segunda-feira, outubro 29

das faltas

só para contrariar aquilo que parece ser uma opinião generalizada, deixem-me dissertar sobre o novo regime disciplinar do aluno, aquele mesmo que considera que as faltas podem não ser consideradas para a retenção do aluno;
aparentemente, da esquerda à direita, tecem-se comentários de leviandade, de laxismo, de desresponsabilização que pode decorrer deste novo diploma;
uma questão, por mero acaso já terão lido o diploma? é que não é essa a leitura que faço; remete para a escola e para os seus órgãos de gestão a responsabilidade de definição de mecanismos para se procurar perceber o porquê da falta e de, a partir daí, se definirem os instrumentos e os modos de contrariar essa prevaricação, envolvendo as diferentes partes e não apenas um sector;
a discussão em redor deste diploma, parece trazer para a boca de cena uma ideia de escola que, direi eu, assenta no antigamente, uma escola de alguns, para alguns e que apenas alguns eram merecedores da atenção, do acompanhamento e da orientação educativa;
a escola que temos, pelo menos por enquanto, assenta numa lógica, nem sempre clara, nem sempre definida, de equidade, de a escola procurar colmatar carências do agregado familiar; é pôr os professores a fazerem mais? é sim senhor, de modo a que a escola possa ser para todos e todos possam ter as mesmas oportunidades;
a questão que se coloca, e que decorre dos poderes que a escola e os professores têm, é a de se organizarem de um outro modo, para poderem fazer face ao desafio da integração, daqueles que não se reconhecem na escola, na sua cultura, nos seus modos e preceitos mas que têm direito a ela; o que se institui mais não é que uma escola para todos, pois a escola cresceu e massificou-se mas não se democratizou;
o que esta legislação traz é uma assumida divisão entre a escola que temos e a escola que pretendemos, e há quem pretenda voltar atrás defendendo que se está a avançar, e é mentira;

2 comentários:

Miguel Pinto disse...

eu não li o novo estatuto do aluno, Manel. Não tenho acesso a informação privilegiada... ;)

José Salvador Soares disse...

Eu não tenho acesso previligiado como tu, Manel. Mas já li o essencial do diploma na net e mesmo num dos sítios de ME.

Mas face ao teu post, não devemos ter lido o mesmo projecto-lei que hoje deve ter sido aprovado no plenário da AR.
Parece que toda a gente leu uma versão e só tu e o Bravo Nico é que leram outra.

Trata-se de um texto com intenções "burocratizadoras", que "carrega" para cima dos professores e dos Conselhos Pedagógicos todo um conjunto de acções que não têm nenhum outro objectivo que não seja o de considerar o aluno sempre na Escola.
Acaba-se o abandono escolar, mesmo que o aluno nunca vá à escola! O Director de Turma passa a escrever todos os dias ao Encarregado de Educação! Tem que preparar uma prova e actividades de remediação, mas ninguém refere qual o seu peso na avaliação, quantas vezes o aluno a pode fazer e o que acontece se o aluno faltar.
E se o aluno não vai à escola com é que sabemos a data para a realização da prova? E é uma prova por disciplina ou uma prova de conhecimentos gerais?

Enfim, Manel, desculpa a franqueza, mas tu voltaste hà pouco tempo ao ensino, e relevo-te esta falta (e nem precisas de fazer nenhuma prova porque não considero a tua ausência como absentismo ou abandono)mas ao Bravo Nico vou pedir-lhe para tentar falar com os professores que leccionam aquela turma de terceiro ou quarto ano da Escola Básica de S. M. de Machede que tem alunos de duas ou três nacionalidades e de raça cigana e que tente ele operacionalizar este estatuto.

É que ser professor (mesmo no Alentejo onde as escolas são, disciplinarmente, autênticos acampamentos de escuteiros)é bem mais difícil do que ser "DEPUTADO DE CU" numa qualquer assembleia.

Mais vale ter mau hálito, que não ter hálito nenhum!!!!!!!!!!!