terça-feira, fevereiro 15

da sala de professores. Quando fumava gostava do cantinho, por que era efectivamente um cantinho, não tem nada nem de carinhoso nem de ternurento, que pertencia aos fumadores, nos tempos em que existia um cantinho onde se podia pecaminosamente pecar de cigarro em punho.
Hoje não reconheço grande utilidade à sala de professores. Tenho que reconhecer que desde que deixei de fumar, não gosto da sala de professores.
Há uns anos atrás era por que era novo na escola, tinha chegado tarde e não me enquadrava. Depois, dizia eu, por que a escola tinha uma cultura e um clima muito próprio que dificilmente aceitava novos protagonistas. Depois ainda por que gosto de estar na sala de aula, escrever coisas, registar ideias, preparar o espaço. Seja por que for, não simpatizo com a sala de professores, nem com a decoração, nem com a arrumação. São, digo eu, todas muito institucionais, muito institucionalizadas, quando não mesmos ritualizadas, isto é, dadas a fins e meios muitos específicos de uma cultura profissional, de amizades entre o social e o conveniente.
Agora, a partir deste comentário "Desculpa lá este meu desabafo. Não é fácil falar destas coisas na sala de professores" retirado do meu amigo [infelizmente ainda virtual] Miquel, permitam-me perguntar: para que serve uma sala de professores?
Um launge onde se espera a próxima passagem? Um tunel por onde rapidamente se entra e rapidamente se sai? Um canto onde o guerreiro recupera forças? Um ponto de encontro, qual feira de turbulências e desencontros? Um quiosque de avenida onde, entre uma bica e dois dedos de conversa, se sabem mais algumas novidades?
Porque efectivamente é verdade que uma sala de professores não é para todas as conversas.
Gostos. Manias. Pancadas.

2 comentários:

Miguel Pinto disse...

Relendo a tua entrada e a que deixei no outroolhar sobressai uma espécie de ideia romântica em torno do que é ou do que poderá ser uma sala de professores. É uma ideia que trespassar muitos dos meus textos e não será difícil encontrá-lo nos teus. Para alguém que se encontre do lado de fora da escola [como se isso fosse possível] este olhar poderá parecer falso, deslocado do curso que tomou a escola/sociedade, utópico [para usar uma expressão que uma personalidade “histórica” do sindicalismo me etiquetou].
Agora que regresso ao lado de dentro da escola posso garantir que é por aqui que a revolução terá de avançar: trazer a paixão à escola. Não uma paixão qualquer do tipo pinga-amor. Mas um comprometimento afectivo incontestável.

saltapocinhas disse...

Se tu tivesses de lanchar (ou almoçar!) na sala de aula no meio do pó do giz e das brincadeiras dos miúdos, ias entender melhor para que serve uma sala de profes...
Dá deus nozes.... grrrrr