terça-feira, novembro 23

trabalheira

uma turma de 8º ano entra devagarinho e às pinguinhas na sala. É um final de tarde de um dia sempre demasiado comprido.
Arrastam cadeiras, batem com mochilas, trocam galhardetes como se o setor ali não estivesse, não existisse.
Deixo-os ir, com o à vontade próprio de quem não lhe apetece ali estar. Contrariar as criancinhas pode descambar em traumas de adolescência indefinida, com possíveis sequelas indiscritíveis e não quero participar nesse ciclo pernicioso.
As vozes aumentam de volume, os comentários jogosos aproveitam a ausência do espanta espíritos para se exercitarem.
Afinal, sem orientação, conseguem sentar-se, ou pelo menos algo que se pareça com isso. ainda que aparentemente sentados as mochilas continuam no chão, fechadas, não vá saltar qualquer coisa de esquisito lá do fundo.
Alguém pergunta pelo setor. Alguém se lembrou que estavam numa sala de aula e que há regras e, em princípio, trabalho.
Pus o meu ar de pastor e perguntei, entre o autoritário e o compenetrado da insignificância do meu papel, mas com aquele ar de quem é sério e procura coisas sérias - afinal, há trabalho?, alguém tem alguma coisa para fazer? ou viemos apenas passear à aula, matar saudades que de certeza não temos do setor de história? uns ficam a olhar, talvez admirados, outros talvez espantados.
No final, ao fim de 90' saí exausto, completamente derriado, estou certo que eles também não. Mas trabalharam que se desenhuram, pesquisaram, elaboraram cartas e gráficos, definiram conceitos, elaboraram relatórios, preencheram fichas, discutiram, argumentaram.
E assim se passou mais uma aula de história. Sem estória. Pelo menos para já.

2 comentários:

Anónimo disse...

Há alguns anos tive uma turma de 7º ano extremamente caótica ao entrar na sala de aula. Eu, pura e simplesmente não existia... acho que nem que se começasse a fazer steap tease naquele momento eles dariam por mim... Um dia, um amigo médico ofereceu-me uma daquelas canetas de laboratório, em que se carrega num botãozinho que acciona um mecanismo que produz uma musiquinha tipo "love story". Das trevas, fez-se luz!Na aula seguinte,no meio do caos, accionei o mecanismo... de imediato se fez silêncio e, sem comentários, abriram-se mochilas e iniciou-se o trabalho.E aquilo passou a ser ritual.
Escusado será dizer que tive ofertas tentadoras por parte dos meus colegas para adquirirem a varinha mágica...
Ela não está à venda, é só preciso descobri-la...

Anónimo disse...

Este blogue é hilariante e simultaneamente triste. Hilariante porque é escrito por um professor que não sabe escrever. Triste pela mesmíssima razão.
Ou então, falta tempo para rever o texto.