quinta-feira, setembro 27

distâncias

nos tempos que correm as distâncias acentuam-se entre o que pensamos e queremos fazer e o que podemos ou nos deixam fazer;
talvez tenha sido sempre assim, mas, nos últimos anos, no último quartel do século XX, acentuou-se a ideia (e a expectativa) que podíamos influir na mudança, na alteração das coisas, que nós, cidadãos, pessoas, tínhamos voto na matéria, que éramos capazes de influir e intervir na sociedade; nomeadamente naquilo que considerávamos (bem ou mal) desajustamentos, injustiças, precariedades;
a democracia participativa parecia ganhar terreno; sucederam-se os fóruns, as assembleias, a participação (cívica, de cidadania), as tertúlias, os botequins;
já não recuo aos anos 60 onde se pensava, para além de mudar a sociedade, (re)criar o mundo; fico-me pelos anos 80/90, mais próximos, dos quais (quase) todos temos memória viva;
não era contra nada nem contra ninguém, apenas pela vontade de corrigir as injustiças, de nos sentirmos a participar na estonteante mudança dos tempos;
pelo contrário, recentemente parece que nos ficamos pelas intenções, que somos tolhidos pela inércia, que ficamos condicionados, por outros, por algo ou por alguém, na capacidade de intervir e agir, que somos coartados pela insinuação;
será que se confirma a oligarquia democrática?
será que estamos em tempos de uns que se sentem esvair mas que teimam e persistem em condicionar os outros?
será que temos, efectivamente, fantasmas que nos corrompem os movimentos e cerceiam os pensamentos?
será que os tempos, afinal, não mudaram que uns (poucos) continuam a mandar nos outros (nos muitos)?
qual a nossa capacidade individual de participação?
qual o espaço reservado aos fóruns de cidadania?

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