segunda-feira, setembro 6

o falhanço de um sistema

Desde que escrevo num ou noutro destes espaços, que afirmo que o sistema educativo está falido, que falharam objectivos de democratização do ensino e, em particular, da escola. Que existem franjas (pelo lado inferior, mais visível e presente do insuceso, mas também pelo lado superior, da qualidade e da excelência) que são objectivamente excluídas do sistema, enviadas para as escolas profissionais ou para os centros de formação, uns, ou para o ensino privado ou para sistemas alternativos considerados de elite, outros.
As escolas não estão preparadas para lidar com uma tão grande massa de gente, com interesses tão diferenciados, objectivos por vezes divergentes se não mesmo contraditórios áquele onde se inserem. Como o próprio sistema educativo cai de maduro quando procura uniformizar realidades tão diferentes quanto divergentes, oriundas de um interior pobre, rural e ruralizado, onde predominam valores escolares e educativos ancestrais e os princípios são ainda oriundos do Antigo Regime salazarista, e um litoral desenvolvido, claramente integrado na união europeia, com interesses sociais, culturais e políticos marcados por dinâmicas que vão muito para além do ritmo da escola, onde esta colide com ofertas tão diversificadas quanto o podem ser a televisão, o desporto de alto rendimento, os ginásios ou outras infraestruturas - quando não mesmo outros ambientes mais nocívos.
O modelo organizacional da escola está mais próximo da fábrica do que do escritório numa sociedade há muito terciarizada, tecnologicamente informada e socialmente dotada. A cultura escolar encontra-se a milhas de muitos dos jovens que a frequentam, não por ser excessivamente formal, não por contrariar hábitos ou veicular outros ideais. Simplesmente porque os jovens não se reconhecem naquele meio, nem reconhecem qualquer interesse (social, cultural ou económico) à escola.
Hoje a escola não é um degrau na ascensão social, como facilmente se pode constatar perante o reconhecimento social do jovem licenciado ou nas contrapartidas financeiras de quem inicia uma carreira.
A pertinência dos artigos de António Barreto é de destacar apenas porque sempre chamou os bois pelos nomes, e nada vale a um pequeno sapo, uma qualquer gota de água num imenso charco, dizer que o rei vai nu. Fica-se (e muitas vezes me tem acontecido) mal visto perante colegas, como se é acusado de polítiquices e politiqueiro, ou de traquinices próprias de um esperto.
Como o afirmo há muito, ou somos nós, profissionais da escola, elementos fulcrais neste processo, a definir um novo figurino organizacional (que passa também por questões profissionais e laborais) ou algum político o fará por nós, com custos sociais e profissionais claramente superiores.
A opção é nossa. É esta discussão em estou interessado desde o primeiro momento. É por esta ideia de escola que me bato, em qualquer palco.

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