quinta-feira, fevereiro 23

Micro

M. Castells (2006) defende que os fenómenos da micro-economia condicionam a acção da macro economia, numa teia de relações e conexões que vão para além do seu próprio contexto.
A pergunta que se impõe refere-se à possibilidade de transposição desta ideia para o campo da política e perguntar até que ponto os fenómenos da micro-política podem condicionar os fenómenos da macro-política, isto num pressuposto da relação, da interconexão e da interdependência entre estes dois mundos - micro e macro.
Se assim for então que questões se podem colocar a partir do pressuposto que a política (e os restantes fenómenos sociais) não são uma justaposição (local, regional, nacional, global - ou uma cascata em sentido inverso) nem uma simples aritmética sumativa (do tipo a+b=c), mas antes um equilíbrio instável, porventura dinâmico, talvez de interesses, provavelmente de objectivos, certamente de recursos, de quando em vez de intenções, onde, como alguém e num outro contexto definiu, o que é hoje verdade amanhã pode não o ser.
Neste contexto, o que pode ser determinante serão os canais que permitem a ligação entre estas diferentes dimensões, ou perspectivas, e perceber quais os fenómenos de tradução entre eles na adequação ou clarificação daquela panóplia de conceitos (interesses, redes, parceiros, objectivos, acções, projectos...).

quarta-feira, fevereiro 22

glorioso

e viva o glorioso.
É nestes momentos que sinto o enorme privilégio de ser benfiquista - nos outros também, pronto.

genealogia

No meio das afirmações políticas e pessoais, no meio do confronto de ideias e projectos, evidencia-se, aqui e ali, que a genealogia da decisão política se prende a uma mesma árvore e apresenta, em anos e quase que gerações sucessivas, as mesmas ramificações.
A sociedade portuguesa está cada vez mais fechada na sua aparente abertura. A participação esbate-se em ideias feitas e conclusões absolutas. O enredo social enleia-se em projectos pessoais algo confundidos com ideologias políticas.
Descobre-se, descubro, que há outros mundos, outros entes que poem e dispoe de modo para eles natural, para mim afirmativamente sobre o natural.

nuclear

Hoje, na generalidade da comunicação social que oiço e pela qual passo os olhos, fala-se de energia nuclear. Alguns prós, alguns contras, pontos de vista de uns e de outros, considerações mais ou menos pertinentes e discute-se, como há muito não se fazia (talvez desde aqueles tempos de nuclear?, não, obrigado!).
Não sei se será uma opção, não tenho conhecimento pessoais sobre o assunto e as considerações de terceiros deixam-me, no mínimo, duvidoso.
Agora sei que têm de existir alternativas ao actual, e velhinho, modelo de exploração industrial e energético.
Há apenas 50 anos, e face aos valores de crescimento de então, havia expectativas de muitos milénios pela frente, face à exploração dos recursos naturais então existentes. Hoje ficamos coma clara sensação que rapamos o fundo ao tacho e sobre exploramos recursos que não são capazes de renovação no espaço de uma geração.
O modelo económico exige alternativas e um futuro. Se ele passa pelo nuclear não sei, sei que, pessoalmente, gostaria que passasse pelas designadas energias renováveis, sol, vento, marés. Estas têm futuro. Se são alternativa isso já não sei.

reconhecimento

Parabéns.
Devia e pensei ficar por aqui. Opto por o não fazer. Esta votação, valendo o que vale, é também o reconhecimento da coerência, da persistência, da insistência e, acima de tudo, do reconhecido profissionalismo de uma pessoa com quem confrontei (e confronto) ideias e opiniões, com quem descobri olhares, com quem divirjo sabendo da comunhão de pontos de vista.
Fico enormemente satisfeito.

terça-feira, fevereiro 21

para além da escola

A educação não se circunscreve à escola e o local, em educação, não é a escola.
Um texto maravilhoso de F. I. Ferreira, numa obra do final do ano passado designada "O local em Educação", publicação da Fund. Calouste Gulbenkiam e que corre o sério risco de passar despercebida tal é a hesiguidade da distribuição.

avaliação

ontem, ao final da tarde, estive na minha escola como convidado e como amigo crítico.
No contexto de um processo de avaliação interna, desenvolvido por uma colega que, simultaneamente, procura fazer a sua dissertação de mestrado, fui convidado como conhecedor da realidade, mas também crítico de muitas e diversificadas situações que atravessam a escola, em geral e aquela em particular.
No seguimento de uma agradável e algo surpreendente troca de ideias entre os elementos, pais, professores e alunos, desataquei três ideias que por ali circulavam e que certamente se poderão, com os devidos respeitos, generalizar.
Que foi um local de confluência e de catarse algo colectiva, um local onde houve oportunidade de, olhos nos olhos, trocar ideias e saber que existem pontos de consenso;
que há quem defenda os interesses dos alunos em função dos interesses dos professores e, nesse caso, pouco se avança na consideração do aluno como sujeito de uma relação e não apenas objecto de trabalho pedagógico - por muito útil que seja;
que muitas vezes se discutem problemas quando as soluções estão ali mesmo à mão de semear, quando valorizamos a amargura e a contrariedade e temos, mesmo ao nosso lado (mesmo à nossa beira) possibilidade de resolver aqueles problemas, aqueles constrangimentos, bastaria um outro olhar, uma outra atenção, uma outra valorização.

traduções

Escrevo há tempo suficiente para saber que não passo despercebido, não posso nem o quero fazer. Mas nunca imaginei que tivesse tanto ruído à volta de um apontamento que uma rádio onde habitualmente participo (às 4ª à noite) fez num seu sítio na net. Uma tradução simples de uma ideia da qual não retiro uma virgula - além do mais está gravado e certamente já terá passado por mais que uma vez.
A afirmação ia no seguimento da situação referente à instalação de uma empresa de aviação na zona e ao modo como foi tratado o caso.
Como é referido em comunicado, represento-me a mim mesmo, à minha pessoa, e às ideias. Sou apoiante de José Ernesto de Oliveira, mas fazer de uma situação de divergência uma caso sério é demasiado para o meu entendimento.
Menos adequada será a utilização da rádio que furta um comentário ao seu contexto e à ideia central de um pensamento para vender.
Afinal todos temos de ter cuidado com o que se diz.

segunda-feira, fevereiro 20

sentidos

no âmbito da procura de ideias e da troca de opiniões, destaco uma frase de J. Barroso (2005, p. 82):
"a escola deve ser vista como um lugar social, como uma cidade política (…) onde os professores, os alunos e outros membros constroem a sua identidade (ou pelo menos parte dela) pela pertença ao grupo a que estão unidos, por laços de solidariedade, resultantes da partilha de um bem comum. A construção de uma democracia política requer, assim, a afirmação de um sentido de comunidade de modo a que as escolas funcionem, claramente, como lugares de construção de sentidos".
E serão elas estes locais? E permitirão elas esta construção? E terão elas estes laços?

memória

Provavelmente muitos já perderam o tempo suficiente a ver o canal RTPMemória e muitos se riram, se surpreenderam com a imagem, com as recordações, com toda a memória que ali se retransmite.
Ontem perdi eu um pouco do meu tempo a recuperar memórias de tempos idos, a recordar imagens de outros tempos.
Fico com uma clara sensação, a de surpresa, a de me inquirir como já fomos, o que mudou, o que permaneceu.
Desde a valorização de pontos de vista, de imagens, de adereços, a rábulas que não têm tempo a modos de nos relacionarmos com a televisão.
O que se ganhou desde então. Parece um outro país. Mas não é, somos os mesmos. Um tempo urbano num espaço rural.

greve

começam hoje os concursos docentes, coincidentemente com a greve ao tapa buraco.
Pergunto, qual o papel que os sindicatos consideram ser o da escola pública?
Qual o papel que os professores concebem na construção da escola pública?

sexta-feira, fevereiro 17

íntimo

este é um espaço mais íntimo e mais ínfimo, num jogo duplo de sensações e sentimentos.
Este De Cabeça é mais pessoal e mais individual, mais eu e mais intransmissivel.

...

sempre que procuro ficar em casa, entre o descanso e o sossego, há, invariavelmente, um conjunto de desatenção.
Por tudo e por nada me telefonam, me inquirem, me questionam. Resultado o descanço não existe e o sossego é quase nulo. E estou eu no meio do campo.

saudades

depois de algum tempo de afastamento deste mundo e desta blogosfera, tenho que reconhecer que tinha algumas saudades.
Podia dizer de todos ou de quase de todos, mas destes então não vos digo nada:
http://uns-e-outros.blogspot.com/
http://olhardomiguel.blogspot.com/
http://abnoxio3.blogs.sapo.pt/
http://conversamos.blogspot.com/
http://inquietacaopedagogica.blogspot.com/

hábitus

Os novos instrumentos criam novos e diferentes hábitos.
Por causa de um telemóvel com câmara habituei-me a recolher apontamentos fotográficos, pequenos instantes, pequenos pormenores que guardo num diário que designei de Fotográficas.
Ao olhar para o conjunto que já tenho, faço esta captação desde meados de Dezembro passado, reparo que são eminentemente urbanas e de pormenores. Não há telas, não há grandes imagens, como há muito pouca gente. São, na sua quase totalidade, pormenores urbanos.
isto em como novas ferramentas podem induzir novos [ou outros] comportamentos.

quinta-feira, fevereiro 16

fluxos

E a cidade flui, debaixo dos nossos pés, sucumbindo ao nosso passar e ao peso das gentes.
A cidade é um fluxo migratório de gentes, de desejos não concretizados, de passos de descoberta.
Há tempos deparei com um adizer que afirmava: a cidade é um livro que se lê com os pés.

nós

gosto desta palavra. Tanto se pode relacionar com um plural colectivo de pessoas como de enredos e tranças, malhas que se tecem.
Neste sentido, que nós são necessários para construir territorializadamente a escola e a educação?
Que nós são necessários para irmos além da escola e considerarmos a educação como uma oportunidade?
que nós precisamos nós?

exterior

Neste meu regresso tenho de aqssumir alguma exterioridade à escola, mas não à educação.
Continuo relacionado com a escolae com educação. Mas não estou a exercer. Permaneço como pai e encarregado de educação e, nesse ccontexto, a lidar com docentes (muitas vezesc a ouvir comentários indelicados, impropérios e outras coisas que tais), sou investigador na área das políticas educativas e da construção local da educação (onde quero desenvolver a minha tese de doutoramento). Continuo como profissiobal da educação, professor, em todos os seus sentidos e sentimentos.
Mas nenhuma dessas situações faz com que olhe de modo indiferenciado e/ou alheado a escola e a acção de muitos professores.
Nas qualidades (ou papéis) que referencio, continuo a ouvir os professores a dizerem barbaridades dos seus alunos, a encará-los como problemas e não como oportunidades. Continuo a ouvir diatribes imensas na relação com parceiros sociais ou outros actores educativos. Continuo a olhar a desconsideração com que muitos votam e desconsideram a profissão, fazendo dela um modelo operativo de funcionamento e não uma oportunidade de reflexividade profissional.
Enquanto não predominar a reflexividade, a consideração que somos parceiros, e não rivais, que complemementamos e não rivalizamos, nada feito, permaneceremos iguais, parados e, muito particularmente, desconsiderados.

quarta-feira, fevereiro 15

sentidos

No meio das conversas e das discussões sobre a reconfiguração da educação e da escola, fico com a ligeira sensação que estamos a discutir o acessório e não o essencial, isto é, os sentidos e as funções, os objectivos e os conteúdos da escola pública neste início de milénio.
Será que não há outras formas de organização da escola? será que o figurino escolar está petrificado e é imutável? qual o espaço do local na escola e na educação?
Não sou nem mais inteligente, nem mais esperto que os outros, mas não se discutem estas problemáticas. Por que?

futebol

e, quase de repente, o mundo do futebol resolveu inúmeros problemas a inúmera gente nesta cidade da planície alentejana.
De repetente até aparecemos na televisão e o que anda há quase 5 anos para ser resolvido, aparece ultrapassado.
é maravilhoso o poder do futebol.

segunda-feira, fevereiro 13

escola pública

ao longo da manhã, na antena aberta da Antena 1, falou-se e discutiu-se a intenção (que é mais que isso) do governo encerrar as pequenas escolas.
Entre ideias feitas que conduzem à desertificação do interior (mas, quando existiram, nunca promoveram a fixação), à ideia do combate ao insucesso (mas afinal, a redução do número de alunos por turma não é uma exigência?), até muitas outras coisas, passou-se genericamente ao lado da discussão essencial neste tema, a do papel da escola pública, o papel da educação no local.
Na generaidade dos países europeus este foi um tema que nunca se colocou. Em Espanha foi resolvido em meados dos anos 80 com a criação dos centros educativos. Apenas por cá consideramos que o atomismo educativo pode salvar uma aldeia, combater o insucesso, promover o desenvolvimento.
O que pode promover a fixação das pessoas, o combate ao insuceso educativo e escolar, apelar ao desenvolvimento do interior é a existência concertada de estratégias e projectos, dinâmicas e acções que colectiva e conjugadamente procurem o mesmo fim e os mesmos objectivos.

de cabeça

Pois é, na reconfiguração deste meu espaço, onde escrevo sobre tudo e para nada, não faria grande sentido estar com uma designação de educação. É certo que predominará esta área. Mas outros temas, outros assuntos marcarão este meu cantinho, mais em jeito de um diário do que de qualquer outra coisa.
Daí a alteração da designação, de cabeça, do modo como me atiro para a vida, nome próprio, sujeito pensamente. Enfim.

quinta-feira, fevereiro 9

arranque

Na construção de um objecto de estudo e de investigação sinto claras dificuldades de arranque, em passar para uma escrita articulada, coerente e sistematizada, leituras que fiz, ideias que desenvolvo, argumentos que arranjei.
Não sei como transpor este obstáculo, um constrangimento natural, direi eu, no contexto deste projecto.
A ver vamos como lhe dou a volta.

sardinha

Uma coelga de escola, com quem partilhei alguns sonhos e muitas arrelias, com quem tive oportunidade de aprender e de descobrir o prazer de conhecer, escreveu-me. Encontrou-me por estes espaços e teve a simpatia de me contactar.
Entre a saudade e a amargura dos dias de tempestade que a educação, e a escola em particular, sempre viveram, pergunta-me, em jeito de afirmação, como é que as escolas mudam. Diz que talvez por fora, uma vez que por dentro é difícil.
Estou certo que por fora nunca mudarão, façam o que fizerem, venha quem vier, digam o que disserem.
É por dentro, é com os professores, mas também com pais, com alunos, com autarquias, om funcionários, com associações locais, com parceiros que elas mudam.
Uma das principais dificuldades da mudança educativa é que se procura - ou se tem promovido de forma - isolada, descontextualizada, desgarrada, solta.
A educação requere tempo, espaço. É esta sensação que coduz muitas vezes à sensação de amargura quando não vimos resultados.

quarta-feira, fevereiro 8

biblioteca

É sabido que as coisas e as pessoas se têm que adaptar, se isso significa evoluir, isso é uma outra questão.
No âmbito do projecto de investigação que desenvolvo optei, por questões de economia e disponibilidade, aceder ao acervo da biblioteca pública. Em boa hora o fiz.
Está um espaço bastante diferente daquele que eu conheci há muitos anos atrás. Mais aberto, com mais luz, com cheiro para além dos livros, com simpatia (essa é a mesma de sempre), com disponibilidade, com coisas interessantes, com lógicas de organização e funcionamento que interessam ao público que a visita. Um espaço aberto pronto para (re)descobertas.
Se puderem passem por lá.

tentativa

entre a educação, o meu mundo de paixão, e o desempenho profissional onde presentemente me insiro, instituto português da juventude, procuro criar uma relação e um objecto de estudo passível de servir de suporte a um projecto de investigação.
nesta tentativa de criação de relações e de cumplicidades pergunto-me se é possível definir o movimento associativo juvenil como objecto de estudo. Ou seja, será possível considerar a educação para além da sua vertente escolar?.
eu quero crer que sim.
Nem que seja pelo simples facto de a escola ter naturalizado uma ideia de educação, isto é, hoje, ao pensar em educação, circunscrevemo-nos a uma quase que exclusiva possibilidade, a escola. Ora a educação vai muito para além da escola. Há outros espaços, outros territórios onde é possível a educação e onde se aprendem outras práticas, como sejam as da cidadania, as da participação ou as da convivência democrática. Espaços e oportunidades que a escola não tem integrado no seu próprio espaço, não se tem apropriado.
É exactamente nesta dimensão que é possível constituir o associativismo como um objecto de estudo no campo educativo.

terça-feira, fevereiro 7

voltar

é hábito dizer-se que o ladrão regressa [quase sempre] ao lugar do crime. Pois é também eu, sinto saudades de escrever por estas bandas, de escrever publicamente.
Não há nada nem ninguém que não escreve para ser lido. Tenho escrito, por razões profissionais e académicas, em diferentes suportes, com diferentes objectivos e diferentes propósitos.
Regresso à escrita dos blogues para trocar ideias, debater opiniões, construir sentidos.
Sempre com um pano de fundo, o da educação, o da escola, o das políticas educativas. Afinal o da vida, coisas soltas sobre tudo e para nada. Ou, pelo menos, para me perceber um pouco melhor, um pouco mais.
Haja tempo e oportunidade.