segunda-feira, fevereiro 28

da crise. Mais um apontamento onde podemos perceber, analisar e perspectivar o nosso quotidiano.
Fundamental para procurar perceber quais os possíveis ou eventuais caminhos de saída deste buraco onde nos colocaram, onde nos colocámos.
E não é inocente a comparação entre dois dos mais centralistas padrões da escola nacional, o português e o francês, como não é inocente ser exactamente nestes que surge o maior descontentamento.
aniversário. Hoje uma das minhas referências enquanto pessoa e professor faz anos. O meu pai, Manuel Cabeça mais velho, chega aos 70 anos.
Mais ou menos sem querer, apenas com a sua figura, a sua pessoa a sua discreta e, por vezes, distante presença foi um dos professores que mais me influenciou, mais me marcou.
Marcou-me essencialmente em dois aspectos, na tolerância para com o outro, para com as ideias, e na paciência que é preciso ter para aturar determinadas pessoas ou saber passar por certas situações.
Parabéns meu pai.
das ilhas. Chamo aqui a atenção para a imagem que o meu colega e amigo Miguel colocou ontem no seu sítio.
É um desafio, é uma ângustia, são multiplas sensações, entre a incapacidade, a frustação, o zangado e o triste aquelas que percorrem quando damos e nos apercebemos destas situações, onde somos ilhas no meio da gente.
Esta é uma das muitas situações com as quais a escola, e os professores, se confrontam quotidianamente. Esta é uma das situações que dá origem aos conflitos de equilíbrios de poderes, de disputa de espaço, de afirmação de posições.
A escola, professores, isoladamente não conseguirão dar resposta a esta situação. Sozinhos mais não fazemos que acentuar ilhas, talvez criar pontes entre elas, mas não deixaremos de ser ilhas.
A colaboração, a partilha, a troca de ideias, a participação, a cooperação, o envolvimento, a troca, o diálogo são elementos que podem colaborar na resolução destas situações.
Saibamos nós, professores, dar origem aos diálogos, à conversa, estabelecer pontes, aproximar pessoas e ideias e muitos dos nossos problemas estarão resolvidos.

domingo, fevereiro 27

das difíceis. Ontem, no âmbito de uma acção de formação que frequento [de modo a obter os necessários créditos à subida de escalão], colocaram-me uma pergunta das difíceis, daquelas para as quais não tenho uma resposta.
Por que sou professor? Por que escolhi esta profissão?
Não sei. Nunca soube, nunca percebi o por quê desta minha opção.
A recordação mais forte que tenho, relacionada com a opção profissional, é a de, já grandinho, provavelmente no final do 12º ano, ter assumido que seria professor e, mais importante, professor de História.
Mas em pequeno nunca quiz, nunca pensei em ser professor. A minha filha brinca aos professores, o meu filho afirma que gostaria de ser professor. Não me lembro nunca de estas situações terem ocorrido comigo.
Sou professor. Pronto final. E gosto de ser.

sexta-feira, fevereiro 25

quotidiano 2. Sexta feira de tarde. Sala de professores. Sala quase cheia, docentes distribuídos por diferentes mesas. Pequenas conversas, pequenos sururus.
Mas um quase silêncio.
Alguém questiona, afinal, que se passa nesta sala que é um silêncio destes? Afinal é 6ª feira. Alguém, sem levantar muito a voz, quase que a passar despercebido, diz que é exactamente por isso, afinal é 6ª feira.
Fim da semana. Fim-de-semana. Vamos a ele.
quotidiano 1. Depois de almoço, ao entrar na sala de professores, oiço comentários sobre um eventual estado de embriaguez de um conjunto de alunos. Oiço, mas não percebo de que turma e/ou em que circunstâncias a colega se terá apercebido dessa eventualidade.
Depois do toque encaminho-me para a sala de aula. No corredor sou abordado por um conjunto de alunos que, entre o eufórico e o brincalhão, dizem que beltrano e sicrano estão bêbados.
Quando entro na sala de aula um deles dirige-se-me e sinto o cheiro a alcóol.
Para os meus botões em fracção de segundo penso como reagir, que fazer.
Impensável deixar seguir a situação, ficar-lhe indiferente. Não propriamente desejável envolver o conselho executivo pelas conseuqências ainda piores que poderá acarretar.
Procuro a directora de turma e comunica-se aos encarregados de educação. Comentário de um deles, ó setor foi os pais pais sabem que eu bebo.
Sinto-me regressar a tempos atrás, a anos passados, a outros lugares, com os mesmos problemas com os mesmos desafios. Tempos?

quinta-feira, fevereiro 24

dos modos (2). Ainda a propósito desta posta uma questão que ficou por fazer, apesar de nesta altura do período escolar, não estarmos grandemente disponíveis para a conversa, mas cá fica ela:
Qual a tua preferência, qual o teu modo preferido de leccionar, com base na convicção ou na confiança?
dos preparativos. Estou a organizar o meu final de período lectivo. Puxo de uma folha, um quase A5 que utilizo frequentemente para anotar ideias, deixar opiniões, colocar propostas e, neste caso, organizar tarefas.
Registo, elaborar relatórios de turma, estruturar avaliações, acrescento os níveis de ensino e as respectivas turmas, de modo a não deixar nenhum de fora, a não esquecer nenhum dos grupos ou dos objectivos a que me proponho. E páro. Não sei se me faltam ideias se me faltam tarefas se me falta a vontade. Não sei qual é, mas sei que quase de certeza é um deles.
No meio ainda acrescento a preparação das últimas fichas de avaliação, um quadro de autoavaliação e de avaliação do trabalho do professor.
Entretanto escrevo estas linhas quase que a necessitar de algum tempo para ter a certeza que está feito, que o meu trabalho está orientado.
O trabalho está orientado, eu é que preciso de orientação.

quarta-feira, fevereiro 23

dos modos. Ensinar é um acto relacional. E há modos próprios que suportam este acto, esta relação e que a condicionam, quer na relação presente quer no que ela pode originar, o que daí pode resultar.
Criar, apoiar, incentivar este acto sem afectos, sem qualquer tipo de sentimento é despejá-lo, despi-lo dos seus mais profundos sentimentos, despojá-lo da sua razão de ser.
É isto que fica explícito num dos blogues com as mais longas pequenas frases, como esta
Existe uma grande diferença entre ensinar apelando à convicção ou à confiança. E este problema é partilhado quer por doutores de Religião quer por professores de Ciência.

terça-feira, fevereiro 22

da música. Hoje dei música aos meus alunos. Música chata, difícil de digerir, de perceber.
No âmbito do barroco e da arte barroca, para além de vermos imagens do barroco optei, como quase sempre o faço, por trazer autores do barroco, Mozart, em primeirissimo lugar, Bach, Vivaldi hoje foram os destaques.
Não disse nada e no meio da aula, enquanto se dissecava um quadro de Rembrant, enquanto se rabiscavam ideias, coloquei o disco e levantei o som.
Primeiro impacto de espanto, daquele questionar matreiro, de coisas de cota, pois claro. Depois uns quantos procuraram perceber o que era, outros para que era.
Passámos o resto da aula a ouvir Mozart - sonatas para piano. No meio da conversa saiu-me um lugar comum, não é preciso gostar, não é para gostar já. Basta ouvir.
do desgaste. Na escola, em qualquer escola de qualquer nível de ensino, realizam-se sempre coisas, pequenas ou grandes acções, pequenas ou grandes tarefas, pequenos ou grandes momentos, sejam de convívio, partilha, festivas ou outras.
Umas há que conseguem sair do restrito espaço dos corredores da escola, outras ficam por eles condicionados, delimitados, outras ainda nem a esses conseguem atingir.
Reconheço que já me senti preocupado, angustiado quando realizava uma ou outra acção (e já realizei muitas). Não conseguia perceber o porquê de ficarem condicionadas a um pequeno e restrito circulo, fosse de amizades, curiosidades, interesses ou de interessados, participantes ou conhecedores do que se fazia, do que se passava, do que acontecia.
Com o passar dos anos limito-me a fazer. Não tenho, não sinto qualquer tipo de preocupação sobre os eventuais ou possíveis impactos daquilo que faço na escola onde estou. Primeiro porque o faço com os meus alunos, segundo com amigos. Depois porque já me passou a febre de um qualquer tipo de reconhecimento e ainda porque considero que a educação é sempre de longa duração e não é um acontecimento, um momento que altera seja o que for.
Tudo isto, todo este português para descansar um amigo, que discorre exactamente sobre esta problemática e apoiar outros na realização de coisas, momentos, acções na escola.
A escola precisa. Os miudos agradecem. Disso eu sei. O resto...
das ideias. Um texto que se pode tornar uma referência na área da análise da pedagogia para não entendidos.
Um texto onde se aborda, de forma clara e directa, aquilo que E.P.Coelho designou de "opinativo estúpido", isto é, a pretensa opinião que todos temos sobre tudo e mais alguma coisa, algumas dela sem sabermos do que falamos. Mas falamos.
Vale a pena, nem que seja para se iniciar a desmontagem de alguns mitos, outros mais.
do quase. Quase no final de mais um período lectivo, as ideias não abundam, as preocupações sobre as avaliações marcam presença e aquelas pequenas (grandes) coisas do nosso quotidiano condicionam [tolham] o nosso viver.
Se juntarmos a isto uma rede informática do tempo da pedra, sempre virada [de viroses e do avesso], ocupada e solicitada, sobra pouco para vir aqui dizer olá, marcar este ponto, quase como obrigação que não é.
Resultado e consequência de tudo isto, uma presença algo intermitente nesta blogosfera. Apenas a suficiente para saber que não desisti de aqui deixar ideias, opiniões, sentimentos e coisas da escola... com estórias dentro.

segunda-feira, fevereiro 21

da manutenção. Apesar de tudo, apesar do carácter memorável que atribuo à noite de ontem, o dia amanheceu como quase todos os outros, solarengo, frio.
Apesar de tudo, o dia foi igual, as pessoas corriam de um lado para o outro com o nornal ar indisposto de mais uma manhã. A vontade dos miudos na sala de aula persistiu a mesma e as conversas quase que foram iguais.
Quase, pois houve subtilezas, pequenas nuances, grandes preocupações. As conversas rodaram em torno de quem será o nosso(a) ministro(a), entre a ângustia de outros desafios, mais uns, de outras reformas, mais uma, de novas modas e outras tendências o desejo (infrutífero?) de ser um dos nossos, isto é, alguém que conheça a escola, os diferentes níveis de ensino, os nossos problemas, as nossas ambições e não apenas mais um caríssimo docente do superior em que do conhecimento da escola apenas tem recordações vagas de quando por lá andou ou por que os filhos lá andam e conhecimento científico.
A ver vamos.
ME-MO-RÁ-VEL. Só agora, quase no fim do dia, consigo encontrar um computador com acesso à net. Não estou a par do que se disse e se escreveu nesta blogosfera, nem aqui nem na generalidade da imprensa diária.
Mas certamente muito já terá sido dito e escrito, pensado a rezado, definido e perspectivado.
Entre tudo o que se disse e apenas com a vontade de expressar o meu contentamento, tenho que dizer que o dia de ontem, a noite de ontem foi simplesmente ME-MO-RÁ-VEL, assim mesmo, silaba a silaba, de modo a sentir o gosto e o prazer de cada letra numa vitória que ficará para a História.
Haja agora capacidade de ousar e ousadia de arriscar e bom senso e teremos um outro país, um outro futuro.

sábado, fevereiro 19

das escritas. Perguntaram-me há dias como é que conseguia falar [escrever] só e exclusivamente da e sobre a escola, onde é que há tanto assunto para se poder escrever e descrever como o faço e sobre o que faço.
Reconheço que fiquei entre o surpreso e o agradecido.
Surpreso por que falar da escola é fácil, tão fácil que há imensa gente que, por dá cá aquela palha, discorrem ideias, apresentam números, levantam hipóteses, apontam sugestões, apresentam propostas, definem objectivos, etc. Uns por conhecerem a escola, nela trabalharem ou simplesmente por lá terem andado, sabe-se lá em que condições, ou por que agora são pais/mães e lá vão acompanhar a prole. Mas por tudo e por nada se opina sobre a escola.
Agradecido por reconhecer que encaro a escola como uma totalidade. Ainda que pontualmente possa discorrer sobre um tema ou outro, centralizar um assunto ou destacar uma problemática não o consigo fazer sem que esteja colado à escola como um todo.
Enquadra-se, nesta minha leitura, a metáfora orgânica, em que encaro a escola como um corpo em que, perante uma qualquer forma de abordagem, não posso desmembrar a parte injuriada, isto é, sujeita a tratamento. Qualquer intervenção numa parte, por muito específica que seja, tem reflexos no todo.
Esta tem sido uma das minhas principais dificuldades em isolar um aspecto, um tema, um assunto que me permita avançar para um projecto de doutoramento. Por muito que diga ou invente outras coisas, esta minha forma de encarar a escola é, ao mesmo tempo que uma vantagem, um obstáculo a um processo de investigação.

sexta-feira, fevereiro 18

das eleições. Inevitavelmente hoje, ao longo da manhã, nos intervalos de maior afluência à sala de professores, fala-se de política e de eleições. Confirmam-se, ou infirmam-se, as sondagens, fazem-se comentários aos comentários, mas há duas coisas que me surpreendem e que não há meio de deixarem a escola e os professores.
Por um lado, ninguém se compromete, niguém assume uma posição, ninguém defende um dado partido. Pela contabilidade desta sala de professores [peço desculpa mas não generalizo] domingo ganha a abstenção, o voto em branco. Segunda feira logo se verá se assim é.
Por outro lado, subsiste nas conversas de professores [se calhar não só] que os partidos são todos iguais, persiste e insiste-se na ideia que não há diferenças entre partidos, entre lideres, entre protagonistas. É tudo a preto e branco, nem gradações entre um e outro se permitem.
Banalidades do lugar comum, da ideia feita.
É certo que uma ideia (a do não compromisso, a do não comprometidmento, a do não envolvimento) acompanha outra (é uma forma auto-justificativa, racionaliza-se em função da não diferença a indiferença).
Mas sendo os professores um dos grupos sociais que, de acordo com estudos feitos, mais apoia o Bloco de Esquerda é de estranhar a indiferença.
30 anos de democracia ainda não criaram espíritos livres?.
do silêncio. Este senhor, amigo virtual de longa data, cumplice de desabafos e de ideias, festejou 40 e queria passar despercebido. Entrou na curva ascente da ternura, onde os sentimentos se encontram com a razão, onde a emoção fala à razão e, por incrível que possa parecer a alguns, entendem-se.
FESTEJOU 40 E QUERIA PASSAR DESPERCEBIDO. QUERIAS, MAS NÃO CONSEGUES.
PARABÉNS.

quinta-feira, fevereiro 17

da paixão. O Miguel deixa um comentário a esta minha posta que me leva a tecer, a partir dela, outras ideias, outros comentários.
Uma das coisas que falta na nossa escola é, no meu entender, paixão, gosto, prazer, encanto naquilo que se faz, onde se faz, com quem se faz.
É fácil perceber o gosto que uns e outros têm (ou não têm) pelo prazer com que se fala daquilo que se gosta, daquilo que se ama.
Um exemplo.
Há tempos, em plena sala de professores, discutia-se a relação pedagógica, concretamente a relação professor/aluno enquanto elemento social e afectivo de produção de conhecimentos. Às páginas tantas estava eu e uma colega empenhamente a conversar sobre o imenso prazer que é ser professor, ouvir a gritaria das crianças, brincar com as imperfeições, despertar nelas o interesse e o gosto por aquilo que fazem, ter-se prazer em ser-se bom naquilo que se faz. No meio de um mesa onde estavam uns 6 ou 7 elementos, todos professores, houve alguém que se atreveu a dizer, bolas vocês gostam mesmo disto. E é a mais pura da verdade.
Ser professor não é fácil, por muito que se diga o contrário, a construção permanente de sentidos, a variadade de situações e casos, a multiplicidade de acontecimentos, a simultaneidade de pedidos, a reprodução incessante de ideias, esgota facilmente uma pessoa. Atender uma pessoa de cada vez é uma coisa, atender e negociar situações, afectos, conhecimentos e poderes com 20 ou 30 é outra complemente diferente.
Se não se gosta, se se está contrariado imagine-se o sacrifício que não é.

terça-feira, fevereiro 15

da sala de professores. Quando fumava gostava do cantinho, por que era efectivamente um cantinho, não tem nada nem de carinhoso nem de ternurento, que pertencia aos fumadores, nos tempos em que existia um cantinho onde se podia pecaminosamente pecar de cigarro em punho.
Hoje não reconheço grande utilidade à sala de professores. Tenho que reconhecer que desde que deixei de fumar, não gosto da sala de professores.
Há uns anos atrás era por que era novo na escola, tinha chegado tarde e não me enquadrava. Depois, dizia eu, por que a escola tinha uma cultura e um clima muito próprio que dificilmente aceitava novos protagonistas. Depois ainda por que gosto de estar na sala de aula, escrever coisas, registar ideias, preparar o espaço. Seja por que for, não simpatizo com a sala de professores, nem com a decoração, nem com a arrumação. São, digo eu, todas muito institucionais, muito institucionalizadas, quando não mesmos ritualizadas, isto é, dadas a fins e meios muitos específicos de uma cultura profissional, de amizades entre o social e o conveniente.
Agora, a partir deste comentário "Desculpa lá este meu desabafo. Não é fácil falar destas coisas na sala de professores" retirado do meu amigo [infelizmente ainda virtual] Miquel, permitam-me perguntar: para que serve uma sala de professores?
Um launge onde se espera a próxima passagem? Um tunel por onde rapidamente se entra e rapidamente se sai? Um canto onde o guerreiro recupera forças? Um ponto de encontro, qual feira de turbulências e desencontros? Um quiosque de avenida onde, entre uma bica e dois dedos de conversa, se sabem mais algumas novidades?
Porque efectivamente é verdade que uma sala de professores não é para todas as conversas.
Gostos. Manias. Pancadas.
dos erros. Será difícil determinar uma qualquer justificação para os erros ortográficos que por aqui, de quando em quando, vou deixando como rasto da minha escrita, mas também de alguma incompetência.
Um colega, ainda por cima distinto, chamou-me a atenção para um "há" que apresentei como "á".
Não justifico isto com qualquer desculpa mais ou menos esfarrapada, com um qualquer trauma de infância ou de um qualquer professor do passado. É apenas e somente incompetência.
No entanto, deixem-me tentar minimizar a situação, uma vez que não é a primeira vez que tal acontece. Para além de agradecer a chamada de atenção, tão delicada quanto eficaz, é também um claro sinal de algum cansaço, mas e por último, um reconhecimento que sou humano.
Reconheço que de quando em vez erro com frequência excessiva para o meu gosto e para o que é uma escrita pública.
enfim... erros, tenho que saber viver com eles.
do quotidiano. Há tempos dava conta do meu espanto perante os professores de télélé em punho. Hoje, cirandeava eu pela sala, como habitualmente de porta aberta, quando vejo, da sala em frente, sair um aluno com o dito cujo encostado ao ouvido.
Penso que surpresa está já ultrapassada. Não sei o que resta, o que me resta.
do outro lado da escola. Na ausência de uma aluna questionei a turma sobre o seu paradeiro. Que tem estado doente. Nada de mais, nada de anormal em face da situação gripal e viral que tem marcado os últimos tempos.
Em conversa com a Directora de Turma fico, no entanto, surpreendido. de acordo com conversas oficiosas, obtidas aqui ou ali, sabe-se que a tendência da aluna é para o abandono. Motivo, os pais são carentes, um deles está desempregado à demasiado tempo, não tem grandes possibilidades de arranjar emprego. A filha tem melhores e maiores hipóteses. Precisa-se do dinheiro lá em casa.
É um outro lado, de uma crise que afecta mais uns que outros, se sente mais nuns lados que noutros. Numa cidade marcadamente industrial a crise faz-se sentir. Até na escola.

segunda-feira, fevereiro 14

novidades. Atenção pessoal, solicitando as V/ sinceras desculpas por só agora aqui o destacar, a partir deste sítio, referência incontornável na nossa blogosfera e a não perder, o blog dos golfinhos.
E ainda dizem que a escola portuguesa, obviamente que os professores, estão parados no tempo. Só mesmo para quem não conhece o que lá se passa, só mesmo para quem não sabe o que é a escola.
e pronto... está feita a inscrição obrigatória no concurso de pessoal docente para 2005/2006.
Ao fim da 4ª tentativa os meus elementos foram aceites. Agora é esperar pela próxima fase.
dos concursos. Iniciam-se hoje, para os mais distraídos, os concursos do pessoal docente. Início pela fase de inscrição obrigatória, inscrição on-line.
Nada tenho contra o facto de ser on-line, apesar das acessibilidades ao servidor serem reduzidas, das disponibilidades de máquinas não ser a mais adequada e de informação e acompanhamento fiável ser claramente escasso.
Mas logo de manhã, porque sei que é habitualmente mais fácil o acesso pela manhã, tentei a inscrição.
Entrada tudo bem. Preenchimento, normal. Submeter? Recebi de imediato a indicação que o serviço estava em baixo, para tentar mais tarde.
E pronto, começou mais uma aventura.

sexta-feira, fevereiro 11

dos ministeriáveis. O independente de hoje (atenção, abre em formato pdf) aponta um nome para possível ministro da educação. Provavelmente um senhor que saberá muito de multimédia, dadas as suas origens profissionais, de uma nova fornada de tecnocratas perante os quais me rôo de inveja, por não ganhar o que eles ganham, por não ter as possibilidades que eles têm.
Não sei qual o fundamento da notícia, qual a sua pertinência e eventual adequação. Sei que das duas três.
Será, eventualmente, um nome atirado para o ar, como podia ter sido o nome do Prof. Dr. Zé da Esquina, e é destinado a desviar atenções, a queimar e a assegurar que de certeza este não é.
Segunda possibilidade, é uma sondagem de mercado político e profissional, um estabelecer de pontes entre a escola (e sindicatos) e uma aposta tecnológica (com que objectivos, com que intenções, com que fundamentos?).
Finalmente e última hipótese, tem toda a credibilidade e é um senhor, de nova geração, tecnocrata com destino traçado tal qual muitos outros que passaram pela 5 de Outubro e corre, como outros, os mesmos riscos apesar de não ser universitário.
Seja qual for a hipótese, arregalo o olhar de quasi espantado, franzo o sobrolho de dúvida e penso cá para os meus botões o que mais será de esperar deste sistema?.
Estou por todas.

quinta-feira, fevereiro 10

Panorama. No âmbito da campanha eleitoral a revista Visão apresenta hoje um suplemento onde é feito o desenho do estado da Nação em áreas fulcrais como a da educação.
Nos indicadores referenciados (abandono, absentismo, número de alunos e de professores, evolução, entre outros), fica umas vezes de forma implicita, outras de forma clara e evidente uma crítica aos professores e ao trabalho que se desenvolve nas escolas. Paradigmática é a afirmação que "se ensina mal e se aprende pior nas nossas escolas" (cito de cor).
Que há maus profissionais? Não discuto, como em todas as áreas, há uns melhores outros menos bons e os maus, tal qual no jornalismo. Que os professores estão desmotivados? certamente que uns quantos terão razões mais que suficientes para se sentirem desmotivados. Convenhamos que não serão muitos os profissionais a fazerem, à sua custa, centenas de km, a serem abandonados à sua sorte, sem possibilidade de definição de objectivos profissionais, sem qualquer tipo de enquadramento ou apoio (profissional, pessoal, deixo de lado os restantes).
Que os profissionais serão culpados pelo estado a em que a Educação se encontra? Certamente que terão a sua quota parte de responsabilidade, mais por omissão do que por deliberação.
Mas a grande responsabilidade da situação recai num sistema político que teima em querer resultados imediatos à custa de um sector onde a estabilidade é determinante. Já o escrevi que é fundamental a triangulação de elementos como estabilidade, avaliação e liderança.
Na escola e na educação, para além da ausência de formação e de organização, nota-se a ausência de um qualquer daqueles elementos. Responsabilidades? Não pensem exclusivamente ou unicamente nos professores.
das respostas. Em face da análise da situação anterior, foi equacionada a possibilidade de definição de alternativas, de se arranjar uma solução (temporária, precária, rápida) que permitisse à aluna (a esta e a muitos outros) por um lado a conclusão do ano, por outro a criação de factores motivacionais que lhe permitissem a conclusão da escolaridade obrigatória.
Não há, é dito e afirmado.
Não conheço a legislação em todos os seus detalhes [tenho sérias dúvidas que alguém conheça] mas para que a escolaridade seja efectivamente para todos e a escola seja um espaço de oportunidades, há que criar possibilidades de alternativas dentro da própria escola, no próprio sistema.
Já houve currículos alternativos, o 9+1 entre outros. Seria útil a definição de possibilidades onde incluir e inserir alunos que, de outro modo, apenas têm o abandono como alternativa, a conflitualidade [cá está também a indisciplina] como opção, e o desinteresse e a desmotivação como orientação.
Estamos longe, muito longe, de uma escola democrática, tolerante, inclusiva, promotora da cidadania.
institucionalizada, é a pessoa que se encontra ao abrigo de uma dada instituição, em virtude de carência social, pessoal, afectiva, familiar ou outra.
Termo pomposo apenas para referir que é uma pessoa esquecida por aqueles que dela não se deviam esquecer.
Termo institucional para referir aqueles que a sociedade, por uma ou outra razão, não integra, não promove.
É o caso da aluna que hoje, por excesso de faltas, manifesto desinteresse e incacidade institucional, foi proposta para exclusão da escola.
16 anos feitos há pouco mais de uma semana, frequência do 7º ano da escolaridade pela segunda vez. Estrutura familiar de pantanas, revolta pessoal permanente, contra tudo e contra todos, apenas na afirmação do contra. Lider incontestada de revoltas emocionais, de disputas de pequenos poderes, de pequenas vitórias.
Reconheço que fiquei triste. Inicialmente ainda expressei a minha vontade de me bater contra a proposta de exclusão. Perante os factos preferi o silêncio comprometido. Comprometido pela incapacidade, pela minha ignorância, pela impotência.

quarta-feira, fevereiro 9

da memória. Sem querer regressar à temática da indisciplina, não resisto em chamar a atenção para este texto, género resposta ao desafio colocado, e ao comentário que acabei por ali inserir e que aqui reproduzo.

"Que me seja permitida a ousadia, perante um texto pleno de saber e de longa experiência feito, não são apenas as pessoas das ciências da educação que não estão contentes, penso, e espero não ser abusivo na generalização, que muitos de nós - professores, alunos, pais e encarregados de educação, políticos - estamos descontentes com o que temos. Não apenas por ainda não termos uma escola para todos, ainda estamos muito longe disso, como ainda prevalecerem vestígios de uma elitização escolar e educativa que condiciona enormemente a sociedade, como o próprio modelo de escola - e da formação inicial e continua - instigarem comportamentos e atitudes que deixam muito a desejar a uma escola que se pretende democrática, participativa e inclusiva. Com isto não se pode pretender que se homegenize e uniformize tudo e todos. Será na consideração da diferença que se poderá ultrapassar a indisciplina, afinal o motivo central de todo este comentário e de se considerarem as ciências da educação como elemento fundamental na e para a construção, interpretação e compreensão da escola (e dos seus problemas) que temos e que queremos. Talvez assim se possam ultrapassar (falsos e despropositados) bodes expiatórios e assumirmos, cada qual no seu lugar, as responsabilidades pelo sistema que temos."
da indisciplina (2). Ainda a partir deste desafio, o Miguel lança um olhar que tem tudo de pertinente e com o qual os professores têm, habitual e genericamente, alguma dificuldade em lidar, isto é, integrar comportamentos desviantes, indisciplinados, como elementos de desenvolvimento.
Será certamente neste sentido que pergunta se A indisciplina como uma manifestação de desobediência poderá ser positiva?
Deixei um comentário que trago para este meu cantinho por considerar útil para a discussão.
Numa primeira ideia, a vontade mais imediata é dizer que sim. Sem quebra de regras, sem superação das normas e da normalidade não há evolução, não há rupturas, não há inovação, avanço, salto em frente, descoberta. Mas para que seja positiva há que distrinçar entre indiciplina e autoridade e o lócus desta tem de saber aproveitar e orientar aquela.
Contudo, acrescento agora, a indisciplina nunca é neutra, ao contrário do que se poderá inferir a partir do título. A indisciplina tem sempre um centro de produção, como tem factores a montante que a enquadram e delimitam e tem circunstâncias a jusante que a ajudam a compreender e enquadrar.
Neutra não. Positiva sim, pode ser.
do agradecimento. A minha distinta colega Maria disponibilizou uma lista de galardoados e respectivos ex-libris, onde consta esta coisa da escola.
Só tenho a agradecer a referência e o respectivo enquadramento [apesar de não estar assim tão gasto, digo eu, nem ser meu hábito o casaquinho de twid].
Mas mais que a minha pessoa ou a escrita que por aqui vou deixando, entre ideias e alguns pensamentos é a escola que considero estar ali referenciada. A escola como local de trabalho, de pensamento, de ideias, de amizades, de descobertas, de surpresas, de instantes.
É a escola como estão outras ideias, outros pensamentos que se traduzem e visibilizam noutras referências.
Pela parte que me toca, obrigado.

segunda-feira, fevereiro 7

do dito. Zangam-se as comadres e é o que se sabe. Leiam esta, pela pena do próprio ex-ministro da educação. D. Justino, na primeira pessoa e percebam no que estamos metidos. E ainda a procissão vai no adro.
das faltas. No global de todo um conjunto de ideias mais ou menos feitas sobre a escola (a indisciplina antes referida, é um dos exemplos) e a sociedade, de um modo geral, defendo duas situações como principais responsáveis por aquilo que hoje somos.
A falta de formação e a falta de organização.
Um e outro, eixos fundamentais, estratégicos para podermos perceber e compreender muito daquilo que nos rodeia, a sua estruturação e as suas implicações.
Elementos essenciais para a capacidade de definir outros arranjos, outras respostas. Sem formação e sem organização ficamo-nos pelas simplicidade do banal e quotidiano, pela incapacidade de pensar mais além, além do nosso nariz. Sem um e sem outro temos mais dificuldades em aceitar o que é diferente, a compreender e a assumir a tolerância do que é diferente.
Um país de doutores onde reina o analfabetismo funcional, organizacional, social e, muito importante, político.
da indisciplina. A partir deste desafio uma ligeira e sumária abordagem à indisciplina.
Esta situação não é nem nova nem se reveste de contornos inovadores. Novo ou pelo menos, diferente, é a abordagem que dela se faz, o olhar que sobre esta problemática se lança. Em plena década de 80 a culpa era da sociedade e da massificação da escola e da educação, a abertura da escola a todos os públicos o alargamento da escolaridade e do universo escolarizável era apontado como um dos motivos da indisciplina.
Já na década de 90 o olhar era multifacetado e entre os problemas da massificação e as (in)capacidades de respostas por parte da escola [entenda-se, dos professores] a indisciplina era vista como uma quebra social, o permanente confronto entre urbano e suburbano. Quando esta situação se alastrou aos meios rurais houve que determinar outros modos de encarar a problemática e o alvo foi determinado ou nas ciências da educação [as grandes culpadas das incapacidades locais e políticas] ou no papel que a escola [entenda-se, professores] na definição de estratégias e metodologias que permitissem a definição de estratégias inclusivas, diferenciadores, integradoras de públicos heterogéneos.
Entre um ponto e outro, houve ainda tempo para retratos psicológicos do estudante português, do papel do professor, das relações afectivas e psicossocioafectivas que se estabelecem na sala de aula, como houve tempo de estruturar olhares mais etnográficos aos pátios das escolas, às disputas sociais e relacionais que ali se definem, às relações de poder na turma e no grupo e em face do papel (e da autoridade) do professor. Como houve tempo de estruturar culpas à desagregação da família, da comunidades, dos laços afectivos de vizinhanças ou de amizades, ou à televisão e ao papel que ela assume na substituição de outros modelos sociais.
No meu entender, tudo isto tem a sua quota parte de responsabilidade, de contributo e de participação na definição das relações que se estabelecem na escola e na sala de aula e na criação de situações de (in)disciplina ou de conflitualidade (e há que separar um do outro).
Fundamental na sua abordagem, na sua resolução e intermediação como interpretação o papel do professor que, muita das vezes por manifesta falta de formação, não sabe lidar com esta situações ou, pura e simplesmente, se alheia delas.
Lugares comuns: quantas vezes um docente passa por uma rixa de miúdos e olha para o lado, quantas vezes um docente se apercebe de uma situação de conlfito latente entre alunos na sua aula e passa à frente; quantas vezes um docente ouve comentários e bocas e finge que é surdo? quantas vezes um docente manda calar um aluno só porque sim, só porque quer afirmar a sua autoridade?
O saco enche, transborda e... às vezes rebenta.
das ligações. O conjunto de ligações laterais, entre favoritos, entreténs e algumas paixões, sofreu alterações.
Alguns de manifesta justiça, retribuir o link. Outros o assinalar o prazer o e o gosto de olhar as imagens, as escritas, as ideias. Outros ainda por manifesta cumplicidade, quer profissional quer regional.
Uns quantos desapareceram. Por estarem inoperacionais há demasiado tempo. Outros por me desconhecerem e não existir reciprocidade de ligação, outros por despeito da minha parte.
A actualização segue dentro de momentos.
Bom carnaval.

sexta-feira, fevereiro 4

dos comentários. Não é situação única chamar a atenção de quem por aqui passa para a pertinência dos comentários, das observações, dos pensamentos que uns e outros de quando em quando deixam neste espaço. Faço-o outra vez. Tenham em atenção este conjunto de comentários, mais ricos e de maior sentimento que a posta que coloquei, quase que de raiva.
Como me permitam acrescentar duas ideias.
Uma que a solução não é nem política nem administrativa, é de cada escola, de cada professor, de cada consciência. Provavelmente não me perguntarão a opinião sobre a exclusão, mas, como já aconteceu noutras situações, farei figura de chato, de moenga e ouvir-me-ão desabafar e dizer coisas contra este estado de coisas, contra esta situação. Compete à escola criar alternativas. Compete aos professores trabalhar para que existam alternativas.
Segunda ideia, estou certo que muitos conhecerão as ideias e o pensamento quer de Ruben Alves, ou Paulo Freire ou outros professores que procuraram incluir em vez de excluir, integrar em vez de expulsar. Como certamente na prática quotidiana inúmeros professores experimentam todas as fórmulas, todas as hipóteses, esgotem as oportunidades e as possibilidades e tudo acabe na mesma.
Apesar disto e por causa disto deixem-me só acrescentar um pequeno elemento, Paulo Freire estava na casa dos 60 anos, com perto de 40 anos de ensino, quando, alguém e alguns, o começaram a escutar. O Ensino, a educação é um processo de longa duração. Não copiem os professores os exemplos dos políticos que querem quase tudo já, uma solução à medida, pronta a aplicar. Não há fórmulas mágicas, não há tubos do ensaio que resistam a esta experiência. Como não há dois momentos iguais, duas situações semelhantes.
Há, deve haver, persistência, teimosia, vontade, paciência, perseverança. Bom senso.
da exclusão. Já tenho agendada uma reunião para propor a exclusão de mais um elemento. Aluna instável, lider da turma na sua disputa e confronto com o professor, definidora de atitudes, comportamentos e acções, obviamente que pouco confinantes com a norma, com o estimulado, com o normal e exigido pelo comum dos professores.
Uma rapariga que fez 4ª feira passada 16 anos. Sem estrutura familar. Apenas amparada pela assistência social.
Será que se resolve um problema atirando-o janela fora?
Será que o níveis de desempenho da turma melhorarão?
Qual o futuro que se reserva a esta rapariga?
Este ano, desde o início do ano até ao momento presente, este é o 6 elemento que perco. Inconcebível.

quinta-feira, fevereiro 3

das experiências. Trabalho com uma turma que está, praticamente desde o início do ano lectivo, rotulada de problemática. Desinteresse, alheamento, desmotivação, baixas ou inexistentes expectativas sociais, ausência de expectativas escolares ou educativas, disfuncionalidades e desestruturação familar são algumas das características de alguns alunos que se reflectem na escola e na sala de aula.
Repetências sucessivas, absentismo, agressividade e conflitualidade são algumas das imagens que marcam este conjunto de alunos.
Na sucessiva procura de minimizar as situações de conflito na sala de aula, optei por duas estratégias.
Por um lado, pela utilização de metodologias diferenciadas, diferenciação essencialmente ao nível de processos, que procurem ir ao encontro dos escassos interesses e da pouca motivação existente, mas também que permitam apoiar o aluno na construção de um sentido ao trabalho escolar desenvolvido. Desenvolvemos trabalhos de pesquisa e de organização da informação, procuram-se resolver problema com recurso aos instrumentos da disciplina.
Por outro lado, recorri a um constante e sempre presente estímulo positivo, de apoio, em vez de destruir, de incentivo, em vez de repreender, de diferenciar, em vez de uniformizar, de apoiar, em vez de recriminar.
100% de sucesso? obviamente que não. Ultrapassada a conflitualidade, a disputa na sala de aula? Totalmente não.
Mas fiquei seriamente surpreendido quando soube que alguns dos alunos foram alvo de repreensão disciplinar. É uma experiência, assumo. Mas vale a pena ver um sorriso onde está, quase todos os dias, amargura, desanimo, frustação. É esta a escola que temos.
dos objectivos. Há dias partilhei com um amigo uma troca de ideias sobre os blogues, aqueles onde escrevo e os outros que me ajudam a compreender e a interpretar o meu mundo.
Para que quero eu um blogue? que me leva a escrever, quase como obrigação, sempre com dedicação diariamente ideias, a partilhar pensamentos, a deixar este rasto, este lastro de mim?
A resposta mais directa é que é meu objectivo procurar, mediante a escrita e a partilha de opiniões, organizar o pensamento sobre aquilo que faço, sistematizar ideias, racionalizar práticas, teorizar sobre o que faço e praticar o que escrevo.
Então escreve numa página em branco do word, usa um diário de campo, foi a resposta/comentário que fez, tão seca como verdadeira.
Afinal, o que pretendo eu? Sair do meu cantinho para a maré alta dos blogues? quebrar o isolamento persistente da minha profissão e partilhar visões e olhares com colegas? criar uma sala de professores do tamanho do país? ser narcísico, vaidoso e dizer que escrevo para o mundo?
O que acrescentaram, de mais valia, os blogues à minha prática profissional? que ganhei eu em sair do isolamento do frente-a-frente com um ecrã em branco e em entrar nesta blogosfera?
Quando terminar? como terminar?
apenas devaneios.
da geografia. No devaneio entre este e aquele blogue, entre uma leitura e uma ideia, um ponto a fixar: existirá uma geografia dos blogues da educação? Certamente que sim, pois espalham-se pelo território nacional tal qual a mancha social e urbana do território. Mais a norte que a sul, mais ao litoral que ao interior.
Até que ponto e com que características serão eles reflexo das suas escolas?, das realidades em que se inserem?
Até que ponto este blogar reflectirá uma realidade educativa e social? Será também política? De política educativa?
Quais as leituras que os colegas docentes (aqueles que apenas consultam a blogosfera) farão dos blogues sobre a escola, sobre a educação? Existirá uma apropriação de ideias? a construção de um espaço público de participação sobre a educação nas suas diferentes vertentes? Ou apenas um encolher de ombros sobre o comum das ideias, a (dis)concordância de outras, o riso mordaz, entre o cínico e o sarcástico sobre aquilo que se escreve?
Ideias sobre uma geografia dos blogues.

quarta-feira, fevereiro 2

actualização. Há já tempo demais que não mexo nos links laterais, naqueles endereços por onde me entretenho, situação que faz com que alguns ali estejam desnecessariamente, por que desactualizados, eventualmente mortos, ou talvez não, e outros ainda ali não estejam e devessem estar.
É o caso desta memória flutuante, mas que tem amarras deveras interessantes e bolinas ainda mais interessantes, que acompanho com atenção por dois motivos ambos, para a minha pessoa, fundamentais, pela memória e pela escola.
Já lá estou referenciado e senti-me lisonjeado pelo texto que justifica as referências.
Vai ser na pausa pedagógica do carnaval, entre uma brincadeira e outra um momento sério de actualização de links [e de ideias?].

terça-feira, fevereiro 1

autonomia. O Miguel cria desafios, lança propostas, incentiva e proporciona a discussão, a troca de ideias. Logo sobre a autonomia, ele que sabe que é um tema que me é caro, excessivamente caro.
Pouco acrescento ao debate que ele procura suscitar, quer pela pertinência com que o faz, quer pelo descrédito em que a autonomia se enleou.
Não acredito na autonomia política, isto é, administrativa, jurídica (ainda que seja fundamental definir as suas fronteiras, a fronteiras de possibilidades).
Acredito na autonomia das pessoas, de cada pessoa, de cada professor, em face de um contexto, de situações, de momentos, de acontecimentos.
Não pode haver autonomia para além das pessoas, para além das ideias. Para além das vontades e das possibilidades.
Como o comentário que já lá está induz, ficamos sempre à espera que alguém decida sobre algo que é nosso, de um profissional. Enredamo-nos em eternas discussões sobre condições, capacidades, possibilidades, recursos, normas e regras quando as coisas são muito mais simples, mais directas, mais próximas de nós. Basta querer, basta agir, como todos os dias o fazemos, como o pensamos, como o ambicionamos. Basta partilhar com o outro, com um colega uma ideia, uma opinião, uma prática, uma vontade.
Basta de desejar que as coisas desçam do alto de um qualquer espírito iluminado. É tempo de as fazer crescer em cada escola, com as suas particularidades, com as suas formas, todos diferentes, todos iguais.
balbúrdia. A minha escola, esta semana, tem andado no meio de alguma confusão, de alguma, direi eu, balbúrdia.
ainda a propósito disto no passado sábado um jornal publicou um artigo que titulava "professor agride aluno a soco e ao pontapé". Como consequência não se fala de outra coisa, todos os comentários, todos os à-partes, tudo é feito, dito e referenciado face a esta confusão, mesmo atitudes, conversas e comentários tanto de funcionários como de alunos (uns e outros, cada qual a seu modo, sentem-se condicionados pelo artigo).
A minha pergunta, a minha dúvida vai para além desta confusão e instala-se na procura de um momento [por ventura fútil, inócuo e indeterminado] em que se passou aceitação da reguada pedagógica para um controlo social apertado, rígido que condiciona tudo e todos e que acaba por nada controlar.
Como se terá passado de um a outro momento? que atitudes, comportamentos, valores e impressões terão sido libertados por um e condicionado por outro?
Que se pensa controlar ou exigir quando, a coberto da hipocrisia, do anonimato, da indiferença, se visa algo ou alguém, se procura algo ou alguma coisa? que se quer conquistar ou ultrapassar com o pretenso poder ou capacidade de influenciar o outro, um profissional, um grupo, uma instituição?
Que sociedade é esta que aceita a publicação de um artigo onde apenas um nome é vilipendiado, exposto? que papeis se procuram exercer por quem agride, por quem denuncia, por quem anuncia?