quinta-feira, agosto 17

antecipação

estes dias mais parecem uma antevisão do que poderá ser o Outono do que propriamente dias de Verão;
mas gosto destes dias, em que me apetece enroscar nos lençõis, sentir o aconchego de um abraço acolhedor, o sorriso triste de quem perdeu mais um dia de sol;
afinal, estes dias fazem-me lembrar o Outono, a minha estação do ano;

da decisão

provavelmente há muita gente que pensa que a gestão da administração pública é feita por grandes decisões;
em determinados níveis até pode ser, adquirir essa dimensão; agora neste que frequento, de base regional, o quotidiano é feito de pequenas e inúmeras decisões;
há, obviamente, uma orientação, mas a decisão não é nem grande nem pequena, acontece fruto das circunstâncias, das solicitações dos acontecimentos, do fluir do dia;
preocupação central, que sejam coerentes, consistentes e lógicas na sua articulação; e neste campo por vezes falha-se e quando se falha no âmbito público pagamos todos;
mas considero interessante parar e olhar o meu quotidiano, as decisões que me acompanham, o pulverizar de pequenas circunstâncias, umas aqui, outras ali;
há tempos associava este quotidiano ao de uma escola, onde as hierarquias são planas e as responsabilidade diluídas por pequenos patamares de poder [há quem lhe chame quintinhas];
afinal, a sociedade é à imagem da escola, ou será a escola à imagem da sociedade?

quarta-feira, agosto 16

escrita

dei aqui conta, há dias, do stress, da ângustia que sinto quando páro e pretendo escrever no âmbito de um projecto de investigação;
poucos dias depois, optei por trocar ideias com os colegas deste caminhar, com o pretexto de estarmos no mesmo barco, rodeados do mesmo mar; se eles também se sentiam apertados, angustiados, stressados;
ora descubro que há vários sentimentos, desde alérgia, a náuseas, ansiedade, stresse puro e simples, insónias, um pouco de tudo, como na farmácia;
afinal não sou só eu, valha-me isso;
apesar do reconforto o certo é que Setembro está já aí e eu só tenho 2 folhas escritas (de que nem gosto particularmente);
a ver vamos, assim diz o cego cá da terra;

roteiro

a propósito de um dos meus cantos preferidos da gastronomia local, faço referência para uma actividade que o filho começou a desenvolver;
como os pais são apreciadores do bom garfo e faca e das boas companhias tintas, verdes ou espumosas e o filho não se fica atrás, começou a redigir um roteiro gastronómico que reflecte os seus gostos, as suas impressões e a avaliação que faz dos sítios por onde passa;
engraçado que, apesar do seu gosto ir ao encontro da sua faixa etária (está com 12 anos) e serem preponderantes as pizzas, a fastfood, o roteiro dele, para já, apenas contempla a cozinha tradicional;
três referências;
a choupana em Évora, perto da praça de Giraldo (está fechado até final do mês), é um gosto e um prazer pela variedade de petiscos e pela confecção ainda muito marcada pelo toque caseiro - acrescento que tem uma das melhores imperiais - finos - da região, e uma relação preço qualidade dentro da média, na casa dos 10€/15€ pessoa (consoante as entradas e os acompnhamentos);
o alpendre, em Arraiolos, uma manifesta catedral que se impõe nas redondezas; marcado maioritariamente pelo traço regional, seja na comida como nos vinhos, tem uma confecção declaramente familiar e umas entradas que combinam com tudo; a relação preço/qualidade é que faz com que seja de frequência atípica, entre os 25€ e os 30€ pessoa;
fora da região, o rei do chouco frito, em Setúbal, no prolongamento da Av. Luísa Tody no sentido do cais para Troia; conheço os proprietários desde o final dos anos 80, alugaram-me casa quando leccionei em setúbal e por lá tive de ficar; preponderante o chouco, obviamente, feito como mais ninguém e em mais lado nenhum, mas experimentem qualquer peixe na brasa, segredos de longa data com um atendimento que é marcante e familiar;

soltas - do comérico 2

na passada 2ª feira, em face de véspera de feriado, fomos tirar um petisco, como se diz cá pela família;
andámos por metade da cidade à procura de um local; lá fomos parar ao de quase sempre - a choupana, recomendo vivamente;
entre a confusão de línguas (italiano, espanhol, portunhol, inglês e francês) o funcionário lá nos arranjou os lugares, ao balcão por ser mais rápido;
entre umas tiras de choco e umas febras de vinagrete, uma feijoada de marisco que estava uma delícia;
como companhia, para além da família, de umas cervejitas que o tempo está(va) quente e sempre fica mais em conta;
a televisão passava um concurso em que questionava qual, entre os apresentados, o álbum mais antigo dos U2; respondi eu e respondeu o senhor italiano sentado a meu lado;
a partir daí estabeleceu-se uma conversa sobre turismo, regiões, ofertas, gastronomias e prazeres de verão;
agradável de perceber qual a ideia, a imagem que os outros têm de nós, dos nossos produtos, das regiões, da oferta portuguesa, da diferença relativamente a outros povos, países e culturas;
terminou-se a noite com uma questão que ficou por responder; afirmava o senhor que teremos dos melhores vinhos que conhece, e diz conhecer muitos, porque é que não são conhecidos lá fora? porque é não são visto lá fora?
boa pergunta;

soltas - do comércio 1

é incrível, pelo menos para a minha pessoa, a capacidade de adaptação, a versatilidade e a mobilidade do comércio chinês;
instalaram-se à pala da bijuteria, da marroquinaria;
passaram, quase sem se dar por isso, para a ménage, utilidades para a casa, bricolage;
passaram pelas ferramentas, acessórios, materiais de limpeza e higiéne;
neste momento, aqueles que estão pelas bandas de Évora, viraram, na sua maioria, para a confecção, têxteis lar, roupa, sapatos;
o restante comércio, na sua generalidade, permanece como (quase) sempre os conheci; as mesmas montras, a mesma oferta, os mesmos produtos, os preços sempre a subir (fruto da crise, dizem os senhores), a mesmissima apresentação e configuração;
uns queixam-se da concorrência, outros aproveitam-na; uns apontam o dedo à crise, ao governo, à câmara; outros aproveitam nichos de mercado, a evolução dos gostos e, acima de tudo, das necessidades;
é o comércio tradicional no seu melhor;

segunda-feira, agosto 14

chuva

vinha no carro e a previsão do estado do tempo dizia que, a partir de 4ª feira, possibilidade de ocorrência de chuva;
chuva? ainda se lembram disso?
assumo que depois do Verão, das temperaturas e dos odores, sinto saudade de uma chuvada, seja ela de Verão ou prenunciadora do Outono;

militar

afinal e consequência da reestruturação dos serviços militares, Évora merece destaque, o destaque que desde meados do século XX assumiu e protagonizou;
segundo parece veêm para Évora serviços operacionais na área da educação e formação militares (notícia Expresso);
bem vindos;

(des)igualdade

há muito tempo, desde os meus primeiros passos na pedagogia diferenciada, lá para os primeiros anos da década de 90, que considero que tratar todos de igual modo e da mesma maneira mais não faz que assentuar as diferenças, sublinhar as divergências e criar um maior fosso entre quem não é, por vicissitudes várias, igual;
este fim-de-semana, primeiro num jornal semanário o presidente da câmara de Sintra pôs o dedo na ferida e disse que a Lei das Finaças Locais tem de reflectir as diferenças entre os grandes e os pequenos munícipios (provavelmente passará ao lado de muitos que qualquer freguesia urbana de Évora tem mais eleitores que qualquer outro concelho do distrito, mas muito menos recursos e condições de gestão, como os critérios de dotação são idênticos - mas não deviam ser - para Barrancos ou para Lisboa);
depois e no âmbito dos fogos, o presidente da associação de bombeiros profissionais realça a tradição de culpabilizar tudo e todos, não restando ninguém para poder casar com a culpa; dentro disto, destaque para uma manchete jornalística em que a geografia do fogo retrata o planeamento e a prevenção (que não foi) realizada;
entre um e outro dos apontamento, a manifesta desigualdade de tratamentos, quer na gestão da coisa pública, quer na acção do Estado;
por isso defendo que para se criar a igualdade, há que acentuar as diferenças; a partir daí talvez faça mais sentido falar-se de estado social;

sexta-feira, agosto 11

aniversário

fez esta semana um ano que cheguei ao poiso onde me encontro, com responsabilidades distritais no âmbito da juventude;
o que mudou? o que permaneceu? qual a minha responsabilidade entre um e outro ponto? são perguntas às quais procuro responder;
mas, determinante, foi perceber as dinâmicas, as acções, os projectos, as ambições, as características que marcam esta área;
os sonhos, as aventuas, o papel do associativismo na construção de projectos de vida, no arranque profissional, na afirmação identitária, na criação de raízes ao local, na própria construção do local são circunstâncias que admiro e me surpreenderam pelas características e pelas formas que adquirem.
como na generalidade do país carece esta área de duas coisas, formação (aos responsáveis associativos, às entidades acolhedoras, aos parceiros sobre o papel de cada um) e organização (nomeadamente ao nível da dimensão crítica, na construção de projectos e de respostas sociais);
sobra, tal como na generalidade do país, dedicação, vontade, tenacidade, perseverança pelos ideias e pelos projectos;
ao fim deste tempo continuo a descobrir coisas novas e diferentes e, acima de tudo e que me enleva, a descobrir-me;

afinal... normalidade

depois da ausênci, a constatação do óbvio, o chover no molhado, dizer mais do mesmo, reconhecer a banalidade da normalidade;
afinal este é mais um Verão normal, igual a todos os outros;
há fogos um pouco por todo o país, os políticos estão ausentes em parte incerta, os jornais falam de banalidades de verão, futilidades estivais e coisas que tais;
não sei se esperaria algo de diferente, mas destaca-se a normalidade;

quarta-feira, agosto 9

...

desagradável neste período de férias é a quantidade de restaurantes, cafés, pastelarias, cervejarias, casas de pasto ou de comes e bebes que nesta minha santa terrinha de Évora está fechada;
é ver o pessoal a cirandiar de lado para lado, à procura de alguma coisa aberta para molhar o bico, fazer uma pausa de almoço ou simplesmente trocar dois dedos de conversa com os amigos, com os turistas;
numa cidade que se pretende turística, que deverá funcionar todo o ano os estabelecimentos mais solicitados nesta altura resolve fechar;
depois queixam-se da crise ou das grandes superfícies comerciais; os comerciantes desta terra (não todos, nem todos de igual modo) pararam no tempo, naquela frase que "antigamente é que era bom"; para eles, não pensavam era no cliente, pois claro;

redução

com algum esforço e muita contenção lá tenho conseguido reduzir o perímetro da cintura, algo castigado durante o período de férias;
desde o início do mês até hoje, já desapareceu perto de um kilito; ainda falta alguma coisa para o objectivo inicial, mas é de salientar;

lazer e prazer

convenhamos que, para quem está a trabalhar, este mês é um período de contrários agradáveis;
por um lado, o aborrecimento do trabalho (há quem goste), por outro o conforto de não haver moengas;
por um lado, o calor, por outro o prazer dos ares condicionados e do fresco interior das casas alentejanas;
por um lado, o sol que queima a pele e os mais simples neurónio; mas, por outro, o prazer de termos quase sempre um lugar para estacionar à sombra;
por um lado, a desculpa de alguns serviços pela falta de pessoas, que estão de férias, por outro, o prazer das poucas ou nenhumas solicitações a alguns serviços que permitem que, neste mês, haja uma resposta de qualidade, atempada e, acima de tudo, oportuna;
o lazer e o prazer, de mãos dadas para quem trabalha;

segunda-feira, agosto 7

stress

uma das minhas causas de stress está relacionada com a redacção de um prjecto de investigação;
descoberta recente, confirmada a minha admiração, resta-me a surpresa da causa de stress de uma coisa que, aparentemente e à partida, até seria (e foi em tempos) uma fonte de prazer;
o certo é que tenho as ideias (construir o estatudo do aluno do ensino não superior como uma medida de acção política que se inscreve nas naarativas de regulação do sistema), as pretensas teses (que o regime disciplinar vai para além da conformidade às normas e às regras definidas localmente e se relaciona, intimamente, com práticas pedagógicas, com o sistema de organização da escola e da rede local de formação) e linhas de orientação (que o estatuto do aluno é um referencial de regulação do sistema de educativo em tempos marcados por processos de multi regulação);
para quem perceba a retórica educativa, isto até pode parcer pertinente;
pois; o problema é quando me sento, frente ao computador, com os apontamentos mais ou menos organizados e ganho uma urticária em que nada sai, tudo me incomoda;
falta pouco mais de um mês para a entrega do relatório e, até ao momento, tenho duas páginas escritas e com manifesta falta de fundamentação;
ai o stress; como alentejano assumo que me dou muito mal com o stress; causa-me stress;
que fazer? que posso eu fazer para ultrapassar o impasse stressante;

pressas

podem não acreditar, mas gosto da fama e do proveito de ser alentejano;
só não gosto é das pressas dos afazeres que fazem com que aqui chegue à pressa, escreva coisas à pressa e saia à pressa;
para alentejano que se preze isto de tanta pressa até cansa;

quarta-feira, agosto 2

mamarrachos

não sei se sabem ou se conhecem a expressão utilizada - mamarracho;
senão a conhecem é algo que se destaca de uma paisagem e a oprime, a fere, qual furúnculo cutâneo que queremos arrancar e não podemos;
um mamarracho é algo que marca negativamente a paisagem urbana, que assinala, de modo claro, a falta de gosto;
pois é, mamarrachos são o que andam a pulurar na minha aldeia da Igrejinha, concelho de Arraiolos;
apareceram três novas urbanizações que, com os seus implantes, ferem (em alguns caos gravemente) a tradição, o hábito e a cultura das gentes locais, a história da construção local e regional; utilizam materiais que nada têm a ver com o local, com a aldeia, com a tradição; adquirem volumetrias que sombreiam tudo o resto e escondem a história; adquirem lógicas de circulação que mais parecem um bairro suburbano da cidade de Évora, revelam ideias desconchavadas, desconexas da realidade e do contexto;
e permitiram-no; deixaram que acontecesse;
mamarrachos.

ligações

apareceram, neste novo figurino, um conjunto de ligações que são, antes de tudo o mais, ligações afectivas;
ideias sobre o meu mundo e como eu gostaria que ele fosse; ideias sobre a escola e sobre o Alentejo, ideias sobre a política e sobre a vida;
não é uma troca, é o reconhecimento do prazer da escrita, dos sítios por onde habitualmente poiso o olhar e descanso sentimentos e me descubro, a mim mesmo, nos outros;
provavelmente irá crescer à medida que me descubro mais e mais;
assim me conheço, assim me dou a conhecer;
uma intimidade pública;

glorioso

lá vai o (antes) glorioso, de derrota em derrota até à vitória final;
palavras para quê, declaramente que o enginhero não tem nem arte nem engenho para aquilo, nem aquilo tem arte ou ponta por que se lhe pegue;
já tremo só de ouvir falar alemão;

terça-feira, agosto 1

cores

de certeza que o miguel já pensava que não lhe ligava, que o tinha desprezado e esquecido;
está ele bem enganado; não esqueço quem gosto;
vai daí só agora, só hoje, mostro a proposta que ele me fez chegar deste novo template;
como ele confunde cores, e por agora, perdoo-lhe o excessivo laranja aqui presente; nada que não se altere;
de resto, mais uma alteração para que tudo fique na mesma - o tudo é a escrita, os sentimentos e as amizades;
obrigado miguel, boas férias;

passeio

este é um mês em que gosto particularmente de passear às grandes cidades, Lisboa, Porto, Coimbra e coisas que tais;
invariavelmente com a família em fim-de-semana de Agosto fazemo-nos à estrada; geralmente para Lisboa.
Adoro Lisboa nesta altura, os seus bairros em redor do Castelo, os museus, as esplanadas à beira rio, os passeios nas avenidas novas, o sol por entre as colinas;
como adoro o Porto, quente sem ser sufocante, agradável na pronúncia do norte, as noites temperadas na foz, na ribeira (entre uma e outra margem) nos bairros do Douro;
neste mês não ha confusão de gentes e de trânsitos; os lugares públicos estão cheios de ninguém; somos todos turistas, a despreocupação é geral e o prazer comum;
são os meus passeios de Agosto;

prazer

em férias, ao contrário do que é ventilado pelas figuras ilustres naqueles programas de tv para férias, cheios de coisa nenhuma, procuro não ler nada, descansar das leituras - é o célebre prazer de ter um livro para ler e não o fazer - sejam livrescas sejam jornalisticas;
distancio-me de mim mesmo, dos quotidianos, dos afazeres, das preocupações, das consternações diárias;
em final de férias regressa-me a vontade de ver telejornais, de mirar as manchetes de alguns (poucos) jornais, de folhear um ou outro livro;
chegado de férias, na frescura viçosa da retemperança, dou com os jornais ocos, mais ocos do que o habitual; e dou com alguma vontade de regressar ao trabalho, agora que está meio mundo de molho;

férias

finalmente acabaram-se-me as férias; finalmente estou de regresso ao trabalho;
não estava farto desta vida de cão que são as férias;
mas reconheço algum cansaço dos trabalhos inerentes às férias; deslocações daqui prá'li;
magotes de gente (e não era Agosto), areia em tudo quanto é lado (e alguns bem aborrecidos); alguns excessos (acrescentei um kilito ao pecúlio do ge), muita sede, crianças que querem isto e depois aquilo, a esposa que só quer ver mais esta montra, este pormenor, aquela ideia, os pais que se queixam de andarmos por fora, os sogros porque não vêm os netos, irra...
finalmente estou de regresso ao prazer do ar condicionado do serviço; ao tempo descansado sem areia nem filas de espera, comer a horas certas e comedidamente, recuperar a perda de calorias e as leituras que nunca faço em férias;
finalmente é o regresso;