quarta-feira, outubro 31

da sombra

podia ter chamado a esta entrada "de Évora", opto por um mais escuro, as sombras;
há uma profunda movimentação política e partidária nesta santa terrinha;
movimentação pelas sombras, pelas esquinas, qual desconfiado do outro e de tudo;
mexe-se o xadrez partidário num perplexo jogo de sombras, onde vale mais a insinuação que a manifestação; hesita-se no movimento, sabendo que pode ter um efeito de borboleta;
à esquerda e à direita do PS local contam-se espingardas, definem-se alvos a abater (mesmo que não se mexam, mesmo que impávidos e serenos na sua bonomia), sondam-se opiniões e perspectivam-se eleições, arrumos;
no PS local fico com a sensação que o silêncio é pronúncio de confusão, de trovoada; diz-se que sim para logo a seguir se afirmar o talvez e convictamente se dizer que nunca se disse; procura-se a influência, a mestria de um passe, de uma desmarcação que mais pode ser uma colagem ao outro, talvez adversário, talvez cúmplice;
a política não ganha com estes jogos, a cidadania sente-se alheada do seu próprio destino, os mimetismos parlamentares não têm, pela cidade e por esta região, passos perdidos, apenas oportunidades perdidas;
é nas sombras que os gatos são parvos - não pardos...

das políticas

critico as políticas? áh pois claro que crítico;
deste governo, que apoio de forma militante? sem dúvida; apesar de boy e, de quando em quando utilizador de cargos, considero que nem tudo é correcto e, menos ainda, adequado;
agora o que sinto de diferente perante a crítica política é a de construir para além do normativo, para além do procedimento institucional;
por vezes, e já me custou algumas dores de cabeça, mesmo contra o instituído, contra o determinado, na defesa de uma ideia e de uma prática docente que não fica presa à regra ou ao partido e procura uma prática social fortemente politizada (mas não partidarizada);
não crítico apenas pela crítica, nem para desmontar o preceituado, muita das vezes enformado do seu próprio contrário, procuro uma afirmação situada da escola e da acção do professor; defendo que o normativo se deve construir a partir das práticas, mais do que das vontades de um qualquer governante;
a crítica essencial que faço a esta ministra, já aqui o escrevi, é a de estar a produzir legislação à revelia dos principais interessados e envolvidos, correndo-se o sério risco, mais que previsível, de tudo se alterar quando for embora;
e isto não é política e menos ainda educativa (que leva tempo a sedimentar); é asneira da grossa;

da diferença

uma das diferenças que sinto entre a minha pessoa e a restante sala de professores (não toda), é a minha defesa da escola por aqueles que estão na escola;
tento explicar, à semelhança de outros defendo uma escola situada, feita por aqueles que lhe dão corpo, vida e alma; não espero (nem deste nem de outros governos ou ministros) soluções que me facilitem a vida, descompliquem procedimentos, organizem as actividades, definam os objectivos;
as minhas mais essenciais discussões passam pela defesa da capacidade dos professores agirem em face do seu contexto, das suas situações e não de esperar que me digam como tenho de fazer e o que fazer;
mas reconheço alguma pertinência ao sentido normativo da acção pública; sem algumas orientações, sem algumas opções de política educativa emanadas de uma qualquer secretaria, certamente não teríamos a escola que temos, teríamos uma outra;
dentro deste aspecto, para mim determinante, configura-se um outro, melhor explicado por quem percebe da poda, que se traduz na alteração dos procedimentos em sala de aula; estamos habituados, fomos formados para ensinar a muitos como de um só se tratasse (frase feliz de Perrenoud e Barroso), numa escola mais ou menos homogénea, mais ou menos equilibrada, mais ou menos pacífica, mais ou menos interessada, mais ou menos empenhada, mais ou menos acompanhada;
mas não é isso que temos, pois não;

terça-feira, outubro 30

do regime

ainda a propósito de uma das grandes discussões pedagógicas (?), sobre o regime disciplinar do aluno, uma nota de acrescento;
não é à toa, não foi sem querer, não foi despropositado e menos ainda inocente que o primeiro regime disciplinar do aluno, definido na portaria 679/77 de 8 de Novembro se manteve inalterado desde a sua fundação, em 1977, até 1998, 21 anos, apesar de todo o seu articulado não referente ao regime disciplinar ter sido revogado; que o definido pelo decreto-lei 270/98 se conseguisse aguentar 5 anos, substituído que foi pela Lei 30/2002 e que passados outros 5 anos surja um novo;
primeira referência, a alteração do acto em si, que vai de portaria a lei, conferindo-lhe um enquadramento e um regime processual substancialmente diferente;
segunda referência, o próprio enquadramento do regime, que passa por um quadro "pedagógico" de organização da escola, definido pela referida portaria 679/77, até a uma assumida judicialização da situação, claramente evidente na lei 30/2002;
o acrescento, se não é evidente nesta mutação de enquadramento e configuração uma ideia de sociedade e de relação de actores (professores, alunos, pais/encarregados de educação) então esclareçam-me, p.f.;
que este regime corre o risco de vigorar ainda menos tempo? é certo; que não irá resolver os problemas de indisciplina e violência que consomem muitas das nossas escolas, é também clarinho; primeiro, porque grande parte das medidas estão a ser tomadas à revelia dos seus mais directos interessados, segundo por que não há soluções administrativas ou normativas que ponham fim à angústia de quem trabalha na escola e assume a educação como profissão;
fundamental neste processo é equacionarem-se outros modos de organização da escola e da educação - neste momento estou mais preocupado com a escola;

dos cuidados

até pensava em não escrever, não sentia grande entusiasmo nem predisposição;
mas o hálito tem destas coisas;
uma metáfora;
a esposa tem gostos estranhos (basta estar comigo) por uma área designada de cuidados paliativos, isto é, cuidados em fim de vida;
utilizando esta área como metáfora face ao aluno absentista, ao aluno que não se reconhece na escola nem reconhece à escola qualquer validade, falo do aluno que terá entre os 12/13 anos e os 15/16 (fase crítica da relação escolar) pergunto, deixa-mo-lo morrer, deixa-mo-lo ir? porque não quer, por que não gosta, porque não vale a pena contrariar?
afinal quem são os filhos de Rousseau? aqueles que simplesmente desistem do aluno, porque não o querem contrariar, nem contradizer mas pugnam por uma escola para alguns, os interessados, os limpinhos, os assertivos e cordatos, ou aqueles que procuram mostrar que há alternativas, que essas alternativas passam pela escola?
o que está em causa no regime disciplinar do aluno, neste ou nos que o antecederam, referem-se a modelos de escola e de educação, do aluno perante a escola e do professor perante a sociedade que integra;
estou certo que aqueles docentes que trabalham na Cova da Moura ou noutros guetos terão outro tipo de argumento, outros factores a considerar, agora dizer que o director de turma tem de escrever diariamente ou simplesmente organizar mais uns papeis ou que o conselho pedagógico se deva debruçar sobre as suas responsabilidades peço desculpa, mas não são argumentos, são desculpas...

segunda-feira, outubro 29

das faltas

só para contrariar aquilo que parece ser uma opinião generalizada, deixem-me dissertar sobre o novo regime disciplinar do aluno, aquele mesmo que considera que as faltas podem não ser consideradas para a retenção do aluno;
aparentemente, da esquerda à direita, tecem-se comentários de leviandade, de laxismo, de desresponsabilização que pode decorrer deste novo diploma;
uma questão, por mero acaso já terão lido o diploma? é que não é essa a leitura que faço; remete para a escola e para os seus órgãos de gestão a responsabilidade de definição de mecanismos para se procurar perceber o porquê da falta e de, a partir daí, se definirem os instrumentos e os modos de contrariar essa prevaricação, envolvendo as diferentes partes e não apenas um sector;
a discussão em redor deste diploma, parece trazer para a boca de cena uma ideia de escola que, direi eu, assenta no antigamente, uma escola de alguns, para alguns e que apenas alguns eram merecedores da atenção, do acompanhamento e da orientação educativa;
a escola que temos, pelo menos por enquanto, assenta numa lógica, nem sempre clara, nem sempre definida, de equidade, de a escola procurar colmatar carências do agregado familiar; é pôr os professores a fazerem mais? é sim senhor, de modo a que a escola possa ser para todos e todos possam ter as mesmas oportunidades;
a questão que se coloca, e que decorre dos poderes que a escola e os professores têm, é a de se organizarem de um outro modo, para poderem fazer face ao desafio da integração, daqueles que não se reconhecem na escola, na sua cultura, nos seus modos e preceitos mas que têm direito a ela; o que se institui mais não é que uma escola para todos, pois a escola cresceu e massificou-se mas não se democratizou;
o que esta legislação traz é uma assumida divisão entre a escola que temos e a escola que pretendemos, e há quem pretenda voltar atrás defendendo que se está a avançar, e é mentira;

da administração

um relatório dá conta, clara, daquilo que muitos já suspeitávamos;
a administração pública trabalha mal é pouco produtiva;
contudo, na comparação efectuada com o sector privado, há diferentes ideias que me ocorrem;
primeiro, trabalha mal e é pouco produtiva porquê? por causa do simples funcionário que cumpre regras e obrigações? por causa dos objectivos que são definidos exteriormente e aleatoriamente ao funcionário e ao sector? ou porque os chefes, as chefias da administração pública são fracas, pouco formadas, pouco conhecedoras de lógicas organizacionais e de articulação dos seus recursos humanos?
segundo, ao se rotular a administração pública de pouco produtiva e desorganizada, comparativamente ao sector privado, está-se a querer dizer que se privatizássemos os serviços eles seriam melhores? mais produtivos? mais rentáveis? considero esta ideia enganadora e preocupante, pois revela o retorno de um velha ideia que quanto menos Estado melhor Estado;
terceiro, no contexto da produtividade e qualidade do trabalho da administração pública, foram equacionados os sectores que, apesar de trabalharem mal, estarem indevidamente organizados, são fundamentais a um Estado de direito, ao Estado previdência, ao serviço público que, neste sentido, o privado nem dado quereria?
sou defensor do papel do Estado e conheço alguns dos seus meandros; considero a acção pública como fundamental na correcção de desequilíbrios e da equidade social; é por isto que defendo, há muito, que a administração pública funciona mal por causa das chefias intermédias, geralmente perpétuaveis nos cargos, independentemente das políticas, sempre defensoras de um função técnica, formadas em lógicas do antigamente, funcionais, hierárquicas, com linha de comando definida, cerceadoras das iniciativas individuais, das autonomias institucionais, sempre receosas da fuga do mando;
mais do que se reconhecer que a administração pública funciona mal seria procurar perceber porque é que funciona mal, onde, por que factores e em que circunstâncias;
este trabalho, pouco adianta ao senso comum, a não ser a progressiva desqualificação e desconsideração de um sector que é, apenas, o mais importante no contexto da economia nacional;

domingo, outubro 28

do acordo

para destacar que não podia estar em maior acordo com
JMA
destaco um ideia de Boltanski e Chiapello (em livro de 1999) ainda que sobre a realidade francesa, fácil de transcrever e adoptar no nosso país:
(...) o pôr em questão das formas até aqui dominantes do controlo hierárquico, bem como a concessão duma maior margem de liberdade são apresentadas (...) como uma resposta às exigências de autonomia oriundas de assalariados mais qualificados, que frequentaram mais tempo a escola e, particularmente, de jovens quadros que, formados num ambiente familiar e escolar mais permissivo, suportam com dificuldade a disciplina da empresa e o controlo apertado dos chefes e não só se revoltam contra o autoritarismo quando são submetidos a ele, como também lhes repugna exercê-lo sobre os seus subordinados
mais do que nunca, com possibilidade substancialmente diferentes daquelas a que até agora a escola e os professores se depararam, o futuro será aquilo que quisermos e dele fizermos (por construir e por merecer);
que há tentativas de contrariar essa oportunidade? sem dúvida, mas por claro receio de o poder central perder o protagonismo que sempre assumiu na liderança do sistema e que sente escorrer por entre os dedos da mão, qual areia de praia que queremos agarrar e que nos escapa; quanto maior a força, menor o número de grãos de areia que prendemos;
a autonomia passa por isso mesmo, pela assunção das responsabilidades e, muito especialmente, do querer de quantos constroem a escola no seu quotidiano - na diferença, na divergência, nos contrários;

da tradição


cá pela terra a tradição ainda ganha, em certas circunstâncias, laivos de se manter, de procurar a sua permanente afirmação;
as castanhas ainda se vendem em motas reelaboradas com assador, se embrulham em folhas da lista telefónica ou de revistas ultrapassadas;
os preços, esses, é que pouco têm a ver com a tradição ou, pelo contrário, se actualizam em face das solicitações;
ao ver esta imagem (captada por mim ontem de manhã na cidade) lembro-me de um livro de um autor eborense sobre figuras típicas da cidade de Évora, onde fazia parte determinante uma família com diferentes vertentes; ela vendia castanhas, sempre ali em frente do que foi o café Portugal, ele engraxador, as filhas viviam de coisas mais modernas e os filhos viraram videntes e outras coisas;
Évora, lentamente, perde as suas figuras mais típicas, mais marcantes de uma história rural e urbana, para ganhar outras figuras, menos marcantes, mas figuras que reconhecemos na praça;

sábado, outubro 27

da brincadeira


coisas do antigamente, que nos avivam e despertam memórias;
coisas de crianças de antigamente, hoje para turista ver, apreciar e, se entender, comprar;

do conhecer

e valeu bem a pena o momento de conversa;
afinal sempre conversamos;
as conversas fluiam, tropeçavam umas nas outras, descobriam-se ligações e cumplicidades,
valeu bem a pena ouvir falar de coisas óbivias e que, afinal, não são assim tão óbvias;

quinta-feira, outubro 25

do conhecer

hoje, assim espero, irei conhecer pessoalmente uma pessoa que conheço destes espaços da blogosfera, que demonstra um bom senso de saber e experiência feito;
estou curioso;

do contrário


não é pouco frequente as pessoas, em que situação ou contexto for, colocarem-se no lado dos problemas;
há situações e circunstâncias que se prestam mais a isso que outras, mas considero engraçado sentir a divisão entre quem assume o problema e quem assume a solução;
é uma situação muito nacional, muito tuga, reminiscência de passados recentes, que têm reflexo no presente;
e são poucas as circunstâncias em que há consciência desses contrários, das posições; habitualmente estamos sempre do lado certo, correctos, com a razão, com os argumentos;
mesmo que seja do contrário;

do parado


de quando em vez sabe bem parar, estacionar por um lado que não seja este;
evitam-se comentários mais emotivos, desabafos inoportunos ou inconvenientes;
é bom estacionar e parar;

terça-feira, outubro 23

da estruturação

das conversas, do pensar, dos diálogos;
nas coisas que envolvem os comportamentos, as situações de indisciplina (sejam elas o que forem) há sempre, entre diferentes dimensões, duas que se destacam na e para a sua análise e avaliação;
uma diz respeito aos modelos de comportamento que se encontram, ou podem encontrar, associadas à indisciplina; ou seja, uma determinada situação, um comportamento, um acontecimento que terá de ser considerado imprevisto, não perspectivado, traz um modelo contrário, de relação entre alunos e professores, um padrão de comportamento (como é que o aluno se deve comportar em sala de aula, como é que o professor se deve comportar nesse contexto); estes modelos e estes padrões estão de tal modo "naturalizados" na acção educativa que, muita das vezes, é impensável perspectivar outros modos, outros modelos, outros padrões; e, habitual e genericamente, eles remetem para um tempo em que o sistema educativo era para uns quantos, a selectividade "quase" que natural, as diversidades eram homogéneas e as autoridades impostas e assumidas; por muito que gostássemos, por muito que o queiramos, por muito aprazível que pudesse ser para a prática pedagógica hoje não é bem assim;
um segundo relaciona-se com aquilo que se poderá designar de "fontes de estruturação do quotidiano" (frase feliz e certeira de Machado Pais na "Sociologia do Quotidiano"); fontes que, muita das vezes, são as mediáticas, que impõem determinados conceitos e determinadas problemáticas; ontem, aquilo que sobressaiu em alguns dos comentários foi a implicação dos relacionamentos entre professores e alunos no contexto da avaliação de desempenho dos docentes;
entre os modelos "naturalizados" e as "fontes de estruturação do quotidiano" há que pensar e discutir, falar e analisar, criticamente, reflexivamente, esses quotidianos para que se possa ultrapassar essa naturalização e pensar outros modos de organizar a escola e a relação pedagógica;
estes são os desafios de uma outra estruturação dos nossos quotidianos;

dos comportamentos

tive oportunidade de assistir a uma reunião onde se abordavam os comportamentos; num grupo/turma rotulado de complicado, com casos complicados deu-se conta da análise e do diagnóstico da situação como se procuraram definir caminhos de, direi, remediação;
duas notas neste contexto;
a ausência quer dos alunos, quer dos encarregados de educação; apesar de o director de turma ter dado conta dos contactos efectuados e dos procedimentos adoptados que visaram, particularmente, os encarregados de educação, nenhum foi convidado a estar presente, nenhum foi ouvido na sua quota parte de responsabilidade na acção e nos comportamentos dos filhos; como os alunos, apesar de visados em todo o processo, apesar de reconhecedores, como foi dito, dos comportamentos e das atitudes, conscientes das suas implicações, a discussão ficou cingida aos professores; tal situação leva ao dilema das incapacidades, quando são os professores os únicos a definir os procedimentos, a criar os processos, os únicos actores de uma acção que envolve e implica diferentes partes, pode conduzir à situação de impasse, bloqueio, incapacidade; e não é incapacidade, é má estratégia;
segunda referência, o dito, os comentários, a análise foram sempre no sentido de envolver os alunos na resolução das estratégias, na implementação das medidas; poucos foram os comentários a ficar fora deste contexto, ainda que numa ou noutra situação se procurasse uma "clinização" dos comportamentos, isto é, remetê-los para a sua dimensão clínica, para os apoios educativos, para a despistagem de problemas psicossociais, o certo é que as medidas visavam, nos ditos, o envolvimento e o comprometimento; mas o que acabou decidido vai no sentido de estratégias intimidatórias, longe do envolvimento e comprometimento dos alunos; vai no sentido de se comunicarem situações em vez de se procurar um diálogo com as partes envolvidas;
ou muito me engano ou, no curto prazo a estratégia até poderá surtir alguns resultados, a intimidação é sempre curta, mas, no médio prazo a situação tenderá a repetir-se senão mesmo a agravar-se e os sentimentos de incapacidade, impotência, angústia e stresse a manifestarem-se;

segunda-feira, outubro 22

de manhã

de manhã relativamente cedo, 08h25, estava sentado na praça de Giraldo;
via quem passava, quem chegava, quem seguia; via o sol a descobrir de detrás dos prédios, ouvia os comentários ao fim-de-semana, sentia a pressa e o vagar de quem por ali se cruzava;
folheava o jornal, passava os olhos pelas notícias, descobria outros modos de se descobrir a cidade;

domingo, outubro 21

da continuidade

tenho que reconhecer alguma amargura, algum incómodo, se não o fizesse sentir-me-ia preso a uma consciência que não tenho;
dos elementos que não foram reconduzidos após a renovação do IPJ, apenas os alentejanos não têm qualquer elemento de continuidade; podia pensar que era apenas pela minha incompetência e incapacidade, mas o facto de sentir que acompanho os restantes alentejanos neste rol, faz-me pensar e querer, que o problema não será apenas meu, mas regional;
e não será assim, pois não?
é que considerar que o desconhecimento da coisa nacional é assumido pelos outros é uma coisa, considerar que somos todos tolos e ignorantes é outra, como outra é assumir que, seja pelo que for, as coisas funcionam assim mesmo, isto é a mais grave de todas;
onde é que nós estamos? onde nos querem meter?
em dia de alteração de contador, não tenho pachorra para aguentar, comer e calar; gosto do que faço, como gosto demasiadamente da minha terra e da minha região para simplesmente assistir ao comboio a passar;
não me calo agora, como não me calarei no futuro; por muito que isso me possa doer e prejudicar; mas não me calo...

da mudança

e pronto, lá mudei de escalão, lá mudei o conta kilómetros, lá se alterou a posição estática em que periodicamente nos encontramos;
entrei numa fase designada de 4x4, isto é, todo o terreno, venha o que vier, de onde vier e vá para onde for e como for, o certo é que tenho condições para me agarrar ao terreno e saber que resvalar pode significar tão somente o descarrilar;
isto é, o meu perfil mudou e com ele a idade, já são 44 e, por muito incrível que pareça, um estado de espírito que não se consome no quotidiano e no imediatismo desse instante, mas que procura ir para além da espuma dos dias;
a experiência vái-se acumulando, os dias passam por nós qual rolo de massa que nos comprime em experiência de saber feito, ou saber de experiência feito; por muitos balanços que possa fazer há uma conclusão, incontornável, inolvidável, é que já cá cantam todos estes outonos que esperam e trabalham para outras primaveras;
o resto... logo se verá...

da formação

política
ontem, pela bandas da federação de Évora, foi organizado um encontro denominado ao encontro da regionalização, com a presença de elementos responsáveis pela saúde e segurança social;
não estive presente, não faço comentários tendo e consideração que optei por aproveitar o tempo bom e ficar a charruar a terra que me consome;
mas fiquei a saber que no Algarve, a mesma temática, contou com Jaime Gama, António José Seguro, António Vitorino e outros nomes de águas profundas num curso com a temática em fundo; no Norte, contou com diferentes ministros e diferentes secretários de Estado;
felizmente que a distrital de Évora sabe valorizar a prata da casa e chamou os respectivos directores e responsáveis regionais;
a isto se chama valorização de quadros, o resto é conversa... ou formação

sábado, outubro 20

do..

de um e de outro;
apenas a referência à modança de estatuto que faz com que divague, troque ideias a partir do ruído ou da sua ausência;

do silêncio

de quando em vez temos de fazer silêncio para podermos ouvir o som que nos rodeia;
há silêncio quando não há ruído ou quando o ruído nos convém, caso dos passarinhos no campo, o escutar de uma sonata, o ouvir um cochichar doce;
provavelmente não haverá silêncio, quanto muito ausência de ruído;
isto também para destacar o que este espaço não tem sido ou, pelo contrário, naquilo que ele se tornou, entre entradas minhas e comentários anónimos, cresce a afirmação de um espaço de participação e de troca de ideias;
nem de todos, nem de todas as ideias; a blogosfera não é um espaço democrático, ou, se o é, é pela ausência de uns quantos, pelo silêncio de outros, pela conivência de outros tantos, pelo ranger de dentes de outros mais;
dizem-me que o silêncio se vira contra mim; saberão eles dos meus interesses, das minhas vontades? que assumo o meu estatuto de sempre, mas se é de sempre será que o perdi?
o silêncio é importante, gosto do silêncio, da ausência de ruído; sabem porquê? para poder ouvir o bater do meu coração, sentir que estou vivo, sentir as paixões e os sentimentos a apressarem ou a diminuírem as batidas;
por isso, comentar que me chove em cima ou que assumo o meu estatuto de sempre apenas faz com que me escute e sinta o silêncio, não, não é de solidão, é de sossego;

do ruído

em vésperas de mudança de escalão alguns apontamentos;
o primeiro sobre o ruído que nos rodeia; tal como noutras situações, o que para mim é ruído pode-lo-á não ser para outra pessoa, por exemplo, o som do heavy metal pode ser encarado como ruído, depende de gerações e de estados de espírito; Steve Reich criou uma sinfonia com sons da 5ª avenida de Nova York;
mas há ruído a mais na nossa sociedade, circunstância que nos limita e condiciona o ouvir outras coisas, não têm de ser nem melhores nem piores, apenas outras, apenas diferentes;
dentro deste ruído ontem um colega comentava que a situação local e regional da política partidária sempre assim foi, está como sempre esteve, estão os que sempre estiveram; o porquê de só agora existirem manifestações? o porquê de só agora ficarmos espantados? o porque de só agora haver todo este ruído? ele que sempre se insurgiu contra a coisas, que sempre foi apontado por falar (e escrever) estas coisas; não respondi, mas penso agora, até para o 25 de Abril de 1974 foram precisos 48 anos de repetição dos mesmos ruídos, dos mesmos sons, a presença dos mesmos para que uns se insurgissem após todo esse tempo;
estamos sempre a tempo de cortar com os ruídos incomodativos, de destacar outros ruídos, de criar alternativas sonoras; pode não acontecer nada, mas incomoda;

sexta-feira, outubro 19

da reunião

apesar de não assumir a minha escola como lócus de construção do meu projecto de investigação, não resisto a assistir, na primeira fila, a determinadas situações que se relacionam, de modo muito directo, com a problemática que trabalho e defino como objecto de estudo, a disciplina e os comportamentos educativos;
na próxima segunda-feira há um conselho de turma com um único ponto na ordem de trabalho, analisar os comportamentos da turma;
solicitei, pelo meu interesse, autorização ao director de turma para poder assistir, qual fantasma invísivel; estou interessado em ouvir as ideias que se tecem nessa análise, qual o papel que compete a uns e a outros, qual o nível de responsabilização atribuído e definido, quais os recursos inventariados para lhe fazer face, quais os instrumentos e a sua coerência para que se afirmem as conformidades (social e pedagógica);
correctamente o director de turma disse-me que ia colocar a situação ao conselho e que, em face da resposta, poderia, ou não, participar;
é uma oportunidade de perceber como se constroem instrumentos de regulação de comportamentos;

da crítica

a manifestação de ontem deverá trazer para a discussão pública (e política) dois elementos que me parecem remetidos para áreas secundárias ou minimizados na sua determinação;
um deles refere-se à capacidade de afirmar políticas, de construir futuros, de decidir pelas opções; apesar de ter algumas reservas a esta ideia de "flexigurança" (eventualmente por carência de um conhecimento mais fundo) há que entender que não deixa de ser um modelo social de afirmação de um espaço que desde sempre privilegiou a acção central do Estado na gestão da previdência e da providência; neste sentido, o que se discute é mais que Estado pretendemos ter no futuro, se social, mantendo a sua raiz e a sua tradição, se um Estado ausente, presente pela omissão, deixando espaço aos grupos privados e à gestão individual dessa mesma previdência; o modelo em que tem assente o Estado-Providência está manifestamente esgotado; as alternativas que se poderão colocar referem-se à assunção colectiva das responsabilidades, salvaguardando a acção fundamental do Estado social ou a privatização que muitos sectores defendem e perspectivam, quer em termos de retórica política, quer em face de modelos de acção;
segundo aspecto importante a realçar, refere-se à capacidade de ganhar eleições; certamente que o meu PS nacional não estará a pensar ganhar eleições a partir de Lisboa, qual controlo remoto, que defina a dinâmica de um zapping político; estou certo que a acção política central é condição necessária para se ganhar uma eleição (mas não suficiente, mas a acção local e regional das estruturas partidárias poderão determinar se há, ou não, uma maioria (estável, relativa, absoluta) e aqui sente-se algum "desligamento" entre estruturas e dinâmicas nacionais e lógicas de acção funcionalistas locais e regionais, umas distante das outras com possibilidades de interferência mútua;
como ficaremos, agora que os sorrisos e abraços da cimeira de Lisboa darão espaço e oportunidade à afirmação sindical na discussão do Orçamento para 2008? como serão definidas as ligações entre lógicas nacionais e estruturas regionais com a intenção de se ganharem eleições? se queremos e defendemos um Estado europeu qual a oportunidade e a pertinência para a afirmação dos espaços regionais? se defendemos uma liderança europeia e de afirmação global, qual o papel dos actores regionais na afirmação de interesses colectivos?
o tempo responderá...

quinta-feira, outubro 18

da imaginação


quem não me conhece imagine-me - despudorado, mau feitio, chato, muito frontal, um pouco (enfim, enfim) desbocado;
quem me conhece reveja-me o olhar e pense naquilo que terei ficado a pensar quando me dizem que a sede regional do Instituto Português da Juventude irá para Beja e que a do Desporto para Portalegre?
será assim mesmo? não quero acreditar; certamente que ainda há tempo para equacionar a coisa;
a ser verdade, certamente que alguns protagonistas regionais terão assegurado ou, pelo menos, procurado assegurar as necessárias contrapartidas políticas e partidárias;
é que na lógica das merceeirias, entre o deve e o haver, há sempre quem perca e quem ganhe e o resultado geralmente é a favor do merceeiro e não do cliente - pois é, falta saber quem faz o quê, quem é quem nesta fábula - onde encaixar o costas largas do Estado, os políticos locais/regionais (era bom, era), o Alentejo (clara e objectivamente perdedor, muito provavelmente o cliente da estória);
será que me faço entender?
espero bem que não... pois é imaginação pura, crua e um pouco mole...

da contradição

reconheço que já não vou tendo grande pachorra para aquelas conversas tipo pastilha elástica, mastiga, mastiga mas não engole nem deita fora;
nestes casos sentem-se a falta de argumentos, de ideias, de alguma inconsistência opinativa;
isto por que hoje, em conversa de sala de professores, alguém criticava a política educativa (e bem, pois claro), atirava paus e pedras à equipa (não sei se algum atingiu o alvo, espero que sim) e quando alguém pergunta então como fazemos? esse mesmo que rezava cobras e lagartos ao Polvo todo poderoso da 5 de Outubro, da 24 de Julho e de muitos outros sítios então não diz, e sem pinga de ironia, nem qualquer ameaça sarcástica, com atitude e pose professoral e sabedora, que teremos de aguardar a promulgação da legislação para saber como fazer;
ora bolas, se isto não é contradição, não sei o que seja;
o problema é que muitos caiem nesta contradição; critica-se, mas aguardam-se por ordens em vez de se definir um rumo, optar por sentidos, definir e construir uma individualidade;

da noite

na noite (quase) todos os gatos são pardos...
há muito que não ficava até mais tarde a trabalhar; aproveitei a espertina de medicamentos para teclar, passar para o papel ideias e argumentos;
a estas horas sente-se o sossego, o silêncio, consigo trabalhar mais e produzir melhor;
há que aproveitar;

quarta-feira, outubro 17

das coincidências

eu que acredito no Pai Natal e no coelhinho da Páscoa, tenho sérias dificuldades em acreditar ou entender as coincidências;
talvez não seja uma coincidência, mas no dia em que se assina o "contrato" que permite ao país receber qualquer coisas como 21 mil milhões de euros ao abrigo do novo QREN, surgem também notícias da incapacidade de, em determinados sectores, se executarem as verbas existentes;
como ficamos?
talvez seja a confirmação económica que nem para gastar dinheiro somos bons;

terça-feira, outubro 16

da educação do PSD

a partir do congresso do PSD e das suas linhas gerais (ainda haverá muito a particularizar) de orientação surge, de forma clara e de modo óbvio, aquilo que se pugnará para a educação;
e estarão muito proximamente dois modelos em discussão;
por um lado, o do actual governo, assente na escola pública (ainda que muito deixe a desejar no que se refere aos seus relacionamentos),numa escola a tempo inteiro, na adopção de práticas de autonomia que terão de ser negociadas entre a conquista dos professores e a imposição do Ministério; na assunção de um lugar privilegiado ao aluno (ainda que a educação não se lhe possa reduzir), na afirmação tecnológica e do desenvolvimento de competências;
por outro, o modelo do PSD, irá certamente recuperar a ideia da privatização de importantes sectores educativos, a méritocracia, os rankings escolares (outra forma de regular as práticas docentes), a recuperação da metáfora empresarial para a escola (um outro modo de acentuar a função contábil da escola) e, muito provavelmente, a afirmação de que menos ministério fará todo o sentido (mas definindo áreas de intervenção específica para o ministério);
no cruzamento destes dois modelos, por que de duas ideias sociais se tratam, seria importante equacionar outras perspectivas, outros modelos; não direi numa terceira via, mas reduzir a educação a um debate maniqueista corre o risco de empobrecer a discussão e se procurar despolitizar um sector que precisa avidamente de política, de discussão de ideias, de rumos, de grandes opções que ultrapassem circunstancialismo e situações mais ou menos imediatistas; a educação só se faz na longa ou na muito longa duração; querer resultados imediatos é esquecer esta importante dimensão educativa;

da escola a tempo inteiro

entre a minha entrada referente ao "cansaço" pessoal e o "escape" a que se sujeita a educação, de um modo geral, e a escola de modo muito particular, há um comentário de todo em todo pertinente e que remete para esta lógica (ou política) recentemente preconizada no nosso país (por este governo socialista) mas já com alguma tradição europeia (nomeadamente em Espanha, França, Alemanha, Brasil, entre outros) e que se refere à escola a tempo inteiro;
escola a tempo inteiro mais por questões sociais que pedagógicas, mais por questões familiares que escolares;
se é certo que o prolongamento das actividades escolares não contribui, de modo directo, pelo menos, para um sucesso escolar, o certo é que este mesmo prolongamento permite um outro descanso à família; neste sentido é fundamental, é essencial que a escola se organize de modo diferente, de modo a permitir não apenas a guarda social e familiar, mas a eficiência pedagógica e educativa inerente à sua missão e às suas funções; esta organização deverá passar, em meu entendimento, pela articulação com outros actores locais que, directa ou indirectamente, se relacionam com as questões da educação, mesmo na sua dimensão não formal; e há experiências nesse sentido que corroboram esta minha afirmação, seja, por exemplo, nas escolas de Paredes de Coura, seja no concelho de Borba onde esta "extensão" curricular é articulada com associações;
só assim, pela articulação, cooperação e colaboração a escola poderá fazer mais e melhor e não mais do mesmo e da mesma maneira, evitando-se a culpabilização da escola por coisas para as quais o seu contributo é mínimo;
obrigado pelo comentário;

dos comentários

apesar de, por vezes, muito pouco pertinentes, quando não mesmo insultuosos, nunca retirei um comentário deste meu espaço, nunca limitei ou condicionei as opiniões, que são livres e valem o que valem;
se algum comentário desapareceu terá sido feito pelo próprio e não pela minha pessoa, como se poderá constatar pela presença de outros, bem mais inoportunos;

domingo, outubro 14

do escape

a partir de um entrada da LN dei com um apontamento que tem tudo de útil e pertinente num período em que se atribuem à escola crescentes funções, como responsabilidades e culpabilizações;
dizer que os males da sociedade residem na escola e no sistema educativo é querer tapar o sol com a peneira e esquecer que quem define uma dinâmica educativa, mesmo em países liberais como sejam os EUA, Canadá ou Austrália, é o poder político, quer por orientações normativas, quer por práticas regulatórias do sistema;
não há que olvidar que a escola tem as suas responsabilidades (nomeadamente pelas práticas, pela organização, pelos princípios e pelos modelos que institui), mas não é a única entidade com culpas neste cartório de desculpabilizações ou de escapes para o que a sociedade acaba por ser e se transformar;
desde os anos 60 do século passado se trocam argumentos entre a ideia de a escola reflectir a sociedade (qual microcosmos social e educativo), como o contexto social determinar a escola (particularmente pelos guettos, pelos bairros sociais, pelos contexto sócio-económicos);
estou certo que ambos terão a sua cota parte de razão, competindo à escola criar as condições para a definição de um equilíbrio precário e muito, muito instável, de reprodução social como de transformação social;
a revista Proteste, da DECO, traz no corrente mês um daqueles apontamentos óbvios, mas insuficientes para poder alertar a opinião pública e os decisores políticos quanto às condições em que se trabalha e se aprende nas nossas escolas;
óbvio para todos aqueles que trabalham e vivem na escola; as condições arquitectónicas e climatéricas de muitas das nossas escolas deixam muito, mesmo muito a desejar; a climatização simplesmente é, no mínimo, rudimentar, quando não mesmo inexistente;
não serão poucos aqueles que passaram por salas de aula que abrasam no Verão e congelam no Inverno; em salas onde se vê a respiração e onde se tolhe a imaginação no final (ou simplesmente a meio) de um dia de aulas, com suores, respirações, transpirações, calores e coisa que tal;
insuficiente pois há que reconhecer que seria impossível recomeçar tudo de novo, dotar das melhores condições os espaços de trabalho educativo; mas é recomendável que, no contexto das reestruturações ou das novas construções, sejam acauteladas as características regionais em face da construção da escola, como seria positivo que os conselhos executivos se começassem a preocupar com estas situações que, apesar de administrativas, em muito contribuem para o sucesso pedagógico;

sábado, outubro 13

do cansaço


há um cansaço, pessoal, que só sinto quando estou na escola;
já estive cansado, muito cansado, desgastado mas não como me começo a sentir;
hoje fui por duas vezes ao frigorifico sem saber o que ia fazer;
é este cansaço a que me refiro, daquele que consome, aos poucos os poucos neurónios que tenho;

sexta-feira, outubro 12

da Comenda

ora vamos lá dar azo e oportunidades ao meu mau feitio;
não tenho escrito nada sobre o tema da escola da Comenda essencialmente por duas razões;
considero que não sou defensor de nada nem de ninguém, menos ainda de quem considero que se sabe defender; como têm sido ditas tantas coisas, algumas das quais claras enormidades, que dizer e escrever mais é chover no molhado;
mas, mesmo que assim o considere, tenho de dizer que o meu receio, neste momento, vai no sentido de a emenda ser pior que o soneto;
concordo com a posição adoptada pela câmara municipal, de deslocar os alunos, devidamente enquadrados num dado projecto e acompanhados por quem sabe do trânsito, da cidade e da relação afectiva com as crianças;
e atenção esta situação acontece em Évora, como acontece em Montemor-o-Novo, Vendas Novas, Lisboa ou Sintra, entre muitas outras localidades onde os estabelecimentos do 1º ciclo não reúnem as condições para o fornecimento de refeições a crianças;
o que estranho em toda esta discussão, é a ausência dos protagonistas, liderados por uma dita oposição obscurecida e enroscada no anonimato, num toca e foge, no desgaste jornalístico como se fosse caso ou situação única, numa ausência do PS local na defesa de um programa de requalificação do parque escolar e da afirmação de um projecto educativo de matriz socialista;
o que estranho nesta discussão é o assumido desgaste de uma situação como se nada mais existisse para discutir ou comentar ao nível autárquico; o que estranho na situação é a incapacidade de trazer para boca de cena outras situações, seja por parte da vereação socialista, seja pelos vereadores da oposição, tão distantes e quedos face à discussão;
concordo com a posição da Câmara Municipal, como concordo com a assunção de um projecto educativo que permita antecipar estas (e outras) situações antes do início de um qualquer ano lectivo;

da avaliação

a avaliação profissional, de uma qualquer profissão, deverá ter, em meu entender, dois grandes objectivos;
por um lado, identificar situações, circunstâncias que favorecem ou dificultam o desempenho profissional, a assunção das responsabilidades, o assumir das atitudes que se relacionam com uma dada profissão; neste campo podem-se incluir objectivos (tanto qualitativos como quantitativos), as estratégias e as metodologias adoptadas, a organização funcional, entre outros;
por outro, permitir pensar, racionalizar práticas, modos e atitudes associadas a essa prática profissional; por vezes fazemos coisas sem saber que as fazemos, por vezes mesmo sem perceber como é que as adoptámos, as implementamos;
o cruzamento entre um e outro dos objectivos permite relacionar conhecimentos, saberes feitos e produzidos, tanto pelo próprio, como por outros (parceiros ou terceiros) com práticas numa mistura entre teoria e prática que permita a correcção de situações, o reforço de posições ou o colmatar de lacunas identificadas entre essa prática e a teoria;
ora o que o nosso Ministério da Educação propõe vai ao arrepio dessa concepção, limitando-se a insistir na funcionalização da profissão docente, no cumprimento administrativo de procedimentos, a elencar situações quantitativas que pouco contribuem para um desempenho profissional;
corre-se o sério risco de a avaliação de desempenho docente não agradar a ninguém nem a nada, a se alterar assim que a equipa ministerial se mudar, a ser um rosário de comentários que ninguém leva em consideração, a ser inócuo do ponto de vista profissional e de qualificação da escola como uma organização aprendente;
esta proposta, na sequência das anteriores, é mais do mesmo e da pior maneira de pensar o trabalho do professor;
e é pena...

quinta-feira, outubro 11

do parado

tenho de reconhecer e assumir que tenho tido a minha tese em banho maria;
não sei se há espera de ideias, se apenas a descansar sobre alguns dos assuntos que me preocupam;
no meio das conversas tenho tido a oportunidade de ler o Terrear e daí reforçada a minha opção de assumir a disciplina e não a indisciplina na escola como elemento central do processo de investigação;
isto porque toda a concepção das regras, das normas e da definição das condutas pressupõe um determinado modelo de organização da escola e da sociedade, de qual o papel que compete a cada um, das relações que se podem estabelecer;
as situações de indisciplina, muito mais contextuais e individuais (ainda que sempre relacionais e decorrentes de uma interacção) olham um momento, uma situação, um acontecimento;
prefiro ir além disso e procurar perspectivar como se integra a alteração de comportamentos, de públicos e de situações no quotidiano educativo e escolar e isso se reflecte quer na disciplina da escola quer no quadro de regulação do professor face à conformidade social e pedagógica;
agora falar disto não é fácil;porque é um tema premente e urgente, quente e pertinente onde se procuram soluções tipo pronto-a-vestir, que não existem, medidas práticas e individuais, onde são todas circunstanciais, onde todos temos uma ideia, uma opinião sobre as situações e, acima de tudo, uma responsabilidade a atribuir (aos pais que não educam, à sociedade permissiva, ao aluno irrequieto, ao Estado desqualificador, ao governo incumpridor, desautorizador);
mas tenho de deixar de estar parado e procurar avançar, para algum lado...

da antena


ontem voltei às amenas cavaqueiras de um final de tarde, numa das rádios cá da terra com mais dois companheiros;
depois de uma pausa de quase dois meses, reconheço o gostinho do regresso às conversas e à troca de ideias;
no meio da conversa, saiu-me uma frase:
"falta política onde sobra partido", política no sentido da discussão de ideias, na troca de argumentos sobre as opções (de vida, sociais, entre outras), partido na clara assunção do protagonismo excessivo de pretensos actores, que apenas procuram ser mais papistas que o papa;

quarta-feira, outubro 10

escola e quartel

não é a primeira vez que o escrevo (mas não me apetece ir atrás à procura desses escritos), mas ontem, enquanto olhava pela janela da sala de aula voltou-me à ideia a associação da escola com o quartel;
a escola (a minha escola, pelo menos) padece ainda de vícios que a enformam de democraticidade;
há uma porta de armas, onde se inicia a selecção de patentes e se faz a triagem dos visitantes; há uma parada onde deambulam adolescentes irrequietos, uma sala de oficiais, uma de sargentos e outra de praças, ainda que haja, pontual e circunstancialmente, algumas misturas, onde as conversas são típicas e, direi, naturais dos postos e das funções de cada um;
esta lógica implementa um conjunto de relações (de poder, de saber, de autoridade, de afectos) que se transpõe para a sociedade em geral, relações hierarquizadas, formalizadas, institucionais;
há dias tive oportunidade de ver outras concepções de escola, numa revista americana sobre arquitectura escolar, onde os espaços agora se apresentam mais fluídos, mais reticulares, mais próximos, mais comunicativos entre si e a provocarem uma maior proximidade das pessoas, um maior contacto informal, muito próximo do que designei como um centro comercial, onde as salas de aula bem que podiam ser as lojas, onde os espaços, ainda que definidos e delimitados, se interligam e articulam com uma outra fluidez;
passados mais de trinta anos sobre a implementação da democracia, a escola permanece, na sua estrutura e funcionalidade, muito pouco democrática - ainda que se apele à participação e ao debate, os elementos simbólicos permanecem (quase) todos lá;
mas há excepções, já se notam alterações;
também já não era sem tempo;

memória


ontem, quase por mero acaso, num zapping televisivo, dei com um dos episódios de uma das séries que mais me marcou, Hill Street blues, na RTP Memória;
foi uma série da qual, durante todo o tempo que esteve em cena, apenas terei perdido dois ou três dos seus episódios;
fiquei contente pelo facto de o tempo não ter passado por cima daquele conjunto de polícias e daquela esquadra; os temas permanecem actuais, pertinentes, acutilantes; a técnica de filmagem, inovadora para a época, não perdeu o seu comprometimento com o espectador, as relações ali desenvolvidas permanecem hoje como ontem plenas de emoção e envolvimento, a música tornou-se um hit parade;
foi memória...

terça-feira, outubro 9

Nobel

começou ontem, pela medicina como tradicional, a apresentação do prémio Nobel deste ano;
as categorias são várias, todas ilustres, a criarem laços de popularidade e de (maior) credibilidade aos seus ganhadores - Saramago que o diga;
este ano fui levado a questionar-me e porque é que não há um prémio Nobel da Educação? porque é que não há um prémio, reconhecido e valorizado, que destaque o trabalho, a investigação, o estudo, a compreensão do que é a Educação?
tenho conhecimento de pequenos prémios, mais de reconforto do que de reconhecimento, mais de incentivo do que de divulgação, mesmo no nosso país;
será que não faz falta um prémio da Educação?

coisas

ele há coisas neste meu país incrustado à beira mar que são difíceis de percepcionar, de entender, de perceber; talvez o defeito seja meu e pronto;
se compreendo, numa primeira fase da governação, a necessidade de se ultrapassar o ónus do diálogo a que os governos de António Guterres ficaram agarrados, já numa segunda fase, esta em que se entra em contagem decrescente para as eleições, torna-se-me difícil de entender, de perceber algumas atitudes de arrogância, de pequenas prepotências, de devaneios travestidos de democráticos;
será que há gente que confunde, no meu PS, maioria absoluta com poder absoluto? por onde pára a capacidade argumentativa, o despudor de enfrentar a crítica com outras críticas, com outras ideias, com outros argumentos? por onde param os fazedores de opinião que criem alternativas de ideias e de argumentos aos comentários que se fazem à acção política e governativa? será que, como eu, estão espantados, incrédulos, ignorantes? silenciados?
se são entendíveis, até certo ponto, um conjunto de medidas designadas de reforma, não deveriam ser também compreensíveis a presença e a argumentação de políticos e actores governativos na sua afirmação, na sua defesa, na sua negociação?
ou será que já há uns quantos a pensarem que isto são favas contadas e pouco basta fazer (por desconsideração do povinho)?
ele há coisas...

segunda-feira, outubro 8

conversas

há muito que defendo que as escolas são, em muitos dos concelhos nacionais, um autêntico alfobre de quadros e de massa cinzenta; paralelamente aos centros de saúde deverão existir poucas, muito poucas instituições por esses concelhos fora que tenham tantos quadros por metro quadrado como as escolas;
mas sempre muito mal aproveitados, sempre muito virados para a sua simples e mais directa função, como a de leccionar, como a de ocupar as criancinhas;
se é certo que santos da casa nunca fizeram milagres (gostamos muito que outros, de fora, venham dizer aquilo que um ou outro na nossa casa diz há muito) é também certo que as qualificações dos docentes se tem acentuado significativamente nos últimos anos;
vai daí e surgiu a ideia de se trocarem ideias, conversas sobre as coisas mais variadas, utilizando a prata da casa; vamos ver como corre;
mas, na minha escola, há mestres em ciências, em administração educacional/escolar, em didácticas, em tecnologias educativas e nada melhor do que trocar ideias, racionalizar práticas, trocar experiências, partilhar ansiedades e angústias sobre a nossa profissão;
é um desafio que vamos experimentar, conversas em redor da escola, com a prata da casa; não será, certamente, para muitos, mas faço votos que bons;

prova

no meio dos meus afazeres profissionais, entre o horário zero e as solicitações pelas quais acabo de ser alvo, sou a prova provada (sic) que as escolas precisam de gente docente sem horário, para apoios noutras coisas e acções;
apesar de entrar em horário zero, isto é, sem componente lectivo, acabo, bem vistas as coisas, por ter uma carga horária muito superior a um docente do meu escalão e da minha categoria;
neste momento e de modo directo, dou apoio ao primeiro ciclo (uma experiência que, para já, está a ser altamente gratificante), cumpro horário e funções na biblioteca onde elaboro (em colaboração, é certo) a newsletter da dita, coordeno projectos de 2º e 3º ciclos, dinamizo o jornal escolar, colaboro com o gabinete dos apoios educativos e ainda respondo a solicitações pontuais do conselho executivo (seja em regime de substituição, seja em regime de apoio ou colaboração);
decorre daqui que as escolas estão preparadas para as aulas, mas de momento, as suas solicitações vão muito para além disso e não estão preparadas para o efeito;
caso não se olhasse apenas e simplesmente àquela educação contábil, onde o que conta são os números, seria perfeitamente possível as escolas organizarem-se para dar uma outra resposta às solicitações e exigências, quer da comunidade, quer das próprias políticas educativas - de sucesso, de organização, de estrutura e apoio, de complementos educativos, entre muitas outras;
afinal, acabo por ser a prova que as escolas têm condições, se as deixarem, para se organizarem de um outro modo;

da ilusão

no âmbito do meu projecto de investigação, tenho entrevistado professores sobre as suas considerações relativamente às alterações do sistema educativo;
tenho procurado aqueles docentes que, por uma ou outra razão, há mais tempo estão na escola; e tenho tido a felicidade de referenciar elementos que ali estão desde os anos 70;
nas suas considerações sobre as modificações do sistema, há uma ideia que atravessa, de modo mais ou menos expresso, os diferentes docentes, a de desilusão; logo após o 25 de Abril de 1974 todos pensavam mudar o mundo, o sistema, trabalhar com e para a comunidade, formar outro tipo de cidadão, outras mentalidades, outras lógicas;
passado o tempo o que encontro situa-se entre a conformidade (funcional) e a resignação do fim das ilusões;
e isto é grave, pois a profissão de professor não vive sem ilusões;

domingo, outubro 7

e exprimo-me

desafiam-me para comentar a transferência de um serviço para Beja;
nada mais triste quando a análise social e institucional é feita em contabilidade de mercearia, de um deve e de um haver, de uma perda e de ganhos;
lá ficam uns todos contentes por que retiraram algum do protagonismos aos de sempre; lá ficam os de sempre, entalados entre uns e outros; lá ficam outros a contabilizar o que perderam;
esta é uma das razões pelas quais afirmo que o Alentejo está sem rei nem roque; há serviços para todos, há espaços para todos; saibam os actores regionais entenderem-se (coisa que não tem sido possível nem fácil) e o Alentejo ganharia mais do que simples contas de aritmética entre quem perde e quem ganha;
olhe-se o centro, olhe-se o Norte, para percebermos como tem sido feita a gestão da coisa pública para perceber que quem manda é quem lá está, que as imposições não se toleram, negoceiam-se, que entre 6/7 distritos (caso da zona centro) quem tem perdido, nesta legislatura, tem sido o Alentejo;

sexta-feira, outubro 5

do professor

hoje é dia do professor;
as cerimónias da República tiveram a particularidade de associar duas comemorações que, cada qual a seu modo e a seu tempo, marcam gerações, provocam revoluções, conduzem a alterações;
a República mudou o país para que o país pudesse continuar (quase) na mesma; a educação, a acção dos professores forma gentes e mudam ideias, constróem pessoas e definem rumos de um país para que, progressiva e muito lentamente tudo mude, tudo se transfigure;
a escola e consequentemente os professores, sofrem dos males do crescimento, da massificação, da democratização; todos julgam e consideram oportuno um qualquer juízo de valor, uma qualquer opinião, um qualquer comentário sobre esta acção, sobre esta profissão; ou por que se simpatiza com o professor, ou por que a sua acção foi assim ou cozido, há sempre uma qualquer razão; além do mais (quase) todos por lá passámos e nos julgamos e consideramos conhecedores do mundo, da coisa educativa;
é uma profissão que se assume em diferentes vertentes, desde as de vocação (qual carreira eclesiástica), às mais instrumentais (é para ensinar a aprender a ler, escrever e contar), ou mais tecnocráticas (preparar para o mundo do trabalho) há de tudo um pouco;
mas o maior encanto desta profissão é ver, é sentir as pessoas a crescerem, a afirmarem-se na sua autonomia, na defesa das suas ideias e do seu pensamento;
por que é um confronto diário, sempre inesperado e surpreendente, quem gosta gosta mesmo daquilo que faz, das correrias nos corredores, dos gritos dos jovens, dos argumentos impertinentes, da troca de ideias afirmativas de todas as certezas, da permanente negociação, do permanente confronto;
por um lado, é pena a coincidência do dia do professor com a República, permitira um outro destaque a uma profissão tão vilipendiada; por outro, é uma sorte esta associação, por que de revoluções se trata;

quinta-feira, outubro 4

sangria

um outro comentário que apreciei, volto a repetir, ainda que não tenham sido essas as intenções, refere-se à região e à sua história política e social;
se há coisas onde posso dizer que conheço, ainda que minimamente (ao contrário do comentário), é a história política e social desta minha região;
a minha (de)formação inicial (em História) deixa um lastro significativo da qual não posso nem me quero separar, vai daí as leituras, o conhecimento, a informação e a curiosidade têm determinado muito daquilo que digo e escrevo sobre esta minha região;
ao contrário do comentário, re-afirmo que a história tem sérias implicações no devir político e social da região;
sempre fomos muito subservientes; de tal modo que, para evitar o seu sentimento negativo, isto é, de lutarmos e nos insurgirmos contra a situação, simplesmente saímos daqui; ou por opção, à procura de melhores condições de vida ou por imposição, política e social - é certo que esta predominou em determinado período da nossa história, entre os anos 50 e 70 do século passado;
a questão que hoje se nos coloca não é essa, antes pelo contrário; é a capacidade de atrairmos quem de cá saiu; e esta passa por uma ideia de qual o papel da região no contexto nacional;
se é certo que pelo predomínio que o PCP tem tido tem sido um obstáculo a uma afirmação social e política regional, também é certo que a ausência de ideias dos lideres socialistas regionais (Beja, Évora e Portalegre) tem sido um outro impedimento à afirmação regional; o degladiar de reivindicações, a luta fréticida de pelouros, a negociação sempre periclitante dos pequenos poderes têm determinado um claro e assumido desequilibrio entre os três distritos;
o facto de cada um deles ter à frente, partidariamente, elementos carentes de uma formação cívica e social que permita ultrapassar os pequenos ditames circunstanciais tem ditado o resto;
o Alentejo é hoje uma região sem rei nem roque, sem orientação e sem ideias, sem papel nem protagonismo, sem actores próprios nem vontade própria;
e isto é, no meu entender, o mais grave que se coloca a esta região;
não apenas pelos equilíbrios que o PCP procura estabelecer em função dos seus interesses, mas do próprio PS (na qual me reconheço) enleado em interesses mais pessoais e fulanizados que regionais e colectivos;
o PSD pouco tem contado e, pelo que nos é dado ver, pouco contará nesta afirmação;
o que nos resta? quem sobra desta sangria imposta e forçada? que papel queremos nós Alentejanos assumir? queremos ser, como sempre, mandados ou queremos mandar no nosso devir?
há elementos, pessoas, actores e protagonistas que se esquecem desta mensagem ou que, simplesmente, estão demasiadamente embrenhados na coisa política e se esquecem dos pequenos (mas determinantes) pormenores;

a construção do aluno

começo pela construção do aluno;
o comentário deixado é de todo em todo pertinente, ainda que possa não ter sido essa a intenção nem o objectivo;
ao tratar a questão da disciplina e não a da indisciplina na escola, vou exactamente à procura dessa dimensão da construção não apenas do aluno mas do próprio cidadão;
se é certo que o Estado Novo procurou e inculcou uma determinada ideia de aluno e de cidadão, a democracia não lhe ficou isenta e tem procurado, de acordo com os seus objectivos e as finalidades que se lhe encontram inerentes, definir um dada ideia de cidadão; os discursos em redor da autonomia das escolas, do sucesso educativo ou simplesmente do papel da escola a tempo inteiro ou do tal plano tecnológico, são disso exemplo e consideram a escola enquanto elemento instrumental ou funcional na acção discursiva - e política;
a questão que se coloca é a de que a uma ideia de escola corresponde, inevitável e incontornavelmente, uma ideia de sociedade e, por seu intermédio, uma ideia de qual a posição, a atitude e os valores que o aluno, enquanto futuro cidadão, deve veicular, para o qual deve estar preparado;
o Estado Novo teve a particularidade de preparar o cidadão como se não precisasse da norma, levando à própria construção interna da norma, enquanto preceito individual, natural e não enquanto imposição; é por isso que muitas dessas normas ainda hoje vigoram, quase que subliminarmente - naturais, normais;
ora a ideia que procuro tratar passa exactamente pela ideia de cidadão que a escola, por intermédio de uma dada ideia de disciplina escolar, tem veiculado enquanto imagem do cidadão, da pessoa, da democracia; nesta construção cruzam-se saberes (sociais, políticos, educativos, médicos, entres outros) que acabam por ter sérias implicações nos currícula, nos instrumentos de regulação dos comportamentos individuais;
é esta construção do aluno, enquanto futuro cidadão, que, apesar de poder soar muito a Estado Novo (e aqui o comentário tem toda a pertinência) faz sentido perceber como tem influenciado as políticas educativas e definido o papel da escola e da acção docente neste contexto;
obrigado pelo comentário;

comentários

há dois comentários deixados em ideias atrás que, apesar de visarem outros objectivos, considero de todo em todo pertinentes na ideia que deixam e, essencialmente, naquilo que lhes fica implicito;
apesar de não comentar comentários anónimos, não resisto a aprofundar a ideia, ou as ideias, que são trocadas;
sempre é uma forma de enriquecer a minha pobre, triste e errática escrita;

quarta-feira, outubro 3

do acessório

das reuniões que tenho tido na escola, e têm sido muitas, destaco a perda de tempo que se efectua a falar daquilo que considero como acessório;
em reuniões com três ou quatro pontos de ordem de trabalho, onde o primeiro é informações e o último outros assuntos, gastam-se horas; no meio, naquilo que seria efectivamente o cerne da questão o core da reunião, passa-se de fugida;
as conversas cruzam-se em enredos de desvios de atenção, de inércias de indiferença perante o que se discute;
é uma diferença que sinto, daquilo que designo como economia de uma reunião, tentar perceber quanto tempo se despende com cada um dos assuntos; um conselho pedagógico que passa três horas a trocar ideias administrativas e meia hora a trata de assuntos marcadamente pedagógicos; uma reunião de departamento, que passa duas horas a tratar da correspondência que chegou e pouco menos de 15 minutos a falar de articulação curricular ou de modelos de avaliação;
os trejeitos de quem conduz as reuniões enformam da função que exercem, são muito professorais, exemplificativos, procuram descrever, por vezes minuciosamente, determinados pontos para os quais (pretensão minha) seriam suficientes duas ou três palavras (para bom entendedor...);
as imposições normativas e regulamentares que são impostas às escolas e ao trabalho docente carecem ainda que tempo e de outros modus de organização para que se possa rentabilizar o trabalho dos professores, que a maioria designa como administrativo por que pretensamente se desvia da sala de aula;
são coisas do acessório...

balanço

ao fim de uma semana e de ter percorrido todas as turmas de 4º ano no trabalho que com elas desenvolvo será ainda prematuro definir um balanço, mas há ideias que se destacam;
os primeiros momentos foram péssimos; o meu hábito, o ritmo e a dinâmica de grupos estava muito (ou totalmente) orientado para a relação com alunos de 3º ciclo, o confronto com alunos de 1º ciclo implicou a necessidade de repensar a minha própria dinâmica de grupos, redefinir estratégias e metodologias;
é uma descoberta, esta a que faço com turmas de 1º ciclo;
passado o primeiro impacto, corrigidas as orientações e as coisas até não têm corrido mal; gratificante do ponto de vista dos afectos, mais dependentes do que a pretensa frieza que os mais velhos procuram incutir, mediante uma pretensa relação mais distante, mais formal;
mas há ritmos manifestamente diferentes entre ciclos; e estou a aprender bastante [incluindo a escrever];

périplos


procuro-me concentrar, focalizar na escrita que tenho de desenvolver, mas, de quando em vez, efectuo desvios, dou por mim a cirandar de um lado para o outro;
ele é mais um artigo, um apontamento, uma referência, ele são tantas as coisas que me desviam que está difícil dar o pontapé de saída para a escrita obrigatória; talvez também por carência de mais leituras, do reforço das ideias;
hoje, a partir do Terrear, foi mais um apontamento sobre (in)disciplina (abre em pdf); interessante, mas não inédito, na utilização da teoria de B. Bernstein; reforça-se a ideia que a normalidade não é comum a todos, o que é normal para uns num momento, pode não o ser num outro momento, nem para outros no mesmo momento; as situações de indisciplina variam em função de circunstâncias, contextos, momentos, sensações, relações, entre muita outra coisa; a própria definição apontada é ainda muito funcionalista, isto é, aponta para as funções definidas por uma relação;
vai daí e a minha proposta é a de estudar a disciplina na escola, mais difícil de definir e de delimitar, mas mais interessante sob o ponto de vista da construção do aluno e da pessoa e das relações estabelecidas em contexto educativo;

segunda-feira, outubro 1

professores e desemprego

numa altura em que às escolas é solicitada a ocupação dos tempos livres dos alunos, em que aos professores crescem as solicitações e as exigências (de acompanhamento, de apoio, de organização, de extensão de funções) é caricato darmos com estas notícias;
as escolas continuam organizadas (por força das orientações de política educativa e por inércia docente) como há trinta ou mais anos; as escolas são espaços de aula e pouco mais;
quando se exige e determina que o aluno não seja retido, que os professores planifiquem, organizem, estruturem apoios e acções, quando se apela a uma maior relação escola-meio porque não criar condições para que outros quadros (mesmo que docentes) possam apoiar a escola? servir de elementos de ligação turma-família-meio? estruturar acções extra-curriculares? definir outros campos de acção educativa? o cruzamento entre educação formal e educação não formal? estruturar os apoios educativos, sociais e curriculares?
apelar a que sejam sempre os mesmos a fazer mais é não apenas não perceber o que é ser professor, como é ter uma ideia escassa, curta e restrita da escola e da educação;
a "educação contábil" tem de ir não apenas à eficácia da acção escolar mas à organização do sistema, conferindo às escolas a possibilidade de uma outra organização;
se assim fosse, provavelmente o sistema custaria mais ao erário público, mas os proveitos seriam substancialmente maiores e existiram menos professores desempregados;
são opções de política educativa; são opções nacionais;