terça-feira, dezembro 5

sumaríssimo

ontem estive numa reunião de pais/encarregados de educação do filho;
a agenda, desconhecida de quem se apresentava, tratava de duas matérias caras à escola e aos professores, disciplina (melhor dito, indisciplina) e aproveitamento;
dito pelo Director de Turma (DT) que surgia na sequência das reuniões intercalares, definidas e organizadas pelo conselho executivo, excluindo-se do seu processo, como que demarcando-se dos seus objectivos e das suas intenções;
para além de pai optei, por conveniência académica, por procurar posicionar-me como observador crítico, criando algo como um primeiro teste de observação ao trabalho que pretendo desenvolver;
o que retiro não é nem novo nem exclusivo, seja daquele grupo, seja daquela escola, mas a generalização também pode ser abusiva;
algumas ideias (que considero interessantes sob o ponto de vista da construção de um objecto de investigação):
a. a celeridade processual, decorrente quer da Lei 30/2003, quer de alguma regulamentação avulsa posterior, criou processos que podem ser designados de sumaríssimos, onde, sem se ouvir o conselho de turma, nem o representante dos pais ou dos alunos, se instaura um processo, se define e aplica a pena, num processo que procura encurtar o prazo entre a prevaricação e a pena (qual nalgada pedagógica); mas é um processo que corre o sério risco de criar algumas arbitrariedades;
b. apesar de se sentir no discurso do professor alguma partilha de responsabilidades, particularmente face ao aproveitamento, por intermédio da indicação do esforço e do empenho dos professores e no pedido de trabalho e entrega pelos alunos, é ainda evidente o clarissimo peso da responsabilidade que cabe ao aluno, que se desinteressa, desmotiva, desliga; o professor mantém a sua trajectória, independentemente dos resultados, o aluno é que deverá acentuar a sua dedicação, o seu trabalho;
c. a surpresa dos pais/encarregados de educação pelo comportamento e pelo aproveitamento dos seus filhos/educandos; fica-se com a ideia que existem registos diferentes, pontos de observação que se não são divergentes não serão, garantidamente, convergentes quanto ao trabalho que pais e professores (não) reconhecem aos seus filhos/alunos;
d. como é evidente que, por razões variadíssimas (mas interessantes de perceber) as funções de responsabilização perante o estudo são deixadas ao livre arbítrio do filho, como que forçando a sua autonomia, delegando responsabilidades que, muita das vezes, os próprios adultos não assumem nas suas funções profissionais;
há trabalhos suficientes na compreensão e análise dos níveis de escolaridade dos pais e dos filhos, na criação de laços de perpectuação e continuidade face à escola e à escolarização;
em contrapartida seria interessante perceber a relação que os pais de alunos referenciados como indisciplinados (e aqui essencialmente são referenciados o desinteresse, a desmotivação, a falta de empenho, a distracção fácil, a desatenção, o interromper a aula) tiveram com a escola, com os colegas de escola, com os professores, que têm no seu local de trabalho, a relação de autoridade com os filhos e parceiros e procurar perceber até que ponto existem coortes ou continuidades, permanências ou alternâncias;
tenho trabalho; haja fumo branco amanhã;

Sem comentários: