quinta-feira, setembro 14

equívocos

este meu amigo, que defende a escola pública e para todos, de quando em vez alimenta equívocos onde outros aproveitam a oportunidade para alimentar a coisa e possa arder em lume brando;
considero desadequado dizer que sou professor do ensino básico vai para 20 anos; que escrevi durante praticamente dois anos e de modo ininterrupto coisas da escola, umas deixaram saudades, outras nem tanto; que sou um acérrimo defensor das pedagogias diferenciadas e da escola de P. Freire, pela promoção das autonomias, pela coordenação dos trabalhos pedagógicos e que abomino o master dixit, a prepotência e a arrogância dos ignorantes que se consideram inteligentes;
tive o privilégio de conhecer o Miguel por este intermédio, numa acessa troca de ideias sobre a escola e sobre os professores;
podemos, não apenas com ele mas com muitos que por aqui passam, divergir quanto a ideias e políticas, opiniões e sentimentos; quanto à escola estou certo que existirá um traço comum, a sua defesa, a defesa de um serviço que constitucionalmente é para todos na procura da equidade social; quanto aos modos e aos instrumentos dou de barato poderem existir divergências, caminhos diferenciados, opções outras; afinal as opiniões valem o que valem;
agora considero de uma profunda demagogia e de alguma falta de carácter permitir que se alimentem de si mesmos, os argumentos do eduquês, da defesa da escola de alguns e para alguns, sejam eles alunos ou professores, pais ou comunidades;
nunca como agora foi tão evidente que o que está em causa é a escola pública, de alguns ou para todos; durante os últimos 20/25 anos procurou-se, com os engenheiros (V. Simão, R. Carneiro e M. Grilo) formar e consolidar a escola democrática, de livre acesso e livre frequência;
o que tem estado em discussão nos últimos tempos, particularmente desde D. Justino, é que escola queremos, uma escola de elites com laivos do antigamente (onde, pretensamente, é tudo calmo, reina a disciplina e a ordem, há interesses pedagógicos e gosto pelas aprendizagens, ainda que seja apenas para alguns e os métodos deixem muito, mas mesmo muito a desejar) ou uma escola para todos, mediante o desenvolvimento de competências, o aprofundamento de saberes, a capacidade de tolerância e respeito, inevitavelmente marcada pela heterogeneidade de gentes (professores e alunos), de condições (sociais e políticas), de objectivos (para uns aprender, para outros conhecer, para outros apenas e simplesmente entreter, incluindo docentes), de sentidos (da construção individual ou simplesmente sem sentido);
o que se discute com estas medidas que tanta água têm feito correr é esta escola que pretendemos, e, estou certo que existirá algum consenço em seu redor, nomeadamente, que sirva a população, os jovens, as comunidades e os territórios, as gentes, que eduque e instrua, que sensibilize e apoie, que favoreça e promova, que estimule e espicace curiosidades e sentimentos, que envolva em vez de rejeitar e excluir;
como conseguir isso? provavelmente existirão inúmeras maneiras, diferentes modos e muitas opções. Mas há para mim e na leitura que faço do caminho político desta ministra uma que é clara, a da equidade social. E isto tem custos, particularmente para os professores e para a escola enquanto organização, que se mantém na lógica fabril (afinal as fábricas ou fecham ou são deslocalizadas), em hierarquias verticais e funcionais, quando os saberes circulam por tudo quanto é lado, de todos os modos e em todos os sentidos, que persiste em levantar barreiras, erguer muros e fechar portões como se com isso, se isolasse, se imunizá-se ao exterior. Tão falso como idiota. Tão desajustado como desadequado.
Afinal e como ali deixei, não se confunda nesta discussão, a beira da estrada com a estrada da beira, e há muita gente, muitos interesses e muitos interessados que estão manifestamente interessados nesta confusão ou nesta promiscuidade de ideias;

1 comentário:

Miguel Pinto disse...

Os equívocos podem ser oportunidades ganhas… e um belo pretexto para polemizar, manel. ;)