sábado, dezembro 9

da abertura

o meu amigo Miguel criou uma oportunidade de troca de ideias e de discussão de que há muito sentia saudades;
foi por intermédio de divergência de opiniões e por convergência de vontades que tive oportunidade de conhecer o Miguel e criar aquilo que (permita-se-me o pretensiosismo) designo por amizade (ou, pelo menos, cumplicidade pedagógica);
neste sentido, propos o Miguel a instauração de um dia em que a escola abriria as suas portas e receberia os pais;
provavelmente algo situado entre o "parents day" americano (geralmente coincidente com o final do semestre/período em que as turmas se mostram aos pais, se evidencia o trabalho desenvolvido e se permite um intercâmbio de conhecimentos entre a escola e os pais; algo como uma prestação de contas) e o modelo mais francófono da "aula aberta" (em que os pais e a comunidade é chamada a intervir e a participar num dia "normal" de aulas e se podem perspectivar as inter-relações educativas, perceber o trabalho desenvolvido e entender o ponto de situação de cada um);
tive oportunidade de deixar um comentário que dizia mais ou menos isto:
"já houve circunstâncias em que, fruto de ideias e projectos (pontuais ou mais consistentes) abri a porta não apenas aos pais/encarregados de educação como também à comunidade - ele foram fóruns de estudantes, ele foram conversas de/com história, ele foram dinâmicas parentais em conversas curriculares, ele foram sensibilizações (muito antes das formações cívicas); o que está em causa pode ser, por um lado, a transparência do que se faz na escola, do trabalho do professor, da acção e das inter-relações estabelecidas na e por causa da escola, como pode estar em causa um controlo exterior, a criação de mecanismos de monitorização e de desresponsabilização educativa, como de minimização ou vitimização do professor ou da escola; sei que não será esta última o objectivo, mas reforço o que disse, deve ser, tem de ser competência da escola abrir as portas, franquear oportunidades, tornar claro o que se passa nessa "caixa negra" que tanto serve para denegrir uma profissão como para desculpabilizar famílias ou sociedades, políticas ou comunidades; a escola que defendes, de forte pendor cultural, tem de integrar e não excluir, mostrar e não ocultar, participar e não denunciar, solucionar e não problematizar, reflectir e não denegrir";
ora o que está aqui em causa não é nem a proposta, nem a sua lógica, o que destaco é a capacidade de localmente nos fazermos valer na definição do que deve ser; é por nos escusarmos a isto que surgem ministro(a)s e políticas que acabam por, à revelia dos interesses particulares, definir o que cada um deve fazer;

1 comentário:

Miguel Pinto disse...

Concordo contigo quando clamas pela iniciativa local na definição das políticas e na promoção de projectos situados. Também concordo que a falta de iniciativa é um espaço livre que será ocupado por alguém. Neste caso, quando os actores locais se recusam a lutar por aquilo que consideram ser o interesse das populações, o poder central tomará as rédeas da situação e decidirá, obviamente, em função de outros interesses.
No entanto, insisto em dizer que a escola não pode tudo. E quando se trata de apelar aos empregadores alguma tolerância para que os funcionários cumpram as suas obrigações parentais emergem discursos abrigados na função de custódia da escola adoptados também por membros do governo. Não se trata de negar esta função à escola. Trata-se de abrir outras portas…