quinta-feira, fevereiro 10

Panorama. No âmbito da campanha eleitoral a revista Visão apresenta hoje um suplemento onde é feito o desenho do estado da Nação em áreas fulcrais como a da educação.
Nos indicadores referenciados (abandono, absentismo, número de alunos e de professores, evolução, entre outros), fica umas vezes de forma implicita, outras de forma clara e evidente uma crítica aos professores e ao trabalho que se desenvolve nas escolas. Paradigmática é a afirmação que "se ensina mal e se aprende pior nas nossas escolas" (cito de cor).
Que há maus profissionais? Não discuto, como em todas as áreas, há uns melhores outros menos bons e os maus, tal qual no jornalismo. Que os professores estão desmotivados? certamente que uns quantos terão razões mais que suficientes para se sentirem desmotivados. Convenhamos que não serão muitos os profissionais a fazerem, à sua custa, centenas de km, a serem abandonados à sua sorte, sem possibilidade de definição de objectivos profissionais, sem qualquer tipo de enquadramento ou apoio (profissional, pessoal, deixo de lado os restantes).
Que os profissionais serão culpados pelo estado a em que a Educação se encontra? Certamente que terão a sua quota parte de responsabilidade, mais por omissão do que por deliberação.
Mas a grande responsabilidade da situação recai num sistema político que teima em querer resultados imediatos à custa de um sector onde a estabilidade é determinante. Já o escrevi que é fundamental a triangulação de elementos como estabilidade, avaliação e liderança.
Na escola e na educação, para além da ausência de formação e de organização, nota-se a ausência de um qualquer daqueles elementos. Responsabilidades? Não pensem exclusivamente ou unicamente nos professores.

2 comentários:

saltapocinhas disse...

Ainda não comprei a Visão. Quanto ao teu texto pega nele e envia-o para lá! para eles lerem e darem a ler!

Fernando Reis disse...

Excelente comentário, o do Manuel.
Acrescentaria um, muito pouco focado, que tem a ver com a história da educação em Portugal. Não é determinante, mas é condicionante: há cem anos atrás, a percentagem de analfabetismo em Portugal era superior a 70%.
Durante todo o século XX tivemos uma escolarização da população baixa e um analfabetismo alto, o que significa que muitas, milhares, de famílias portuguesas não tinham acesso, por vários motivos, à escola.
Efectivamente, só depois do 25 de Abril de alarga a escolariadade a toda a população jovem, ainda assim com uma taxa de abandono altíssima.
Como querem os políticos mudar toda esta tradição, em 5, 10, 20, ou mesmo 30 anos. O panorama demora tempo a mudar, e muitos dos nossos pais só têm a quarta classe, quando têm.
Será que isto não tem influência na qualidade e nos resultados do ensino em Portugal?
Eu penso que tem. A mudança tem o seu tempo. Nós temos que a acelerar, mas não podemos esquecer-nos do ponto de partida.
Querer colocar-nos ao lado, por exemplo, de uma Suécia, que há cem anos já não tinha analfabetismo, é tentar atirar areia para os olhos de quem ignora o nosso passado e a nossa realidade.