segunda-feira, dezembro 4

da esquerda

sem pretensões académicas, mas ensaisticas (isto é soltas e argumentativas), traço a minha ideia sobre a esquerda no que designo ensaios sobre uma província de esquerda;
ensaio porque pessoal; de província por que parto deste ponto de vista, desta perspectiva (o Miguel diria deste olhar); de esquerda porque insisto e persisto num referencial que situa à esquerda (nas visões tradicionais da vida partidária) a acção do Estado;
não é despropositado, no fim-de-semana vários foram os artigos a opinar sobre o fim da esquerda; hoje, no Público, Eduardo Prado Coelho traça outros argumentos;
acrescento os meus, a partir deste nível de província;
dados:
a queda do Muro de Berlim e a crescente influência dos sistemas de informação naquilo que é conhecido como globalização, deram a impressão do fim das ideologias, em face da criação de um caudilho que não poucas vezes mistura economia com cultura, política com organização, administração com história, mediatização com comercialização;
a tal ponto que autores (Fukoyama, 1992) afirmavam o Fim da História, isto é, de uma dialética progressista e conflituosa que determinava uma relação quase directa entre causa e efeito e que tinha marcado todo o período que vai do primeiro quartel do século XIX até ao final da segunda guerra;
a gestão das organizações e do Estado, a partir dos anos 60 mas com incidência particular no decorrer dos anos 80, deram a ideia e criaram a ilusão da desregulação do Estado, a ponto de políticos ainda no activo afirmaram a necessidade de menos Estado para melhor Estado; era preciso achatar as organizações, prescindir de determinados serviços, considerados supérfluos ou que outros (os privados) poderiam fazer melhor (e mais barado) que o serviço público;
os anos 90 não ficaram isentos de uma lógica de desregulação (quando não mesmo de desregulamentação) que criava diferentes centros para uma gestão mais cuidada da coisa pública, são desses tempos os fenómenos de autonomia e territorialização das políticas públicas, a sectorialização da acção pública, quer na educação, quer na segurança social, mas também na economia e em outras áreas;
o triunfo das "esquerdas liberais" (Blair na Inglaterra, Shroder na Alemanha, Guterres e Sócrates em Portugal, Zapatero em Espanha) criaram a ilusão que se governa à esquerda com lógicas de direita, nomeadamente criou-se um discurso entre os defensores de um conservadorismo Estaticista que dá a ilusão que não há diferenças entre a esquerda e a direita, entre um governo de direita e um governo de esquerda; criou-se a ilusão que os governos socialistas implementam as medidas que governos liberais não conseguiram ou que tiveram vergonha (ou falta de meios/recursos);
a afirmação dos fenómenos associados à globalização dos mercados e da cultura, pode dar a ideia que tendemos para uma homogeneização de ideias e ideologias, que a acção política se fica pela gestão mais (ou menos) adequada de um conjunto de certos interesses;
finalmente e em face deste avanço podemos pensar que a competitividade económica e que se estende à sociedade acentuou (para uns justificou) o reforço do darwinismo social, isto é, fazer valer a lei do mais forte, do mais capaz, a selecção "natural" da acção social, quer por intermédio da avaliação da acção pública, quer pela publicitação de resultados, quer pela criação de fenómenos (naturais ou artificiais) de concorrência inter-sectorial;
o princípio deste século foi marcado por uma aparente horizontalização organizacional (como contraponto à verticalização napoleónica), uma maior flexibilidade (em contrapartida à rigidez funcional), uma maior operabilidade (em resposta à uniformização) todo um conjunto de ideias que ditaram o aparecimento de lógicas (e que alguns consideram como práticas) ditas pós-modernas;
é neste confluir de circunstâncias, marcados essencialmente pelo fim das lógicas dialéticas como motor do desenvolvimento social, da diferenciação como fenómenos de igualização, que as lógicas político-artidárias se têm de afirmar;
e neste contexto um factor determinante e ainda não totalmente percepcionado pela lógica organizacional do Estado, a policentração da sua acção pública, a criação de diferentes níveis (que não são os patamares, onde se pressupõe um acima/abaixo do outro) é um dos elementos fundamentais da afirmação das identidades ideológicas; das lógicas e da cultura que sempre marcou (e diferenciou) um olhar à esquerda;

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