sexta-feira, setembro 10

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As crónicas de M. F. Mónica e A. Barreto tiveram o condão de trazer à discussão outros e por vezes diferentes níveis de fundamentação sobre uma conversa que decorria em amena cavaqueira, seja nas reuniões de Conselhos de Turma, na sala de professores, na blogosfera ou noutros palcos mais ou menos educativos.
Como qualquer outro criador de opinião e fazedores de ideias, não outorgo a verdade a nenhum deles. O seu discurso pode, e assim aconteceu felizmente, ser desmontado, analisado, dissecado. É importante que isso aconteça de modo a podermos perceber outros quês e procurar outros porquês.
Mas a discussão que agora circula, nomeadamente sobre o texto de A. Barreto, teve, em minha opinião, a clara oportunidade de, pelo menos enquanto se discute, ultrapassar alguma da hipocrisia, do faz de conta, do assobiar e olhar para o lado em que vive o nosso sistema educativo e de como ele se encontra organizado.
Podemos concluir que a culpa não é do modelo organizacional, uma vez que outros, com base em modelo idêntico, obtém resultados substancialmente diferentes.
É falso, o modelo finlandes é tão parecido ao nosso como eu domino o suomi na perfeição.
Não nos iludamos, não pensemos que há apenas que corrigir uma coisa ou outra para que tudo possa ficar na mesma. É falso.
Temos todos (professores, pais e encarregaods de educação, pensadores educativos e cientistas sociais, forças económicas, sociais, desportivas e recreativas) actores e construtores da vida num dado território de encontrar as soluções que melhor se adequam a cada realidade e a cada contexto.
Se acreditam que o modelo está correcto, se o modelo é o adequado porque funciona na Finlândia mas não em em Portugal, então só posso concluir que são as pessoas que estão a mais. Se assim é, então troquem de pessoas, ou de país e talvez tenhamos melhores resultados.

9 comentários:

Anónimo disse...

1 O nosso problema é querer estar sempre a fazer tudo de novo. Há novo ministro da educação ou novo governo: lá vem o propósito de revirar tudo da cabeça aos pés, leis, práticas e pessoas. Professor do superior: há que refazer todo o ensino porque os alunos não sabem nada. Professor do secundário: estes alunos não sabem nada porque no 1º ciclo é uma festa e não aprendem nada. Filomena Mónica e A. Barreto são apenas exemplos do mesmo mal. Os resultados desta fúria reformadora, que não é em si negativa, ficam-se na maior parte dos casos por artigos de jornal (falo de MFM e AB), caos administrativo (falo de ministros e governos) e desânimo e frustração (falo de alunos e professores).

manuel cabeça disse...

concordo quase que totalmente com o comentário aqui deixado. É, em meu entender, uma das causas de entropia do sistema, o permanente recomeçar, o permanente re-iniciar, o contante arranque. A indefinição de se programar um ciclo de ensino, o enquistar em quintas demarcadas, o enclausurar no canto de cada um de nós.
Mas está em nós conseguirmos ultrapassar isto tudo, está na posse daqueles que pensam e trabalham o sistema educativo definir qual o rumo que se pretende, os objectivos que se perseguem, o sentido disto tudo... até das reformas.

Anónimo disse...

2 O que fica da fúria reformadora é apenas um fino verniz que esconde mal a persistencia dos mesmos métodos de trabalho. E quanto mais a gritaria e a excitação, mais fracos os resultados. É provavelmente o que estamos a viver agora. E se em vez de fazer rankings de escolas, mudar currículos, sistemas de concursos, extender escolaridades obrigatórias se propusesse a subida das médias de exame de acesso ao ensino superior? Pequeno objectivo, mesquinho até. Mas para o conseguir não há reforma ou decreto lei que nos valha. Era preciso organização, definição cuidada de objectivos, monitorização do trabalho nas escolas, grande coordenação na correcção, análise pormenorizada dos resultados, sem nos ficarmos pela média aritmética das classificações e pela carpideira generalizada no final de cada ano lectivo.

Anónimo disse...

3 O modelo Finlandês é muito diferente do nosso? Será - sobretudo na articulação de todos os elementos. Tal como os filandeses temos um escola por ciclos. O princípio é interessante: dar possibilidade aos alunos de terem um acompanhamento na sua aprendizagem e desenvolvimento por mais de um ano. Funciona na prática? Apesar do verniz, as escolas funcionam por anos lectivos, administrativa e pedagogicamente. E provavelmente, como não dá resultados, amanhã inventa-se qualquer coisa para remendar, mas que só vem criar mais confusão. Provavelmente, não. Vêm aí exames nacionais de 9º ano colados em cima de um currículo flexível. Já se adivinha o resultado...

manuel cabeça disse...

Os objectivos, para serem produtivos e os seus protagonistas conseguirem sentir-se envolvidos, não têm de ser grandes, eloquentes ou geniais. Bastar-lhe-á serem possíveis, adequados a uma realidade, existirem meios e recursos que permitam o seu alcance.
O sistema é uma pescadinha de rabo na boca, do pré-escolar ao superior, atiramos, quase sempre, as culpas para quem nos antecede, desculpabilizamo-nos quase sempre com o(s) outro(s). Esquecendo-nos das ligações que existem, das articulações, da flexibilidade que deve nortear o ensino e a aprenbdizagem.
Não é apenas o sistema finlandes que é parecido, em termos organizacionais, ao nosso. O Neozelandes, com resultados brutalmente diferentes, determinados estados e escolas norte americanas, sectores do ensino privado espanhol, com se podem determinar ligações com o sistema frances.
Não estou preocupado com sistema, nem com modelos, estou isso sim, preocupado em que tenhamos possibilidades de construir o nosso próprio sistema, definir os seus objectivos, monitorizá-lo, availá-lo e responsabilizar as falhas, colamtar as deficiências. Com calma, estabilidade e alguma coerência. Isso é um sonho que acalento. E não desisto.

Anónimo disse...

É a calma de que fala o Manuel Cabeça que temo que não vá existir tão cedo.

Miguel Pinto disse...

Talvez já tenha passado a oportunidade deste meu comentário, mas que importa. Li o que disseram e precisei de mais tempo. Não avanço com nenhuma fórmula para nada porque não a tenho. O que se trata é de pensar em voz alta. Enquanto relia este conjunto de comentários ocorreram-me palavras do José Pacheco (da Escola da Ponte) num dos seus artigos na Página. Dizia o autor de forma séria mas com alguma dose de humor, que se não há forma de acabar com os problemas dos alunos nas transições de ciclos o melhor é abandonarmos os ciclos porque o problema não será, porventura, dos alunos. Qualquer semelhança com o alargamento do secundário até ao sétimo ano que decorrerá da nova lei de bases é pura ficção.
A questão do desenvolvimento da autonomia das escolas está contemplada no 115/A, e ainda bem. Limitada e escassa, dirão alguns, excessiva, dirão outros. A verdade é que o cerco às escolas é cada vez maior. Mas, a questão que eu preciso de esclarecer é a seguinte: Um dos princípios orientadores do desenvolvimento dos contratos de autonomia sugere que o alargamento da autonomia respeite a coerência do sistema educativo. Exemplos como o da Escola da Ponte retirarão coerência ao sistema educativo? Como o comentário vai longo é melhor terminar por aqui.

manuel cabeça disse...

não é por sermos diferentes que o sistema se torna incoerente, como diferença não deve significar homogeneização, uniformidade.
Mais, é engraçado como este comentário pode vir do Miguel, um dos acérrimos defensores da escola cultural, do currículo. O que nós temos feito é confundir, demasiadas vezes, currículo com programas, metas ou missão com objectivos.
Para que possa existir coerência no sistema deverá existir, digo eu, se me é permitido, respeito e tolerância por aquilo que é diferente, pelos interesses das pessoas, pelas suas capacidades e objectivos.
A escola cultura preconiza isso mesmo, a procura de coisas diferentes para podermos ser mais iguais. Ou não é??
realmente, isto já parece um fórum.

Miguel Pinto disse...

Manuel, ainda bem que ainda te consigo surpreender com os estes comentários. É que não me agrada deixar os dogmas dentro do armário. Como sabes, a Escola Cultural não se esgota na actual organização do sistema educativo embora tenha sido desenhada para responder às questões concretas, das escolas situadas. Como sabes, o actual sistema educativo não aceita a diversidade de projectos educativos, é um fazer de conta institucionalizado, rejeita escolas que abandonem a lógica de organização por ciclos de ensino de aprendizagem e de escalões etários por exemplo. A escola cultural é por definição uma escola personalista. Não sendo a solução é uma das soluções para a diversidade cultural. Quando partimos para a utopia podemos ir sempre mais longe. Pensar numa outra organização social, pensar numa escola cujo quadro de referência continue a ser a pessoa mas radicalmente diferente em termos de estrutura organizativa. É disso que se trata. Será impressão minha? Parece que estamos mais conversadores, e ainda bem!