terça-feira, março 25

do indivíduo

No meio das leituras (obrigatórias) com que me entretenho, na generalidade dos casos uma variação entre a sociologia política e a sociologia dos comportamentos sociais, dou com algumas ideias que, não sendo novas (algumas datam de meados da década de 90 do século passado) têm hoje mais pertinência e são mais evidentes que antes.
Uma das ideias é a passagem de um indivíduo social para um indivíduo individual, passagem perante a qual a escola – e a escola pública – não apenas colaborou como incentivou.
O indivíduo social é fruto de um tempo marcado pela industrialização, pelo desenvolvimento e consolidação de um Estado Providência. Neste período, perante o qual é impossível estabelecer uma linha divisória, o indivíduo era preparado, educado para se integrar num contexto compartimentado de situações. Preparado e educado para integrar grupos e contextos sociais colectivos. Ele era preparado para uma profissão, para integrar um grupo ou classe social, para pertencer a uma cidade ou nação, ter uma língua e uma cultura, conhecer as fronteiras (naturais ou políticas) de um território.
Nesta medida, toda a estruturação educacional orientava o indivíduo para a sua integração social e colectiva, sendo possível delimitar e identificar semelhanças e diferenças, próximos e distantes, amigos e inimigos.
Mais recentemente, fruto de diferentes e variadas circunstâncias, começa-se a sentir a passagem deste indivíduo social e colectivo para um indivíduo individual. Nesta fase, muito marcada pelo acentuar da globalização, das migrações, das redes e do virtual, o individuo é educado para ser flexível, tolerante, para desenvolver as suas competências individuais (sejam sociais ou profissionais), para se integrar no contexto das diferenças (de língua, de cultura, de modos de ser e estar, de crenças e religiões).
Na nossa sociedade, convivem (ou sempre conviveram) estas duas dimensões do indivíduo. Convivência que provoca fricções, alguma tensão e alguma dificuldade de se catalogar o amigo do inimigo, identificar o próximo do distante, a fronteira fluída entre espaços e gentes.
Como se harmonizarão estes indivíduos, que olham o mundo de modo tão diferente? Como se conjugarão eles na construção dos futuros, é o desafio de perceber.

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