sexta-feira, outubro 19

da crítica

a manifestação de ontem deverá trazer para a discussão pública (e política) dois elementos que me parecem remetidos para áreas secundárias ou minimizados na sua determinação;
um deles refere-se à capacidade de afirmar políticas, de construir futuros, de decidir pelas opções; apesar de ter algumas reservas a esta ideia de "flexigurança" (eventualmente por carência de um conhecimento mais fundo) há que entender que não deixa de ser um modelo social de afirmação de um espaço que desde sempre privilegiou a acção central do Estado na gestão da previdência e da providência; neste sentido, o que se discute é mais que Estado pretendemos ter no futuro, se social, mantendo a sua raiz e a sua tradição, se um Estado ausente, presente pela omissão, deixando espaço aos grupos privados e à gestão individual dessa mesma previdência; o modelo em que tem assente o Estado-Providência está manifestamente esgotado; as alternativas que se poderão colocar referem-se à assunção colectiva das responsabilidades, salvaguardando a acção fundamental do Estado social ou a privatização que muitos sectores defendem e perspectivam, quer em termos de retórica política, quer em face de modelos de acção;
segundo aspecto importante a realçar, refere-se à capacidade de ganhar eleições; certamente que o meu PS nacional não estará a pensar ganhar eleições a partir de Lisboa, qual controlo remoto, que defina a dinâmica de um zapping político; estou certo que a acção política central é condição necessária para se ganhar uma eleição (mas não suficiente, mas a acção local e regional das estruturas partidárias poderão determinar se há, ou não, uma maioria (estável, relativa, absoluta) e aqui sente-se algum "desligamento" entre estruturas e dinâmicas nacionais e lógicas de acção funcionalistas locais e regionais, umas distante das outras com possibilidades de interferência mútua;
como ficaremos, agora que os sorrisos e abraços da cimeira de Lisboa darão espaço e oportunidade à afirmação sindical na discussão do Orçamento para 2008? como serão definidas as ligações entre lógicas nacionais e estruturas regionais com a intenção de se ganharem eleições? se queremos e defendemos um Estado europeu qual a oportunidade e a pertinência para a afirmação dos espaços regionais? se defendemos uma liderança europeia e de afirmação global, qual o papel dos actores regionais na afirmação de interesses colectivos?
o tempo responderá...

2 comentários:

Anónimo disse...

"O tempo responderá" não é de bom augúrio... Um grande risco. Entregar ao tempo a responsabilidade de responder, é demitirmo-nos das nossas obrigações, é próprio de quem se encolhe na hora de afirmar posições, é típico de quem recusa modelar o que aí vem mais ao jeito que nos convém. Ou não? Eu não me fio no tempo. Nem no governo. Nem, ainda, na UE. Céptico? Como não?

Anónimo disse...

200 mil, nas actuais circunstâncias, é muita genta! Dá que pensar. Quantos terão sido eleitores do actual governo? Que a ressaca da bebedeira tomada com o Tratado aprovado passe depressa e os nossos governantes não continuem com a cabeça enfiada na areia. Com as devidas proporções, o Ghandi dizia algo como isto: "há momentos em que os tiranos parecem invencíveis, mas acabam sempre por cair".