segunda-feira, janeiro 31

alma benfiquista. Agora deverá significar qualquer coisa entre a angustia e a incerteza, a dúvida e o tremelique de um resultado, mas gosto de estar aqui referenciado.
o papel da escola. De uma boa escola na educação da criança. No meio do devaneio que é navegar na net, sempre à procura de curiosidades, dei com este texto e mais este. Valem a pena.
lindo. como o link não é directo, faço, sem autorização, a transcrição de uma frase que considero brilhante:
Aos doze anos tudo é intenso. Um dia de escola é uma vida, um comentário de
quem gostamos o fim do mundo. E depois, existem mil e um factos objectivos que
fazem da escola uma montanha-russa de emoções.
leiam o resto. Vale a pena. Olhares, como diria o Miguel, imprescindíveis para percebermos a disseminação de cores que existem na escola e que fazem dela um espaço polivalente, polissémico... tudo aquilo que queiramos, e também que não gostaríamos.
adolescência. Não sabia que estava refeenciado neste espaço. Descobri-o faz pouco tempo. Agradeço e convido quem por aqui passa a disfrutar letras e desenhos de palavras de uma adolescente, o sentimento arrebatado de quem quer sorver o mundo de uma só vez, como se estivesse com falta de ar, de mundo.
Gostei. Obrigado.

domingo, janeiro 30

a não perder, por quase nada, para quem gosta da escola, para quem lá trabalha, a sente e a pensa. Em altura de definição de políticas um trabalho, em minha opinião, deveras interessante e a não perder. Para pensar.

sábado, janeiro 29

real e virtual. Por causa deste risco, deixem-me dizer, que no tempo da telefonia diziam que a escola seria outra, mudaria e com ela a sociedade. No tempo da televisão que seria a revolução, que a escola não seria necessária, vaticinou-se o fim da escola. Na era do digital o confronto com o real deixa muito a desejar, há quem aprenda em casa, na rua, no metro ou debaixo de um chaparro, aqui e ali em qualquer lugar. Esta situação faz com que o real nos interessa cada vez menos, move-nos de maneiras diferentes. Sentimos a prescindibilidade de nós e de algumas funções - pessoais, sociais.
O problema é que tudo muda e a escola fica na mesma. Depois da rádio, depois da televisão, depois do computador que o sobra à escola? o que falta à escola? o que falta aos professores? o que muda na escola por o mundo mudar? o que permanece? o que nos interessa que mude e o que nos interessa que permaneça? o que nos move nestes interesses?
do estudo. Uma aluna abria insistentemente a boca no decorrer da aula, manifestando cansaço, fartura, sono, fome ou qualquer outra coisa desconhecida da minha pessoa (não estava a "dar aula" situação que fez com que excluisse a minha pessoa como causa provável da situação. O mesmo obviamente, não o podia fazer à disciplina e ao trabalho que se desenvolvia).
Entre as deambulações pela sala e as conversas de apoio e orientação ao que se fazia abordei a aluna directamente. A resposta, óh, setor, estive a estudar ... até à uma e meia da manhã.
No 8º ano. Sem mais comentários.
das comparações... pouco ou nada se obtém, como diria o meu Ti'Zé Chalapita muita parra pouca uva, é a brilhante conclusão a que se pode chegar depois de conhecer as propostas dos diferentes partidos no âmbito da educação.
Parto deste comentário do Carlos, o qual subscrevo e com as devidas precauções e alguns caldos de galinha, generalizo e aplico aos restantes partidos.
Banalidades, vulgaridades, lugares comuns, ideias feitas tudo o que de mau se pode esperar de uma campanha eleitoral. Um vazio de ideias.
Será também isto reflexo do estado da escola pública portuguesa?

quinta-feira, janeiro 27

despacho normativo 1/2005. Ontem tive oportunidade de participar numa breve mas saudável conversa, em sede de departamento, sobre este dito cujo despacho.
neste despacho há visões com as quais não concordo, há princípios de selecção meritocrática, há orientações dúbias e palavras vãs, denotam-se algumas incoerências entre competências e saberes, das orientações para o curriculo e a realização de provas quantitativas. Nada de mais para documentos que foram pensados por uns, definidos por outros e implementado por outros. Normal, em face disto, a confusão em que se corre o sério risco de se cair.
Como é da mais elementar falta de senso alterar regras a meio do jogo, reconfigurar orientações e princípios, redefinir modos e procedimentos. Mas enfim, são os senhores que temos e que, começo-me a convencer, não merecemos.
Mas a grande ideia com que se fica é que se altera muito para que tudo fique na mesma. É certo que do ponto de vista administrativo irão existir alterações. Mas do ponto de vista das práticas pedagógicas? da organização do trabalho docente? da definição de recursos, meios e prossibilidades? o que se altera? nada, rigorosamente nada.
ainda do debate sobre a educação. Diz o Alexandre num comentário a uma das minhas entradas, e eu subscrevo, que andamos deprimidos com o rumo que o país [não] tem. Deprimidos e angustiados e que teremos de "deixar de ver debates, de lêr blogs e jornais. Provavelmente [seremos] mais feliz[es]."
Este é um sentimento que percorre grande parte das amizades com quem me relaciono, das pessoas que conheço. A descrença é grande, as promessas, o debate sobre o país é fraco [reflexo do que somos?].
Mas ainda há esperança. Ou não?

quarta-feira, janeiro 26

surpresa. Tenho de reconhecer que com o passar do tempo a pele fica um pouco mais dura, mais curtida, como se diz por estas bandas, e é mais difícil ficar surpreendido com o que se passa à nossa volta. Em face da experiência, do que vimos, do que sabemos e do que acontece e temos conhecimento, enquadramos as situações nesta ou naquela prateleira de modo a aí arrumar a surpresa.
Mas confesso, mesmo depois de ter lido isto, situação(a)normal numa qualquer escola nacional, digo eu pois claro, não é que ontem dou com um colega a sair de mansinho da sua sala de aula de telemóvel encostado ao ouvido?
do debate de ontem à noite, na RTP, sobre as diferentes propostas para a área da educação (da qual apenas vi as duas primeiras partes, referentes ao ensino básico e secundário) fico com a ideia que não há uma ideia sobre educação, falta uma linha de horizonte para onde os partidos políticos possam apontar o trabalho da escola.
Não sou a favor de consensos e uniformizações ideológicas, sou pelo debate de ideias, pela troca de opiniões, pela construção local da educação. Apenas ouvi breves referências a este ponto no BE e no PCP. Será que os restantes partidos receiam a construção de políticas locais de educação? Será que os partidos do arco do governo receiam que se faça melhor em cada escola do que no Min-edu? será que permanece a desconfiança face às capacidades e possibilidades locais? ao papel dos professores e de outros parceiros educativos?
Fala-se de educação, da escola, não se discute uma ideia de educação, nem de escola.

terça-feira, janeiro 25

das dúvidas. Será que fazemos o que dizemos? como pensamos o que fazemos? e o que pensamos do que fazemos?
Apenas dúvidas, minhas pois claro. Se levam a algum lado? não sei. É para levar a algum lado?

da orientação

hoje tive o privilégio de conhecer a orientadora de estágio da Universidade que acompanha os estagiários nesta escola na disciplina de matemática.
Pouco mais velha é, se o for efectivamente, relativamente às pessoas que acompanha, que procura orientar.
Pergunto-me se terá leccionado fora da universidade, quanto tempo, qual a experiência para poder perceber alguns porquês.
Não coloco em causa a sua competência académica e científica, mas fico na dúvida quanto ao seu papel na orientação de futuros docentes, em particular numa área e numa disciplina que requer experiência, para além do próprio saber, no cativar os miúdos.

segunda-feira, janeiro 24

abandono

de acordo com os últimos relatórios, Portugal viu agravar-se o atraso educativo na escolaridade mínima obrigatória entre 1991 e 2002.
E atenção, durante este período houve um projecto designado Programa Educação para Todos2000.
Imaginem se não tivesse existido.

difícil é ouvi-lo

foi, em meu entender, um dos bons ministros da democracia portuguesa.
Com uma ideia e uma visão de escola, sensível a argumentos, atento a preocupações, disponível para a conversa, longa de preferência.
Quando fala e tem dito algumas coisas desde que deixou a 5 de Outubro, é difícil não o ouvir, é difícil não concordar com ele.
Marçal Grilo é uma pessoa que conhece os meandros do sistema educativo como poucos.
Hoje mais um conjunto das suas ideias.

literacia

uma boa ideia, desde que definida localmente, em contexto e em conjunto com as necessidades de um lugar e as características da população.
Mas não deixa de ser uma boa medida.

domingo, janeiro 23

das visões

em plena campanha eleitoral acentuam-se as diferenças, mesmo que possamos dizer que não existem diferenças entre os dois principais partidos, PS e PSD.
fazem-se ouvir as diferenças ao nível dos choques - tecnológico, do PS, de gestão, do PSD e fiscal do BE. Logo aqui se fazem notar as profundas diferenças existentes sobre uma visão do país.
Centro-me apenas nos dois maiores partidos.
Um, o PS, acredita que formar e educar as pessoas, criar incentivos ao nível da investigação e do desenvolvimento, promover e favorer as competências técnicas e científicas será uma porta para o futuro. É uma aposta clara nas pessoas [lembram-se do as pessoas não são números], nas suas competências e qualificações.
Do outro, a visão que existe uma técnica da mudança, uma racionalidade que adoptada permitirá o caminho do futuro e das qualificações. Uma visão assente em capacidades técnicas de alguns, pois nem todos terão competências [ou qualificações] para a gestão.
Como se reflectirá este conjunto de opções na nossa escola? Qual a visão que irá transparecer num e noutro programa visando a educação? qual o papel da escola [e, por consequência, do professor] no âmbito do choque tecnológico? e do choque de gestão? Quais as linhas indutoras de uma nova lei de bases por todos exigida, por alguns requerida e por outros sentida como necessária? qual a concepção organizacional da escola e dos currículos? qual o currículo?
Esperam-se desenvolvimentos...

sexta-feira, janeiro 21

do descentramento

de quando em quando basta afastarmo-no um pouco daquilo que nos absorve, do assunto com o qual incessantemente nos enredamos, para ver um pouco mais ou um pouco melhor.
Sobre estas coisas dos blogues um colega e amigo deixa-me esta referência:
... Tal como acontece em muitos outros campos, a massificação deste tipo de
espaços tende a dissolver muitas opiniões interessantes
...

quarta-feira, janeiro 19

das bocas

... diz o roto...
cada dia que passa mais me convenço que esta campanha política não irá deixar saudades, nem será lembrada por coisa nenhuma - ou não será esquecida?

terça-feira, janeiro 18

da escuta

... escutar, apenas escutar. Gosto de escutar as conversas, perceber do que se fala, quais os juízos que se constroem, as impressões que se têm, que se criam. Eu sei que é feio, mas gosto de escutar as conversas da sala de professores, dos corredores, da biblioteca. Um bocado aqui, outro ali, bocados dispersos, por vezes desconexos, hologramas de mundos mais vastos, alguns muito distantes da minha pessoa.
Dois exemplos.
Há pouco trocavam-se ideias sobre aparelhos, necessidades e utilidades. Havia quem reclamasse dos aquecedores da sala de professores, porque não funcionam [apesar do ar condicionado] e quem referisse, como contraponto, os computadores avariados da biblioteca e do centro de recursos. Dessintonias claras. Ou talvez não.
Noutro ponto comentava-se o centro de astronomia criado apenas com vontades e, segundo diziam, sem conhecimentos suficientes para algumas perguntas.
Apenas escutas, fragmentos holográficos de uma realidade em trânsito.

do tráfego

... talvez seja impressão minha mas sinto o tráfego demasiadamente fluído, desimpedido.
Nota-se uma certa dificuldade de actualização das postas, o número de visitantes estagnou na generalidade dos bairros, custam a aparecer novas ideias, novos blogues.
talvez ocupados pelas eleições, campanhas, ou apenas cansados do Inverno da falta de chuva, do tempo, ou da falta dele.

estórias do quotidiano

uma colega entra algo aflita na sala de professores. Fala alto não apenas para chamar sobre si as atenções mas para que os colegas possam perceber o que lhe aconteceu.
Vejam bem uma coisa destas, vejam bem ao que uma pessoa pode estar sujeita. Chamei a ... do 6º... ao quadro para fazer uma simples conta, e ela ali especada com cara não sei de quê, então não consegues?, não sabes? e não é que a miúda me desata a chorar!?
comentários para quê?

segunda-feira, janeiro 17

batanices e merdas que tais

desculpem-me os prezados colegas e os estimados leitores que por aqui passam, mas as séries que passam em horário nobre nas duas televisões privadas (ou pelo menos passaram na passada 5ª e 6ª feira) são de bradar aos céus, cuspir na sopa, bater na avózinha, atropelar o céguinho, e tudo o que se possa pensar e dizer do pior.
Os batanetes na escola (?) e comportamento do pior (?) (desculpem, mas não fixei nomes e não estão disponíveis nos respectivos sites), esteriótipos que nem para perceber o que é ser aluno, quanto mais perceber qual o papel do professor.
Rasca, reles e de merda. Pronto final.

entornado

... está o caldo entornado, ai está mesmo.
durante a hora de almoço um funcionário acompanhado de um agente da GNR aproxima-se da minha pessoa na sala de professores. O soldado pergunta-me: é professor de História? Foi o senhor que agrediu um aluno no portão da escola?, à primeira disse que sim, à segunda, num misto de brincadeira e de consciência tranquila disse que primeiro precisava de saber quem era o aluno para saber se tinha sido eu.
Não fui, não era eu. Passado pouco tempo o meu colega é referenciado e o caldo está totalmente entornado. Efectivamente um docente de História, um colega, pregou um par de estalos num aluno. Motivo, o persistente achincalhar, o insulto, o moer até dizer chega, o gozo, a hipocrisia. O colega não resistiu e efectivamente consomou-se um sopapo.
Já disseram que antigamente era réguada que fervia, pedagógica, pois claro, para mais facilmente podermos decorar a tabuada, evitar os erros de português, etc. Agora não. É situação que está deveras ultrapassada. E o professor perde a razão nesta situação.
Mas o caldo está deveras entornado. Não mata, todos sabemos, mas moi e muito.

sábado, janeiro 15

cópia

...desculpem lá qualquer coisita, mas não resisti a copiar esta afirmação
É difícil ensinar numa sociedade que vive para o imediato onde a palavra seca tem correlatos semânticos como desinteressante.

o restante é ainda mais interessante de ler.

ideias

uma ideia com três vértices. É difícil pensar de um modo organizado e estruturado a educação, a escola e os papeis que nela se desenrolam, simpificar pode implicar dexiar de fora algo essencial, faço-o com a clara ideia de se construirem outras ideias, outros pontos de vista.
deixo à V/ consideração uma ideia com três vértices: simplificar - aprofundar - reforçar;
tento explicar:
- simplificar todo o edifício jurídico e administrativo que hoje enforma o sistema educativo, desde os professores aos alunos, passando pela gestão, escolas profissionais, artísticas e que tais, avaliação de desempenho, formativa, sumativa, interna e externa, ensino especial, apoios, etc., etc. uma das medidas podia passar por simplificar as resmas de dossies de legislação educativa que poucos cumprem e muitos interpretam como entendem;
- aprofundar os impactos e a as abrangências desde o pré-escolar ao secundário; aprofundar a oferta, criar e promover a inclusão, o combate ao absentismo e ao abandono; aprofundar as medidas que permitem criar laços entre a escola e a comunidade, numa lógica de mercados de trabalho e com o ensino superior, em lógicas de adequação, desenvolvimento e formação ao longo da vida;
- reforçar as lógicas e princípios de autonomia da gestão pública da escola; reforçar as características e os factores distintivos de construção e afirmação da escola pública; reforçar a ligação da escola à sua comunidade;

quinta-feira, janeiro 13

retrato

permitam-se destacar uma entrevista que é, ao mesmo tempo, um óptimo retrato do que é ser professor hoje.
Existirão poucos docentes que não se reconheçam, que não se revejam naquelas palavras, nos seus pensamentos, nas suas entrelinhas.
Um óptimo exemplo do que pode ser uma intervenção educativa diferente.

referências

aprecio a escrita escorreita, a temática, os contornos das palavras que caracterizam a escrita da Maria Helena.
Trabalhámos na mesma escola um ano completo, nunca trocámos uma palavra sobre blogues ou sobre estas ideias, menos ainda em como este suporte pode condicionar o trabalho dos professores, dos alunos, as relações que se estabelecem com assento aqui, que por aqui passam.
Agradeço a referência que me faz, em particular no distinto colega. Já lá deixei o comentário que procuro aqui retribuir com tudo o que ali aprendo e sinto.

outro incómodo

ora pois, não há negativa sem senão [sei que não é assim, mas não consegui arranjar melhor].
Depois de me sentir algo incomodado com os comentários às opções metodológicas, sempre surge alguém, uma colega no caso, que se interessa por aquilo que faço, como o faço, uma vez que ouviu comentários apreciativos ao trabalho desenvolvido. Comentários oriundos dos alunos, diga-se.
E pronto, é um outro incómodo, este para melhor reconheço.

da pós escola

uma colega, em breve troca de palavras, diz-me que regressou à escola para fazer uma pós graduação. Ainda bem, digo eu, que te seja útil. A resposta não podia ser mais esclarecedora, dúvido, com tantos testes e trabalhos para fazer não tenho tempo para pensar o que ando a fazer.
Diga-se que é pena. Para além dos custos económicos, há o desagaste pessoal, o empenho e a vontade que se desbaratam apenas para termos um certificado? Não será, porventura, mais interessante e pertinente pensar o que fazemos, onde o fazemos, como o fazemos, com quem o fazemos?
Não seria mais interessante que os cursos pós graduados respondensem a situações (de dúvidas, de investigação, de análise, de interpretação, de compreensão) e se enquadrassem em contextos (pessoais, sociais, profissionais)?

terça-feira, janeiro 11

das bocas

diz o meu presidente do executivo que, de acordo com comentários oriundos da Direcção Regional (será que são de confiança?, fiáveis?) os concursos de docentes decorrerão este ano por ordem alfabética (a iniciar lá para o final de Fevereiro) e com metodologia tradicional, como antigamente, explicita.
Será que quer dizer feitos à mão?, mas não tinham sido já à mão?

do quotidiano

nas deambulações pelo corredor à procura do que faça ou do que possa fazer numa escola onde os computadores estão ocupados, a biblioteca cheia e não há mais salas, encontro uma aluna. Como não tinha referenciado mais nenhum dos seus possíveis colegas pergunto-lhe se tinha sido mandada para a rua. Diz-me que faltou. Pergunto porquê, por a aula é uma seca. E preferes andar sozinha? Mais vale só que mal acompanhada, diz-me em tom de disputa.

do incómodo

eu sei que é uma situação normal e natural mas não deixa de me incomodar. Andei um dia completo a pensar se escrevia esta posta ou se a deixava passar em branco. Como se nota opto pela partilha.
Um conjunto de pais/encarregados de educação manifestaram ao respectivo D.T. algum incómodo em face das metodologias que adopto na sala de aula e às suas implicações perante os seus educandos.
É-me difícil não tomar posição, ser indiferente, mas resumidamente explico.
A minha opção metodológica vai no sentido do aluno resolver problemas, ultrapassar situações com recurso à disciplina (História) e aos instrumentos que faculta, opto por não apresentar, de modo tradicional, expositivo, unidireccional, passivamente em relação ao aluno os conteúdos (procuro evitar a seca que são as aulas), prefiro a descoberta, a construção, a partilha do conhecimento, a resolução dos problemas. Do ponto de vista teórico será uma mistura (espero que não explosiva) entre metodologias diferenciadoras (com base em processos), a pedagogia da autonomia e componentes construtivistas e da escola moderna.
Ora esta opção tem-se revelado frutífera na conquista de alguns alunos para a disciplina e para o trabalho escolar (uma análise do aproveitamento mostra isso mesmo). Mas há alunos, geralmente e por hábito, uma franja significativa de alunos que na generalidade apresentam níveis elevados e que em face deste tipo de trabalho baixam relativamente o seu rendimento. Foram pais/encarregados de alunos destes alunos que se manifestaram.
Sinto-me de consciência tranquila na procura de propostas, opções, metodologias, estratégias que permitam construir um sentido de escola e do trabalho desenvolvido, do papel e da participação da disciplina nesta construção, da autonomia do aluno, na sua capacitação para a rssolução de problemas, para a organização de ideias, para o seu envolvimento e participação na construção e definição dos seus interesses.
Mas reconheço que me sinto incomodado. Talvez até mais porque o D.T. não estava preparado para responder às questões, quando desde a primeira reunião intercalar lhe apresentei documentação sobre o que faço, como faço, com que características, opções e orientação.
Fico na dúvida do que faço, será correcto? adequado? adaptar-se-á ao aluno? irá ao encontro das suas necessidades? prepará-lo-á para situações futuras? consolidará conhecimentos? promoverá atitudes ou competências?.
Mas sozinho sei que não vou a lado nenhum e que estas situações, já estou algo habituado, surgirão sempre.

segunda-feira, janeiro 10

do tempo

uma cópia directa do outro lado de mim;
... não sei se o tempo é aquilo que dele fazemos ou se é o tempo que nos faz. Sei é que gostei bastante desta afirmação da Maria com a qual concordo em absoluto.
Permitam-me perguntar, qual é a velocidade da tua imaginação??

do desânimo

na passada 6ª feira estiveram de visita à escola duas colegas que aqui realizaram o estágio, há dois anos atrás.
Entre as perguntas da praxe do que fazes, por onde andam, que tal estão, deixaram a ideia de um profundo desânimo sobre a escola e o papel do professor. Cada qual está numa escola, em concelhos diferentes de distritos diferentes ainda que na mesma zona.
Pensei para os meus botões que para haver desânimo, desilusão tem de existir uma diferença, negativa, entre a ideia que inicialmente se construiu e o confronto com a realidade, com um dado contexto. Para além desse aspecto determinante a rigidez das ideias, a difícil flexibilidade na relação com o aluno podem acentuar esse aspecto.
Pergunto-me, que circunstâncias existem para que se acentue este desânimo, se percam ideias e práticas, que os profissionais se acomodem?

netcabo

depois de um fim-de-semana sem internet, graças ao serviço da netcabo com razões ainda por mim desconhecidas, apresento-me com a vontade de trocar ideias, debater opiniões, participar na discussão sobre a escola pública e o papel dos professores.

sexta-feira, janeiro 7

da excelência

dois post, um e outro, claramente excelentes.
Por um lado porque se visibiliza que a democracia é muito bonita, interessante do ponto de vista teórico e especulativo, mas que fica bem noutro lado que não aqui, consoante interesses, oportunidades ou objectivos. Tem sido uma particularidade deste governo, defender a democracia e a participação quando lhe convém, quando há interesse quando vamos todos no mesmo barco, para o mesmo sítio (versão homem do leme), caso contrário... (patrões e sindicados desmontaram recentemente esta visão das coisas quando, sem governo, se entenderam).
Outro, mais ao nível de discursos mas que têm, muitas das vezes, correspondências práticas, decorrem daqueles que consideram as Ciências da Educação como a fonte primeira de todos os males, as culpadas de tudo - essencialmente do que é negativo no sistema educativo. Como cria ligações e afectos às competências, determinante no e para o reconhecimento dos diplomas.
Entre um e outro, permitam-me acrescentar dois aspectos.
Um já evidenciado pelo Miguel, é fundamental desmistificar a tese das competências técnicas para o exercício de competências políticas. Por muito bom investigador que se possa ser, por muitos conhecimentos técnicos que se detenham, não significa nem lhe corresponde uma dada competência política. Mas Portugal persiste na procura de uma racionalidade técnica para a competência política - depois há os erros de casting.
Outra que para a profissão docente o mais importante é o sentimento das vocações, mais que conhecimentos científicos ou competências técnicas. Tal como para a enfermagem.

quinta-feira, janeiro 6

do abandono

ontem tive a notícia que uma aluna de 8º ano, com 16 anos feitos no final do ano passado, abandonou a escola. Ainda por cima com a concordância, segundo disseram, dos pais.
Com 16 anos, frequência de coisa nenhuma, fracas capacidades e cultura escassa que poderá esperar esta rapariga do futuro?
Desde início do ano já me desapareceram 5 alunos, é obra. Daí o meu comentário do feitio.

dos sinais

um dos posts perdidos era uma expressivo agradecimento aos sinais do Miguel.
Desde que tive oportunidade (e o prazer) de o encontrar nesta blogosfera que partilho muitas das suas ideias, que comungo das suas opiniões, que sinto muito do seu sentir. Mas, por uma outra razão (algumas impertinentes) acrescento sempre um ponto, uma vírgula, uma ideia. Debato opiniões, troco ideias.
Nos seus sinais não faço nada, limito-me a agradecer-te a ideia, o momento feliz (digo eu) da tua escrita e dos teus sentimentos.
Reconheço-me em todas as letras, em todas as palavras, em toda a entoação desses teus sinais.
Obrigado Miguel.

p.s. sinto muito mas não trago boas novas, ainda não as reconheci, ainda não as perspectivei no meio das conversas por onde procuro mostrar ideias, trocar pontos de vista, por onde tenho andado a dizer às pessoas para lerem o que se escreve nesta blogosfera, já que a minha voz (de burro) dificilmente chegará ao céu. Mas não desisto.

perdidos e achados

não sei se aparecerão dois post que escrevi e que não me aparecem por dificuldades de acesso à rede, para o caso de não aparecerem tento recolocá-los no seu lugar, provavelmente com outras letras, outras palavras, mas certo das mesmas intenções.

do feitio

uma das coisas que faz com algumas pessoas me rotulem de mau feitio decorre de ficar profundamente irritado com os comentários depriciativos, as observações jogosas em face de um aluno ter abandonado a escola.
Há pessoas que parecem ter ficado contentes, há comentários que remtem para metáforas relacionadas com lixo e tapetes, como se os alunos fossem lixo. Se assim fosse o que seriam então so professores?

quarta-feira, janeiro 5

dos desafios

...e da confiança.
Muito do que se joga nas próximas eleições vai no sentido de criar desafios e assegurar factores de confiança entre o Estado e quem o administra, o governo, e os cidadãos. E este pode ser um passo essencial na construção da escola pública e da reinvenção do nosso quotidiano.
Tentarei, ainda que sucintamente, explicar.
A relação entre o Estado e o cidadão tem sido marcada, desde Salazar, pela desconfiança, pelo princípio assumido que quem não está no Terreiro do Paço não sabe, não pode, não tem conhecimentos, não domina a terminologia, os mecanismos os instrumentos que permitam gerir e administrar o seu domínio. Vai daí e as sucessivas tentativas são de controlar e comandar tudo e todos a partir daquele espaço mais que simbólico. A concentração de poderes, a assunção de funções a isso tem conduzido e reforçado essa situação - singelas tentativas foram feitas em sentido contrário, mais com base em atitudes pessoais, do que com sentido e orientação estratégica.
Quando se desconcentraram poderes, quando se deslocalizaram espaços, quando se autonomizaram funções, quando se delegaram poderes há, quase sempre, duas interrogações.
Por um lado, será que o Estado quer aliviar responsabilidades ou quer justificar atitudes ainda mais concentracionários. Ou, por outro lado, qual será a bandeira eleitoral a jogar porque o pobre desconfia sempre da boda.
Ora está na hora, é tempo do Estado, na figura do seu futuro gestor, assumir uma relação de confiança com o cidadão, assumir que este é maior e vacinado, que tem competências e saberes próprios, que hage de boa fé e com sentido de Estado, que procura, na individualização da gestão, o bem comum e a salvaguarda do interesse colectivo.
Que há excepções? obviamente, que há gatunos e incompetentes, também. Há que criar os mecanismos que permitam minimizar essas situações, definir instrumentos que permitam avaliar competências e práticas, corrigir disfunções.
Depois talvez exista espaço e tempo para que a escola seja um espaço diferente, diferenciador e estimulante para alunos e professores, pais/encarregados de educação e funcionários, autarquias e outros interesses locais.
Depois talvez seja possível repensar a escola.

funções

o Miguel levanta [outra vez] um conjunto sério de questões pertinentes que pelas suas características e pelas relações que implicam correm o sério risco de se tornarem impertinentes.
Mas caro amigo permite-me responder negativamente à questão que levantas em último lugar [A unilateralidade da oferta da dimensão lectiva não ameaçará a eficácia das funções da escola].
Respondo que não, pois as dimensões da escola decorrem de dois pontos diferenciados e diferenciadores.
Por um lado, de um poder ausente, essencialmente regulamentador que pretende uniformizar e comandar tudo e todos qual ser omnipresente e omnisciente (que há muito não é mas que teima em reconhecer).
Por outro, da construção local e social que é feita da escola, da apropriação de modos e sentidos, das múltiplas intepretações que são feitas, isto é, da vida que é vivida
Uma desvantagem óbvia, os actores sociais jogam de acordo com os seus interesses e objectivos, na prevalência de uma ou de outra consoante o geito, os interesses e as relações que se tecem.
Uma clara vantagem, que justifica a negação à tua questão, a escola nunca é unilateral na sua oferta, por muito que se queira, teime ou persista nessa ideia. A organização, o modo como se coloca a oferta, esse sim pode ser unilateral.

silêncio

a escola em peso prestou homenagem, à semelhança, segundo sei, do país e da Europa, às
vítimas do sudeste asiático.
um silêncio de quando em quando quebrado por sorrisos soltos de um nervoso miudinho de quem ainda não sabe estar em silêncio, não sabe ainda lidar com a ausência da palavra e se sente constrangido(a).
Mas gostei, foi respeitador, tolerante e, digo eu que na generalidade das cabecinhas, um silêncio sentido.

terça-feira, janeiro 4

baril

após as reuniões com encarregados de educação uma colega directora de turma diz-se impotente para arranjar alternativas ao desassossego de uma turma, onde os pais questionam por alternativas para os filhos e educandos.
Onde procurar alternativas, que alternativas procurar a si mesma? eis uma das questões que se podem colocar nestes tempos.

conversas

valente conversa esta de início de ano, que segue por diferentes lados e com diferentes direcções e perante a qual, em face da minha notória estupidificação, sinto dificuldades em colaborar, em participar.
Mas, ainda assim, arrisco a acrescentar um pequeno pormenor que, em meu entender, faz um pouco de diferença.
A escola diferente, a construção de sentidos, a apresentação de propostas alternativas terá de se iniciar em cada prática lectiva, em cada docente, no enfrentar das situações e na procura de respostas capazes de ultrapassar situações menos boas, minimizar ou mesmo resolver problemas.
As propostas, as alternativas têm mais oportunidade de sucesso quando construídas local e colectivamente, com recurso à participação, ao diálogo, ao debate e à troca de ideias estando certos que não há uma resposta, como não há um consenso, nem uma medida única e positiva. Há ideias, há práticas, há ideias (ou deveriam existir) perante a qual se estruturam e organizam propostas (ou deveriam organizar).
A questão, sabida e algo consensualizada, é que cada docente trabalha para seu lado, de acordo com lógicas individuais e muito próprias, quase que com receio de partilhar vontades, quebrar barreiras, saltar muros. Progressivamente vão-se registando pequenos avanços, pequenas conquistas que há que maximizar e saber valorizar.
E a blogosfera tem tido um papel determinante na construção do(s) nosso(s) sentido(s) de escola. Imaginem se estivessemos todos juntos, que multidão não seríamos.

ideias

reconheço e assumo que neste início de ano ando com poucas ideias e menos vontade ainda de escrever.
Sinto-me algo estupidificado, ontem à noite tive uma clara manifestação deste meu estado de espírito, quando me degladiava interiormente entre o que fazer e o que ler...
Nada que, espero eu, não passe ao fim de uns quantos dias de trabalho e de retorno ao ritmo do dia-a-dia.

segunda-feira, janeiro 3

começou

com alguma pouca vontade, há que reconhecer, com alguns quilinhos generalizadamente a mais, algumas olheiras de boa disposição e uma noite também generalizada e assumidamente mal dormida, lá começou o mesmo quotidiano da escola.
Os confrontos, a gestão dos interesses, a disputa dos interessados, a procura de sentidos, a construção de objectivos. Está lá quase tudo.
O que falta? a minha pessoa a tempo inteiro, que ainda estou em jet leg (é assim que se escreve?).

domingo, janeiro 2

de regresso

... e pronto, terminada a pausa é tempo de arrumar a pasta, arregimentar livros e blocos, recolocar lápis e canetas e regressar à escolinha, ao convívio de professores, alunos e funcionários, a palmilhar kms, a comer pouco (o que só me favorece e compensa alguns excessos natalícios), a iniciar o corre-corre de ir levar os filhotes, preparar e organizar sessões, apoiar os filhos (meus e de outros que solicitaram essa colaboração)...
afinal, é a nossa vida que, felizmente, continua.

sábado, janeiro 1

do conhecimento

no zapping que faço dou com uma pergunta curiosa num blogue oriundo do Brasil, qual a qualidade mais importante em um professor? as opções são várias: dinamismo, criatividade, conhecimento, afectividade, organização.
estas amostras valem o que valem, se é que valem alguma coisa, mas passem por lá para ver qual o resultado, qual a qualidade mais apreciada. Surpresa? nem tanto.

do gosto

já por várias vezes estive para escrever sobre uma surpresa. Não passa de agora uma vez que se lhe juntou o argumento do prazer e é em tempo de escrever sobre um gosto, o meu, o de trabalhar na escola.
Há tempos um colega ficou espantado por ter conhecido, em carne e osso, esta minha pessoa. Perguntei qual o espanto, afirmou que lhe era difícil acreditar que era eu mesmo, aquele que assina estes textos, cujo nome aparece como irresponsável pelas ideias e opiniões que aqui se desbaratam e que ele acompanha desde o início desta escrita, umas vezes com concordância outras nem tanto.
Não sei se sou aquilo que escrevo ou se escrevo aquilo que sou. Sei e aí restam-me poucas dúvidas na ângustia das minhas incertezas, que escrevo sobre o que gosto, o que me marca, o que sinto e que escrevo sobre aquilo que sou.
E agora em amenas cavaqueiras em torno do Natal e da passagem de ano alguém me diz que se nota o gosto por aquilo que faço. Como seria possível fazê-lo de outro modo, sem gosto, sem ilusão, sem sonhos, sem paixões.
Reside nesta pequena circunstância muito do que sou, algum já aqui o escrevi, emoção na ponta dos dedos, fazer da minha emoção a minha razão, procurar a razão onde ela esteja, onde se acomode.
A escola é apenas um espaço de operacionalização de vontades, de descoberta de emoções, de busca de razões, de confronto de seres. Por isso gosto da escola. Por isso gosto do que faço.
Para mim é perfeitamente impensável não pensar aquilo que faço, não procurar alternativas, não questionar as minhas razões, não procurar outras razões. Procuro compreender, interpretar, perceber o que faço, como faço, porque o faço, com quem o faço. Reside aqui muita da minha emoção, muito do gosto que sinto por aquilo que faço.
E não tem que ser apenas e em exclusivo sobre a docência.

do incrível

por muito que possa parecer, pelo menos à minha pessoa, aí está um novo ano, com vícios e virtudes velhas, velhinhas. Umas para garantir que por cá andamos, outras para termos a certeza que precisamos de continuar a lutar e a trabalhar por aquilo que queremos, outras ainda para trabalharmos para aquelas que julgamos que mercemos.
Enfim... ano novo vida velha.
os mesmos problemas, os mesmos anseios, os mesmos desejos, as mesmas vontades. Mudou o ano, podia apenas ter mudado o mês.