quinta-feira, janeiro 4

Região


Há quem, com números e figuras, procure pintar a cores negras o Alentejo;
há argumentos fortes a esse favor - o analfabetismo, a falta de qualificações profissionais, pessoais e literárias, as literacias, o envelhecimento, entre outras muitas outras;
perante o cenário há quem, por um lado, opte por carpir mágoas e até, pasme-se, chamar outros tempos, porventura áureos nos números - esquecem-se que apenas em população são melhores, tudo o mais era pior, muito, muito pior - memória curta? ou apenas memória selectiva?;
por outro, culpam, quase que em regime de exclusividade, as políticas públicas nacionais; também há um conjunto de bons argumentos a esse favor - a inexistência de políticas de discriminação posítiva, a ausência de políticas públicas específicamente orientadas para a região, as distâncias aos centros, os fracos protagonistas regionais;
o Alentejo tem sido aquilo que dele temos feito, nós alentejanos, ou deixado fazer; o Alentejo tem de ser e deverá ser aquilo que nós, alentejanos, queremos que seja ou venha a ser;
com respeito pelas pluralidades, pelas diferenças, inclusivamente pelas identidades (internas ou externas, endógenas ou exógenas); como um espaço de integração e complementaridade, de cruzamento mas também de afirmação;
não quero um Alentejo que preserve a imagem do pão e do vinho, do enchido e do porco, da paisagem deserta ou da velhinha a cozer tapetes de Arraiolos;
exijo o respeito por essas imagens, mas desejo e quero um Alentejo, pelo menos para os meus filhos, que integre a tradição mas defina vanguarda, que assuma cortes e desbrave oportunidades na cultura, nas artes, nas democracias; seja um sítio onde se esteja e trabalhe, mesmo na agricultura, que seja, em si mesmo e por si mesmo, um centro de ideias;
como? criando redes e parcerias, defindo sentidos e construindo objectivos, integrando e não excluindo, partilhando e não por intermédio de rivalidades chochas; com políticos e não com interesses individuais;

Sem comentários: