terça-feira, outubro 19

aprender

Nas escolas por onde tenho andado, mas não só, tenho recolhido uma impressão, um dado sentimento de estar na profissão. E há um intervalo profissional, que se aproxima também de um intervalo etário, onde nos questionamos sobre as opções, onde levantamos dúvidas sobre o que fazemos, onde, mais sinteticamente, entramos na adolescência profissional e enfrentamos medos e ângustias, sentimos amores e rancores.
Não sabemos se estamos na profissão certa, se estamos a trabalhar bem ou mal, que o sistema é injusto, embrutecido e ilógico, que nos cansamos injustificadamente, que estamos desorientados e que nada existe que sirva de linha de rumo, de estrela caminhante.
É no conforto e no confronto de opiniões e ideias, de pontos de vistas e de histórias, de amizades e cumplicidades, de livros e de leituras, de conversas e de navegações que ultrapassamos tudo isso, que nos fechamos na nossa sala de aula, que nos isolamos do mundo, que nos refugiamos do sistema, que nos protegemos das agressões e incompreensões, que descansamos de nós mesmos e ganhamos ânimos e vontades de mergulhar.
O importante neste balanço é descobrir que o questionar mantém o seu sentido e a sua utilidade desde que para melhoramos uma prática, que as dores de crescimento são boas pois estamos a crescer, que apoiamos quem nos procura, que somos melhores profissionais, que pensamos aquilo que fazemos.
A isto chama-se aprender. Na profissão docente é à nossa custa que se processa (se feliz se infelizmente, isso é outra conversa).

falta

pelas escolas onde tenho vagueado sinto falta de um espaço de trabalho, um local onde possa preparar uma aula, ler um texto, organizar uma actividade.
Certamente já terão reparado que a rescola está organizada como uma linha de montagem onde os professores, a maior parte das vezes, apenas são operários. E ainda por cima o assumem.

segunda-feira, outubro 18

diferenças

Esta posta da Isabel mereceu-me um comentário que trago para este meu cantinho para, uma vez mais, realçar as profundas diferenças de um mesmo país.
Esta discussão mais parece a eterna conversa sobre os números de uma qualquer greve. Completamente diferentes como se estivessemos a falar de um país diferentes, de outras realidades, de situações completamente distintas.
A chatice é que se acentuam as diferenças entre quem sente e quem manda, entre quem todos os dia vai ao supermercado e quem aparece, todo pimpolho, na televisão.
Até parece que uma qualquer diferença entre um e outro valor é de somenos importância, esquecendo-se que a diferença são pessoas, sentimentos, uma profissão, famílias, sonhos e vontades.

non sense

agora sou eu que derivo para o inglês.
Poisou na minha escola uma colega açoreana. No meio das conversas de café e de circunstância senti à-vontade suficiente para perguntar se estava cá por opção ou se não tinha tido colocação nos Açôres, e disse-o com um sorriso de brincadeira.
Atão não é que acertei na muje? não teve mesmo colocação na sua terra, está cá porque cá fez o curso e estagiou e, em virtude de cá ter estagiado, perdeu os privilégio dados aos insulares.
Desculpem lá, mas afinal o pessoal de cá vai para os Açôres à procura de colocação e o pessoal de lá cai aqui de paraquedas?. Eu sei que sou alentejano e algo lento, mas esta sinceramente não percebo, não consigo perceber.
Mais, faz-me lembrar aquelas anedotas, parvas, que se contavam sobre a tropa, então de onde és tu, sou do Porto, então vais para Faro; então e tu, és donde, sou de Faro, então vais pró Porto.
Porra de país este que gosta de complicar o que, aparentemente, seria simples.

bom senso

uma vez mais regresso a este tema que me é caro e grato.
O meu filho não está no 1º ano, mas no 5º, com iniciação em inglês, mas à semelhança de outros recebeu como encargo efectuar um conjunto de trabalhos de casa todos em inglês.
Ingenuamente, porque apenas com duas/três semanas de aulas, perguntei-lhe se não sabia ler aquelas frases, respondeu-me que não.
Mas o trabalho é para o aluno ou para os pais do aluno?, E se os pais não souberem nada de inglês, quem é penalizado?.
Como escreve, e bem, o Ademar não há pachorra para esta gente. Nem pachorra nem bom senso.

sábado, outubro 16

redução

Lá soubemos ontem que o orçamento de Estado para a área da educação é reduzido em pouco mais de 2%. Se a este valor acrescentarmos a inflacção e a redução dos valores de PIDDAC, ao qual, espero eu, acresçam os aumentos de vencimento, devemos andar aí na casa dos 10% de redução efectiva bruta.
Mas não se preocupem, estamos cada vez mais seguros, mais e melhor defendidos, o orçamento da defesa sobre mais de 10%.

poder

as relações de poder são um dos elementos que estruturam as relações humanas e, nestas, o conjunto de relações sociais e profissionais que são reconhecidas por cada elemento.
Hoje, ao entrar no colégio do Espírito Santo, para mais uma sessão da pós graduação que ali lecciono, dirijo-me à recepção de modo a solicitar que a sala fosse aberta.
Com alguma surpresa minha deparo com uma cara conhecida vestido de segurança. Um antigo aluno meu.
Depois de uns quantos cumprimentos da praxe sai-se com esta, quem diria, hen, professor, dantes mandava em mim, agora seu eu que mando, numa clara alusão à farda e às responsabilidades que lhe são acometidas.
Pois é, mas já agora, vai lá abrir a porta.
É pra já professor.
E pronto.

da pena

a partir desta posta pus-me a pensar, é verdade, de quando em vez penso, sobre a quantidade de momentos em que desesperei, em que me irritei com a minha profissão de docente dos ensinos básico e secundário.
Pelas agruras que um indíviduo passa, pela sensação de incompreensão, de incomodidade, de indiferença, de incapacidade de fazer mais, de fazer diferente, de fazer apenas e em muitas das vezes.
Já percorri todo o vasto sistema educativo, desde a escola atrás do sol posto até aos corredores da 5 de Outubro, passando pela direcção regional e pela 24 de Julho. Já participei em milhares de horas de conversa, (de)formação, encontros, debates e tudo o que se possa pensar sobre o sistema, sobre a profissão, sobre a capacidade de fazer mais e melhor, não apenas pelas crianças que temos pela frente, pela oportunidade que todas merecem de saber mais, de conhecer melhor, mas também por esta minha região, por este meu país.
Muitos dias cheguei e dizia que saía do sistema, que mudava de área, de profissão ou do que quer que fosse desde que me atirasse para longe das frases feitas, das vulgaridades e das banalidades que são ditas e feitas sobre e à custa de professores, dos alunos, da escola.
Mas sempre voltei à escola, sem cargos em qualquer encargo que não o meu e sempre me senti apaixonado pelos olhos que brilham de curiosidades, pelo despertar da pergunta, pela capacidade de ir à procura.
Continuo a acreditar que vale a pena e, estou certo, que o Ademar e muitos, muitos outros também. É este o desafio, construir um sentido não apenas de escola, mas de que a escola vale a pena.

sexta-feira, outubro 15

à atenção

estou certo que cumpro aqui um papel desnecessário mas, pelo gosto e prazer que tenho na leitura do senhor, chamo a V/ atenção para uma sintética entrevista do Prof. António Nóvoa na revista Visão desta semana.
Em frases curtas está lá quase tudo o que é necessário fazer, alterar e aprofundar. De resto ficamos à espera que exista um pleno aproveitamento das autonomias e haja, de modo efectivo, o seu conhecimento, o conhecimento das capacidades de cada escola para definirem o que pretendem (se é que pretendem alguma coisa).

apoio

disponibilizo-me para apoiar e colaborar com colegas recem chefgados quer ao espaço quer ao tempo docente.
Há quem necessite de apoio porque há muito não leccionava o ensino unificado e não tem noção das implicações e das lógicas de funcionamento - formação cívica, estudo acompanhado, área de projecto que, na generalidade das escolas, mesmo nesta onde estou, são encaradas como disciplinas, mais umas quantas para além das restantes. Como não têm preparação para novas dinâmicas de aula.
Como há colegas que nunca foram directores de turma, que sentem algum pavor na relação com encarregados de educação. Como há outros que sentem alguma dificuldade em mudar de lógicas de funcionamento e organização, de onde estavam e como funcionava e onde hoje estão e como isto funciona.
Cá procuro apoiar os colegas, fornecendo algumas ideias por mim feitas, passar um pouco da minha experiência.
E o papel da escola?

quinta-feira, outubro 14

uniforme

Cá está aquilo com o qual não concordo nem advogo. A tentativa de, ao procurar criar alternativas, se uniformizar, estandardizar, equiparar. Em vez de criar diferenças e acentuar as distinções entre lógicas, uniformiza-se.
Este artigo tem duas particularidades em minha opinião. Por um lado a de evidenciar os discursos fáceis e por vezes ignorantes que se têm produzido e alimentado da temática e da problemática. Por outro, a de defender que há espaço, condições e necessidade da diferença e de se acentuar essa diferença.
Tal como entre universidades e politécnicos, também as escolas se devem conseguir afirmar por aquilo que as marcas, as caracteriza, as define, as distingue. Coisa, aliás, que qualquer pessoa conhecedora das escolas da sua localidade sabe identificar com relativa facilidade. Menos o ministério, menos as políticas educativas que tem sido seguidas.
É tempo de se fazerem sentir as diferenças, de se sublinhar que as escolas, e os professores, são diferentes.

links

pronto, dei cumprimento ao lembrete de actualizar os links laterais. Assim foi feito, com destaque para a minha turma (isto bem analisado daria pano para mangas), quer na outra turma dos links.
Estou certo que por erro ou omissão terei falhado algum que ali deveria estar. Espero descobrir ou ser avisado do erro ou da omissão.

quarta-feira, outubro 13

obviamente

finalmente.
Ainda no meio de todas as conversas de circunstância a descoberta que uns quantos que trocavam ideias tinham desde o tempo em que nos tinhamos conhecido, desenvolvido percursos formativos diferenciados. Um na área da avaliação das escola, outro na área da supervisão pedagógica e um outro na área das didáticas da sua área disciplinar.
O curioso desta constatação é que, apesar da diversificação dos percursos e dos olhares pelos quais cada um é condicionado, chegámos à óbvia conclusão, falta formação nesta classe.
Com formação, com um conjunto mais ou menos orientado de leituras, uma preocupação enquadrada em temáticas específicas o nosso olhar, a leitura que fazemos da realidade, a forma como a olhamos é obviamente diferente. Se melhor? obviamente, temos outros instrumentos outros recursos que podemos colocar ao serviço de uma profissão.
Mas também fizemos uma outra e infeliz constatação, nenhum dos trabalhos desenvolvidos, nas diferentes áreas, foi apresentado na escola onde cada um estava, nem discutido, nem debatido.

incoerência

No meio dos discursos pude ouvir um conjunto de lugares comuns, das normais banalidades sobre a escola, o papel dos professores e o ensino.
Uma das ideias feitas mais debatidas nas escolas é a de que quem sabe e quem conhece a realidade são os professores que estão no batente, que todos os dias lidam com os alunos, que conhecem o meio, etc, etc. Este argumentário é habitualmente utilizado para justificar que a reformas são feitas à revelia dos professores, que estes não são ouvidos, que quem dá as ordens está no bem bom dos corredores da 5 de Outubro (situação que não deixa em muitas das vezes de ser verdade).
Mas logo de seguida e da mesma boca que ditou todo este argumentário foram vociveradas a falta de orientações claras e rigorosas sobre o que é que os professores têm de fazer, foi dito com a mesma força e convicção que os professores são abandonados à sua sorte sem que existam normas ou processos sobre como fazer.
Pergunto sempre a mim mesmo sobre o nível de coerência deste argumentário. Não deixam de ser resquícios conflituosos entre o hábito de sermos mandados e a procura de uma autonomia profissional que não se decreta nem se delega, apenas se exerce, existe em pessoas autónomas. Ou não.

dúvidas

no meio das conversas sociais e de circunstância descobri uma colega, agora, hoje mesmo colocada na minha escola. Estivemos juntos no ano passado. Entre os comentários, as observações e o tempo a constatação que está preocupada com o facto de ser a primeira vez que vai lidar com aulas de 90'.
Primeira observação, ainda bem que estás preocupada, é o primeiro passo para a procura de estratégias e metodologias que te permitam pensar a aula.
Segunda observação, assim se vê qual o espírito de muitos e muitos colegas que, sem qualquer indicação, sem qualquer tipo de referência ou apoio passaram de um lado ao outro, isto é, de sessões de 50' para blocos de 90' ou de 45'+90'.
Não apenas a dinâmica é diferente, como é substancialmente diferente considerar que podemos preparar uma sessão como se de duas de 50' se tratasse.
Assim se vê a falta de conversa que existe, a inexistência de diálogos, de trocas de opiniões, de uma formação feita pelos próprios docentes no seu local de trabalho.
Assim se vê a ausência de uma ideia de escola, assim se realça o papel de funcionário do professor.

recepção

hoje, lá na terrinha onde estou, foi dia de recepção ao professor.
De um lado uns quantos diziam que é sempre a mesma coisa, outros antecipavam alguns dos discursos, outros comentavam quem faltava.
Na mesa de honra os presidentes, quer da autarquia (apesar dos protestos com uma óbvia orientação política e um conjunto de opções estratégicas na qual as escolas e a educação local têm tido um lugar de destaque) e dos órgãos de gestão.
Então, no meio das conversas, da troca de algumas ideias, das parábolas (uma das escola é um colégio privado) não é que um senhor, presidente deu m órgão de gestão, diz que há coisas muito mais importantes que a educação?
Fosse ele o presidente do órgão onde estou e estou certo que tinha existido discussão da boa.

terça-feira, outubro 12

lembrete

não esquecer de actualizar links da turma, e não só. Começam a existir demasiados links fantasmas nesta minha coluna lateral. Daqui a pouco de tão pesada que está corre o sério risco de lhe acontecer o mesmo que aos outros colegas, cai por aí abaixo e nunca mais a apanho.
Mas registam-se mudanças, de um lado para o outro, entradas e reentradas, como algumas saídas, outras tantas trocas e algumas baldrocas.
Peço desculpa a todos aqueles que se encontram nessa indelicada posição por minha responsabilidade. Fica aqui o meu lembrete para, caso haja uma estabilidade, uma abertura piquinina, proceder às alterações.

perspectivas

Ouvi, durante o dia, que a proposta do PIDDAC para o próximo ano, verbas do estado central para execução desconcentrada, vai apresentar uma redução de 19% na área da educação.
Será mesmo verdade? E a aposta na educação? Não era esta uma área estratégica, de afirmação nacional, para concorrermos com a Irlanda?

segunda-feira, outubro 11

de início

recupero o célebre e falhado slogan de Pessoa. Primeiro estranha-se, depois entranha-se.
Também nesta vida de professor é o que acontece.
De início foi a estranheza, a surpresa, a tomada de consciência de uma situação perfeitamente inesperada para muitos. Passados os primeiros dias, descobrimo-nos, entranhamo-nos neste nosso novo mundo. Trocam-se ideias, fazem-se comparações, descobrem-se sentimentos comuns, partilham-se amizades.
Não há, pelo menos por estas bandas, grande disponibilidade para discutir a escola, o seu papel, os seus objectivos, a acção e a intervenção do professor, o que dele se pretende na relação com os encarregados de educação como se tudo fosse pacífico, tacitamente aceite e acordado.
Aos poucos iremos descobrindo, à boa maneira alentejana, que nem tudo é assim, que há significativas diferenças, algumas clonflituantes, algumas espinhosas de resolver.
Certo que tudo se resolverá espero e observo o acamar das ideias e das pessoas em torno de posições, uma previamente definidas outras que se controem agora. Outras que se descobrem.

+ gente

gente nova na turma. A partir da sua compatriota descobri que há gente nova.
Bem vindo, bons comnetários e muitas, muitas ideias.