quinta-feira, maio 5

da indiferença

Os comentários, pertinentes e estimulantes, ao meu texto sobre a diferença, ressaltam dois ou três aspectos que considero impertinente discutir. (impertinente porque não vou à procura de uma fundamentação teórico-metodológica, arregimentadora de ideias e conceitos; mas é a partir deste enquadramento assente, fundamentalmente em textos e ideias veiculadas por Perrenoud, Lima, Alarcão, Fullen, Hargraeves, Costa, Sarmento, Formosinho, entre outros, que construo uma opinião.)
Primeiro, que a escola não se esgota (nem deve ser apenas) um conjunto de aulas, independentemente das metodologias adoptadas. A escola é e deve ir muito para além disso e vai, de modo efectivo muito para além das aulas, daí todos os espaços que se criam nas escolas (desde os clubes, a acções organizadas ou pontuais). A escola deverá, em meu entendimento, ter a organização necessária e suficiente para que todas as actividades desenvolvidas dentro ou pela escola possam ser integradas em percursos de formação, experiência e reflexão crítica por parte dos seus actores. Um dos problemas é delimitarmos a escola ao espaço sala-de-aula, ao dar aulas e procurarmos todas as soluções, propostas ou ideias para resolver os problemas que surgem dentro da sala de aula. O que acontece, por vezes e em certas situações, é a resolução ou o apoio à resolução de um problema estar fora da sala-de-aula.
Segundo aspecto, a escola não está fora, nem ao lado, nem, muito menos, acima da sociedade. Como não estarão as pessoas que a constituem, lhe dão sentido e a organizam. Vai daí e a escola, na sua generalidade, mais não faz que reproduzir a ideia que a sociedade tem da escola e a escola tem de sociedade. A escola não será essa caixa negra por onde entram pessoas, do qual pouco ou nada se sabe e saem cidadãos. Não. A escola é o que a sociedade permite e aponta que seja, tanto ideologicamente, como politicamente, na ditadura, como na democracia. O que a nossa escola não tem dito é capacidade, as condições e o apoio necessário para se pensar e para se pensar face à sociedade. Todo o pensamento sobre a escola decorre fora da escola, por observadores (estudiosos, investigadores, projectos ou que tais) que estão fora da escola e que a procuram para a pensar.
Tantos uma como outra das situações descritas - abertas ao contraditório - arregimentam, muita vezes, sentimentos de impotência e de incapacidade, de frustração ou de cansaço. Porque não conseguimos que as acções (extracurriculares ou extralectivas) concorram para a formação dos alunos, porque a escola não é diferente do contexto que a enforma e condiciona e, muita das vezes, determina. Daí a resposta da escola. Ou a sua ausência.
PS - concordo com o Paulo no sentimento de alguma regeição do termo pedagogia diferenciada. Mas também não vou, pelos menos para já e directamente, atrás do conceito intercultural ou de multiculturalidade. Considero que a adopção de metodologias respeitadoras e integradoras da diferença vão para além, primeiro, da pedagogia, depois da própria cultura, no que se refere à sua relação com a escola, entenda-se. Reformulam uma, alargam outra.
Onde ficamos? ainda não sei. Mas quero um dia dar uma resposta.

1 comentário:

Chris Kimsey disse...

"Considero que a adopção de metodologias respeitadoras e integradoras da diferença vão para além, primeiro, da pedagogia, depois da própria cultura,"
É verdade, Manel. às vezes quando oiço alguns docentes a dizer "...isso é «anti-pedagógico»" apetece-me brincar dizendo: "«anti-pedagógico»? É «anti-humano», «anti-social»...". De facto, há coisas que ultrapassam o âmbito da pedagogia... e eu, tendo estudado a fundo os princípios e aplicações pedagógicas possíveis da educação multi/intercultural, sei bem dos seus contrangimentos, limitações e dos abusos que se praticam no seu âmbito. Por isso é que prefiro falar de uma "educação intercultural crítica"...