terça-feira, abril 15

na blogosfera

Há relativamente pouco tempo atrás, falo em tempo Internet, sempre muito fluido, a blogosfera constituía-se como uma repositório de alternativas. Um manancial de pensamento contra-corrente, alternativo, paralelo ao pensamento mais uniforme, mais monocromático da dita comunicação social tradicional.
Poder-se-iam encontrar, nos diferentes sítios existentes, não apenas formas de escrita e de análise bem diferentes daquelas a que estávamos habituados, como quadros de análise que eram óptimos suportes para a desmontagem de discursos, a compreensão dos quotidianos, a análise dos acontecimentos.
A pulverização deste meio, o aparecimento de inúmeros pontos de referência fez o que é habitual aos meios mais massificados, mais corriqueiros, banalizou-se. Hoje ainda é possível encontrar sítios onde o pensamento dominante, o quadro de análise presente não seja uma variação entre o estereótipo e o lugar comum. Mas é bem mais complicado encontrar um sítio destes, necessita-se de uma pesquisa mais fina e de um tempo de busca mais refinado.
A concorrência de um pensamento dominante, que varia entre a análise político-social e a acção governativa, conjugada com uma comunicação social que soube adaptar-se ao desafio concorrencial da blogosfera, determina e impõe as linhas gerais da escrita e da análise das situações. Fez com que os espaços dos blogues perdessem a sua diversidade e se nivelassem por diferenças mínimas na crítica e nos quadros de análise utilizados.
Esta situação conseguiu, inclusivamente, homogeneizar as discussões que, a partir da blogosfera, eram quase que estritamente locais, tinham uma vivência e uma existência justificada pelo local. Foi o aparecimento de blogues sobre os mais diversos sectores locais, desde as maiores cidades aos mais pequenos lugares deste país. Sobre política, sobre cultura, sobre a vida e a dinâmica que estava distante dos jornais nacionais. A blogosfera retirou do anonimato e da indiferença locais e pessoas, ideias e escritas. Mas tem sido também marcada pelo seu próprio sucesso, homogeneizando atitudes, uniformizando escritas, colectivizando ideias, harmonizando interesses.
Permanece actual, presente e pertinente a existência destes sítios. Mais não seja para que se percebam situações ou acontecimentos que fora deste espaço pouca, ou nenhuma, referência têm. Mas carecem também de um renovado espírito crítico, de escritas que não se fiquem pelo lugar comum, pela banalidade dos apontamentos, pela indiferença do anonimato.
A blogosfera foi uma lufada de ar que atravessou a sociedade mediática, mas que necessidade agora de correntes de ar para que se possa renovar. O como e o modo é que é difícil de percepcionar.

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