quinta-feira, novembro 29

do estatuto

texto a não perder sobre o estatuto a carreira docente;

da greve

muito provavelmente de hoje a segunda-feira o tema predominante será a greve geral, agendada pelas três centrais sindicais para amanhã;
sigo (como é muito meu hábito) em contraciclo, não faço greve; farei, como todos os dias, os meus 100 km para ir e vir à minha escolinha;
reconheço que, ao nível das políticas educativas as coisas têm sido tratadas (?) com os pés e sem pés nem cabeça; reconheço que, ao nível da educação, as mesmas coisas podiam e deviam ser feitas de modo diferente; mas reconheço pertinência na defesa da escola pública (por muito que alguns queiram omitir ou esquecer esta dimensão), em particular na sua vertente de escola inclusiva, a tempo inteiro, organizacional e funcional; devia era ser conduzida de uma outra forma, não referenciado os maus da fita, mas, preferencialmente, as oportunidades e os desafios sociais que são colocados hoje em dia à escola e aos professores;
reconheço na greve (alguma) pertinência na administração pública mais genérica, essencialmente pela ausência de uma discussão política que envolva actores e dimensões organizacionais na redefinição dos seus próprios papéis, estatudo e espacialidade;
contesto a greve pela excessiva dimensão partidária, que ultrapassa em muito a sua dimensão sindical, como a contesto pelos próprios argumentos defendidos pelo secretário geral da CGTP (na sua tese de doutoramento), em que os instrumentos de luta e de afirmação dos interesses das "classes trabalhadoras" estão hoje desadequados de uma realidade profissional e social;
ir-se-ão medir forças, esgrimir números, trocar argumentos por vezes contraditórios e, estou certo, que sairão reforçadas as duas posições que se confrontam; de um lado, a inevitabilidade das reformas, o seu reconhecimento europeu e institucional; por outro, a força dos trabalhadores, o assumido cartão amarelo ao governo, a imprescindibilidade da luta;

no meio de tudo isto, onde fico eu, simples trabalhador, assalariado da função pública, emparedado entre a catrapiler governativo e a especulação sindical?

da participação

um outro assunto a que alguns sectores eborenses gostam de recorrer refere-se à falta de participação e intervenção de órgãos, organismos ou cidadãos na vida da cidade;
também me queixo do mesmo, de os espaços de participação serem limitados, confinados a uma vida institucional da qual o comum cidadão ou não se reconhece, ou se sente emedrontado pelo peso institucional ou, simplesmente, se desliga de coisas que até considera terem pouco relevo;
mas esta discussão parte de um pressuposto errado, no meu entendimento; é que a participação (que implica a vontade de intervenção e de condicionar a decisão), não deve ser confundida com a alteração dos sentidos e dos objectivos que presidem a uma opção de política; isto é, querer participar não pode significar querer alterar radicalmente (como alguns fazem transparecer) os planos do outro no meu plano, querer substituir uma maioria legitimada por uma minoria que é mais irreverente que fundamentada;
e esta participação é tanto válida aquando da discussão do PDM cá da terra como do orçamento municipal, como se quem governa o fosse fazer com os instrumentos e os objectivos dos outros e não os seus próprios;
mas é a "moenga" que se procura, mais do que a participação, ainda que por vezes envolta nos interesses dos cidadãos e de Évora; só falta perceber de que cidadão falam, de que Évora se quer;

do local - os "factus"

como pessoa e como cidadão, não me restrinjo a um olhar a escola; gosto, sempre gostei, de opinar sobre a minha terra e a minha região numa troca de ideias (com quem por aqui passa) sobre política (por vezes partidária, assumo a minha militância) mas que parte dos circunstancialismo locais;
vai daí e não consigo resistir a comentar dois factos que circulam pela cidade;
um refere-se à qualidade da água, que uns pretendem que seja o papão político da câmara e se transforme no imenso lago de imersão das políticas; a criação deste factu político - para além dos dados existentes - mostra o incómodo que se faz sentir pelas hostes que, por um lado, durante tanto tempo desbarataram esta preocupação (sou do tempo em que, pela falta de água, se restabeleciam antigos fontanários, que a conduta da rua do Muro rebentava pelas costuras, que as torneiras pingavam...) e, por outro, do assumido desconhecimento do que é a história desta cidade que condiciona o arranque e a definição de alternativas; a criação e a difusão destas notícias revelam, ainda, que a imprensa local ainda não sabe lidar com o contraditória, que assenta mais no voluntarismo que nas competências, que procura criar distâncias políticas mediante a criação de eventos do que na discussão plural e real das situações;
o outro factu relaciona-se com a localização do novo hospital, que é contestado por alguns, refutado por outros e silenciado por outros ainda;
esta discussão traz-me à ideia uma anedota do tempo em que Abílio Fernandes e o PCP comandavam os destinos do burgo; dizia-se que alguém abordou o presidente da câmara (Abílio Fernandes) com um projecto de construir uma pirâmide de vidro na praça de Giraldo (o centro cá da terra); grande ideia, sublinha o então autarca, por que é que nunca me terei lembrado de uma coisa destas; converse com o vereador das obras para se definir o projecto; da receptividade e simplicidade do atendimento, partia-se para todo um conjunto de obstáculos perfeitamente incontornáveis; e, obviamente, nada se fazia, nem ali, nem noutro lugar; e assim ficou Évora durante 25 anos;
isto é, será que um hospital de dimensão regional deveria ficar na praça de Giraldo? afinal é um espaço central, com rápidas ligações a norte, sul, leste e oeste; será que se a localização fosse na Estrada de Beja não se iria defender que seria melhor que ficasse mais perto da zona norte de modo a permitir a ligação à A6? afinal, quem afirma que o trânsito se encontra congestionado e que as infraestruturas existentes não comportam a expansão da cidade a sul, se esquece (ou omite) que o afluxo a um Hospital é tanto ou maior que a certas zonas comerciais?

há discussões por esta cidade que percebo em face da tentativa de se criarem factus políticos, onde nem sequer acontecimentos existem (relembro, mais atrás, a discussão sobre os contentores do lixo no centro histórico, do pavilhão multiusos e das suas casas de banho, a discussão em redor da escola da comenda, entre outras) onde todas se esgotaram na inevitabilidade da falta de consolidação e coerência dos argumentos; mas são recorrentes na clara tentativa de não matar à primeira, mas moer a discussão que o PS não tem feito e se tem manifestado pela ausência;

um toque final, lamento a extensão, gosto de entradas mais escorreitas para poderem ser lidas e digeridas rapidamente, aproveitando a fugacidade destes espaços; como lamento a impossibilidade de comentários anónimos, limitando e condicionando a troca de ideias, em particular de anónimos que por aqui passam e gostam de discutir os pontos de vista, lembro-me do meu amigo DD, mas fico disponível para a conversa, em circuito aberto ou fechado;

quarta-feira, novembro 28

do silêncio

há muito que há uma sociologia dos silêncios, das ausências, do não dito;
por vezes, estes silêncios, as ausências ou as omissões dizem tanto (ou mais) do que aquilo que é dito;
esta características adquire uma dimensão importante no contexto político; procuram-se as entrelinhas, os subterfúgios do discurso, as insinuações, as quebras ou variações da voz, o que ficou por dizer daquilo que foi dito, a interpretação de um sobre a interpretação do outro;
neste momento, a política eborense faz-se neste campo; não é nem bom nem é mau, é um estadio em que a cidade (a pólis política) e a sua vivência se encontra fruto de interesses e objectivos que se jogam mais nos bastidores do que na boca de cena;
de repente somos confrontados com os factos, com as circunstâncias; como há aqueles que se dizem desconhecedores e conhecem mais do que afirmam, apenas pela insinuação, apenas pelo jogo das omissões, apenas para procurar perceber o que o outro sabe e afirma conhecer;
os fóruns de discussão, muito escassos nos tempos que correm e mais legitimatórios que participativos, são disso exemplo;
valem pelos silêncios, de opção ou vocação, de presença ou de ausência;
é o silêncio que faz o ruído;

do sítio

não é a primeira vez que o escrevo, mas sou, sinto-me muito marcado pelos contextos em que me insiro;
apesar de profundamente esquisito, características que ficaram de filho único, também sou extraordinariamente maleável e adapto-me, com relativa facilidade, aos sítios, aos contextos, às características de cada espaço por onde circulo;
crio as minhas próprias gavetas de arrumação, processos de defesa pessoal e psicológica de modo a que me possa enquadrar, dentro das minhas limitações;
já passei por tanto sítio (quer escolas quer outros serviços) que já não estranho e retiro dessas passagens duas coisas (que destaco entre muitas); a minha capacidade de adaptabilidade à diferença; as saudades que sinto de certas pessoas por onde passei, onde estive - das conversas, dos sorrisos, das agruras, dos modos, da convivência;
uma e outra fazem com que cada vez mais goste de apreciar as conversas, de ouvir os outros, de perceber como com eles me relaciono, como podemos ser tão diferentes e assumir pontos de semelhança que permitem que nos relacionemos;
os sítios fazem-me e, neste momento, a escola faz-me, até através da escrita;

do estar

a sala de professores não é para mim um lugar onde goste de estar;
provavelmente poucos gostarão de ali estar; é um espaço colectivo partilhado com formas e modos muito individuais;
reúnem-se os grupos com alguma afinidade, mais pessoal e social que profissional, ainda que aqui e ali aflore esta ligação;
não é desta sala que falo, falo de todas aquelas que conheci, e já foram algumas e que, grosso modo, possuem o mesmo arranjo, a mesma distribuição de gentes, a mesma arrumação de interesses (grupos pedagógicos, etários, sociais...);
provavelmente a partir desta arrumação será possível perceber como é que a escola está organizada (modelos e práticas pedagógicas, lógicas de acção e de interacção, interesses e objectivos ali colocados), qual a cultura predominante (os valores, as ideias, os conceitos), o clima que se faz sentir (tensões pedagógicas, sindicais, até de políticas educativas, do jogo dos diferentes interesses, das situações que se levantam entre os diferentes grupos);
é um espaço onde raramente se está, passasse por lá, em trânsito, qual gare de partidas e chegadas, cada qual com as suas histórias e as suas saudades;

do choro

um miúdo, pequeno, franzino, resultado eventualmente de um andar livre e independente, estava recostado no fundo da biblioteca;
como não tem boa fama aproximei-me para perceber o que fazia; chorava;
sentado, pernas dobradas, cabeça encostadas aos joelhos, abraçado às pernas, chorava;
em tom de brincadeira perguntei o que se passava; que não se passava nada; rapidamente fomos rodeados por outros pequenos actores da escola que, há boa maneira tuga, procuravam cuscar o qe se passava, alvitravam hipóteses, atiravam comentários;
peguei no miúdo e sai para o corredor, quase deserto aquela hora;
voltei a perguntar o que se passava; se era de casa, se tinha sido na escola;
respondeu-me que, depois de uma brincadeira entre rapazes que não correu como o esperado, os amigos não lhe falavam, que ninguém lhe ligava;
fiquei entre o surpreendido e o mudo; afinal, um reguila traquina também precisa de amizades, também precisa da atenção daqueles com quem brinca em tons de empurra prá'qui e prá'li, um puxa e desembaraça;
afinal, nem tudo o que parece agressividade é agressividade; até pode ser apenas e simplesmente um modo de alguém expressar os seus sentimentos e o gosto que tem pelo outro;
ao fim de um bocado, acalmou e lá seguiu pelo corredor a fora, limpando as lágrimas à manga da blusa; fiquei a olhar, a vê-lo ir, pois conheci uma faceta naquele miúdo que não era comum e de mim desconhecida;

terça-feira, novembro 27

da alternativa

é na sequência de pensar alternativas que, se me mantiver pela minha escola, irei propor a criação de uma turma, não a pensar nos alunos, pelo menos de modo directo e mais imediato, mas de professores;
uma turma onde existam professores com diferentes sensibilidades e pontos de vista, mas reconheçam o papel preponderante do trabalho colaborativo, na definição de estratégias comuns na e para a resolução das situações pedagógicas com que nos deparamos nas escolas; onde sejamos capazes de ir além do pedido e da conformidade profissional e seja possível pensar o trabalho dos professores de modo comum, articulado e equilibrado entre todos; é apelar ao currículo para desenvolver capacidades, competências, mas também saberes e desejos;
será um desafio e uma oportunidade;

dos modelos

uma das ideias que sobressai neste título é que quando emitimos uma opinião sobre a escola (seja sobre o seu funcionamento, organização ou simplesmente sobre as suas rotinas) não emitimos apenas uma opinião mas associamos-lhe um conjunto de ideias e de valores que podem pressupor um dado modelo quer pedagógico, quer social;
na defesa de pontos de vista sobre a escola (as avaliações, as práticas, os processos, os comportamentos, os modos...) temos, quase sempre, subjacente uma dada ideia de como as coisas deviam ser; e, na generalidade dos casos, em vez de ser uma ideia de interpelação, de questionamento orientado, de perspectiva crítica, são modelos que remetem para passados (públicos ou pessoais), para modos (de conformidade) com que nos formamos e com que nos fomos formando;
nos tempos que correm em que as políticas apelam à conformidade social e profissional, onde ambicionamos uma estabilidade inexistente e que garantidamente não regressará atrás, é determinante agir-se em face de um perspectiva crítica, isto é, questionar o que temos e avançar para modos, práticas e modelos alternativos - de escola, de organização, de práticas lectivas e pedagógicas, de relação com alunos e pais/encarregados de educação, com a comunidade em que a escola se situa;
neste contexto os professores têm mais possibilidades do que aquelas que imaginam e perante as quais se cerceiam na sua capacidade interventiva (e social);
pensar e implementar práticas colaborativas, abrir espaços de diálogo, conversa e entendimento com os outros, procurar diversificar processos e práticas, envolver o aluno mediante os seus interesses e opções, dar a conhecer outras realidades, outras perspectivas a partir da sua disciplina são coisas que, na generalidade, os professores já fazem; mas não o fazem habitualmente nem de modo sistemático e coerente, nem reflectido, em face de resultados ou de produtos;
e isto é determinante que aconteça;

das opiniões


há muito que procurava este título e que teimava em não encontrar;
uma vez solicitei-o a uma livraria do Porto, que me encontra quase tudo o que pretendo e preciso, mas levaram tanto tempo a enviar que, quando o fizeram, não estava por casa e acabou devolvido à precedência;
encontrei-o agora, no meio de um conjunto de livros vindos a pensar no Natal;
o título não é o mais apelativo comercialmente, implica, por outro lado, ter em conta outras referências bibliográficas, nomeadamente a discussão dos anos 70 entre Bourdieu e Passeron sobre a violência simbólica da escola e dos sistemas educativos;
apesar de já ter passado algum tempo sobre a sua edição, talvez seja de todo em todo pertinente o regresso às ideias e aos pensamentos que ali se espraiam;
é o livro que mais prazer me deu ler no contexto da problemática da violência e da indisciplina nas escolas;

segunda-feira, novembro 26

da ausência


não tenho escrito, não me tem apetecido;
olho a página, percorro sítios e não me apetece escrever;
não faltam temas (os comentários de Alegre e Soares à governação, as políticas de emigração, a política local e a sua arrumação..), ideias (do Natal, das amizades, dos afazeres...), mas não me apetece;
fico-me enroscado no meu pensamento, na oportunidade de regressar a vontade da escrita;

quarta-feira, novembro 21

do contrário

numa reunião na escola há quem defenda a redução da burocracia dos processos, em particular daqueles que se relacionam com a sala de aula, com o processo de ensino aprendizagem; todos concordam e reafirmam a ideia;
logo de seguida, a mesma pessoa defende a criação de grupos de trabalho para a análise de casos s situações que possam ir da indisciplina ao insucesso e colaborar com os professores;
resta perguntar, afinal, o que se entende por burocracia, o que se entende por mais grupos de trabalho; por um lado, procuram-se simplificar procedimentos, por outro, complexificar processos;
é uma assumida mistura entre o que é o trabalho individual (sempre solitário e algo angustiante) e o que são ou podem ser (e deveriam ser) estratégias colaborativas; conhecessem os professores outras realidades administrativas e chegariam a conclusão que a burocracia na escola até não é por aí e além;

do óbvio


... um velho atavismo, gostamos de ser mandados no corpo e na cabeça, nunca queremos responsabilidade, mas aceitamos a obediência. Somos desorganizados e incumpridores e desleixados, mas gostamos de saber que, algures, permanece uma ordem qualquer, para os outros claro, para os desviantes, para os mal-pensantes que têm a arrogância de não se entusiasmar com as regras do rebanho, Abrupto;

escrito assim até parece óbvio, pelo menos para mim, que o defendo há muito, por outras palavras, com outras ideias, com uma outra lógica política e partidária, mas escrito assim realça aquilo que hoje, cada vez mais, somos e nos querem impor;

terça-feira, novembro 20

do sem fim


realizar um projecto de investigação é como descascar uma imensa cebola, há sempre mais qualquer coisa, algo de interesse, uma outra camada;
assim sendo, torna-se uma questão de opções, de valorizações, de escolhas, de apostas de modo a evitar que o projecto se eternize;
a este facto acresce a acutilante pertinência de considerar a disciplina na escola pública (ou a indisciplina) como centro da abordagem de onde brotam, jorram referências, títulos, apontamentos, notícias, toda uma diversidade de textos que levam a considerar o trabalho plenamente inacabado;
por opção, terei de dar por terminado o mapeamento deste conceito até final do ano, prescindindo de tudo o que possa vir a ser encontrado posteriormente; como me terei de concentrar (focalizar) em três ou quatro referências (Jorge do Ó, Nikolas Rose, M. Foucault, Teresa Estrela) que se revelam, por construção teórica, determinantes no meu processo de abordagem; têm em comum o facto de partirem das ideias, dos valores e dos modelos que, quer a disciplina, quer as situações de indisciplina revelam, fazem realçar na organização e no modo de agir da escola pública e na construção de si, da pessoa, do aluno, do cidadão;

do trabalho


a escola é um mundo de diversidades, pluralidades e contradições - alunos, formação, idades, ideias, modelos e valores, entendimentos e conceitos, práticas e teorias;
temos olhado para esta situação como se de um constrangimento se tratasse, como condicionadora do desenvolvimento do trabalho e dos resultados - em particular dos alunos, mas agora também das escolas;
olhar para esta diversidade como uma oportunidade de trabalho considero que é o desafio dos próximos tempos; desafio assente em modelos diversos de trabalho, numa organização diferenciada dos processos, um atendimento mais individualizado, quer ao professor, quer, em particular, ao aluno;
é isto que leio e entendo nesta entrada do JMA em que, apesar da sua extensão, estão lá todos aqueles pormenores, grandes e pequenos, que desafiam a organização educativa a reformular estratégias, a repensar objectivos, a re-utilizar, de um outro modo e com outras consequências, o trabalho dos seus profissionais;
a escola que queremos não deverá estar dependente de um ministro (ou iluminado) mas da capacidade local e situada da sua construção, com todas as dificuldades e constrangimentos que se lhe podem associar, mas também com a oportunidade e as possibilidades que só localmente são e podem ser perspectivados;

do local


a política por estas bandas corre, desliza, flui quase como espaço entretecido entre o público e a socapa;
isto é, entre um grupo de interesses e um conjunto de interessados; algo distante do comum cidadão, da vida quotidiana, do nosso dia-a-dia;
talvez tenha de ser assim; damos importância e valorizamos aquilo que queremos, quando queremos e porque queremos, fruto de contextos, circunstâncias, momentos;
afastado que estou deste processo, entretenho-me a apreciar a passagem das figuras, qual metáfora da chegada do circo à cidade em desfile simultaneamente alegórico e plubicitário das suas maravilhas, das acrobacias, do exotismo, dos receios colectivo, mas também dos desafios, das oportunidades, do desfrute;
mas a malha aperta-se e os adizeres dos poucos espaços bloguistas que se dedicam à política local/regional são disso sintoma;
é um outro espaço, aquele em que procuro desfrutar esta vista e os movimentos (ou movimentações) dos artistas; aqueles que se transfiguram de um momento para o outro de vendedor de pipocas a contorcionista, ou de domador das feras a apresentador da cena seguinte;

segunda-feira, novembro 19

do que fica


da visita, da entrada e saída de museus e de espaços culturais, há uma questão que se me destaca, o que fica depois do que se passa; que deixaremos nós como marca da nossa passagem, do nosso olhar, da nossa forma e do nosso modo de estar neste século;
considerando o mundo como um palco, um espaço de artes e de encenações, de representação e de descoberta, há uma coisa que não tenho grandes dúvidas que deixaremos, para além da fugacidade dos dias e das circunstâncias, a arte;
a arte nas suas mais diferentes formas e representações, da arquitectura à música. passando pela fotografia, pela pintura e escultura, pelos adizeres;
uma das coisas que gostei de ver foram os quadros de Pollok e o que eles representam de corte com correntes anteriores; como a encenação presente que considera o mundo como um palco, por vezes em peep show, mas elucidativo de um olhar sobre a contemporaneidade;

das práticas

uma coisa que gosto de ver e apreciar quando vou lá fora são as escolas e procurar perceber, ainda que por traços leves e muito passageiros, a forma de organização quer do sistema quer da escola;
uma coisa visível é a diferença da escolha das práticas;
no norte da Europa uma das grandes defesas retóricas dos sistemas educativos é a liberdade de escolha; os pais podem escolher quer o estabelecimento de ensino, quer o projecto educativo predominante numa dada escola; sem comentários;
mas os professores ficam condicionados a essa escolha e a esses projectos; se por cá o professor escolhe o seu método de ensino de acordo com a sua formação, a sua experiência, o grupo/turma que tem pela frente (em face das suas características), por lá não há liberdades de práticas; o professor insere-se no quadro de um determinado projecto educativo, que tem associado a si uma determinada prática; queira ou não, concorde ou não assume uma orientação definida pelo órgão de gestão;
um modelo ou outro, o nosso, onde há liberdade de prática pedagógica, mas algum condicionamento na escolha da escola, e o dos outros (onde se escolhe a escola mas não a prática pedagógica) há diferenças incomensuráveis - quer de resultados, quer de processos;
o que fica é apenas a diferença;

do regresso

e pronto, de regresso ao meu cantinho, para trocar ideias e argumentos, opiniões e pensamentos;
de regresso aos falantes da língua de Camões e Pessoa, do cantinho onde sentimos as saudades e se faz o eterno regresso;

sábado, novembro 17

da seguranca

por estas bandas da terra de sua magestade, a seguranca nao e' completamente perceptivel nem visivel, mas insinua-se em praticamente todos os poros da cidade, da comum convivialidade social;
nao assusta, nem amedronta turista ou o pacato cidadao, mas a percepcao da presenca do big brother, constrange movimentos e leva-me a perguntar se, apesar de todas as medidas, elas serao garantias do que?

daqui

de um qualquer lado, desde que queiramos, conseguimos perceber, ver e sentir as diferencas (nao tenho caracteres nacionais, dai alguma falta de acentos e cedilhas):
mas, para quem gosta de perceber como e' que as coisas acontecem, a diferenca, a pluralidade, a mistura da' para perceber que ha' razoes mais de um lado do que do outro;
afinal e apesar de todo o spam, o mundo pula e avanca como bola colorida nas maos de uma crianca;
vai dai e por que os comentarios tocam a animosidade, alteram-se as regras e quebra-se o spam, pelo menos algum...

segunda-feira, novembro 12

dali

agora, depois de uma simples pausa, vou ali e já venho;
não sei se terei oportunidade de escrever; se tiver, fá-lo-ei sem acentos; senão tiver essa oportunidade fica para depois, para a próxima semana;
não desisto, é apenas uma saída deste local, um desvio para um outro, em que me ausento, sem deixar este espaço, apenas uma pausa, um interregno;
vou ali e já venho;

da recepção

tive hoje numa recepção ao professor;
entre convites de uns e obrigatoriedade de outros lá fomos ouvir o ponto político sindical do momento;
na mesa uma santíssima trindade comum, um representante sindical (logo o de topo da FENPROF, Mário Nogueira), um académico, irrepreensivelmente dejavu na pessoa do Prof. da ESE de Santarém, Santana Castilho e o excelentíssimo director regional de educação, manifestamente em desequilíbrio na cena;
obviamente que agradou a uns e outros nem tanto, que desagradou a alguns, que foi excessivamente sindical e partidarizado sem ser político;
o que sobressai desta santíssima trindade diz respeito à facilidade com que hoje, na cena política educativa nacional pode sobressair o herói-anti-herói, isto é, aquele que mais com a opinião do que com argumentos, crítica a equipa governativa, sabe o q.b. das posições sócio-profissionais para agradar às plateias e, sem contraponto nem alternativa, faz figura de herói descosendo tudo e todos sem nada ter apresentado de sério;
isto não é política... é demagogia, pura e simples, ainda por cima alimentada e sustentada pelo governo da nação;

quinta-feira, novembro 8

do juiz


no âmbito do processo que inquiro, referenciei que o aluno, com 13 anos de idade, já tem uma pena pelo tribunal de menores, fruto de atitudes fora da escola;
a pena? esta é que me surpreendeu, qual pena suspensa, durante dois anos o aluno é obrigado a frequentar a escola; assim mesmo, definido e determinado por uma meretíssima juíza do tribunal de menores;
onde reside a minha surpresa?
por um lado, no facto de a senhora fazer cumprir o que está estipulado na lei de bases, a obrigatoriedade de frequência da escola para todos os alunos até que perfaçam a idade de 15 anos;
por outro, no facto de a senhora, certamente ciente de todo o seu juízo, encarar a escola como um castigo ou um local de pena; e não como um dever de qualquer cidadão;
ele há coisas que continuo a não perceber, mas certamente o problema é meu, a incapacidade é minha;

do terrorista

um dos alunos que tenho está catalogado como um pequeno terrorista; provavelmente não chegará ao metro de gente, mas geniquento, quezilento, provocador, perturbador de tudo e de todos;
ontem pus-me de volta dele, fizemos um cartão para o Natal, todo colorido, imagens alusivas e o nome por baixo, logo a seguir à dedicatória à mãe;
pedi-lhe para ir imprimir o cartão; quando voltou, papel na mão, sorriso rasgado de orelha a orelha, orgulho cheio pelo produto do seu trabalho, vira-se para mim e de olhos bem abertos lança-me, obrigado;
fiquei sem palavras; sem qualquer capacidade de argumentação; apenas perguntei, como se fosse desconhecedor, obrigado porquê J? ao que respondeu, como se não se tivesse feito ouvir, obrigado, stor;
e é ele um terrosita, fará se não fosse...

da crítica

é bom perceber que este meu cantinho virou espaço de opinião literária, de dissecação de ortografia e da gramática; é bom perceber e sentir que há pessoas atentas a estas coisas e que, ainda que pontualmente, deixem de lado a opinião e os argumentos e se fiquem pelo erro;
pena é a incapacidade, pelo menos de alguns comentaristas e críticos de opinião, não chegarem ao conteúdo;
mas pronto, eu é que sou o "dotor" (foi mesmo assim o escrito, propositado, deliberado);

quarta-feira, novembro 7

dos resultados

não são rankings mas os jornais de hoje trazem (breves ou mais prolongados) apontamentos de análise sobre as provas de aferição realizadas no 4º e 6º anos da escolaridade;
grande descoberta a da perda de competências em apenas dois anos, seja ao nível da lógica, do cálculo ou da língua;
provavelmente será situação que se repete na passagem do 6º para o 9º e deste para o 12º (onde se destaca apenas a tecnicidade de conhecimentos amestrados);
provavelmente alguns dos discursos que dizem que os alunos vêem mal preparados ter-se-ão que refazer e adequar mais ao sentimentos que preparamos mal os nossos alunos;
isto de assumir responsabilidades é que é mais difícil;

da parcimónia

à que vontade de escrever e saber que não sou lido por ninguém;
à que saudades de uma escrita livre e espontânea, fluente como as ideias, que escorra por onde tenha e descubra e construa brechas de fugas;
à que saudades de escrever aqui e sentir apenas o texto a ir para onde as emoções o empurram;
à que saudade...

do ontem

no dia de ontem uma tarde, no parlamento, para recordar que saudades só do futuro;
uma noite, escocesa, para esquecer, em particular aquela segunda parte...

segunda-feira, novembro 5

das curvas

nesta cidade e nesta região, o contrário é o que mais se parece com as curvas de uma vida social;
aparentemente rectilínea, a vida política manifesta-se nas inúmeras curvas, umas não assinaladas no mapa partidário, outras claras e mais óbvias, com que o percurso social se faz, com que se cruzam ideias e sombras, montes e vales, ideias e modelos, vontades e desejos, mas também insuspeições e situações inesperadas;
a vida político-partidária nesta região, cada vez mais se faz pela sombra, pela insinuação, pelo não dito, pela ausência do que pela presença, do que pelo dito, pelo afirmado, pelo directo ou pelo manifesto;
tenho consciência que muito da política é subreptício, feito por detrás dos panos, na amena cavaqueira de um petisco, de uma confraternização, de um aglomerado de ideias e opiniões que, apesar de divergentes ou, mesmo, rivais, identificam pontos de consenso e ameno concentimento;
talvez seja eu que ainda não tenha arrumado a gaveta da política, que ande ressabiado ou ressentido; talvez seja eu que tenha um outro modo de ver e sentir esta coisa da política regional, mas não me conformo, não me submeto a que apenas dois ou três actores definam e determinem o devir de tantos e tantos outros;
atenção, esta situação não se confina ao meu PS, é mais vasta e abrangente, vai além de um partido e aninha-se na gestão dos interesses partidários e no mando que todos gostam tanto de usufruir, sejam da esquerda ou da direita;

da disciplina

à medida que a escola se diversifica, que as situações conjunturais mais influência e presença têm sobre a escola, mais e mais graves situações relacionadas com a disciplina se manifestam;
se é certo que, genericamente, o interior não denota ainda as situações de indisciplina "típicas" de algumas zonas suburbanas ou de guetos sociais dos arrabaldes das grandes cidades (onde, mais que indisciplina, é a violência a graçar), é também certo que existem cada vez em maior número situações de incómodo, transtorno, irregularidade dos quotidianos educativos;
agora, na minha escola, fui nomeado instrutor de um processo disciplinar; mais uma oportunidade para ouvir de sua justiça e perceber o que está por detrás de tantas destas situações e procurar compreender eventuais modos de os contornar;
certo que não existem soluções tipo aspirina ou pronto-a-vestir, mas situações que precisam de contextos, situações e circunstâncias próprias, sempre individualizadas, sempre fulanizadas;

do senso

esta notícia remete para outros tempos em que as situações, estas e outras como estas, eram rápida e eficazmente resolvidas desde que mediatizadas;
pergunto, não haverá gente com bom senso nestes serviços, de âmbito regional e subregional, que consiga avaliar a situação sem intermediação da comunicação social ou sem interferência de um ministro?
será que para a resolução destes casos, e outros como estes, será necessária a sua mediatização (ou mediação social)?

domingo, novembro 4

da família

a morte tem uma coisa boa (certamente entre várias); a de proporcionar a reunião da família; juntar aqueles que, por afinidades consaguíneas mas afazeres distintos, há muito não se juntavam, não se encontravam, não se reuniam, não falavam;
a morte tem a particularidade de reunir conversas, pôr em dia assuntos passados, "matar" aquelas saudades que decorrem da família e de uma amizade familiar;
numa família claramente abrangente sempre fiquei a saber que as águas andam revoltas até pelo PC, que a acalmia do PPD/PSD é mais ilusão de óptica que outra coisa;
tantas as coisas que se sabem quando a família s reúne, se junta; pena é ter quase sempre como pretexto a morte;
mas é a morte que marca uma qualquer família, que faz com que se sinta família, pretensamente unida, pretensamente junta e una;

da morte

este fim de semana estive ocupado em visita ao cemitério da terra, que ganhou mais um residente com o mesmo apelido;
o cemitério estava bonito, enfeitado que estava com inúmeras flores, multicolorido, um jardim assumidamente desenhado por efeitos do dia de finados - com variações entre o natural e o plastificado, aquelas que murcham e aquelas que nunca murchando também não se decompõem (que imagens associar a uma e a outra, que razões alencar para uma e para outra?);
a morte daqueles que nos são próximos atira-nos para a frente, para o futuro; sentimos, eu sinto pelo menos, que subimos mais um degrau, passamos mais um nível e que um dia atingiremos a plenitude do jogo e será chegada a nossa hora;
os rituais dizem-me pouco; a fé não abunda na minha consciência presente; já foi chão que deu uvas, fruto de uma infância assumidamente cristã e que, por vicissitudes várias, deixo para trás, para a memória, hoje envolta num agnosticismo crente;
é a morte senhores, aquela que nos impele e faz com que possamos viver a vida...

quinta-feira, novembro 1

da metáfora

na azeitona, sem mais para fazer, faz-se e pensa-se, criam-se metáforas que possam associar uma acção/actividade com as minhas preocupações, para já (por muito incrível que possa parecer) só tenho uma, a minha tese;
no meio dos ramos ocorria-me a ideia, por vezes, para ver o próximo temos de nos afastar; outras, apesar de vermos temos de nos desviar para conseguir alcançar o objectivo;
como dei por mim a perceber que o fácil nem sempre é o mais imediato; os ramos mais próximos ficavam para o fim, para a segunda ou terceira volta; aqueles que estavam mais distantes por vezes eram os mais rápidos;
são metáforas, senhores, essas as ideias que nos servem para alguma coisa;

da rama

hoje foi dia de andar à azeitona;
antigamente, em tempos que já lá vão, era uma acção colectiva, onde se entretinham amores e companhias, gostos e alguns desgostos;
è engraçado ouvir as histórias do antigamente, repetidas até à infinitésima parte, sempre com o mesmo tom;
hoje não houve companhia, foi uma atitude solitária, andar de árvore em árvore, a esgalhar os ramos e a pensar na vida;
ramas que o tempo tece;

do silêncio

quase que me apetecia comentar os comentários deixados na duas postas anteriores;
por mero pudor, não o faço; deixo o comboio andar, entre carris e percursos mais ou menos sinuosos;
agora há coisas com as quais não compactuo, nem silencio;
muitos partidos dos partidos alentejanos são constituídos por pouca gente, militantes empenhados mas sempre dependentes de outros interesses; militantes empenhados, mas seriamente condicionados pela vontade de poucos;
pergunto a mim mesmo e a uns quantos que me rodeiam, o que queremos nós?
sem esperar pela resposta digo, de forma aberta e convincente, como sempre foi meu apanágio, que não me importa nem o suor, nem as lágrimas, nem a dor, desde que sirva para que as coisas não fiquem como sempre estiveram, na mãos de uns quantos, no interesse de outros;
um partido político não é uma associação benemérita, visa o poder e a sua consolidação; disso não há troco, espinhas ou caroços; quem se julgar ao contrário será por que está enganado, equivocado;
agora não pode nem deve ser o poder de uns quantos, nem o interesse de outros tantos;
se queremos um projecto socialista há que assumir, de forma aberta, clara e frontal, os princípios, valores e ideias; e não apenas os interesses;
para isso, entre o silêncio ruidoso e o ruído silencioso, estarei cá, para o que der e para o que vier;