terça-feira, novembro 28

do emprego

as notícias de hoje dão conta de um novo chavão - buzzword - designada flexigurança; ou seja, criar uma maior flexibilidade ao nível do posto de trabalho, dando como contrapartida uma maior segurança, nomeadamente ao nível monetário (reforço do subsídio de emprego), da formação (ou reconversão profissional) e do acompanhamento de processos e projectos pessoais (definição de soluções por medida);
estou certo que irá ser um dos temas quentes em discussão sempre que o ruído de outros assuntos acalmar; seja por que todos o tememos (flexibilidade em Portugal tem significado arbitrariedade), ou porque o ansiamos (polivalência pode significar precariedade);
ora duas constatações;
por um lado, é assumida a divergência entre emprego e trabalho (há quem dê como exemplo em que até recentemente tinhamos um ministério do emprego e um tribunal do trabalho) e ainda andamos à procura de qual nos interessa, nos convém, nos permite aquilo que gostariamos;
por outro, é evidente que a inflexibilidade do mercado laboral nacional (ultrapasso as questões entre emprego e trabalho) são um dos factos de constrangimento à renovação de quadros, à re-definição de outras soluções profissionais, ao pensar o que é a volatilidade do mercado;
surpreende-me quando vejo jovens a concluir a licenciatura com a expectiva de que alguém lhe arranje um emprego, trabalho; quando oiço as suas palavras convictas de que irão dar o melhor e ficar para sempre naquele emprego;
não existirá ainda consciência que temos de ser nós a procurar e justificar o nosso posto de trabalho? que faltará para termos a noção real e concreta que a formação inicial é apenas um pretexto, um primeiro passo para muitos outros? que podemos ser licenciados em qualquer coisa e estarmos a fazer uma outra, entre o totalmente diferente e o complementarmente diferente;
este é um dos meus desafios como pai, procurar preparar os meus filhos para os desafios dos futuros que existirão, a consciência que devemos fazer a formação de que pretensamente gostamos, mas estarmos preparados para fazer quase tudo, com empenho, com profissionalismo e procurar o gosto e o prazer daquilo que fazemos;
este faz parte daqueles contextos de mudança que ontem falava; desafios não apenas ao emprego e ao trabalhador, também e particularmente ao sindicalismo e aos partidos e, como consequência, à democracia que defendemos;

1 comentário:

Anónimo disse...

Já me habituei a vir beber qualidade nos textos da tua reflexão. A partilhar os reflexos da luz crepuscular no teu alpendre, feito de visões e ansias serenas sobre a planura.

Agrada-me ver a simplicidade com que te dás a pensar "alto", ou "bloguigo". (Serão modos diferentes de pensar!?! Mas verdade que te dás bem com um e com outro. Pensas de cabeça e lá vai.)

Gostei particularmente do texto sobre os referenciais pedagógicos do Sebastião da Gama e do Rómulo de Carvalho.

Olhá-los e rele-los é sorver-lhes o espirito, e esse era seguramente de abertura ao tempo que flui, não a imposição de um "sentar passivo" na pedra filosofal.

Gostei de te ler pensando no novo paradigma da acção política.

Há, de facto, quem (ainda ou jamais) não tenha percebido e continue o exercicio publico como se de uma mera pantomima encenada se tratasse, agarrados a contornos rocambolescos e menages de corredor.

Desenham arcos de poder e vão ficando, definitivamente, suspensos neles.

Os tempos já mudaram, mas há protagonistas que nem se deram conta. Vão ser as primeiras estrelas de um enrredo chamado: "Hecatombe da modernidade politica" ou "Quando o Principe de Maquiavel se descobriu Icaro - Queda de Asas feitas de Cera".
Exigem-se novos futuros, de cabeça.

Joanete Esquerdo