefado, geralmente só não tenho tempo para o que não quero ou não me interessa. Mas apetece-me não ter tempo, talvez apenas não ter interesse.
Vazio. Pleno, total, sentido, o vazio. O nada.
Tão bom que é.

quinta-feira, maio 19

mais um

Hoje é mais um colega que faz um aninho.

transitando Posted by Hello
Um colega que, nas suas palavras, anda em trânsito pela vida, por este mundo, por este país...
Afirmou-se devagar, como convém a todos aqueles que fazem um percurso de fundo e que procuram ir fundo nas pequenas (e nas grandes) coisas da vida.
Que por cá continues, é o que conta. Parabéns e obrigado.

quarta-feira, maio 18

conversas

As conversas com História lá decorreram na serena normalidade da indiferença da escola. Há muito que reconheço que santos da casa não fazem (nunca fizeram) milagres. As expectativas, por isso mesmo, não eram elevadas no respeitante à participação.
No ano transacto, com a participação de alguns ilustres convidados, poucos mais eramos que este ano, quase tantos de um lado, como do outro.
Mas tenho que reconhecer que, depois de um início tímido, algo receoso ou envergonhado, foi difícil dar por terminada a conversa [afinal, são como as cerejas].
Há sempre tanto para falar, há sempre tanto para conversarmos e tão pouco o tempo disponível, as vontades e as oportunidades que, quando apanhadas, são esprimidas até...
Destaco uma ideia que, de algum modo me surpreendeu, o reconhecimento que o que falta mudar são as práticas docentes, o método pedagógico que permanece algo enclausurado numa tradição que teima em persistir depois de tudo o mais ter desaparecido.
é óbvio não é?! pois, para mim não é assim tão óbvio este reconhecimento explícito.
Para a semana há mais, sobre as tecnologias educativas no trabalho dos professores.

aniversário


Este senhor fez ontem dois anos de escritas de palavras à solta.
É um dos sítios mais antigos e mais veneráveis que reconheço. Nunca agradeci nem o link nem as visitas.
Bem hajas por muito e mais tempo.
Posted by Hello

terça-feira, maio 17

Vazio

As coisas, aparentemente, estão assim, vazias, ausentes, disponíveis.

Posted by Hello
Há bloguistas desaparecidos nos confins dos dias, da escrita.
Há ausências, entre o forçado e o desmotivado. Há, nota-se, o cansaço, que faz com que a estrada fique assim, vazia.
Espero que seja apenas um entretém de queimas, temporário, passageiro e que o tráfego aumente, se recuperem ânimos e vontades, escritas e emoções.

segunda-feira, maio 16

Equilíbrio

Para estar num lado, não consigo estar no outro.
Uma questão de simples equilíbrio e de gestão de espaços, tempo e interesses.
equilibrio Posted by Hello
A imagem retirei-a daqui, e serve apenas para ilustrar uma ideia.
Neste momento analiso portefólios, discuto e debato ideias com alunos, troco opiniões com pais, encarregados de educação e colegas de conselho de turma. Estruturo o princípio do fim. Prescruta-se aquilo que é possível fazer e as apostas que ainda faltam.
Para além disso, preparo umas Conversas com História, segunda edição, a iniciar já na próxima 4ª feira, este ano sobre a construção local da educação - políticas educativas, tecnologias e práticas pedagógicas.
Equilíbrio instável.

sábado, maio 14

links

A não perder para que se possa conhecer um pouco mais e um pouco melhor.

quinta-feira, maio 12

Blogs

A partir do Aviz, um texto imperdível sobre blogues, veio mesmo a calhar.

textos para coisa nenhuma

A partir desta imagem, de Nico Vassilakis, um pensamento, um texto para coisa nenhuma.

textos para coisa nenhuma Posted by Hello
Às páginas tantas, depois de tantas e tantas palavras, dos textos que produzimos e que nos produzem, que nos reproduzem quase que me sinto preso das minhas ideias, das palavras que troco, do pensamento que o suporta.
Não percebo, quando escrevo, se é a palavra que se solta se sou eu que quero ficar preso a ela.

Olhares

Aquilo que vemos quando para trás somos capazes de olhar.

moment1 Posted by Hello óleo sobre tela
Um conjunto de quadros que considero deveras interessantes

terça-feira, maio 10

estórias de professor

Não resisti, a partir deste texto, a partilhar um texto e um professor, um texto há muito guardado.

Não recordo se José Sena apareceu no primeiro se no segundo semestre do primeiro ano do meu curso. Sei que apareceu e nunca mais desapareceu, nunca mais se ausentou da minha memória de gente.
Leccionava um cadeirão (economia) difícil para elementos que pouco tinham apreciado da matemática, este homem tinha como principal características, que interiorizei, procurar simplificar o que é aparentemente difícil, brincar com coisas aparentemente sérias. Descobri, progressivamente, que se levam melhor, fazem-se melhor, custam menos.
O cadeirão foi feito, não apenas por mim mas pela generalidade dos alunos, à primeira, proeza assinalável num curso onde a média acontecia apenas à terceira. Mas ficou a relação, ficou uma amizade, tive oportunidade de lhe dizer que foi uma das pessoas que mais me marcou enquanto professor, enquanto profissional do ensino e enquanto pessoa.
Aprendi, com este homem, a organizar a vida, a fazer dela um prazer, a descobrir que as amizades valem sempre a pena, a reconhecer no reconhecimento do olhar, no brilhozinho que se pode notar nos olhos de alguém que o mundo é pequeno quando gostamos do que fazemos. Aprendi que só não temos tempo para aquilo que não queremos ou perante o qual não temos interesse.
José Sena era docente na Universidade de Évora, vereador na câmara municipal da sua terra, director do jornal local, colaborava em revistas e projectos de investigação da sua área, desenvolvia estudos pós graduados em Lisboa, mostrava interesse pela informática que então despontava, casado e pai ainda lhe sobrava tempo para degostar a vida nas tascas do Ti Zé D’Alter, no Xa Negra ou no Isaías.
Um dia perguntei-lhe como conseguia fazer tudo isso, respondeu-me que quanto menos tem para fazer, menos faz. Gosta de estar ocupado, gostava da vida como ela era e não como devia ser.
Aprendi com ele a gostar de me meter nas coisas, de fazer pela vida, de organizar o meu mundo, de me envolver com as pessoas, de fazer coisas que transmitam, de uma ou de outra maneira, de um ou de outro modo, gosto por aquilo que se faz, por aquilo que fazemos.
Morreu já eu era docente e ele presidente da câmara. Não fui ao funeral, preferi recordá-lo em vida, professor, de ponteiro na mão, virado para o tecto a perguntar, entre o sarcástico e o irónico, o ofendido e o exigente se a bancada da oposição, aquela que se sentava no fundo da sala a ver se passava despercebida, se importava de colaborar no desenvolvimento da economia, que não tivéssemos dúvidas que, por incrível que nos pudesse parecer, estávamos numa aula e numa aula de economia em particular.
Frases, atitudes, comportamentos e valores que me ficaram e das quais me apropriei como se fossem minhas. Memórias de um homem, a única referência profissional que afirmo reconhecer e que conheci em vida.
Foi com ele que aprendi, ao consciencializar esta relação, que o acto pedagógico é sempre um acto relacional, que apelam à interiorização, à consciencialização pessoal de situações, à superação das dúvidas que impelem ao avanço, à aquisição de saberes ou competências. Sendo um acto relacional, não pode ser destituído de afectos, sentimentos, emoções que orientam, conduzem e enformam essa relação.
Ainda hoje é este um dos meus princípios de orientação e apoio enquanto profissional. E tantas vezes sinto saudades do Prof. Sena.

acutilância

De quando em vez andamos tão entretidos nesta moda tão portuguesa de carpir mágoas, julgar os outros, encontrar culpados e desenhar agruras, dissecar cadáveres sem saber porquê ou para quê, e, de repente, felizmente, há quem nos obrigue a por os pés no chão, como que nos dá um sopapo para derpertarmos para a realidade.
O Miguel destaca um texto fundamental para que nós, nesta ilha chamada escola básica e secundária, tenhamos a noção que não somos assim tão bestas, nem tão feios, nem tão maus quantos nos querem fazer crer e nos pintam.
Há muito para fazer, é verdade, muito para formar e mostrar que existem outras alternativas, outros modos, outros meios, outras possibilidades. Mas também há coisas boas, ideias que se desenvolvem, projectos que se implementam, acções que se concretizam.
Há coisas boas nesta ilha.
Saibamos não as matar, pelo menos.

opinião

Hoje de manhã, enquanto vinha para a escola, ouvia a rádio, a Antena 1.
A propósito da proposta do presidente da República sobre a avaliação externa das universidades, o locutor pergunta ao presidente do conselho de reitores, Adriano Pimpão, a sua ideia sobre o ensino básico e secundário. Este senhor começa por dizer que não é a sua especialidade, mas que, fruto das relações que a sua universidade tem com esses níveis de ensino, há uma coisa a fazer desde já, aumentar os níveis de exigência dos alunos e das escolas, e não é ele especialista.
E diz que não é necessária a avaliação externa às universidades portuguesas. Porquê uns e não outros, porquê aumentar os níveis de exigência de um lado e manter o triste quotidiano do outro? Será que as Universidades - e não só - não terão qualquer tipo de responsabilidade nesta situação?
Será que estou numa ilha?

segunda-feira, maio 9

culpas

Ainda sobre as conversas na sala de professores, relativas ao comportamento dos alunos, é quase que unânime a culpabilização do aluno. A sua educação, a sua formação, a família, o ciclo de formação anterior áquele em que se encontra.
Há quem defenda que os conflitos apenas dependem de uma efectiva gestão da situação. E quem defenda que depende do bom senso do professor, da sua capacidade de lidar com a situação. Há quem defenda que passa pela dinâmica criada na sala de aula.
Culpar o aluno é a situação mais fácil, o modo de desresponsabilização mais directo.
Será que há necessidade de procurar culpados? Será que há um culpado?

orientações

Parece que existem orientações quanto aos actores políticos regionais, no âmbito da educação. Parece, segundo ouvi dizer, que há já prazos, datas para a tomada de posse - obviamente que nomes.
Entre o comentário e o discurso (aquela típica retórica educativa) duas ideias.
Não é necessário inventar a roda nem voltar a dominar o fogo, que a política regional sirva para apoiar as escolas, incentivar, discriminar aquilo que é feito, promover o que é bem feito, apoiar quem precisa, esclarecer e orientar quem solicita. Ouvir, escutar e sentir as escolas, o seu trabalho, as suas dinâmicas, os seus sentimentos.
Segundo ideia, promover um efectivo combate ao abandono, ao absentismo, à indiferença que graça nas escolas, quer dos docentes, quer dos alunos.
De resto nós cá continuamos, como se nada fosse. Minguém mais existisse.

quotidiano

Num dos cantos desta sala de professores, discutem-se temas recorrentes, a disciplina, o comportamento dos alunos. Entre um e outro argumento esgrimido, quer de um lado, do professor, quer de outro lado, em favor do aluno, nota-se, sobressai a autoridade (exercício, poder, sentidos e destinos) do professor.
Há quem, entre o assumido e o consternado, diga que não lhe ensinaram como agir nestas situações, não tem preparação para lidar com casos como este.
E existirá alguém preparado para isto?

sábado, maio 7

numa fila

Estava eu na fila do supermercado, como muitos outros. Olho em volto, puxo de uma revista que folheio aleatoriamente, à procura de imagens, de instantes. Escuto uma ou outra das conversas que ao lado ou atrás de mim ocorrem, como pretexto para segurar o tempo de espera.
Há uma, de repente, que desperta em mim algo entre curiosidade e estupfacção. Uma senhora pergunta a outra o porquê de não fazer a festa de anos do filho em casa, quando vive numa quinta e tem espaço de sobra.
A resposta, tu sabes lá, as crianças são umas autênticas feras, não respeitam nada nem ninguém, o ano passado viraram-me a casa do avesso, estragaram brinquedos ao rapaz. Não estou para isso.
Quem está? a Escola?
Quem remedeia? a escola?

quinta-feira, maio 5

citação

... de uma maneira geral, direi que as escolas ainda não compreenderam que, também elas, têm de se repensar. Permanecem na atitude negativa de se sentirem desfasadas, mal compreendidas e mal-amadas, ultrapassadas, talvez inúteis. Quedam-se à espera que alguém as venha transformar. E não perceberam ainda que só elas se podem transformar a si próprias. Por dentro. Com as pessoas que as constituem: professores, alunos, funcionários. Em interacção com a comunidade circundante...
I. Aalarcão, 2003. P.36.
sublinhado da autora.

da indiferença

Os comentários, pertinentes e estimulantes, ao meu texto sobre a diferença, ressaltam dois ou três aspectos que considero impertinente discutir. (impertinente porque não vou à procura de uma fundamentação teórico-metodológica, arregimentadora de ideias e conceitos; mas é a partir deste enquadramento assente, fundamentalmente em textos e ideias veiculadas por Perrenoud, Lima, Alarcão, Fullen, Hargraeves, Costa, Sarmento, Formosinho, entre outros, que construo uma opinião.)
Primeiro, que a escola não se esgota (nem deve ser apenas) um conjunto de aulas, independentemente das metodologias adoptadas. A escola é e deve ir muito para além disso e vai, de modo efectivo muito para além das aulas, daí todos os espaços que se criam nas escolas (desde os clubes, a acções organizadas ou pontuais). A escola deverá, em meu entendimento, ter a organização necessária e suficiente para que todas as actividades desenvolvidas dentro ou pela escola possam ser integradas em percursos de formação, experiência e reflexão crítica por parte dos seus actores. Um dos problemas é delimitarmos a escola ao espaço sala-de-aula, ao dar aulas e procurarmos todas as soluções, propostas ou ideias para resolver os problemas que surgem dentro da sala de aula. O que acontece, por vezes e em certas situações, é a resolução ou o apoio à resolução de um problema estar fora da sala-de-aula.
Segundo aspecto, a escola não está fora, nem ao lado, nem, muito menos, acima da sociedade. Como não estarão as pessoas que a constituem, lhe dão sentido e a organizam. Vai daí e a escola, na sua generalidade, mais não faz que reproduzir a ideia que a sociedade tem da escola e a escola tem de sociedade. A escola não será essa caixa negra por onde entram pessoas, do qual pouco ou nada se sabe e saem cidadãos. Não. A escola é o que a sociedade permite e aponta que seja, tanto ideologicamente, como politicamente, na ditadura, como na democracia. O que a nossa escola não tem dito é capacidade, as condições e o apoio necessário para se pensar e para se pensar face à sociedade. Todo o pensamento sobre a escola decorre fora da escola, por observadores (estudiosos, investigadores, projectos ou que tais) que estão fora da escola e que a procuram para a pensar.
Tantos uma como outra das situações descritas - abertas ao contraditório - arregimentam, muita vezes, sentimentos de impotência e de incapacidade, de frustração ou de cansaço. Porque não conseguimos que as acções (extracurriculares ou extralectivas) concorram para a formação dos alunos, porque a escola não é diferente do contexto que a enforma e condiciona e, muita das vezes, determina. Daí a resposta da escola. Ou a sua ausência.
PS - concordo com o Paulo no sentimento de alguma regeição do termo pedagogia diferenciada. Mas também não vou, pelos menos para já e directamente, atrás do conceito intercultural ou de multiculturalidade. Considero que a adopção de metodologias respeitadoras e integradoras da diferença vão para além, primeiro, da pedagogia, depois da própria cultura, no que se refere à sua relação com a escola, entenda-se. Reformulam uma, alargam outra.
Onde ficamos? ainda não sei. Mas quero um dia dar uma resposta.

quarta-feira, maio 4

cenas do quotidiano educativo

Dirijo-me à secretaria da escola para entregar o necessário pedido de autorização para uma falta no final do mês.
A funcionária diz-me ò professor, ainda falta tanto, quando faltarem 5 ou 6 dias venha cá.
Ainda penso, inicialmente, que estaria a brincar comigo. Mas não, está a falar a sério. Quando repara na minha cara de espantado, ainda reafirme, já viu!?, se eu levasse as coisas com tanto tempo de antecedência para o presidente assinar, nem ele se lembraria das coisas.
Peço apenas para que não me desorganizem os dias, nem a vida, mas estes serviços administrativos são, efectivamente, um poço de surpresas.

da diferença

Na sequência de um texto do Miguel, o Paulo levanta uma questão que alguns colocam, outros subentendem e muitos olham para o lado de modo a fingir que não é com eles (entendam-se, os professores)
Pergunta o Paulo uma escola que deve dar as mesmas oportunidades a todos deve ser igual para todos (?).
Resposta directa - Não, pelo contrário tem, deve ser diferente. Isto é, deve disciminar (não confundir com descriminação) e diferenciar para que se possam aceder às mesmas oportuidades.
O que os estudos no campo da História da Educação revelam quase que inequivocamente (o evidente é um deles) é o facto de a escola, em vez de homogeneizar as oportunidades, acentua as diferenças de origem social (e, em algums países, cultural, de género ou raça).
No meu entender (que é feito meu) a escola terá de diferenciar para apoiar a construção da igualdade. Aí sim, não será tão grave o choque quanto aos princípios de organização e de defesa da democracia. E tem sido isto que a escola pública portuguesa não tem sabido fazer - diferenciar.
O resultado é tratar todos como iguais, que não somos, de igual modo, que não queremos, com os mesmos interesses, que é falso, e com idêntidos objectivos ou expectativas, que é ainda mais falso.
A consequência é o insucesso, o desinteresse, o alheamento, o absentismo, o abandono, a indiferença do aluno face à escola, a incapacidade do professor face aos seus próprios límites e desafios.
Para termos uma educação cada vez mais igual para todos, temos de ter uma escola cada vez mais diferente e diferenciadora, que respeite a diferença, que assuma a diferença entre os seus elementos.

do antigamente (2)

O Paulo respondeu a uma pequena (ou grande, o adjectivo é mais do outro que nosso) provocação, sobre eu ser do antigamente.
Disse na posta anterior que não o sou, nem em ideologia, nem em princípios, nem em orientações ou práticas, nem em saudosismos. Descobri que se referia a este último, à saudade que muitos nutrem por aquela que habitualmente designam como sua escola, ao modelo de que foram alvo e objecto, e não às anteriores referências - se bem que uma dificilmente se despegue das outras.
E tenho de destacar duas ideias que retiro do seu comentário. Por um lado, a profunda delicadeza e sensatez com que o faz. Procura no texto não ferir susceptibilidades como procura ultrapassar ou colmatar aquelas que deduz que tenha despertado com a minha resposta. É bonito de se ver e melhor de se ler. Obrigado.
Como segunda ideia aquela que a idade é incontornável e sou, ou tenho sido, movido por ela. Tenho que reconhecer que não estarei propriamente numa crise etária, num qualquer estadio existencial ou coisa que se pareça, mas tenho sentido (e gostado de sentir) o peso do passar dos anos. Estou a caminho dos 42 (em Outubro) com 16 de docência, dois filhos, vários cães, preste a mudar de casa (aquela que, em princípio, me levará até ao fim), sinto os meus pais a apagarem-se, a envelhecerem, sinto aqueles que sempre vi velhos, e olho para trás e vejo o caminho que percorri, com quem tive o privilégio, a sorte e a fortuna de o ter feito. Olho em frente e apetece-me fazer mais e mais, aprender outras coisas, conhecer outras pessoas e outras ideias. O confronto entre um e outro, numa pessoa de meia idade, não mata, mas faz mossa.
Lá isso faz.

terça-feira, maio 3

do antigamente

Foi com alguma surpresa que verifiquei as referências feitas pelo Paulo, ainda assim gratificantes pelo facto de fazer parte de uma lista daqueles que considera os melhores blogues, os seus favoritos.
Mas nunca me imaginei ser da escola de outros tempos, nem em ideologia, nem em princípios, nem em orientações ou práticas, nem em saudosismos.
É uma surpresa quando descobrimos aquilo que transmitimos aos outros, uma vez que não tenho o privilégio de conhecer o Paulo. Não sei se será efectivamente esta a ideia que transmito, que faço passar. Mas, pelo menos nas acontecencias do Paulo, é essa a ideia que deixo.
Que sou opinativo? Sem a mais pequena sombra de dúvida. Os blogues, em meu entender são um espaço de opinião, de construção cívica, de exercício daquilo que designo como democracia participativa. Além do mais a minha área de trabalho reservo-a para um outro lado, onde discorro, e procuro fundamentar ideias, princípios e teorias, como na posição que estou (usualmente designada de professor do batente) pouco mais posso acrescentar do que a minha opinião ou a minha ideia sobre a escola.
Os blogues não são, como alguns quiseram fazer querer e/ou outros procuram promover, uma extensão de revistas científicas, académicas ou de referência política ou social.
Mas gostei, quer de me ver incluído naquela sua lista (quem não gosta) como da frescura não usual que, diz, me caracteriza.
Ora toma lá frescura.

correcção

outra vez.
Antes de tempo, porque perspectivo algumas alterações a este meu canto, descobri que tinha acontecencias mal escrito, por indicação do seu dono. Já está corrigido, apesar de o ter feito pensando na minha alentejaneidade, acontecências fica próximo deste meu linguarejar, o que tornava, também sob esta perspectiva, agradável a entoação. Mas está feita a correcção de acordo com as orientações do proprietário. Afinal estes espaços (como os outros todos) são aquilo que dele fazemos.

perdidos e achados

Ontem escrevi, e perdi, uma posta onde agradecia a rectificação que me fizeram, quando troquei as Marias (de Fátima Bonifácio e Filomena Mónica) numa das postas anteriores. Agradeço a rectificação.
E, ao mesmo tempo procurava trocar ideias com o colega relativamente à questão que, oportunamente, levantou cquando afirma que temos Uma escola onde impera o facilitismo, a falta de exigência e de disciplina.
No programa em questão um elemento ressaltou quando se abordaram as questões do rigor, da autoridade, da disciplina, uma certa confusão, aliás e infelizmente comum, entre autoridade e poder, disciplina e exigência e rigor. Como foi algo evidente a associação que se teima em fazer que maiores níveis de disciplina, exigência e rigor determinam maiores níveis de sucesso e de aproveitamento. Assim muitos certamente optariam pela ditadura, garantia quase certa de níveis de sucesso de invejar a qualquer finlandes ou sul-coreano.
A grande questão que foi aflorada entre os elementos decorre de qual ideia de escola que prevalece, que se defende, que se implementa. Poderá ser uma escola de conhecimento ou orientada para valores, como poderá ser uma escola de competências. Mas seja ela qual for há resultados e há práticas profissionais que valorizam o rigor e a exigência, a disciplina e a determinação sem se abdicar de uma educação participativa e de uma escola inclusiva.
O que claramente e em meu entender falta na escola é uma ideia de escola. Para que serve, quem serve, o que serve, como se serve - se é que serve para alguma coisa.
Em todo o caso agradeço a chamada de atenção. Não respondi mais cedo apenas e somente por questões de perdidos e achados. Obrigado.

crescimento

De quando em vez ponho-me a arrumar os meus papeis, este ano com a particularidade de serem em portefólio (os meus e os dos alunos). Situação que me permite perspectivar a evolução, o empenho, a dedicação que coloco no seu desenvolvimento, naquilo que obtenho.
Entre o ontem e o hoje dois factores, no contexto desta arrumação, me ocorreram.
Um de pena de não ter há mais tempo optado por esta forma de trabalho. Ter-me-ia permitido hoje perspectivar a evolução daquilo que fiz, do que procurei fazer e ser, do desenvolvimento das acções que promovi. Perdi um pouco das minhas memórias, pelo menos físicas, uma vez que não tenho registos do que fiz (projectos, feiras, fóruns, conversas, entre muitas outras).
Por outro, permitiu-me perspectivar um sentimento agradável de uma quase que permanente e consntante evolução. Ao longo de todos estes anos em que sou docente procurei adaptar-me aos contextos, recolher e obter a informação que, numa dada situação, considerei necessária, procurei mais conhecimentos técnicos e teóricos que permitissem uma melhor (digo eu) prática profissional. Sinto que não parei.
É óptimo este sentimento de crescer.

segunda-feira, maio 2

desterrados

Provavelmente já terão ouvido (e, eventualmente, visto) alguns apontamentos sobre uma realidade recentemente afirmada, a dos professores desterrados.
Conjunto de docentes que, fruto da alteração das regras de concurso, regressaram às escolas de origem, onde são efectivos, mas que, por efeitos de não existência de destacamento, ficaram desterrados, longe de casa e das famílias.
No fim-de-semana que terminou realizou-se um encontro deste conjunto de elementos. De acordo com contas várias serão pouco mais de 3.500 docentes. Participaram neste encontro, menos de 40.
Elucidativo de um espírito, de uma vontade, de uma ideia colectiva que marca os professores. Não apenas estes. A sua generalidade.
Acho que estamos todos desterrados na nossa profissão. Entre o enclausurado e o desterrado, de qualquer modo ou de qualquer maneira, fora de um jogo profissional que é o nosso mas que deixamos que nos passe ao lado. Optamos, preferimos que nos digam como, subservientes, dependentes de um Estado centralizador e castrador de ideias.
Até quando?

Da opinião

Ontem à noite, nas outras conversas, de Maria João Avilez, na Sic Notícias, duas sumidades (Maria Filomena Mónica e Manuel Braga da Cruz) trocaram ideias e disseram cobras e lagartos da escola (básica e secundária), dos professores, da organização do sistema, etc.
Entre uma e outra das ideias trocadas, da conversa em tom de amena cavaqueira, sobressaiu-me uma frase de Maria Filomena Mónica, que não tolera opiniões.
Diz a senhora que muito se fala, muito se opina sem uma fundamentação, sem o conhecimento da realidade, dos argumentos utilizados.
Por um lado tenho de concordar. Todos temos opinião sobre a escola e sobre a educação. Muitas e muitas barbaridades se dizem e se escrevem sobre o que é a escola e a educação, sobre o trabalho dos professores e o rendimento dos alunos.
Mas também tenho de concordar que a senhora é uma dessas figuras que, por diferentes motivos e factores, lhe atribuiram um protagonismo que dificilmente poderá ser consolidado fora do ambiente marcadamente opiniativo.
Mas é uma opinião.

domingo, maio 1

do ambiente

Há tempos atrás tive oportunidade de trocar um conjunto de ideias com o Gustavo (rápido regresso, que sinto saudades) sobre a arquitectura interior das escolas, nomeadamente a relação, de proximidade ou de distanciamento, entre sala de professores e órgão e gestão, sala de professores versus sala de funcionários ou de alunos.
Hoje, a partir de um texto onde se procura destacar um ambiente escolar, tão simples quanto bonito, despertou-me a memória das escolas por onde tenho andado.
Quase todas assentes numa lógica que intermedeia entre o fabril (um ou vários blocos com salas de aula, por onde se dispersam professores e alunos, onde se organizam, de modo sequencial e formal as relações e as dinâmicas pedagógicas, que se distribuem, pretensamente sobre uma qualquer noção de equilíbrio, entre funções pedagógicas, administrativas e de apoio) e o militar (amplos espaços exteriores, entre o campo de jogos ou aproveitado para esse efeito e a parada militar, onde se alinham conjuntos, onde se distribuem grupos e grupinhos, onde se constroem sentimentos e relações de pertença ou de exclusão, de tolerância ou de nem por isso.
Esta lógica de organização procurou, a seu tempo, definir um conjunto de relações marcadas, essencialmente, pela separação, pela hierarquia, pela consideração que há grupos mais importantes que outros, não apenas do ponto de vista social, mas também disciplinar, daí umas salas serem amplas outras nem tanto, uma estarem viradas ou orientadas de acordo com critérios definidos outras nem tanto, ou pela própria arrumação (organização interna) da sala.
Isto para destacar um dado óbvio, mas nem sempre evidente, que a arquitectura condiciona as relações humanas, define um dado fluir dessas mesmas relações, estrutura a sua dinâmica e permite criar uma dinâmica política (escolar) e institucional (educativa) que enforma a cultura (e o clima) de uma qualquer organização.
Nada é mais óbvio e evidente que as escolas de 1º ciclo (as primárias do antigamente) desde o plano do centenário, aos P (p1, p2, p3 e, mais recentemente, o p5) para realçar esta lógica que também está presente nos restantes ciclos.
É por estas e por outras que surgem planos e projectos que visam alterar ou re-condicionar de modo diferente, espero que assente em pressupostos diferentes, estas lógicas. Este é também um outro desafio que condiciona as relações internas de uma escola, que determina uma dada dinâmica de trabalho, que promove um dado ambiente educativo que, por sua vez e de modo articulado com outros factores, permite criar uma outra apetência na e pela escola, pelo sucesso e pela participação de uns e de outros.
Por vezes querem-se alterar todas as estruturas, todas as ramificações que mais não são que consequência de lógicas de utilização e apropriação dos espaços, dos fluxos de circulação e de respiração que acontecem numa escola sem se tocar no cerne da questão.
Na generalidade das situações são acções, invariavelmente, condenadas ao fracasso. E não é por resistência, nem obstinação de quem quer que seja. Apenas condicionantes de um espaço.

sexta-feira, abril 29

ainda + conversa

No seio de toda esta conversa acabamos sempre por valorizar um ou outro dos pontos de vista, aqueles onde estamos, por onde nos envolvemos.
Mas, atenção à impertinência, não esquecer que isto de educação é uma pescadinha de rebinho na boca. Pegue-se-lhe por onde se pegue ele liga pontas, une fins.
O princípio é importante, o primeiro ciclo, mas a universidade, as instituições de formação de professores serão, neste contexto, determinantes para equacionar não um mas vários, diferentes modelos, possibilidades e dinâmicas de trabalho.
O que se vê é chegarem estagiários com um modelo pré-definido, pré-determinado de dar aulas, independentemente das realidades, dos contextos, das situações com que se depara. A formação inicial, apesar de existirem honrosas excepções, está assente na fábrica educativa. A formação continua vai ao encontro de alguns, escassos, interesses.
E o resto, e as outras possibilidades?

das conversas

Em face das conversas que a discussão em torno das medidas de apoio ao ensino da matemática têm sucistado, permitam-me acrescentar dois ou três aspectos que designo, assumidamente, de banalidades e lugares comuns.
Qualquer medida adoptada necessita de tempo de maturação, de gestação para que, de modo efectivo, prático e real, se façam sentir os seus efeitos, os impactos (tanto os desejados como, inevitavelmente, os nem por isso). Ora a escola e nomeadamente o tempo educativo não se coaduna com o tempo político, com a celeridade mediática que um tempo político e social pensa determinar.
Se, genérica e globalmente, vejo como boas as medidas adoptadas, não deixo de considerar que elas não são vistas em função das capacidades reflexivas e críticas nem dos professores nem das escolas (entendidas como um colectivo profissional e social). Bem pelo contrário. Vêm encontro a consideração dos professores como claros funcionários públicos que apenas fazem quando se lhes diz para fazer, como fazer e o que fazer. Como profissional do ensino tenho pena, como cidadão reconheço muita da verdade, como pai e encarregado de educação considero as medidas, para além de legitimas, escassas, pouco ambiciosas.
Terceira ideia, na minha sala de professores não oiço um comentário fundamentado, consistente ou, sequer, coerente de crítica ou de oposição. apenas e genericamente falando, lugares comuns, defesa de um profissionalismo atávico, minimalista e cerceador de uma qualquer autonomia profissional.
Finalmente, considero que há, em imensas escolas, práticas eficazes, caminhos alternativos, casos de sucesso, reflexão crítica e pensamento assertivo sobre o que se faz, a construção local da escola e da educação. Ideias, práticas, caminhos e alternativas que há que apoiar, valorizar, incentivar e partilhar.
A conclusão que posso fazer destes meus lugares comuns vai no sentido que falta formação à formação, faltam ideias a quem as devia ter (aos professores), falta imaginação, ousadia, capacidade de ultrapassar a banalidade dos dias, desligar de um quotidiano amorfo e enfrentar a construção diária, continuada e persistente da escola. Com o apoio dos colegas, com a conversa na escola, com uma organização diferente dos espaços e dos tempos lectivos, com a construção de objectivos, com a definição de elementos de avaliação, com a aferição de possibilidades, com o envolvimento e a participação daqueles que estão interessados na escola e pela escola. Aprender com os erros, nossos e alheios, saber retirar as necessárias e devidas ilacções dos caminhos trilhados, do feito, do construído.
Três ideias básicas - participação, construção local, avaliação.

quinta-feira, abril 28

obviamente

São, aparentemente, tão óbvias as medidas anunciadas (1 e 2) para a educação que dificilmente conseguem suscitar uma crítica de fundo, se pode descortinar uma fundamentação de resistência, colocar um obstáculo inoportuno.
Apenas numa qualquer sala de professores se conseguem ouvir comentários menos bons, perceber a dualidade de perspectivas. Ontem de manhã ainda prevaleciam os comentários sobre a bestialidade do aluno, hoje realçam-se as condições que não temos, as eternas condições que podem, de modo claro e directo, ser substituídas pelo seu sinónimo, desculpas.
Obviamente.

frases

uma frase que gostava de ter escrito:
... Eu sei que a escola que temos não é uma inevitabilidade. É um produto de mil e um preconceitos e representações que afagam o nosso ego e reificam o passado no nosso olhar...
Ademar Santos.

quarta-feira, abril 27

dicotomias

Há muito que tenho consciência que no seio do Partido Socialista há duas correntes educativas que procuram, cada qual a seu modo e a seu tempo, afirmar a sua preponderância.
Uma, porventura humanista, defende que os professores e as escolas sabem o que querem e sabem trabalhar para alcançar esses objectivos. É uma corrente que defende a regulação, isto é, a definição dos possíveis dentro dos quais, escolas e professores, se manifestam e definem estratégias e implementam metodologias.
Mas há uma outra, mais regulamentadora, isto é, mais legisladora, mais directiva, que defende que se deve dizer às escolas e aos professores o que devem fazer e como devem fazer. É uma corrente mais tradicional, mais jurídico-administrativa que considera e sobreleva a necessidade de formação por parte dos professores e das escolas quanto à capacidade de definir e construir futuros.
Tanto uma como outra são evidentes nas propostas que se apresentam neste momento nos discursos da tutela. Com um claro ascendente daqueles que defendem que as escolas e os professores são gente bruta que, se não se lhes disser como, não fazem nada e procuram a gentileza da tradição, do comodismo, do mínimo denominador comum.
Sou, clara e objectivamente, apologista da primeira posição, mais regulador, valorizador das autonomias profissionais, das capacidades locais, mas, por vezes, aos ouvir os meus distintos colegas, convencço-me que o outro lado, o da regulamentação, o da ordem e do sentido directo e directivo, estarão mais correctos, serão mais adequados àquilo que temos nas escolas.
Convenço-me que se não existirem ordens directas continuamos, persistimos e insistimos no habitual. Não somos capazes, por razões várias, de inovar, de fazer diferente, de ousar.
Dicotomias. E nós no meio.

do princípio

Penso ter perdido uma posta sobre a ideia apresentada, um pequeno texto onde afirmava que, na generalidade, os professores reagem negativamente às ideias apresentadas, ideias diferentes, outras propostas que não se insiram num modelo ou numa fôrma habitual, esteriótipada.
Tenho consciência que a ideia que apresentei pode mexer com algumas ideis feitas, com aquele senso comum que se visibiliza, com os pré-conceitos que se descobrem que são isso mesmo, pré-conceitos.
O que aqui se revela não é má fé ou falta de vontade, apenas ignorância, falta de formação para podermos perspectivar outros modos, outros possíveis, equacionar aquilo que há muito defendo, um professor reflexivo, que pense aquilo que faz e não seja, apenas e somente um funcionário público.
Mas há ainda muito caminho a percorrer.

dificuldade

Hoje tem sido difícil postar ideias, uma vez que o blogger parece entre o virado e o atacado.
Devagar talvez lá se chegue.

de uma ideia

concretizo o que referi como uma ideia de trabalho.
Como disse é uma ideia (reconheço que aparentemente simples) que procura mexer na organização da escola (tempos, espaços e alguns recursos).
A minha prática pedagógica insere-se naquilo que alguns autores designam de pedagogia diferenciada (reconheço que não gosto muito desta designação). Neste sentido a escola é entendida como um local (global) de formação e aprendizagem. O que procuro na ideia que apresentei é que seja efectivamente isso, um espaço, coordenado por um elemento de História (não há nenhuma disciplina que não toque na - sua - História) e que faça a ponte sobre conhecimentos, práticas, metodologias, estratégias, recursos didáctivos.
Isto é, é um gabinete de ideias que coordena acções práticas, lectivas das disciplinas e dos docentes que para isso se disponibilizem, coordenando formas de compensação, estruturando apoios, definindo tarefas, implemento acções, apoiando docentes e práticas docentes.
Vai, ao fim e ao cabo, ao encontro de metodologias cooperativas e colaborantes, procura ultrapassar o monismo disciplinar e integrar a colaboração como factor de desenvolvimento, e a coordenação como elemento de motivação disciplinar e lectiva.
Aparentemente simples. Requer que a distribuição de horários seja feita em função de grupos e de objectivos. Requer que o foco seja o aluno (efectivamente e não apenas do ponto de vista retórico), implica disponibilidade prática, efectiva para a colaboração e não para o isolamento. Implica, ainda, que se trabalhe acompanhado na sala de aula e não apenas um elemento.
Coisas que são simples de pensar e de dizer. Mas muito complicadas de implementar. Mas não desisto.

terça-feira, abril 26

futuro

Apresentei hoje, para discussão amanhã em sede de departamento, uma ideia de trabalho que designei Futuro com História.
Uma ideia de trabalho que parte da disciplina de História, como se notará, e procura ir ao encontro de diferentes princípios.
Desde a organização da escola, de modo a ultrapassar a ideia que a escola é só para dar aulas, que a História é do passado, que as disciplinas são quintas fechadas, que o trabalho do professor é isolado ou que as aulas são uma seca.
Indiquei, ainda que sucintamente, uma justificação, objectivos e recursos (humanos e materiais, não quero acreditar nem ter a veleidade de permitirem que um projecto mexa em dinheiros), como deixei ideias quantos aos possíveis produtos a obter e uma proposta de avaliação, cruzada, isto é, por parte dos responsáveis do projecto e por eventual comissão/grupo com origem em Conselho Pedagógico.
Será porventura precipitado da minha parte, mas estou quase convencido que os primeiros comentários irão ao encontro do impossível, que não é viável. Ou seja, os primeiros comentários procurarão a inquestionabilidade do que temos.
Depois direi.

dúvida

Numa posta anterior referi um conceito que me é caro e que o Paulo há muito não via (ouvia), o de profissionalidade.
Só por uma questão de esclarecimento e se ele assim o entender, a dúvida que suscitou foi boa ou má? A recordação vale a pena ou não?

segunda-feira, abril 25

desafios

Mais a pensar no colega Luís, do geografismos, mas não só, deixo um link que recentemente me chegou e onde já perdi (?) algum tempo, a tentar acertar ou a tentar verificar o que não sei e julgo saber sobre geografia da europa.
Interessante mesmo para os mais crescidos.

escolhas

Enquanto subscritor da newsletter da amazon.com recebi a informação que transcrevo.
Dear Amazon.com Customer. As someone who has purchased parenting titles, or titles about children and school systems, you might like to know that "Basic Tools for Choosing a School: A Picky Parent Guide Quick Kit" is now available as an e-doc. You can order your copy by following the link below.
Interessante e elucidativa de eventuais caminhos que, por mim, não quero trilhar, mas que e ao mesmo tempo, reconheço alguma necessidade e pertinência pelo menos para despertar algumas consciências que consideram que não há outros possíveis.

domingo, abril 24

confronto

A escola e os professores precisam de outras realidades, de conhecer outros modos, de quebrar barreiras e ultrapassar tabus, ideias-feitas, pré-conceitos.
Se queremos uma escola diferente, se queremos uma outra profissionalidade, se queremos defender e afirmar outros modos de sermos considerados nada melhor que conhecer outros pontos de vista, outros olhares, outras perspectivas de sabermos de outras possibilidades.
Estamos tão perto e tão longe, tão juntos e tão separados.
Há, para além daquilo que nos ensinaram, para além dos modelos que concebemos e pelos quais fomos formados, há outras possibilidades.
Há mais mundos para além deste mundo. E de quando em vez teimamos em não os ver. Em não os querermos ver. Por medo, por insegurança, por receio da ignorância, de reconhecermos e assumirmos o que desconhecemos.
É importante que pontos de vista concretos, situações reais, caos práticos como o João apareçam, se façam conhecer. Talvez seja esta ua das formas de conhecermos outras possibilidades de ser professor.

diferente

Estou plenamente convencido que não fazemos diferente, não temos uma escola diferente, não por não querer, não por acreditar que este é o único modelo, o correcto e o adequado. Não por resistência à mudança ou ao diferente, como pretensamente se quer fazer querer.
Não fazemos diferente, não temos uma escola diferente pura e simplesmentne porque não sabemos fazer diferente. Não nos ensinaram outro modelos, outras formas, outras lógicas, não tivemos um modelo diferente de ensinar, de avaliar, de equacionar a relação pedagógica.
É o que decorre do comentário a esta posta do João.
Tenho perfeita consciência que, caso o João mantenha a sua presença, exisitirá pano para mangas, na consideração de um dos mais melindrosos processos na educação, a avaliação.
De tanta objectividade que se procura seremos efectivamente objectivos? será que as emoções não terão papel importante na avaliação do ensino básico, pelo menos?.
Será que não existem outros modos de ser, outros possíveis?

sexta-feira, abril 22

difícil

é verdade, é difícil vermo-nos livres das escola, mesmo sem professores e sem alunos não há quem as queira.
Imaginem se tivessem professores e alunos dentro.

novidades

Há já tempos que este colega tinha aberto o espaço mas, para além da simples apresentação de intenções, ficou-se por aí.
Parece que agora se lançará para outras intenções e de certeza absoluta enriquecerá este espaço. E fa-lo-á por três razões. A primeira porque é alentejano, de Vila Viçosa, pois claro, e é razão mais que suficiente para enriquecer a blogosfera. Depois porque é professor, reflexivo, que pensa e procura descobrir outros possíveis na sua e na nossa prática profissional. Por último porque trás à baila uma temática que muitos procuram, outros tantos já ouviram falar, mas poucos sabem abordar como ele, o portefólio.
Recomendo, vivamente, o acompanhamento deste espaço.

conversamos

Em vésperas de dia da Liberdade fico sempre entre o incomodado e o incomodativo.
Incomododado porque o tempo é curto para se falar de tudo o que queremos e de como queremos. Porque não existe quase espaço nos programas para se falar deste dia, deste acontecimento, apenas no final do programa de 6º ou de 9º ano.
Incomodativo porque procuro despertar curiosidades, trocar ideias. Como professor e como professor de História não posso nem deixo passar em claro este dia.
Troco palavras com os alunos, conversamos sobre isto e sobre aquilo, uso um ou outro exemplo, apresento memórias, peço-lhes para perguntarem em casa onde estavam, o que faziam, o que pensaram, como viveram (se viveram) essedia, esses tempos.
Há uns anos, numa escola por onde passei, convidei um colega (docente) e um pai para falar sobre este dia, as suas memórias, os seus tempos. A situação foi de tal modo intensa que houve lágrimas de parte a parte, de quem conversava e de quem ouvia. Foi, provavelmente, um dos momentos mais intensos de emoção que vivi enquanto professor (e professor de História).
Pois claro que conversamos, é a conversar ca gente se entende.

experiências

É impressionante como somos reflexo do conjunto de relações que estabelecemos com o outro, particularmente dentro de uma sala de aula.
Hoje fiz uma experiência com duas das turmas do dia. Defini um modo de estar, numa cansado, entre o amorfo e o indiferente. Numa outra empenhado, dinâmico, convicente.
Imaginam, claro está, o resultado.
Um único objectivo, procurar situações onde alicerçar a convicção que a dinâmica de grupos é determinante na gestão da relação pedagógica (não gosto nem utilizo a expressão ensino/aprendizagem), na relação que o aluno estabelece com o professor e, por intermédio deste, com a disciplina.
São experiências, é verdade, onde me conheço e percebo melhor e compreendo melhor como devo agir para centrar a relação no aluno e partir deste para um trabalho relacional e para uma construção que é social, a do conhecimento.

quinta-feira, abril 21

interessante

de quando em vez, neste imenso deserto de ideias mas cheinho de opiniões que é a blogosfera(digam lá se não sou um destes paradigmas), dou com uma surpresa destas - comunicar/publicar na internet.
parte-se, presumivelmente, da ideia que comunicar é uma e diferente coisa que publicar. O que poderá eventualmente presupor que podemos publicar e nada comunicar, mas considero mais difícil comunicar sem publicar. Mas...
ainda por cima tem lá sítios deveras interessantes. Outros nem tanto [obviamente que me refiro a este cantinho, impertinente, é verdade, despudorado, mas também nem tanto para andar a dizer mal de quem quer que seja...].
Mas que é interessante, lá isso é.

faz-de-conta

O Miguel volta à baila com um tema pertinente e perante o qual muitos de nós teimamos em não querer ver, em disfarçar, o faz-de-conta.
Ele refere-se explícita e directamente às assembleias de escola. Eu, sem qualquer desculpa pela impertinência, sou mais abrangente e pergunto quantas escolas, conselhos de turma, aulas, órgãos de gestão, reuniões de departamento ou sei lá do quê, não serão do reino do faz-de-conta.
Este faz-de-conta faz-se sentir, evidencia-se na quantidade de gente a pensar que está no tempo da outra senhora, em que existem liceus, em que a escola tem por objectivo a selecção social, que devemos premiar a méritocracia, que os meninos devem entrar mudos e sair calados, de modo a não incomodar o(a) senhor(a) professor(a), os projectos curriculares de escola ou de turma que mais não são que ideias (quando as há) avulsas de banalidades e generalidades sobre coisa nenhuma e para nada, verbo de preencher por que não enche nada nem ninguém, as áreas curriculares que viram disciplina porque não se faz ideia do que se pode fazer naqueles tempos, naqueles espaços, as incapacidades de fazer diferente disfarçadas com comentários de culpabilização do aluno, pela sua indiferença, pelo seu alheamento.
Este reino do faz-de-conta não é exclusivo da escola nem da educação. É marca genética da nossa cultura, do nosso país. Faz-de-conta até que não tenho razão e que tudo isto não passa de um faz-de-conta.
Faz-de-conta.

quarta-feira, abril 20

nem de propósito

... no zapping que faço dou por mim referenciado neste sítio (que agradeço) e dou com esta soberba frase, própria de um génio e que vai direitinha ao encontro do meu anterior post:
Se não receio o erro é porque estou sempre pronto a corrigi-lo (Bento de Jesus Caraça).
É uma cultura que não temos, que não promovemos. Apesar de o povo português usar a expressão "aprender com os nossos erros" ela foi quase que banida da escola e da vida quotidiana.
Quando digo a um aluno que pode errar, mas tem de saber reconhecer o seu erro, tem de o saber corrigir fica, entre o espantado e o estupidificado, a olhar para mim como se tivesse dito a maior das barbaridades.
E se calhar disse.
Com a certeza raramente se aprende. Nunca se avança.

imagens

Há determinadas imagens, há olhares que se nos colocam ao corpo e definem e condicionam aquilo que somos e, muito particularmente, como somos.
A Lucília, na sua elegante forma de colocar as questões, tráz à baila uma dessas imagens, a imagem que o professor tem de ser, é infalível, raramente tem dúvidas e nunca, jamais em tempo algum, erra.
É a tradição de uma cultura que premeia o saber pelo saber, a inquestionabilidade de quem sabe [de pretensamente saber], é o hábito e o modo de não se terem dúvidas, é a recusa de ser a partir do erro que se aprende, de ser a partir da dúvida que existe esclarecimento, clarividência.
Já durante a manhã esta imagem me foi colocada por uma colega quando, na sala de professores, me pergunta se a minha atitude e posição naquele momento, eram modos de se estar na sala de professores.
Que raios, há um modo de ser professor? Há uma imagem de professor? ou será que existem modos, imagens (no plural, na pluralidade) de se ser professor?

terça-feira, abril 19

à descrição

Mais do mesmo.
A senhora professora da filha (2º ano) sem qualquer tipo de explicação nem uma razão que na cabeça de uma criança de quase 8 anos possa parecer plausível ou justificável mudou-a de sítio e de companhia. A filha perguntou do porquê. Por que quero, foi a resposta.
E pronto.
E depois ainda me perguntam porque é que gosto de estar com os miúdos.
Porque não consigo aturar estes professores. Porra é demais.

É para ficar irritado

é sim senhor...
conta-me o filho (5º ano) que a senhor professora de matemática permitiu que uma aluna realizasse hoje o teste que aconteceu na passada semana, uma vez que a menina tinha estado doente. Óptimo.
Conta também que após a menina ter entregue o teste a senhora professora, enquanto a turma realizava um exercício, o corrigiu. Óptimo.
Só que após a correcção aproveitou um momento de sossego e disse, em voz bem alta, tens zero, és um zero e atirou o teste, com desprezo, para a secretária da menina.
A menina passou o intervalo na casa de banho a chorar e a dizer que não queria ir a mais aula nenhuma.
Se isto não irrita, o que será que irrita.

irritação

Há professores que se sentem irritados com a escola, com a sua profissão. Há professores que me irritam por que estão eterna e permanentemente insatisfeitos, desconfortáveis na sua pele. Por tudo o que se faça, por tudo o que se disponibilize, por tudo o que se possa pensar, fazer ou ser por estas pessoas, estão sempre desconfortáveis.
Não sabem fazer mais nada. São professores. E nem professores sabem ser.
Será que tenho de aturar esta gente? Que ganhamos nós com eles? Como se sentirão os alunos numa sala de aula com pessoas irritadas, desconfortáveis, descontentes?
Irritam-me.

surpresa

Tenho que reconhecer que a princípio estranhei o texto e a escrita do Paulo, daí a minha tardia referência ao seu canto.
Mas também tenho que reconhecer que, de quando em vez, me entranho nos seus textos, nas suas ideias. Será, porventura e com toda a minha impertinência, um dos poucos blogues do dito ensino superior que me surpreende. E me surpreende pela positiva.
Pelas considerações que tece, pelas cumplicidades que pressupõe, pelas conivências que destaca, pela insensatez opinativa de muitos profetas que desvela, pela inconsequência que desmonta em muitos textos, pela pertinência e pela assunção do seu próprio carácter opinativo, pelo desvio acdémico que de quando em vez assume.
Este texto vai nesse sentido. Fundamentado. Coerente, sólido, consistente. Mas opinativo. Vale a pena perder todo o tempo e ganhar um pouco mais de sentidos.
Parabéns Paulo.

paisagem e gabinete

Há quem tenha a sorte (será privilégio?) de ter um paisagem bucólica onde se descansa a vista e se distendem ideias. Como há quem tenha o prezer (será privilégio?) de usufruir de um gabinete.
Reconheço, assumo a minha inveja (é por estas e por outras que este país não sai do buraco, por causa destas invejas, quem o diz é José Gil). Não exigiria um gabinete, contentar-me-ia com um pequeno cantinho onde pudesse estar, ler, organizar ideias, escrever devaneios, preparar uma sessão.
Mas não tenho. Mas não deixo de estar, de ler, de organizar ideias, de escrever devaneios, de preparar as sessões de trabalho com os aluno.
Não tenho, então invento, desligo do ambiente. Isolo-me. Finjo que fujo e que tenho uma paisagem alentejana em fundo, agora salpicada entre o castanho seco e o verde pintalgado de papoilas e margaridas.
Não tenho. Então imagino. Imagino e construo o futuro com o que tenho, com o que posso. E, se quisermos, podemos tanto.