quinta-feira, abril 21

faz-de-conta

O Miguel volta à baila com um tema pertinente e perante o qual muitos de nós teimamos em não querer ver, em disfarçar, o faz-de-conta.
Ele refere-se explícita e directamente às assembleias de escola. Eu, sem qualquer desculpa pela impertinência, sou mais abrangente e pergunto quantas escolas, conselhos de turma, aulas, órgãos de gestão, reuniões de departamento ou sei lá do quê, não serão do reino do faz-de-conta.
Este faz-de-conta faz-se sentir, evidencia-se na quantidade de gente a pensar que está no tempo da outra senhora, em que existem liceus, em que a escola tem por objectivo a selecção social, que devemos premiar a méritocracia, que os meninos devem entrar mudos e sair calados, de modo a não incomodar o(a) senhor(a) professor(a), os projectos curriculares de escola ou de turma que mais não são que ideias (quando as há) avulsas de banalidades e generalidades sobre coisa nenhuma e para nada, verbo de preencher por que não enche nada nem ninguém, as áreas curriculares que viram disciplina porque não se faz ideia do que se pode fazer naqueles tempos, naqueles espaços, as incapacidades de fazer diferente disfarçadas com comentários de culpabilização do aluno, pela sua indiferença, pelo seu alheamento.
Este reino do faz-de-conta não é exclusivo da escola nem da educação. É marca genética da nossa cultura, do nosso país. Faz-de-conta até que não tenho razão e que tudo isto não passa de um faz-de-conta.
Faz-de-conta.

2 comentários:

Miguel Pinto disse...

“Este faz-de-conta faz-se sentir, evidencia-se na quantidade de gente a pensar que está no tempo da outra senhora”.
A respeito do tempo do outro senhor acrescento um exemplo concreto:
Uma decisão unilateral importante para a vida da escola de um director executivo autocrata motivou uma acesa discussão num determinado departamento curricular. Discutia-se o estilo de liderança adoptado pela dita figura e o papel inócuo do conselho pedagógico. Uma respeitosa colega [do género acólito] insurgindo-se contra esta coisa das pessoas teimarem em discutir as decisões do chefe entretém-se com apelos fascizante:
- Aqui [referia-se à escola] as pessoas não têm de discutir as decisões e o presidente não tem de dar explicações a ninguém!

Até parece um filme!

Emilia Miranda disse...

Olá Manuel:
Gostei muito desta sua reflexão e lembrei-me que também há aqueles que fazem de conta que "modernizam" a forma de ensinar, dizendo aos alunos: "Faz uma pesquisa na internet!"
Um abraço,
Emília.