terça-feira, maio 8

discussão


depois das eleições francesas, depois de algumas discussões sobre os seus resultados (estou certo que continuarão) depois dos comentários e das anotações de vários fazedores de opinião (sejam bloguistas, sejam eles na imprensa) duas notas pessoais, enquanto pessoa de esquerda e enquanto defensor de uma sociedade de esquerda;
as eleições francesas, em meu entender, destacam duas circunstâncias perante as quais a esquerda tem de se repensar, por um lado, o modo de fazer política, de passar (vender?) as ideias, de afirmar um discurso e um modelo social, por outro, o de repensar as opções político-sociais que, não colocando em causa princípios, ideias e valores sempre defendidos e afirmados pela esquerda social-democrata, possam ter cabimento numa sociedade em que o Estado-Providência se encontra esgotado e os modelos de participação são amplamente difundidos;
entre um e outro ponto o inegável despudor de roubar ideias que tradicionalmente são de direita (segurança, forças armadas, relações externas, mercado) e saber com elas construir políticas públicas que tenham não apenas abrangência, mas cabimento e pertinência social e pessoal;
repensar os modelos sociais de educação e saúde, intervenção social e integração comunitária deve passar pela salvaguarda dos princípios de equidade e participação, individualização e personalização da coisa pública;
o que se assiste em França é, antes de tudo, ao esgotamento de um modelo de organização social, assente na burocracia, na verticalização dos poderes, na exclusão das participações sociais e às quais a esquerda (seja ela de centro ou mais radical) não soube dar as devidas respostas;
a aposta nas questões de género sairam caro à esquerda francesa e nem aí se conseguiu a penetração eleitoral pretensamente pretendida; mas destacou-se também a aposta na re-politização da discussão social, do que fazer com as questões essenciais da modernização e afirmação do Estado;
um receio, para já, que a reestruturação do Estado francês possa significar a sua privatização, a venda das políticas sociais públicas aos interesses mais privados;
uma esperança, que a esquerda se repense no seu diálogo interno e no lamber das feridas e se afirme como alternativa social e política, não apenas em França, mas na Europa que se pretende dos cidadãos e da participação;

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