domingo, maio 1

do ambiente

Há tempos atrás tive oportunidade de trocar um conjunto de ideias com o Gustavo (rápido regresso, que sinto saudades) sobre a arquitectura interior das escolas, nomeadamente a relação, de proximidade ou de distanciamento, entre sala de professores e órgão e gestão, sala de professores versus sala de funcionários ou de alunos.
Hoje, a partir de um texto onde se procura destacar um ambiente escolar, tão simples quanto bonito, despertou-me a memória das escolas por onde tenho andado.
Quase todas assentes numa lógica que intermedeia entre o fabril (um ou vários blocos com salas de aula, por onde se dispersam professores e alunos, onde se organizam, de modo sequencial e formal as relações e as dinâmicas pedagógicas, que se distribuem, pretensamente sobre uma qualquer noção de equilíbrio, entre funções pedagógicas, administrativas e de apoio) e o militar (amplos espaços exteriores, entre o campo de jogos ou aproveitado para esse efeito e a parada militar, onde se alinham conjuntos, onde se distribuem grupos e grupinhos, onde se constroem sentimentos e relações de pertença ou de exclusão, de tolerância ou de nem por isso.
Esta lógica de organização procurou, a seu tempo, definir um conjunto de relações marcadas, essencialmente, pela separação, pela hierarquia, pela consideração que há grupos mais importantes que outros, não apenas do ponto de vista social, mas também disciplinar, daí umas salas serem amplas outras nem tanto, uma estarem viradas ou orientadas de acordo com critérios definidos outras nem tanto, ou pela própria arrumação (organização interna) da sala.
Isto para destacar um dado óbvio, mas nem sempre evidente, que a arquitectura condiciona as relações humanas, define um dado fluir dessas mesmas relações, estrutura a sua dinâmica e permite criar uma dinâmica política (escolar) e institucional (educativa) que enforma a cultura (e o clima) de uma qualquer organização.
Nada é mais óbvio e evidente que as escolas de 1º ciclo (as primárias do antigamente) desde o plano do centenário, aos P (p1, p2, p3 e, mais recentemente, o p5) para realçar esta lógica que também está presente nos restantes ciclos.
É por estas e por outras que surgem planos e projectos que visam alterar ou re-condicionar de modo diferente, espero que assente em pressupostos diferentes, estas lógicas. Este é também um outro desafio que condiciona as relações internas de uma escola, que determina uma dada dinâmica de trabalho, que promove um dado ambiente educativo que, por sua vez e de modo articulado com outros factores, permite criar uma outra apetência na e pela escola, pelo sucesso e pela participação de uns e de outros.
Por vezes querem-se alterar todas as estruturas, todas as ramificações que mais não são que consequência de lógicas de utilização e apropriação dos espaços, dos fluxos de circulação e de respiração que acontecem numa escola sem se tocar no cerne da questão.
Na generalidade das situações são acções, invariavelmente, condenadas ao fracasso. E não é por resistência, nem obstinação de quem quer que seja. Apenas condicionantes de um espaço.

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