quinta-feira, junho 12

acreditar

não queremos acreditar;
porque nos falta formação, porque não temos organização;
mas a reportagem de ontem, sobre a mudança de comportamentos, atitudes, organização e relação numa escola problemática mostra que é possível;
e é possível;

1 comentário:

Anónimo disse...

O meu filho saiu de casa com má cara. Isto das férias serem adiadas para hoje não o convencem de maneira nenhuma. A explicação absurda foi recorrente durante todo o fim-de-semana: "Por causa do Sócrates (retirei o adjectivo) temos que ir à escola na segunda-feira, isto não cabe na cabeça de ninguém!"

Lembro-me de outro tempo. Nas salas de aula as figuras sinistras de Salazar e Cerejeira relembravam uma autoridade cinzenta, provinciana, fascista. Nesse tempo qualquer visita, mesmo a do pároco local, era antecedida de grandes limpezas, ensaios de recepção sempre com o hino nacional a transformar os demónios em deuses. A pobreza, essa, era camuflada pelas batas que tinham que vir imaculadas e engomadas a preceito. A distância de 40 anos não apagou a essência dos actos do poder. Este poder do Partido Socialista, protagonizado por José Sócrates, reencontra muitos elementos em comum com aquele que eu conheci quando tinha a idade do meu filho, num tempo marcado pela guerra colonial, a censura, as perseguições e prisões por delitos de opinião.

O telefone toca, apenas um toque. Devolvo a chamada e de lá ele dispara: "Pai a ministra acabou de ser recebida com um monte de assobios. Nunca tinha visto as televisões na escola, isto está tudo encerado, estão montes de emproadinhos e tias, o Zé Ernesto está ali à porta. Isto não parece a nossa Escola! Os professores estão ali em filinha, uns com cara de enjoados, outros com sorrisos amarelos. Quando o homem chegou houve mais assobios do que com a ministra. É que não estás bem a ver eram tantos assobios que os 3 ou 4 gatos pingados que começaram a bater palmas acabaram porque só se ouvia os assobios. Os assobios vinham dos que estavam atrás das grades mas também de quase todos os alunos. Depois começou a chover bué, bué, até parecia de propósito, os jornalistas fugiram para dentro do bloco C. O Sócrates com um sorrisinho cínico distribuiu apertos de mão, eu recusei!"

Perguntei-lhe o que é que faziam na escola, se alguém os mandava para algum sítio. Disse-me que não, tentaram sentar-se no auditório e uma "emproadinha" mandou-os levantar dizendo que os lugares eram para os convidados.

Segundo o meu filho o objectivo da visita de Sócrates parece que foi falar do plano tecnológico. Para isso simularam uma aula, numa sala do bloco C, com um quadro digital e computadores portáteis para os alunos dos CEF. A aula foi apenas decor de televisão. Impossibilitados de entrar, ainda assim os alunos viam as imagens da aula fictícia no ecran que estava fora da sala. O meu filho não reconheceu a sala, tal a transformação que sofreu com novas pinturas, pavimento afagado e envernizado e novo mobiliário. É apenas uma sala, contudo são essas as imagens de modernidade que passam para as televisões e permanecem na opinião pública. A essas juntam-se outras imagens dos bancos recém pintados, no percurso de Sócrates, pelos alunos de educação tecnológica. Ou ainda outras imagens, que não passam em televisão, da quase totalidade dos jovens alunos a abandonar o polivalente em protesto, no exacto momento em que Sócrates iniciava o seu discurso. Seguramente que não passam em televisão as imagens do desagrado dos professores da escola intimados a trabalharem no domingo, sem receberem qualquer compensação, para prepararem os cenários da ficção do país moderno e tecnologicamente evoluido de Sócrates.

Pergunto ao senhor presidente do conselho executivo da Escola André de Gouveia, ao Senhor Director Regional de Educação, à Senhora Ministra da Educação, o que fazem hoje os alunos na escola, quem controla as suas entradas e saídas? Serão apenas recorte humano para a imagem televisiva de José Sócrates?

ESTA É A MAIS EXECRÁVEL MANIPULAÇÃO DE CRIANÇAS A QUE ASSISTI DESDE O TEMPO DO FASCISMO!