quinta-feira, março 31

do esquecimento

Em Setembro do ano passado, já passaram qualquer coisa como 9 meses, tempo suficiente para que uma criancinha possa nascer, remeti um pedido à minha querida direcção regional de Educação.
Até hoje nada. Desde o passado mês de Fevereiro que passo pelos serviços onde pretensamente estará, ou deveria estar o meu pedido, ou a sua resposta, com alguma regularidade e nada. Os colegas, pois são docentes as pessoas que processam a papelada, mostram alguma consternação, mas nada de prático é feito, é conseguido.
9 (nove) meses para um simples parecer, uma resposta tipo, padronizada, certamente dada a milhares de outros. Pergunto onde poderá estar encalhado e não me sabem responder. workflow, o que é isso?, que bicho é esse?.
E quero continuar a acreditar que é apenas incompetência dos seus responsáveis e não má fé.
Perante um diálogo sobre organização dos serviços da administração pública uma pergunta terá pertinência: culpa do sistema ou das pessoas?

das inquietações

A partir do sítio de um amigo uma nova referência, inquitações pedagógicas.
Já disponível ao lado.

quarta-feira, março 30

das actualizações

apesar de ausente nem sempre estive distante deste meu cantinho. Neste espaço de tempo deu para actualizar os links laterais, com novas entradas, novos colegas, novas companhias. Na sua generalidade são sítios por onde frequentemente passo, mas que por uma ou outra razão ainda aqui não estavam. Passam a estar, nomeadamente:
o Acontecências
Blogs em pt quase tudo o que é blogue em português
Conversamos?!
Crackdown
Entre mim e a cidade
Escolaridades e outros
Instituto Paulo Freire não é um blogue mas é uma das minhas principais referências educacionais
Apesar de aqui não estar considerado faço referência para um pedido de divulgação, que aqui deixo, mas que não coloco aqui ao lado, oriundo de António Gouveia é o Alvaláxia, é preciso explicar o porquê?

um desafio

uma das propostas, entre o radical e o apelativo, vem do Ademar mediante aquilo que designa como um nó gordio do nosso sistema de ensino, a monodocência do 1º ciclo.
Apenas de carácter opinativo, pois faltam-me elementos para poder fundamentar e estruturar uma outra argumentação, tenho de reconhecer três situações:
1. correm-se riscos, efectivos, objectivos, em face da monodocência, de calhar às crianças um qualquer atentado pessoal e profissional pela frente, onde pais e estruturas educativas pouco ou nada possam fazer. É um facto e não pouco frequente;
2. Apesar de formalmente existir uma pluridocência ao nível dos restantes ciclos de ensino ela é apenas administrativa, uma vez que dentro da sala de aula continua a reinar a discricionaridade do professor, umas vezes honesta e assente na gestão do bom senso, outras nem tanto; das duas três, podem correr os mesmos riscos que ao nível do 1º ciclo, podem-se correr mais riscos pela multiplicação de situações ou podem-se contrabalançar, equilibrar situações boas e menos boas pela diversidade de pessoas com quem o aluno se encontra; por último
3. em minha opinião, o que a escola pública portuguesa necessita mesmo é de uma reconfiguração organizacional, que permita uma construção local de tempos e funções, objectivos e recursos, permita a diversificação de metodologias e estratégias, a complementaridade e a colaboração entre docentes, a cooperação e a entreajuda entre docentes e outros actores educativos.
Tema que daria pano para mangas.

à liça

Pois é, não consigo estar mais tempo fora daqui, deste espaço, deste cantinho onde despejo ideias, onde verto opiniões e onde posso ser um pouco mais aquilo que sou, algo entre o idiota e o opinativo.
Não estou com baterias totalmente recarregadas, uma vez que o trabalho tem sido mais que muito, mas diferente do habitual da escola e do pensar esta minha (nossa) profissão. Mas consegui, à pouquinho, despachar os objectivos que me orientavam e que fizeram com que estivesse afastado.
E há muitos desafios.

domingo, março 20

Pausa

Para evitar dislates daqueles que, cedo ou tarde, nos podemos arrepender, uma pausa pedagógica, para recarregar baterias, descansar os ânimos, recuperar vontades e, entretanto, aproveitar para mudar trastes, bugigangas e estórias cá de casa.
Eu volto um dia destes.
Boa pausa. Descansem da minha pessoa, da minha escrita, das opiniões e ideias que por aqui vou deixando que eu sei e reconheço que só vos fará bem.

do procedimento

Senti-me no início destas reuniões de avaliação como há muito não me sentia. Entre o irritado com os meus colegas docentes e o triste com a minha pessoa.
Irritado por que sinto os professores a desmarcarem-se de qualquer situação que aparente, cheire a possível problema ou a eventual problemática.
Irritado por insistir e persistir em afirmações em que apenas a minha pessoa acentua a desconsideração e a certeza nos outros que sou, real e efectivamente, idiota.
A preocupação número um, essencial e determinante das reuniões de avaliação é, na vez e na voz de alguns dos meus estimados colegas, em despachar o procedimento administrativo, que tenho mais que fazer.
Discutir o desinteresse de um aluno? a falta de motivação? são coisas com as quais nada temos a ver.
Será? Será mesmo verdade que o docente nada tem a ver com o interesse ou a desmotivação do aluno? Até quando?.

do jornal

Está em referência no seio de um comentário a uma das minhas postas. Passei por lá e gostei de tal maneira que faço o destaque em primeira página.
Passem pelo sítio D' as nossas vozes, e perceberão a que me refiro.
Ainda por cima passei o fim-de-semana a semear batata.

sexta-feira, março 18

do programa do governo

Destaco, a partir do programa do governo, uma ideia que considero importante, pertinente e determinante na construção da escola e da educação enquanto motores de desenvolvimento, coesão social e sustentabilidade de futuro:
As escolas são o centro do sistema educativo. Devem estruturar-se numa rede coerente de
recursos de educação e formação, ao longo de todo o território. É necessário consolidar a
dinâmica dos agrupamentos de escolas do ensino básico, mas numa lógica em que a
organização seja instrumental face às finalidades educativas.

Assim encarada a educação passa a estar, de modo claro e directo, ao serviço do desenvolvimento das comunidades em que se insere.
Óptimo. Pergunto: como?

ir mais além

Perante o comentário colocado na posta anterior é difícil não se concordar, não afirmar que não pode haver conhecimento sem consistência, sem conteúdo, sem trabalho.
O que destaco na frase de A. Einstein reside na capacidade de ir mais além, de romper ideias e quebrar com os instantes relativos do conhecimento.
De que serve o profundo conhecimento de algo que não seja para se progredir, para se avançar, para se recusar. E um dos modos de se proceder a esse avanço, aos saltos do conhecimento é mediante a imaginação. A imaginação de perguntar, de inquirir a realidade, de refutarmos a banalidade do quotidiano, de imaginarmos outros possíveis.
É esta imaginação que não caracteriza a nossa escola, é a passividade de se aceitar o que temos e de não irmos mais além, de procurarmos outros possíveis que refiro e caracterizo como falta de imaginação.
Estranhamos o que é diferente, rejeitamos a novidade mais pelo desconhecimento do que poderá implicar na nossa estabilidade (pessoal, emocional, afectiva, profissional) do que por discordância, mais do que por desconhecimento do que é novo.
É esta imaginação que não tem marcado a nossa escola. Quando aparece, escola da ponte, por exemplo, é olhada de soslaio, com desconfiança.
Acrescento à frase de A. Einstein uma outra de M. L. King, "tenho um sonho", o de ver a imaginação no poder da escola, o de ver o gosto e o prazer da descoberta, de se enfrentarem novos desafios com novas respostas e não as mesmas respostas para problemas que são diferentes. Mantenho, falta imaginação na nossa escola para levantar dúvidas, colocar questões, inquirir o quotidiano, olhar sob outras perspectivas este mundo e este espaço. Falta imaginação.
A imaginação é mais importante que o saber, tirei a expressão deste sítio, em face do aniversário de Albert Einstein, para referir que se adequa que nem uma luva à escola.
Falta imaginação na escola, uma deriva de outros aspectos já antes referenciados e comentados e não menos importantes na construção de uma ideia de escola.
Afinal, para que serve a escola?

da confusão

Não resisto. No contexto da avaliação não procurei ser impertinente, nem despertar qualquer tipo de susceptibilidade, pelo menos de modo deliberado [as minhas emoções podem levar a situações não previsíveis] numa conversa que pode ter tantos contornos como protagonistas, situações e referências.
Acrecento apenas a este comentário do colega da Alma Benfiquista, que de quando em vez há quem confunda a beira da estrada com a estrada da Beira.
Não sou defensor de modas pedagógicas, ainda que seja preferível partilhar algumas dessas ideias do que me ficar por uma qualquer leitura passíva, aparentemente despretenciosa e erradamente asséptica de um qualquer normativo ou situação.
E, a haver velhas questões elas ficar-se-ão pela falta de argumentos, pela opinião não fundamentada, pelo argumento inconsequente, pela utilização da avaliação como um fim e não como meio.
A questão que procuro levantar não se relacina directamente com a avaliação, diz respeito a qual o papel da escola no contexto da formação de pessoas.
Se esse papel for no sentido de seleccionar, hierarquizar, separar os bons dos maus, então efectivamente caio por terra, e as minhas modas não pegam.
O problema é que eu não vejo assim a escola. Prefiro ver e sentir a escola como um local de aprendizagem, sim senhor, mas também de formação. De transmissão de conhecimentos, sim senhor, mas também de partilha de emoções. Como um local de trabalho dos alunos, é verdade, mas também de interpretação e de análise dos docentes.
A grande questão é que a avaliação tem toda a pertinência e cabimento, seja em que modalidade for, depois de definido o sentido e a utilidade da escola.
Apesar de tudo, continuo a deizer, Viva o glorioso.

quinta-feira, março 17

Avaliação e portefólio

Já há dias que tentei colocar um comentário no meio deste tema, por infelicidade minha não me foi permitido. Os comentários cresceram, quer em número quer em pertinência, vai daí e permita-se-me acrescentar mais duas ideias a esta temática do portefólio.
Este ano optei por utilizar a metodologia do portefólio como um dos instrumentos de avaliação, e não tenho 80 meninos, tenho 180.
Na sequência da minha opção em trabalhar no âmbito da pedagogia diferenciada o portefólio é um instrumento quase espontâneo.
Neste sentido a opção recaíu em dizer mais ou menos o que era, sem grandes explicações, nem grandes enquadramentos (é, nomeadamente, o conjunto de trabalhos desenvolvidos no âmbito da disciplina, os produtos - alguns chamam-lhe evidências - desenvolvidos pelo aluno, seja na resolução de fichas, sejam de trabalho ou de avaliação, seja na pesquisa de informação, na elaboração de um trabalho, ao qual estão apensos comentários, do aluno e do professor, reflexões sobre o que se fez, o porquê, uma análise mais pessoal e intimista do trabalho que conduziu aquele produto, aquela evidência.
Optei por deixar surgir a necessidade, deixei que surgissem questões sobre a sua pertinência, sobre a sua utilização e finalidade (afinal são crianças do 7º e 8º ano, considerei desnecessário qualquer enquadramento teórico à situação).
No final do primeiro período a questão foi pacífica ainda que sem grandes arranjos, e uma preocupação organizacional ainda muito, muito incipiente, mas estavam instaladas as condições para a sua efectiva utilização como instrumento de avaliação.
Assim sendo, optei por deixar andar. Para além das minhas leituras, havia que aproveitar uma formação neste âmbito que me permitisse acrescentar algo mais à minha prática pedagógica. E deu resultado.
No final deste período tenho analisado e trocado impressões com cada aluno, individualmente considerado. O aluno apresenta o seu portefólio, justifica as suas opções, comenta o comentário crítico que sobre ele fez. Enquadrado por outras grelhas disponibilizadas pelo professor (nomeadamente de autoavaliação) o aluno chega à avaliação do período, sem interferência do professor, apenas pelas evidências do seu trabalho, pela apresentação do seu trabalho.
O portefólio hoje mostra, em alguns dos alunos, uma organização e uma apresentação de meter inveja ao professor. É reconhecido por todos que reflecte o trabalho desenvolvido, está ali o empenho, a participação, o trabalho de cada pessoa, de cada aluno. Como estão as suas emoções e afectos quer com o professor, quer com a disciplina, quer, muito particularmente, com o seu trabalho.
É uma opção que irei acentuar ao longo do próximo período com algumas alterações.
Ultrapassei, definitivamente, a fase de procurar, no âmbito do processo de avaliação, distanciar-me e evitar os sentimentos e as emoções, de procurar a objectividade absoluta. Considero hoje uma idiotice (desculpem-me, as susceptibilidades). Os sentimentos, as emoções, os afectos também são parte integrante, quando não mesmo fundamental do processo de avaliação. Mais ainda quando se trabalha no âmbito da pedagogia diferenciada.

quarta-feira, março 16

um acrescento

... à nota sobre as avaliações antes colocada.
Um acrescento para referir o óbvio mas que nesta altura não é evidente.
Em qualquer sala de professores nesta altura, digo eu se me é permitida a alarvidade, quando se aborda o aproveitamento do aluno é feito tomando duas referências. Se o aluno é bom o professor é impecável, valorizado o papel, o empenho e o interesse do aluno, mas destacado também o empenho e a qualidade do professor.
Agora se é um mau aluno a culpa reside apenas e exclusivamente nele, aluno, que não se esforça, que não se interessa, que não está motivado. O professor neste contexto é parte ausente. E, a tristeza, é que em muitos casos o professor é mesmo parte ausente.

das avaliações


Posted by Hello
Esta alminha benfiquista [nada de festas antecipadas] levanta nesta altura, final de período, momento de avaliações, uma questão deveras (im)pertinente e que está longe, muito longe de ser esclarecida e muito menos, muito menos mesmo, consensualizada entre os docentes.
Que escola queremos? Que alunos, que pessoas pretendemos formar? Qual o objectivo da escola? qual o objectivo da formação em contexto escolar? a escola procura saberes ou competências?
Quando procurarmos estas respostas talvez encontremos um sentido à avaliação dos ensinos básicos e, mais importante, um sentido ao trabalho que se desenvolve nas escolas.
Não quero ser provocador, pelo menos desta vez, mas a verdade descaíu-lhe na ponta dos dedos e escreve que é um sistema de classificação e confunde (falta saber se propositada e intencionalmente se apenas por desconhecimento) classificação e avaliação.
Um dos problemas passa por aí, não é um sistema de classificação, por muito que muitos docentes gostem de destacar essa vertente, é de avaliação que se trata(ao níveldo básico), é de juízos qualitativos, formativos e informativos, não é de quantidades, não é de rankings (estou certo que a Sofia, se tiver tempo, terá outros argumentos), são saberes sim senhor, mas também competências. São programas, mas também currículos.
Um dos problemas é metermos tudo dentro do mesmo saco e atiramos, muitas das vezes, para trás das costas. Não temos discutido estas temáticas, não temos falados destes problemas - nas escolas, os professores. Aceitamos, passivamente, que está tudo consensualizado, que é pacífico e que a interpretação e o entendimento é comum. Não é.
E o juízo emitido condiciona, seriamente, o futuro de uma criança.
Lembrem-se quando estiveram do outro lado, quando ouviram incentivos e reprimendas, como se sentiram, qual a V/ atitude.
Pensem no outro, naquele que está a ser alvo de um juízo e que não é uma coisa, nem um número. É uma pessoa, com uma situação, com um dado contexto.
Estimado colega. Não respondi ao desafio da democracia por entender que não se discute, pratica-se. Respondo a um desafio que sei que assim foi posto, nada é inocente, menos ainda vindo de um benfiquista.
Viva o glorioso.

terça-feira, março 15

do tempo

Deixei um comentário em casa de um amigo, que puxo para este meu cantinho, pela vontade e pela necessidade de o dizer, de reconhecer este meu cansaço e a vontade que, de quando em quando, me assola de parar, de dizer chega.
... Tenho que reconhecer que vontade não me falta. Começo a pensar que é tempo a mais, é conversa (de chaça, fiada) a mais.
Corro o sério risco de me repetir, de me tornar previsível, consequente com o que digo e escrevo. Nestas alturas de maior cansaço, onde qualquer prega do tempo é bem vinda, estar longe da blogosfera parece real e quase possível. Mas sei que, passado este cansaço da entrega e do digladiar de frases, emoções e sentimentos, regressa a vontade de estar neste canto desta sala de professores e não resisto a participar, a dar o meu palpite, a opinar, ainda que de forma inconsequente, previsível.
Ainda não é desta que desisto, mas preciso de uma pausa. Como preciso destes amigos.
Essencialmente preciso destes amigos, do contacto diário de uma boa snifadela de vontades, de troca de ideias comuns, de pontos de vista e olhares semelhantes. Preciso de vós, estimados e prezados colegas e amigos, da V/ escrita, da V/ passagem, do meu olhar sobre a V/ escrita para poder ser eu mesmo. Assim, sem mais, com todo o cansaço deste final de período.

da preparação

no contexto do final de um período trato de organizar o próximo, corrigir ideias, reformular propostas, re-pensar ideias, definir outros desafios, estruturar novas acções, re-organizar procedimentos, pensar outras competências, aprofundar conteúdos, consolidar aprendizagens.
Procuro organizar as ideias de modo a poder apresentar uma proposta de trabalho nos respectivos conselhos de turma, considerando especificidades, problemáticas e desafios inerentes a cada grupo. Os ganhos têm sido escassos em face das expectativas. É muito raro que um colega vá atrás de trabalhos dos outros, procure desenvolver o seu trabalho em colaboração com outros, em cooperação.
Mas não desisto, faço-o há vários anos, em todos os conselhos de turma deixo uma ideia de trabalho, propostas a desenvolver em cooperação. Geralmente é no final do ano que me interrogam sobre o que podiamos ter feito, ultrapssada, talvez, alguma estranheza de práticas e procedimentos. Este ano, infelizmente, sinto que o trabalho se poderá prolongar para o próximo ano e há que aproveitar.
Veremos como será a preparação.

da azáfama

Uma azáfama sofrega percorre a escola.
As tarefas, entre o atrasado e exigente, recordam as obrigações de um final de período.
Depois são as moengas, dizem que o computador comeu as faltas do pessoal, dos aalunos. Resultado, é um ver se te despachas de director de turma atrás um do outro à espera de re-carregar faltas, justificações, procedimentos que o computador comeu.
Outros descansam os ossos na sala de professores, esperam a vez de carregar faltas, o final do dia ou simplesmente que chova, o que dúvido seriamente.

segunda-feira, março 14

Estou que nem posso


Posted by Hello
e isto não vai lá com água. Preciso urgentemente de uma pausa.

domingo, março 13

e agora

Ontem foi a tomada de posse dos senhores ministros (e senhoras).
Amanhã, segundo sei, será a tomada de posse dos secretários de Estado.
Depois... bem depois é esperar, sentados claro está, e apreciar o que se pode perspectivar em termos de medidas de política na área da educação.
Combate ao insucesso, ao abandono e ao absentismo. Promoção da escolaridade básica (ainda) obrigatória, reforço do ensino secundário, territorialização educativa, carreiras, avaliações, etc, etc.
Cá estamos, entre a expectativa e a vontade de trabalhar, a aguardar por desenvolvimentos.
Um a curto prazo é mais que certo que irá rebentar no colo da senhora ministra, o dos concursos de professores. Depois... bem, depois logo se verá.

das comparações

em conversa sobre valores (alteração e transformação), há quem compare - ou coloque no mesmo saco - a escola, a igreja ou os militares.
Alguém afirmou, entre a firme convicção e a certeza, que todos eles se desagregam, todos têm sofrido profundas alterações e, de um modo ou de outro, deixado de servir de referências.
Estava eu mais ou menos calado, de modo a não interromper uma sessão que corria de vento em popa. Perante esta afirmação, pedi desculpa e disse que ainda bem. Ainda bem por que a escola não é uma questão de fé nem de crença, é de trabalho. Ainda bem por que apesar de persistirem na escola muitas das lógicas militares é cada vez mais um espaço de participação e de afirmação da democracia. Ainda que existam hierarquias elas só são usadas para afirmação de situações (administrativas ou pessoais).
Não consigo colocar a escola neste saco comum da tropa e da igreja. Reconheço que lá esteve durante muito tempo, fosse nos valores (transmitidos ou reconhecidos), fosse na organização (há uma sala só para professores, uma só para funcionários, outra da malta, há condições de acesso diferenciadas entre alunos, professores e fucionários, há uma guarita de entrada) e na hierarquia (a antiguidade ainda é um posto na escola, escolhem-se horários, turmas, benesses), fosse, ainda e por último, na fé, na crença - seja num Deus ou na infalibilidade do senhor general.
O meu desgosto, mas que é também um claro desafio, é que esta crença ainda persiste em muitos discursos, alguns deles informados, com capacidade de análise e de interpretação mas que reconhecem na escola, ainda hoje e infelizmente, lógicas de fé e de hierarquia.
Não é, nem pode ser. A escola é cada vez mais um espaço de afirmação e de participação, de democracia construída e reconstruída, debatida e discutida. Não há fé, há discussão, procura de verdades, debate e discusão. Como a única lógica hierárquica é a da afirmação do conhecimento, a do trabalho, a do estudo, a da criação de pontes entre diferentes públicos, entre diferentes interesses e diferentes interessados.
A escola é social (de e para as pessoas), plana na sua linha de organização e a haver fé será na razão e no conhecimento.

sexta-feira, março 11

Frases (5)

(...) Escrevo, simplesmente, porque me apetece e porque faz parte da minha natureza dar-me pela escrita. (...)
Reconheço-me nesta frase, como me reconheço nas ideias e em muitos dos sentimentos que circulam neste abnóxio.
Tornou-se, tão rapidamente quanto o autor o não quereria, uma incontornável referência, seja no âmbito da educação, seja na poesia, na abordagem política, seja no simples exercício de cidadania.
Não tenho o prazer, nem o privilégio de conhecer o Ademar. Estou certo que teriamos algo em comum, pouco ou muito não o sei dizer, mas algo nos juntaria, provavelmente o gosto de sermos professores, de estarmos com crianças.
Referência incontornável para mim, local de passagem e circulação obrigatória diariamente.

da rua

O meu filho, aluno do 5º ano, conta-me que a professor mandou 14 alunos para a rua. Não tinham levado livro nem os tdc´s (trabalhos de casa) feitos.
Acrescentou que a professora também se tinha esquecido do livro.
Será que tinha feito o trabalho de casa?

quinta-feira, março 10

Da necessidade (2)

Ainda a propósito da formação e das necessidades que a induzem ou que por ela são induzidas, trocava ideias com uma colega sobre a quantidade de trabalhos que se vê e é obrigada a fazer, uns atrás dos outros, num remoinho imparável e quase insuperável de prestação de contas.
Tive a sorte, aquando do meu curso, de não ser submetido a esta orda de trabalhos, como reconheço que tive o privilégio de tudo o que foi solicitado vizar um produto e mais não era que um meio de o alcançar.
Mas reconheço que há universidades onde são pedidos trabalhos atrás de trabalhos, há testes e exames, como se de um prolongamento da licenciatura se tratasse. Quase que se fica com a sensação que os trabalhos procuram ocupar as cabecinhas o suficiente para que elas não pensem naquilo que ali estão a fazer, não pensem noutras hipóteses ou noutras ideias de escola e do papel que ali se desempenha.
Se não é possível pensar a escola em processos de formação, com apoio e alguma massa crítica que permita o seu enquadramento, quando será possível pensar a escola? Na escola? entre uma preparação de aulas e uma reunião de departamento? com o tempo contado antes de ir buscar a prole ao colégio? Durante um pedagógico, entre a discussão da sala de fumo e o arrastar de cadeiras no primeiro andar?
É isto que considero um massacre. Falar-se da escola sem se pensar sobre ela, sem haver tempo, espaço e oportunidade de se pensar o que cada um de nós faz na escola, o que ela nos permite, nos condiciona, nos cerceia ou impele.

quarta-feira, março 9

Frases (4)

Agora habituei-me à simplicidade de navegar e copiar, criar destaques com frases dos outros nas quais, por um ou outro motivo, me reconheço e considero, por um qualquer pretexto ou sentido, importantes.
... os blogues não são um fenómeno passageiro, uma moda, mas sim uma nova forma de expressão que veio para ficar...
Nem seriam necessárias mais palavras, tanto pode ser dito de forma tão simples e tão prática. Apenas acrescento o local onde saquei a informação, pois vale a pena ler o estudo.

frases (3)

Não resisto em me apropriar de uma ideia que li aqui, neste conversamos.
Será que e na sequência da minha anterior entrada sobre as necessidades e ainda desta outra, as escolas pensam daqui a três anos, um ciclo de ensino, por exemplo? Organizamo-nos e preparamo-nos para daqui a quanto tempo? A preparação que procuramos transmitir aos nossos alunos visa a sua preparação para que tempos? em função de que objectivos?
Num ano que o senhor Presidente da República afirmou ir dedicar à escola, será importante que se equacionem algumas ideias sobre o tempo e o modo da escola se organizar [a escola não, os professores].

da necessidade

Nada melhor que criar necessidades para que os interesses se manifestem.
Eu explico. A alteração da legislação no âmbito da gestão escolar conduziu à necessidade de aqueles que se candidatam ou que se pretendam manter em cargos de gestão, possuam formação específica na área da administração. como resultado desta indução de necessidades, os interesses e os interessados nos cursos de mestrado na área da administração escolar são mais que muitos.
É bom, é óptimo esa oportunidade. Permite-se criar uma massa crítica passível de compreender, sob outros pontos de vista, a gestão da escola e, espero eu, criar a ideia que essa gestão vai muito para além do quotidiano, do umbigo individual ou da ponta do nariz (dos acólitos, diria o Miguel).
É bom por que essa massa crítica permite alimentar, espero eu, desejo eu, uma ideia de escola onde tenha pleno cabimento a gestão do tempo e dos espaços, dos interesses e das vontades e onde a avaliação seja matricial e a participação um caso efectivo.
Poderá também ser mau, uma vez que a autocentração gestionária, mesmo que com base em processos de formação específica, pode fazer crer que existe um modo correcto, uma forma mais adequado de gerir a escola, que existe um caminho, um sentido, que existem uns elementos no contexto da escola mais importantes que outros. Pode dar oportunidade à tecnocracia em detrimento da participação e do envolvimento da quantodade e diversidade de pessoas que preenchem e determinam cada escola em particular e em especial.
Tudo isto por que uma colega que faz mestrado me disse que na sua turma, maioritariamente, há elementos de órgãos de gestão ou com pretensões a ele.
Afinal, necessidades.

frases (2)

... longe da emoção a minha escrita não faz sentido, diz o Miguel. Roubei-lhe a feliz ideia, para afirmar que sem emoção nenhuma escrita faz sentido.
Nem a escrita, nem a vida, acrescento eu.

da participação

Ainda a propósito da integração na minha escola de turmas do 1º ciclo, já aconteceram encontros e reuniões com a direcção regional de educação, com pais e encarregados de educação, com professores do 1º ciclo, com auxiliares de acção educativa. Com quase todos. Quase...
Será que se esqueceram dos restantes professores? Será que os professores do 2º e 3º ciclos não serão merecedores de participarem nestas conversas? será que não há razões que permitam a participação de todos, e não apenas de alguns, neste processo?

terça-feira, março 8

da mudança

Este comentário, colocado numa das minhas postas, levanta, uma vez mais, um conjunto de ideias importantes, pertinentes e necessárias à discussão sobre a escola.
Este comentário, remete para pontos de vista, olhares sobre a escola e sobre a educação e sobre o eixo em torno do qual poderá rodar a mudança escolar e educativa. Como remete para diferentes planos, o das intencionalidades do docente, o da agradabilidade dos discentes, da sua aceitação, da sua justificação.
Ou seja, será a mudança um processo individual ou colectivo? rodará em torno dos professores ou dos alunos? a mudança será uniforme ou descontinuada? muda a escola ou mudam os professores? Há escola sem professores?

das listas

quase sem querer encontrei uma listagem de blogs sobre educação, não conheço a sua origem nem a metodologia quer de recolha quer de seriação.
De acordo com esta metodologia este meu espaço da escola está na 1021ª posição do ranking. Será bom? será mau? Não sei, mas também não estou grandemente preocupado com isso.
Mais pela curiosidade, aqui deixo a referência.

segunda-feira, março 7

frases

... muito do insucesso escolar reside na incapacidade de os professores se atreverem a fazer diferente (...).
Retirei esta frase daqui. Talvez apenas eu ainda não a tivesse visto, uma vez que é do passado dia 4, e corra o risco de fazer uma chamada desnecessária. Mas não resisti pela pertinência e pela plena concordância que sinto por ela.
Falta coragem na escola portuguesa para ser diferente e de não ter nem medo nem vergonha de assumir essa diferença.

da formação

Encontro-me, por obrigação, a participar numa acção de formação que decorre aos sábados. Entre a necessidade de obtenção de créditos para progressão na carreira e a obrigação da formação, optei por uma temática que me pareceu, e se confirma, útil, a da elaboração de portfolios como instrumento de avaliação, quer do professor quer dos alunos.
Felizmente, superaram-se as expectativas, decorrente do domínio da temática pelo senhor que forma, pelas conversas que se têm desenvolvido, pela troca de ideias que se promovem, pela consciencialização de práticas e de modos a que somos obrigados, pelo confrontar com a nossa prática e a sua interpretação.
A grande ideia do passado sábado decorreu da constatação da necessidade de espaços na nossa escola para trocarmos ideias, para aferirmos preocupações, para percebermos conceitos, para interpretámos práticas, para, simplesmente, falarmos sobre a nossa profissão.
A não existência destes espaços faz com que a formação, muita das vezes, seja uma válvula de escape sobre isto mesmo, sobre as condições que dizemos não ter, sobre o tempo que nos falta, sobre as angustias da avaliação e dos exames, do controlo dos pais e da regulamentação administrativa, das modas e dos tempos.
Fui para lá contrariado, estou lá agradado - ainda que por vezes, sinta que me porto menos bem, uma vez que promovo a troca de ideias, a discussão de aspectos e assuntos pouco habituais na nossa discussão e que, por vezes, fogem à temática.

os doidos querem-se juntos

... ouvi há pouco esta expressão tendo em conta que passei a manhã com uma criança deficiente que se enlevou pela minha pessoa.
Uma criança que, dentro da sua deficiência, levanta problemas, causa atritos, desorganiza as sessões de colegas que procuram desenvolver o seu trabalho.
Circulava pelo corredor na companhia de uma funcionária que quase que gritava que Deus voltasse à terra para a acudir. Dispus-me a ficar com ele, no contexto de uma turma com quem estava.
Fizemos desenhos, desenhámos e comparámos as mãos, entretivemo-nos com a turma, procurámos material que os restantes nos solicitavam.
Saíu e foi a correr para casa dizer à mãe que tinha mudado de turma, de horário e de professor. Agora estava com um homem amigo.
Os comentários, entre o sério e a brincadeira, entre o descanço de deixar de aturar o Luís e o sossego de eu com ele me entreter, conduziram a esta feliz expressão, os doidos querem-se juntos.
Gosto de ser doido.

da integração

Esta escola, a minha escola, vai passar, no próximo ano lectivo, a ter turmas do primeiro ciclo num espaço habitualmente destinado a grupos do 2º e 3º ciclo.
As negociações começaram há já algum tempo. As preocupações também.
Apercebi-me dessa situação, da negociação, do estabalecer de regras e normas mais ou menos de orientação.
Já passei, no princípio dos anos 90, por um filme muito idêntico, pela criação então de uma das muito poucas escolas básicas integradas.
Turmas e pessoas, trastes e quinquilharias, modos e medos, receios e expectativas e anseios, culturas e procedimentos, hábitos e usos tudo passou de um lado para o outro, de um espaço exíguo, confinado cheio de histórias e tradição para um espaço estranho, dos grandes, onde se esperava confusão.
O único receio o único inconveniente decorreu dos professores, que permaneceram isolados, enclausurados nas suas culturas, no seu mundo e nos seus ambientes. Os alunos integraram-se, disfrutaram de um novo espaço, de novos recursos e condições.
Há pouco, ao aperceber-me dessa conversa ainda opinei, ainda disse da alguma experiência que adquiri.
Depois calei-me.

perfil

será que, a partir do perfil da nova ministra da educação, se podem inferir duas situações?
Um perfil gestionário, onde se encaixará a gestão de um monstro, de um polvo, de uma máquina de corroer recursos, sem consequências, sem resultados?
Um perfil tecnológico, capaz de implementar novas soluções e articular o famoso plano tecnológico?
O resto? qual resto?
É esperar por políticas, medidas, acções mais concretas, um programa e mais protagonistas.

sexta-feira, março 4

confiança

Foram rápidos os comentários como oportunos e pertinentes colocados à minha entrada anterior.
Obviamente que o tom, o meu tom, é entre o negativo e o expectante, não podia ser de outro modo.
As expectativas estão, e não apenas do meu lado, demasiadamente elevadas, demasiadamente exigentes. Os resultados, a democracia assim o determinaram, assim o exigem.
Queremos mais, queremos melhor, meremos muito melhor, precisamos de melhor.
Mas, obviamente que todo e qualquer protagonista da 5 de Outubro me merece, nesta altura e neste contexto, o benefício da dúvida.
Mas, desculpem lá o raio do meu feitio, a porra da idade e o calejar dos anos, mas não resisto a ter má impressão do pessoal da área da economia [faz-me lembrar a Manuela quando por lá passou].
O problema do Ministério da Educação não se prende com dinheiro, nem com finanças, nem com investimentos.
No meu entender o problema do polvo está preso na falta de uma ideia de escola, de qual o papel dos diferentes ciclos de ensino, de quais as competências que a escola, nos diferentes ciclos de ensino, deve promover e procurar, de qual a articulação entre formação inicial da juventude e a sociedade que procuramos e que queremos, de qual o país que queremos daqui a 20, 30 anos, de qual o papel do professor neste contexto e nesta sociedade, de qual a sua acção e intervenção.
Ao fim e ao cabo de qual o papel da escola e do professor na construção de futuros.
Fico, para todo o caso, expectante - pelo menos até ver os secretários de estado.
Basta de nulidades. Chega de ausências veladas e de presenças pardas [e parvas].

desculpe ?

... desculpe, importa-se de repetir?, disse Maria de Lurdes Rodrigues?
Pois é, peço desculpa da ignorância, peço desculpa de ser alentejano, mas não sei quem é.
Diz que é a nossa nova ministra da educação? Se dizem na televisão, acredito.
Não sei quem seja, mas estou certo que será profunda conhecedora do sistema educativo, dos problemas que existem, das ângustias de pais e professores, de alunos e funcionários, das perturbações do sistema, das entropias e dos grãos de areia, dos pedregulhos e das carências, certamente terá opinião sobre os exames, sobre os concursos de professores, qual o papel da acção social escolar, da avaliação, da formação contínua de professores, dos agrupamentos e dos sentimentos, do ensino profissional e do artístico, do tecnológico e do científico.
Nem podia de ser de outra maneira. Ou pode?

quinta-feira, março 3

Leituras

O Abrupto de hoje, na vez e na voz dos seus leitores [desconfio que um dia se tornarão e-leitores] traz-me recordações da minha infância, de tempos em que [como hoje] pouco dinheiro tinha exactamente na proporção inversa da muita sede de livros e leituras que também tinha.
Entre uma e outra lembro-me de duas situações que, para além da já referida biblioteca pública de Évora, me alimentavam a sede.
Uma era a papelaria Angola, agora com um estilo novo, qual quiosque de uma cidade, onde abundavam revistas, jornais e livros tudo ao monte e fé em Deus, amontoado entre caixotes, pacotes de cigarros e um balcão idiota que dificultava o acesso à estante dos livros. Ainda por cima a papelaria ficava, para mim e para todos aqueles com quem andava, num sítio estratégico. Exactamente por cima ficava uma senhora que, de Verão, vendia pirolitos, chupa-chupa de sabores, feitos em casa obviamente e que, demolhados em açúcar queimado, eram a delícia da rapaziada. Tantos tostões roubei eu à mãe ou à tia para ir ali comprar pirolitos, descer e sentar-me no chão a ler livros de banda desenhada ou histórias de encantar que me apareciam na mão.
Um outro, ligeiramente mais recente, já pós 25 de Abril de 74, era a tabacaria do senhor Sofio, a meio da rua de Aviz, mais acessível pela proximidade de casa, de mais difícil acesso por tanto o pai como a mãe por ali passavam e eu, sem relógio, apanhado em leituras por vezes mais travessas.
A tabacaria do sr. Sofio permitiu-me alargar horizontes, pois trouxe para Évora uma coisa que, pelo menos eu, desconhecia então, a troca de livros. Levava uns quantos, o senhor folheava-os, mirava-os e, com aquele ar circunspecto no meio dos seus mais de cem quilos de largura, dizia que podiamos trocar por outros tantos, obviamente que quase sempre em número inferior, pois a casa nunca saía a perder.
Entre um e outro estabelecimento fazia o Verão, as férias então tão grandes como os dias. Perdia-me em leituras, desorientava-me naquilo que ainda hoje gosto de fazer, entrar numa livraria e mexer nos livros, folhear ao acaso páginas, ler aqui e ali um parágrafo, apanhar um sentido.
Hoje temos a fnac e, no Porto, [que gosto e conheço mais e melhor] livrarias que, entre modas e oportunidades, permitem folhear livros, sentir um livro na mão, sentir o peso das ideias e dos sentimentos que transporta.
ele há dias assim.
Devem ser poucos os que antes, durante e mesmo depois da minha geração, e que residiam ou estudassem nesta cidade de Évora não tenham passado, frequentado, utilizado a biblioteca pública de Évora.
Aqueles que, no meu tempo de estudante e tal como eu, passaram tardes inteiras na companhia daquele espaço, das figuras sempre presente e eternas do Chitas e da Jacinta, sabem que é um espaço maravilhoso.
Entrei nele pela primeira vez deveria ter uns 11 ou 12 anos, fruto de um trabalho do ciclo, daquelas coisas impostas pelos professores e que nos obrigavam a procurar outras fontes de informação.
O peso do espaço oprimia uma criança e, perante aquelas formalidades e a figura daquele homem que, de dedos amarelos, óculos fundo de garrafa na ponta do nariz, entre o corcunda e o encorvado, nos pedia o bilhete de identidade num tom de voz quase que sussurrado, sentiamo-nos ainda mais pequenos, constrangidos a penetrar naquele espaço quase de tons sagrados.
Mas, passado o receio inicial, compelidos pela necessidade, lá subiamos as escadas, curvavamos, cada um por seu lado e, chegados à imponente porta, a empurravamos com um típico guinchar de anos passados. Davamos por nós num imenso salão.
De um lado a figura imponente de frei Manuel do Cenáculo a ocupar toda a parede. Figura que nos vigiava, que vigiava namorados e leituras, textos e ternuras que também se trocavam naquele espaço, a tentar fintar os olhos de quem velava pela integridade do espaço, pelo pesar dos anos passados.
Do outro, o balcão a impor uma barreira de límites que apenas atravessei, já grande, estudante universitário e onde se alojavam aquelas duas figuras que tudo conheciam, que tudo sabiam.
Sempre me impressionaram pelo seu conhecimento, pela simpatia que colocaram na relação com quem, ignorante e pequeno, procurava aquele espaço. Fossem temas de ciências, artes, humanidades, ofícios ou apenas prazeres simples de descoberta eles conheciam um livro, um título adequado, útil às pequenas pretensões de quem descobria a vida nas páginas de um livro, nos textos, nas imagens.
Passados todos estes anos, tenho na Jacinta uma amiga indefectível, companheira de muitas e longas conversas, no Chitas um parceiro de cumplicidades, de troca de ideias e de amostragem de livros. Um companheiro de leituras.
No ano passado, na pausa da Páscoa, fiz uma visita guiada com os meus filhos áquele espaço, ao reencontro dos livros. Com as mesmas pessoas, e outras que entretanto aparecereram, pedimos livros para estarmos ali, apenas a passar os dedos, a folhear pensamentos, entretidos a passar uma manhã. Percorremos as suas diferentes salas, sentimos o peso dos livros, o cheiro dos anos, o respeito dos pensamentos e das ieias que aquelas estantes guardam.
A Biblioteca Pública, como sempre foi e é conhecida, faz 200 anos. Penso que a cidade deveria ser convidada, obrigada a participar nesta festa, que as portas se abrissem, que os livros pudessem, pelo menos uma vez, fugir, escapar-se pelas ruas e percorrer o exterior como sangue que nos enche as veias.

Professor

não sei se o nome e a afirmação corresponderão realmente ao autor conhecido e reconhecido, mas não deixo de fazer referência aos textos, à palavra e às ideias deste outro senhor professor, afinal, um murcon.

ofertas

em virtude do número de abandonos e do desinteresse que muitos alunos sentem pela e na escola, procuramos criar alternativas, situações formativas que passando pela escola ofereçam outras oportunidades ao aluno.
Procuramos alternativas na legislação, em concreto de ofertas formativas alternativas, já contempladas.
Apesar disso, afinal, dizem-me que me tenho que cingir à oferta existente no âmbito da direcção Regional. Mas a escola tem outras possibilidades, outros meios, digo eu. Paciência o que existe é o possível.
É com isto que eu não concordo. A escola deve poder criar a sua oferta, ajustada às suas possibilidades, às suas capacidades, à sua realidade. As estruturas do polvo deveriam enquadrar e apoiar essas possibilidades.
Mas ainda não. Um dia será possível?

paradigmático

hoje de manhã, na antena 1, António Macedo deu o mote e foi o paradigma da espera, quando afirmou que mais um dia em que não se passa rigorosamente nada, palavras do senhor, citadas de cór, uma vez que ainda não há nomes nem notícias políticas.
É paradigmática a situação que se vive em Portugal. É um dos raros momentos que, fora da sealy season, não há política e os senhores da comunicação social ficam sem notícias, sem trabalho, sem algo em que malhar.

quarta-feira, março 2

das complicações

À escola chegam diariamente inúmeras situações, diversificadas, umas agradáveis outras nem tanto.
Há pouco, em conversa de corredor, pude-me aperceber de uma dessas muitas situações. Um aluno não tem vindo à escola, a Directora de turma desencadeou os necessários e legais mecanismos. Soube-se que a crise - desemprego, carências, contas por pagar, dificuldades várias - desestruturou o agregado familiar e é a confusão total. Divergências entre segurança social e tribunal agravam a capacidade de resolução, de uma eventual solução.
A escola, para o melhor e para o pior, acaba por não ser uma ilha, ainda que muitos o tentem.

memória

de quando em vez faço uma espécie de marcha atrás. apenas uma espécie por que não é um voltar atrás, é antes um olhar para trás de modo a perceber o caminho que percorri, justificar talvez o cansaço.
Hoje dei por mim a ir à exactamente um ano atrás - os blogues permitem fixar o tempo e verificar das coerências. E nesse dia a situação não é, afinal de contas, muito diferente do que hoje se poderia descrever. De ângustia, de recomeço, de re-inicio. De concursos afinal.

terça-feira, março 1

espera

não sei se hei-de esperar se desesperar pelo nome do meu novo chefe, isto é, do titular da pasta da educação, do futuro(a) ministro(a).
Entre dúvidas e desespero, faz de conta que não é necessário chefe. Afinal, nós por cá todos bem, nem lhe sentimos a falta. E o sistema funciona.

Lento

... o andar anda lento por estas paragens da blogosfera educativa. Por razões várias sinto um certo esmorecimento, um certo cansaço, uma determinada letargia.
É o aproximar de mais um final de período lectivo, é o atacar de coisas por fazer.
Nada de anormal, afinal.