quarta-feira, outubro 10

escola e quartel

não é a primeira vez que o escrevo (mas não me apetece ir atrás à procura desses escritos), mas ontem, enquanto olhava pela janela da sala de aula voltou-me à ideia a associação da escola com o quartel;
a escola (a minha escola, pelo menos) padece ainda de vícios que a enformam de democraticidade;
há uma porta de armas, onde se inicia a selecção de patentes e se faz a triagem dos visitantes; há uma parada onde deambulam adolescentes irrequietos, uma sala de oficiais, uma de sargentos e outra de praças, ainda que haja, pontual e circunstancialmente, algumas misturas, onde as conversas são típicas e, direi, naturais dos postos e das funções de cada um;
esta lógica implementa um conjunto de relações (de poder, de saber, de autoridade, de afectos) que se transpõe para a sociedade em geral, relações hierarquizadas, formalizadas, institucionais;
há dias tive oportunidade de ver outras concepções de escola, numa revista americana sobre arquitectura escolar, onde os espaços agora se apresentam mais fluídos, mais reticulares, mais próximos, mais comunicativos entre si e a provocarem uma maior proximidade das pessoas, um maior contacto informal, muito próximo do que designei como um centro comercial, onde as salas de aula bem que podiam ser as lojas, onde os espaços, ainda que definidos e delimitados, se interligam e articulam com uma outra fluidez;
passados mais de trinta anos sobre a implementação da democracia, a escola permanece, na sua estrutura e funcionalidade, muito pouco democrática - ainda que se apele à participação e ao debate, os elementos simbólicos permanecem (quase) todos lá;
mas há excepções, já se notam alterações;
também já não era sem tempo;

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